Fita Azul escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 45
Milho, Gravatas & Confissões


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas!!!
Adivinha quem tá fazendo dez anos desde que postou a primeira fanfiction?! o/
(Eu já deveria ter aprendido a finalizar elas .-.)
Para comemoraaaaar, trago esse capítulozinho pra vocês (ia ter de EMNSC também, mas eu tô ficando loooouca no trabalho e vai ser um cadinho adiado!).
Boa leitura!


Recapitulando:
— Thalia já foi assediada pelo chefe, Bryce Lawrence numa festa, mas não falou pra ninguém; Ela foi salva por Luke na ocasião;
— Durante o Halloween, ela foi assediada novamente por Bryce e salva por Nico e Reyna.
— Bryce continuou com implicâncias sutis no trabalho e a fez ficar horas depois do expediente terminando um relatório. Quando foi entregar, mais uma vez ele a assediou, mostrando que sabe do passado dela, e dessa vez Thalia retrucou: ameaçou chamar um advogado e está temendo perder o emprego.
— Dimi está apresentando uma peça muito fofa nesse mesmo dia, em que ele é o milho mais fofo, e toda sua família está lá para vê-lo.
— Thalia e Nico estão saindo desde o final de outubro, mas não possuem nenhum relacionamento definido.
— Por último, Nico nunca gostou de falar sobre a irmã, Thalia sequer sabe o nome dela, e isso é algo que vocês tem que ter em mente na história.



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— Hey! — Nico sorriu ao vê-la sair da estação de metrô, mas Thalia nem estava refletindo suas atitudes: lhe deu um beijo rápido nos lábios, não os familiares beijos na bochecha, e saiu puxando-o, sem perder tempo com as formalidades.

Thalia havia bloqueado qualquer pensamento sobre Bryce e se concentrado exclusivamente em como chegar o mais rápido possível na apresentação de Dimi. A solução mais óbvia era a de pedir para Nico buscá-la na estação e isso em nada tinha a ver com a forma como Nico sempre a acalmava e era o que ela precisava no momento, Thalia dizia a si própria. 

— Tá tudo bem? — O Di Angelo questionou, tentando acompanhar os passos rápidos antes que seu pulso fosse arrancado. 

— Sim, está! — respondeu enfática demais, deixando ainda mais óbvio como ela estava estranha. No entanto, Nico não tinha certeza de que seria uma boa perguntar, então apenas abriu a porta do carro para Thalia, que sorriu, beijando-o novamente nos lábios. — As vezes eu me esqueço de quão fofo você é!

Nico ficou vermelho e sorriu bobo, sem saber o que responder enquanto entrava no carro. 

— Acha que vamos chegar muito atrasados? — Thalia perguntou, fechando o vidro enquanto o via dar a partida. 

— As apresentações já começaram, mas a  de Dimi é a última. Temos tempo pra comer, tem certeza que não quer parar em algum lugar? 

— Não tô com fome. — Thalia fez um careta, tirando o blazer e começando a desabotoar a camisa vermelha. Durante a ligação Nico havia feito a mesma pergunta, sugerindo até comprar algo para que ela comesse no carro, mas a resposta havia sido a mesma.

Nico focou os olhos na pista, tentando ignorar o sutiã igualmente vermelho que pouco tampava dos seios ou o aroma adocicado do hidratante que Thalia espalhava sobre eles.

— Você comeu algo hoje? —Ele questionou, não deixando de reparar na forma como ela estava pálida. 

— Café da manhã conta? — Mais uma vez ela fez uma careta, dessa vez tirando uma blusa mais despojada da bolsa, vestindo-a sobre o sutiã, mas mantendo um belo decote. 

— Não, não conta. — Nico ficou sério, usando a expressão que normalmente guardava para quando Hazel aprontava. — Eu comprei uns donuts no caminho, estão no banco de trás. 

— Tudo bem, papai. — Thalia debochou, resolvendo aceitar apenas pelo gesto de carinho. — Não precisa me deixar de castigo. 

Nico apenas fez uma careta, sorrindo logo em seguida ao vê-la pegar a caixa e, um a um, se deliciar com cada um dos quatro doces;

— Achei que não estava com fome. — Foi a vez de Nico debochar, vendo-a sorrir culpada enquanto retocava a maquiagem.

