O Destino do Amor escrita por Lilissantana1


Capítulo 18
Capítulo 18 - Um pouco de Jon - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Vamos desvendar o Duque Monstro?



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Joseph bateu suavemente na porta do quarto de Jon, uma, duas, três vezes. Não obtendo resposta, encarou Leisa que parada diante do aposento de Annie, fez a mesma coisa. Novamente, nenhuma resposta. Onde os dois estariam? Eles se perguntaram sem realmente verbalizar a pergunta. Depois do jantar na noite anterior, o casal dispensara os criados e subira, aparentemente estava tudo bem entre os dois. Eles vinham mantendo uma conversa animada e tranquila. Não poderiam ter brigado novamente.

— Bata novamente. – Leisa falou indicando a porta, mas Joseph não se sentia inclinado a isso, e uma discussão sussurrada teve inicio entre a dupla de criados.

Deitado sobre o tapete, com uma almofada como travesseiro, Jon tentou se mover, seu braço estava dolorido. Annie dormira sobre ele. Na verdade havia poucas partes em seu corpo sem qualquer espécie de dor. Fora uma péssima ideia ficar ali. Mas, fora também inevitável. Ele se sentia perdido depois do sexo, a única coisa que lhe interessava era abraça-la e permanecer deitado ao lado dela o máximo de tempo que pudesse. A sensação de aconchego de dormir recostado em outra pessoa, parecia ser sua mais nova mania.  

De repente, ouviu vozes abafadas no corredor. Fez uma nova tentativa de mudar de posição. Se alguém entrasse ali, os pegaria nus, deitados sobre um tapete e mal recobertos por uma manta que Annie carregara para lá. E ela certamente ficaria furiosa com ele se isso acontecesse.

Ainda dormindo Annie se virou, encaixou o rosto em seu ombro e a mão sobre seu peito num gesto ao qual ele praticamente se familiarizava. Então, uma batida mais forte oi ouvida, mas não era na porta do cômodo onde eles se encontravam, não, era em seu quarto. Precisava se erguer e correr quem quer que fosse dali imediatamente, antes que sua esposa acordasse.

Com o pé, puxou uma das almofadas que permaneciam sobre o estofado do sofá, encaixou Annie nela, rapidamente enfiou as calças, e finalmente abriu a porta da saleta. No corredor, Leisa e Joseph estavam parados, aparvalhados a se olharem esperando que alguém os atendesse.

— O que vocês querem? – ele perguntou atraindo dois pares de olhos surpresos sobre si.

— Senhor... – Joseph estava decididamente sem jeito - Desculpe incomodar... mas...

— Diga logo rapaz! – não havia tempo para melindres. Annie poderia acordar a qualquer momento.

Joseph respirou fundo e falou naquele tom eficiente de sempre:

— Sir Davies gostaria de lhe falar. Parece ser importante.

Para o homem vir a sua casa. Deveria realmente ser algo importante Jon pensou rapidamente.

— Diga-lhe que desço em alguns minutos.

Joseph encarou o patrão pronto a obedecer à ordem.

— Mas, antes me prepare um banho.

O criado virou-se para descer e Leisa permaneceu parada no mesmo lugar, encarando-o.

— Sua senhora está dormindo. – ele informou querendo correr a mulher logo dali - Quando ela acordar a chamará. Pode descer também.

Sua senhora ainda dormia? Estava tudo de pernas para o ar naquela casa. Ela pensou antes de atender a ordem.

— Sim senhor. – foi tudo o que Leisa conseguiu dizer antes de seguir Joseph escada abaixo.

Jon se voltou para o tapete assim que encostou a porta da saleta. Annie dormia como se tivesse passado a noite em claro. O que não era verdade, apesar da conversa ter rendido, depois do sexo eles logo adormeceram.

Se aproximando, tentou acordá-la. Passou as mãos pelo rosto, pelos cabelos longos, soltos, espalhados pelo chão. Os olhos castanhos se abriram levemente, o encararam, ele sorriu vendo a expressão sonolenta no rosto feminino.

— Bom dia. – cumprimentou se aproximando para oferecer um beijo. Annie estendeu os braços circulando seu pescoço.

— Bom dia...

— Precisamos sair daqui. – ele falou ainda sorrindo da expressão perdida no rosto da esposa.

Ela suspirou e fechou os olhos.

— Annie... – chamou, mas ela não se moveu. - Você é preguiçosa... – sussurrou perto do ouvido dela. – Venha... – puxou a mão que ela mantinha presa as suas - Eu te carrego até seu quarto.

Se erguendo ela permitiu que ele a segurasse e a carregasse, nua, até o quarto dela. Assim que sentiu a macies e o calor das cobertas, Annie se aninhou tentando puxar Jon para perto.

