A ilha - Livro 1 escrita por Letícia Pontes


Capítulo 30
Capítulo 30 - Protetora das águas




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Eu sei que eu não deveria ter tanto medo. Não é como se eu fosse me afogar. Eu poderia me transformar em sereia a qualquer instante, bastava querer, mas meu medo era de descobrir o que estava me tocando de forma tão bruta apesar de parecer tão pequeno. Era como se várias mãos miúdas tentassem mE puxar. Por sorte, eu era mais forte e nadei desesperadamente até conseguir sair de dentro da água. Tossindo e cuspindo água eu fiquei o mais longe possível do rio para só então ter coragem de olhar para ele.

As águas ainda estavam agitadas, porém não parecia que alguém ou alguma coisa ainda poderia estar se mexendo lá dentro. Levantei-me ofegante e me aproximei devagar. A água incrivelmente cristalina me fez ver que não havia absolutamente nada lá. Eu não tinha coragem de me arriscar novamente. Eu estava assustada ali sozinha. Peguei minhas coisas e sai apressadamente pelo caminho que havia vindo.

Mandei uma mensagem para Ivo assim que entrei no meu quarto.

“Aconteceu algo estranho hoje. Estou assustada e infelizmente só tenho você com quem contar.”

Tomei um longo banho e sai do banheiro esperando ter recebido alguma resposta do Ivo, mas tive a surpresa de encontra-lo sentado na minha cama sendo observado pelas meninas. Todos em silencio.

— Que esta fazendo aqui¿

Perguntei e como resposta ele levantou o celular dele balançando-o.

—A mensagem que me mandou – ele disse quando eu demonstrei ainda não ter entendido

As meninas viraram os olhos e aguardaram uma resposta minha.

—Ah... - eu não sabia o que dizer – ok. Vamos.

—Pra onde¿ - ele perguntou parecendo mais confuso do que eu e vi um olhar das meninas que não entendiam nada.

Sai do quarto sem respondê-lo e chamei o elevador rapidamente querendo fugir da presença delas que a qualquer instante nos encheriam de perguntas. Ele entrou comigo e vi a meninas aparecendo na porta do quarto nos olhando e cochichando entre elas.

—Você ficou maluco¿ - falei alto assim que a porta se fechou a nossa frente – aparecer lá no quarto assim, elas ficaram mega desconfiadas.

—O que você esperava¿ - ele retrucou – você falou que estava assustada, achei que...sei lá...

Virei os olhos e desci no andar térreo do hotel andando apressadamente.

—Aonde estamos indo¿ - Ele perguntava baixo do meu lado – Vai encontrar com elas¿

—Não. Descobri um lugar.

—Que lugar¿

—Tenha calma – falei saindo finalmente do prédio e olhando para trás para ver se ninguém nos vira

Andamos pela calçada, já deveria passar da sete da noite. As ruas estavam cheias, porém silenciosas. Andamos um bom tempo calados até finalmente ele se manifestar.

— Fala logo aondE nós vamos, olho de gato.

—Pare de me chamar assim – falei irritada – eu achei um lugar, um rio.

—Nossa. Grande bosta! – ele parou na calçada – ME chamou para ver um rio¿

—Eu posso terminar de falar¿ - continuamos andando – Eu entrei nele para tomar banho, mas aí começou um barulho absurdamente horrível e também algo me puxou para baixo.

—Pietra, não é por nada não, mas nem tudo agora é algo sinistro.

—Como assim¿

—Você está ficando paranoica. Você entrou num rio e já acha que está ouvindo e sentindo coisas. Também viu algo¿

Fechei a cara.

—Se não quiser, não venha então.

—Se eu não for – ele riu – você morre de medo lá sozinha.

—Não seja ridículo – desci pela areia da praia e observei a floresta – acho que precisávamos de lanternas...

—E agora que você diz¿ - ele respirou fundo – tem uma loja do outro lado da pista, venha.

Atravessamos correndo e compramos duas lanternas grandes rapidamente voltando para a entrada da floresta.

Estávamos parados ali, ouvindo som de corujas. Sem as lanternas, não veríamos muita coisa a nossa frente.

—Agora entendo seu susto. Essa floresta é sinistra.

—Meu susto não foi coma floresta. Foi com algo dentro da água, já falei.

Adentramos ao ambiente escuro sem saber ao certo o que nos aguardava ali. As árvores pareciam maiores e o caminho mais estreito. A lua não iluminava aquele lugar devido à copa densa das árvores. Depois de alguns poucos minutos Já podíamos ver o a água do rio a distancia.

—Faça silencio – eU disse – se tiver algo ou alguém aqui, não quero que nos veja chegar.

— O que você espera encontrar aqui, criatura¿

—Ivo, apenas colabore!

Desliguei a lanterna incitando Ivo a fazer o mesmo e me abaixei para observar o lago calmo.

—Não há nada aí, deixa de ser boba e se aproxima de uma vez.

Continuei em silencio e me aproximei mais do rio. Ivo não parecia nem um pouco interessado no que quer que houvesse ali.

— Pietra...

—Shi!

—Já sei o que você quer.

Olhei para ele sem entender.

—Você só queria me encontrar aqui nesse lugar longe e escuro...

Ele fez silencio e então eu ouvi o que ele provavelmente ouvira. Alguém pulara na água.

Corri em direção á agua e gritei para quem eu vira lá dentro.

—Ei!

A pessoa parou ainda de costas para mim, seu corpo submerso e apenas no peito para cima podia ser visto. Apontei a lanterna rapidamente em direção á pessoa, porém ela mergulhou rápido sumindo de minha vista.

—Pule! – Ivo me falou

—Não! – falei assustada

—Eu estarei aqui, vá!

A minha curiosidade falou mais alto então em questão de cinco segundos eu já havia tirado a minha roupa e pulado dentro da água procurando o que quer que fosse.

Apesar de cristalina havia bastante vitória-régia e algas naquela água. Minha visão foi tampada algumas vezes pelas plantas, mas assim que me transformei em sereia pude enxergar muito melhor alí. Dava para ver o rastro na água deixado por quem quer que tenha pulado dentro daquele riu, então eu o segui.

Percebi estar em outro ambiente dessa vez, então nadei para cima devagar até finalmente estar fora da água e de cara com um ser estranho.

De inicio achei ser uma simples mulher, porém seus olhos, pele e cabelo me diziam que ela não era humana. Seus olhos verdes aguados quase que transparentes estavam fixos em mim, ela parecia tão assustado quanto eu, tinha cabelos oleosos e uma pele escamosa como se fosse metade peixe. Mas não como eu. Ela tinha pernas, mas pernas escamosas. Ela me olhava tão curiosa quanto eu a ela.

E de repente ela gritou. Aquele mesmo som horrível que eu ouvira antes.

 


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Notas finais do capítulo



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