— Talvez eu estivesse um pouquinho.

— Um pouquinho? Se tivesse uma ceia aqui você comeria tudo!

— Engraçadinho. — Ela lhe deu língua, fazendo-o rir. — Falando em Ação de Graças, onde vai passar esse ano?

— Meu pai combinou de vir com minha irmã e, no natal, eu e Hazel vamos para a Itália. Mas meu pai me ligou hoje cancelando, então acho que vamos ser apenas nós dois. E você?

— Ação de graças aqui e natal em Londres. — Thalia revirou os olhos, suspirando. — Falando em irmã, por que nunca me contou que ela namorou com Connor Stoll?

Nico engoliu em seco e apertou os lábios, focando os olhos na pista para não encará-la. 

— Foi há muito tempo. — murmurou. 

— Por isso vocês não se dão bem? — ela continuou. — Tive essa impressão na festa do Luke.

— Não nos damos bem? — Nico ergueu a sobrancelha confuso e, em seguida, riu. — Não é nada disso. É só que ficamos um pouco sem graça perto um do outro. Eu vi algo que eu realmente não queria quando eles namoravam. 

— Não me diga que você pegou sua irmã dando uns amassos. 

Nico fez uma careta de nojo e Thalia segurou a risada.

— Um pouco mais que isso. — respondeu. — Eu já não me dava muito bem com minha irmã, depois disso ela ficou ainda mais irritada comigo. 

— Você é o irmão pentelho, então? — Thalia brincou, dessa vez soltando os cabelos e os ajeitando com os dedos.

— Segundo minha irmã, com certeza. — Nico retorquiu. — Mas vamos mudar de assunto, não gosto muito de falar dela. Como foi o seu dia?

Desta vez, Thalia quem desviou os olhos para a janela, ficando com o corpo tenso. 

— Tá tudo bem? — Nico perguntou novamente, tocando-a levemente na coxa antes de trocar de marcha. Thalia o olhou e apertou nos lábios, suspirando.

— É só o trabalho… — resmungou, no entanto, seus olhos deixavam claro que havia algo mais. O italiano desviou os olhos da pista por alguns segundo, deixando espaço para que ela se abrisse e ela desviou os olhos novamente para a estrada, sem saber como encará-lo. — Meu chefe está dando em cima de mim. 

Thalia o olhou de rabo de olho tentando, em vão, decifrá-lo. Nico mantinha os olhos na rua e estava sério, sem qualquer sombra de sorriso. Estaria com ciúmes? Já saiam há um bom tempo e nunca havia falado de exclusividade, de certa forma não havia qualquer compromisso entre eles. Não que Thalia estivesse ou quisesse sair com mais alguém, principalmente com Bryce. E ela tinha a impressão que Nico também não.

— E isso é ruim? — ele perguntou por fim, ainda sem expressar qualquer sentimento. 

— Sim. — Ela respondeu, por fim olhando-o. — Eu não quero nada com ele e não sei se ele consegue entender isso.

— É o mesmo da festa? — Nico perguntou, fechando mais o semblante quando ela assentiu com a cabeça. Ele apertou o volante a ponto dos nós dos dedos ficarem brancos e era difícil dizer se estava surpreso ou com raiva.  — Ele continua te assediando?

Thalia sentiu o estômago embrulhar diante da palavra. Assédio era uma palavra muito forte e ela se perguntava se enquadrava no que havia acontecido.

— Podemos falar disso mais tarde? — Ela pediu, suspirando grata ao reconhecer os prédios ao redor do colégio. 

— Tudo bem. — Foi a vez do italiano suspirar tentando relaxar e forçar um sorriso. — Tenho a impressão de que sua família vai me sequestrar depois da peça mesmo. 

— Minha família te adora. — Thalia sorriu, brincando. — Acho que eles devem ter algum problema. 

— Só eles? — Nico ergueu a sobrancelha e deu um sorriso de lado.

Ela riu, apertando-o levemente na coxa, sentindo seu corpo relaxar um pouco. 