— Não posso... - foi a resposta insatisfeita que ela ouviu e finalmente abriu os olhos com alguma determinação.

— Por quê?

— Há alguém, com quem preciso falar, me esperando... mas você pode ficar deitada o tempo que desejar.

— Ficar aqui sozinha não é a mesma coisa... – reclamou abraçando um travesseiro e Jon sentou ao lado dela na cama. A vontade era permanecer ali com ela.

— Não posso prometer que voltarei logo, ou diria que me esperasse aqui. Do jeito que está.

Ela afagou a barba cada vez mais aparente na face masculina. Jon tinha poucos pelos pelo corpo, sua pele era macia e branca, contrastando com o tom escuro dos cabelos e dos olhos.

— Se você precisa ir. Eu entendo... – concluiu.

Ele se aproximou, oferecendo os lábios. Annie os aceitou. O beijo lento, gentil e delicado de bom dia. Estava se sentindo satisfeita, tranquila e surpresa por se sentir tão a vontade com o marido.   

— Voltarei tão logo me livre de Sir Davies. – foi a última coisa que ela ouviu antes que Jon se erguesse e lhe desse as costas, nuas.

Ainda estava sonolenta, mas seus olhos imediatamente foram atraídos para a marca na altura da cintura dele. Aquilo que seu marido denominara como um machucado antigo e pelo tom, aparentemente sem importância. Era uma das cicatrizes mais feias que já vira. Não fora causada por queda, ou batida, aquilo era uma queimadura. Repuxada e enrugada.

Jon já ingressava no próprio quarto quando ela se sentou na cama embasbacada com a descoberta e com sua pouca percepção. Como ainda não notara aquilo?

***************

O restante da manhã, sem a presença de Jon em casa, pareceu se arrastar. Ela tomou um banho demorado, fez o desjejum sozinha, caminhou pelo terreno, pelo pomar. Visitou a estufa. E finalmente voltou para casa.

Bridgite e Margô estavam na cozinha preparando o almoço. Leisa estava em seu quarto organizando alguns vestidos. E ela aproveitou o momento. Sentou-se perto das garotas em silenciosa contemplação. Estava se acostumando a viver naquele lugar pequeno, onde as pessoas pareciam tão aconchegantes e felizes.

— Há quantos anos moram aqui? – perguntou de repente, pegando uma maçã do cesto que estava sobre a mesa.

— Desde que nascemos milady. – Bridgite respondeu.

— Então conhecem meu marido há muito tempo?

As garotas a observaram rapidamente.

— Quando sir Hawkins veio para cá, Margô tinha pouco mais de oito anos.

— Quantos anos tem agora Margô?

— Quinze milady.

— Estas terras pertencem ao ducado?

As duas se olharam novamente, como que não compreendendo o que aquilo queria dizer.

— Estas terras pertenciam a Sir Thompson. Conde de Morris. – Bridgite esclareceu.

— Jon as comprou dele? – Annie perguntou entre uma dentada e outra na maçã.

Bridgite parou o que estava fazendo antes de responder:

— Não senhora milady, ele ganhou em um jogo.

Aquilo era deveras surpreendente.

— Como é?  Jon ganhou estas terras?

— Sim, tudo, desde a casa principal até a vila.

Oh! Até a vila? Então era por isso que todos o respeitavam na região. Ele era o dono de tudo. Mas outra coisa lhe atraíra a atenção:

— Há uma casa principal aqui? – então havia uma casa digna de um Duque naquele lugar.

— Há milady, do outro lado do lago, há uma milha daqui... mas sir Hawkins não gosta dela. Prefere ficar aqui sempre que vem. Minha família trabalha lá, meus irmãos e meu pai, eles cuidam muito bem da residência.

— Acredito em você... – Annie concordou sorrindo, ela queria saber mais: - Mas como isso aconteceu? Como Jon ganhou tudo isto? – ela fez contas rápidas de cabeça. Seu marido tinha vinte e seis anos. Sete anos antes lhe daria dezenove. Aos dezenove ele mal ingressara no curso de administração.

Bridgite então desandou a falar como se tivesse aberto uma torneira.

— Eu tinha doze anos na época. Meus pais viviam aqui, nós passávamos trabalho porque Sir Thompson não se preocupava com coisa alguma, nem com os arrendatários, nem com a vila... nada. Havia grupos de salteadores nas estradas. Foi uma época muito ruim... e quando Sir Hawkins chegou, tomando posse de tudo, acreditamos que seria ainda pior, porque, segundo meu pai, ele era muito jovem, jovem demais para cuidar do que ganhara. Mas... nossa vida melhorou.

— Ele é administrador. – Annie falou alto, mais para si mesma do que para a garota.

— Como disse milady? – Bridgite se voltou para encarar a mulher do patrão.