— Claro. Quem mais seria?!

 

(...)

— Momi! Momi! — Dimitri gritou assim que viu a mãe, ainda vestido com a roupa redonda e amarela de milho e um chapéu branco cobrindo sua cabeça. — Você me viu? Viu a peça?

— Se eu vi o milho mais fofinho desse mundo?! Eu acho que não! — Ela retrucou, pegando o filho no colo e também ignorando os protestos da professora que chamava todas as crianças de volta aos bastidores para trocarem de roupa. 

— Agora tá vendo! — O menino retrucou, sorrindo orgulhoso.

— É claro que eu vi, meu amor! — Thalia riu, enchendo-o em seguida de cócegas e beijos. — Você estava tão lindo e fofo! Até quero um autógrafo do maior astro de teatro!

— Dimi, diga para as gatinhas fazerem fila pra ganhar beijos! — Jason brincou, olhando ansioso para o camarim. — Temos muito o que resolver!

— Eu tenho uma nôva, tio Jay! — Dimitri retrucou, olhando ansioso em volta. — Cadê a Hazz?!

— Aqui! — A pequena Di Angelo gritou, encolhida ao lado do pai em meio a multidão de pessoas que se apressaram para sair do auditório. 

Dimitri não perdeu tempo: saltou do colo da mãe e logo abraçava a amiguinha, elogiando os cachinhos trançados e comentando eufórico sobre a peça. 

— Acho que perdi meu filho. — Thalia resmungou dramaticamente, fazendo um bico. 

— Não dá pra competir com Hazel. — Hera alfinetou. — Tenho certeza que será uma enteada incrível!

Thalia ergueu a sobrancelha para a madrasta antes de virar-se para Nico: 

— Se eu fosse você tomava cuidado com essa daí. 

Nico apenas riu sem graça, balançando a cabeça em negação. 

— Que tal irmos jantar? — Zeus chamou, já ficando impaciente. 

— Boa ideia, vou levar Dimi para trocar de roupa! — Jason se prontificou, já segurando a mão do sobrinho e o puxando em direção a professora substituta.

— Nós vamos também, papai? — Hazel perguntou fazendo um bico. 

No entanto, antes mesmo que o italiano pudesse formular uma resposta, Thalia o puxou pela gravata.

— Mas é claro que vão!

Nico apenas riu, concordando e a seguindo.

(...)

Após o jantar, Thalia deixou Dimi brincando com Hazel na sala e subiu para o quarto, sua mente processando os acontecimentos na HTK e ela enfim se dando conta de que logo estaria demitida. O arrependimento começava a surgir, bem como o pânico, contudo,  não podia se deixar intimidar. 

Suspirando, tirou as sandálias e as bijuterias, deixando-se cair sentada na cama. Queria voltar a adolescência, quando chamava as amigas e podia desabafar em momentos assim, como agora que sua mente parecia gritar que ela havia feito uma enorme besteira e logo estaria desempregada, quando o filho tanto precisava dela. Se estivesse com as amigas, sabia que elas apenas deixariam Thalia se enrolar na cama e começariam a dizer quão babaca Bryce havia sido, que Thalia estava certa e que elas deveriam sair para dançar no clube da rua de cima em vez de estarem triste. Thalia sentia muita falta dessa fase e das amigas.

Sabia que ela poderia simplesmente ligar para Silena e desabafar, mas não parecia justo quando Silena estava tendo tanto para lidar com Charles, Clarisse e o bebê. Além do mais, não era exatamente de Silena que Thalia estava sentindo tanta falta. Claro, elas haviam sido grandes amigas no ensino médio e Silena havia ajudado Thalia incontáveis vezes. 

Mas a verdade era que Silena não era a maior confidente de Thalia. Havia uma outra garota, melhor amiga delas, alguém com quem Thalia tinha mais afinidade e intimidade. E desde que havia visto o pequeno cartão preto com letras cursivas e prateadas na mesa de Bryce, Thalia não conseguia deixar de pensar nela.