— Nada importante... e o que aconteceu com Sir Thompson?

— Ele morreu. Se matou milady... enforcado. – a garota se benzeu.

Annie não esperava por aquilo.

— Que coisa horrível!

— Dizem que ele se matou por vergonha... – Margô falou pela primeira vez.

— E a família dele?

— Ele não tinha família milady, ninguém. Era solteiro, e estava arruinado segundo papai sempre fala.

 O som de passos rápidos pelo corredor acabou com a conversa. Todas sabiam de quem eram aquelas passadas firmes. Jon Hawkins acabava de chegar. Parecia apressado. Ia seguir pelo corredor em direção à escada, mas ao ver a esposa sentada à mesa, junto com as garotas, estacou na porta. Olhando o trio detidamente.

Estava acontecendo alguma coisa ali. Annie o olhava de forma estranha.

— O que foi? – perguntou finalmente entrando na cozinha – O que aconteceu aqui? Algum problema?

Annie ficou em pé, segurou-lhe a mão num gesto carinhoso. Lentamente aliviando a tensão que de repente ele sentira ao vê-la ali, conversando sozinha com Bridgite e Margô. Pois, em se tratando de Annie, qualquer coisa pode se transformar em um problema.

— Está tudo bem. Elas estão terminando o almoço. Você está com fome?

Os olhos castanhos dele se detiveram sobre os dela. Annie se perguntou quem era realmente aquele homem. E quantas coisas mais descobriria sobre ele.

— Não... – mas estava sim com uma vontade grande de voltar para casa e encontrá-la. – O que fez toda a manhã? – perguntou num tom ameno.

— Passeei por ai.

Ele sorriu.

— E você? Conseguiu resolver o problema?

— Tudo resolvido. – ele concluiu passando a mão na cintura dela antes de sussurrar: – Vamos subir?

— Vamos... – Annie concordou quase que imediatamente.

A dupla saiu da cozinha sob os olhares sonhadores de Bridgite. Para a garota, aquele era o casal mais bonito que já vira.  

*****************

Jon se sentou pesadamente no sofá estreito, estendendo as pernas, e trouxe Annie consigo. Ela permitiu que o marido a acomodasse encostada em seu corpo. E apoiou a cabeça no ombro dele.

— As pessoas por aqui recorrem a você para tudo o que precisam? – ela perguntou de repente.

— Na verdade, é minha obrigação e vantagem atendê-los. Se tudo vai bem para eles, tudo vai bem para mim.

Annie se afastou um pouco dele encarando os olhos perspicazes.

— Me conte como você ganhou estas terras.

Jon suspirou rapidamente.

— Sabia que você estava interrogando a dupla lá embaixo... definitivamente não posso deixar você sozinha!

Ela riu.

— Não estava interrogando. Estávamos conversando, e aí, um assunto leva a outro e...

— E então Bridgite lhe contou que eu ganhei isto aqui num jogo de cartas...

Annie se afastou para olhá-lo nos olhos.

— Foi um jogo de cartas? Ela apenas me disse que foi em um jogo.

— É, foi... – ele concordou.

— Como?

— Oras Annie... eu passava muito tempo em lugares pouco recomendáveis quando jovem, sem falar que sempre tive sorte com as cartas. Ganhei muito dinheiro, cavalos, joias. E num desses jogos, ganhei estas terras.

Ele parecia não gostar muito de falar no assunto.

— Não entendo como você pode ter ganhado isto... estas terras não faziam parte de um condado?

— Sim, mas não era a propriedade principal. Era apenas uma parte, o resto não sei o que fizeram depois que Thompson se... suicidou. – os olhos de Jon de repente perderam o foco.

Diante da expressão no rosto dele, Annie se calou por alguns segundos.

— Você se sente culpado? – ela perguntou de repente.

Sentir-se culpado não eram as palavras corretas. Mas,  incomodava o fato de alguém ter se suicidado logo depois de ter perdido boa parte de seu patrimônio num jogo com ele.

— Thompson apostou porque quis... Richard, um amigo de escola, que estava sempre comigo nessas ocasiões, – era a primeira vez que Jon falava de um amigo da época de escola. Pois todos os que possuíam a mesma condição social que ele, e o conheciam daquela época, pareciam odiá-lo. – sempre me dizia isso. Mas...

— Você se sente culpado. – não era mais uma pergunta.

Ela afagou suavemente o rosto dele. “Duque monstro”. Fora assim que Daisy se referira a Jon. Mas aquele homem diante dela não parecia em nada com um monstro.  


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Notas finais do capítulo

A cada capítulo um pouco mais sobre ele, e sobre ela também. Sobre como ela o vê. BJ e obrigada as meninas pelos reviews. E também a todas que estão acompanhando a fic.



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