Bianca Matarazzo. A italiana que escutava mais do que falava, que tinha uma malícia no olhar e uma história tão parecida com Thalia. Bianca que também tinha perdido a mãe, tinha um pai negligente e não sabia onde era seu lar. Bianca que também havia sido tirado da sua terra natal e tentava sobreviver ao ensino médio de cabeça erguida. Bianca que a havia abandonado assim que a formatura acabou.

Mudou de endereço, número de telefone e nunca disse a ninguém. E, agora, Thalia tinha o e-mail e a saudade incentivando-a desde que havia lido no pequeno cartão na mesa de Bryce. 

Thalia apertou os lábios, abrindo o aplicativo de email no celular. O que custaria enviar uma simples mensagem? Elas haviam sido amigas. Ela poderia enviar um “oi”, certo?

Não, não poderia. Thalia suspirou, jogando o celular mais afastado na cama e levando as mãos ao rosto, tentando esclarecer seus pensamentos. Reclamar e se arrepender não ia adiantar nada, só precisava ser forte. Já havia conseguido um emprego, não seria impossível conseguir outro. 

A batida na porta rompeu seus pensamentos. Abrindo os olhos, Thalia notou Nico na porta entreaberta.

— Posso entrar? — Perguntou cauteloso e Thalia sentiu seu coração acelerar. Não era hora pra aquilo, coração! 

— Pode. — Thalia sorriu, tentando ignorar as reações do seu corpo ao vê-lo entrar no quarto e fechar a porta com cuidado, obviamente desconfortável. Ele parecia tão… fofo… ali no meio do quarto de Thalia. Mas ela não poderia dizer aquilo, apenas chegou para o canto na cama, um gesto claro para Nico se aproximar.

— Vim ver se está tudo bem. 

— Perfeitamente. — Thalia mentiu, vendo-o se sentar ao seu lado, mais próximo do que ela esperava.

— Certeza? — Nico ergueu a sobrancelha. — Você me arrastou pela gravata até aqui e me abandonou sozinho lá em baixo.

O italiano fez um bico dramático e Thalia não conteve a risada, aproximando-se mais e tocando o rosto de Nico. 

— A reclamação é por ter te puxado ou ter te abandonado? — Thalia sussurrou, seus rostos tão próximos que podia sentir o hálito de menta de Nico. 

— O que você acha? — Ele retrucou, o timbre rouco e Thalia mordeu o lábio inferior, descendo os dedos pelo pescoço de Nico até alcançar a gravata.

Sorrindo maliciosa, ela o puxou devagar pela gravata preta, até que seus lábios se encontrassem em um beijo longo.

— Pensei em fazer isso a noite inteira… — Nico sussurrou, seus lábios ainda próximos aos de Thalia, sua respiração um tanto exasperada e com cheiro de menta. — Desde o momento que te vi na estação, eu queria te beijar de verdade.

A Garce sorriu, um tanto atordoada pela intensidade das palavras e dos beijos de Nico. Talvez fosse álcool que o fizesse agir assim, mas eles não haviam tomado vinho no jantar, então, talvez fosse apenas a intimidade que estavam criando. Era difícil ter certeza, principalmente quando Thalia mal conseguia se concentrar nos lábios de Nico para retribuir o beijo de um jeito decente, imagina refletir sobre qual era o nível do relacionamento deles. 

Sim, relacionamento. Thalia sabia que, ainda que não tivessem nomeado para namoro, affair, ou algo similar, eles estavam construindo algo importante e sério, que ia além de beijos quando as crianças estavam longe, mas que também envolvia confiança.

— Mas você parece que não. — Nico brincou, sorrindo ao acariciar o rosto de Thalia com o polegar, seus olhos escuros a analisando

— Desculpe. — Thalia suspirou, fechando os olhos por um segundo e abaixando a cabeça, tentando afastar os pensamentos sobre Bryce da cabeça. — Acho que não estou no clima hoje. 

— Tudo bem. — Nico respondeu, sua voz baixa e Thalia sentiu os lábios dele em sua testa, em um beijo calmo. —  Só estou preocupado com você. — Ele confessou e Thalia ergueu o rosto, olhando-o nos olhos.

Thalia suspirou novamente, dizendo a si mesma que poderia confiar em Nico e, de fato, precisava conversar com alguém. Bianca estava sumida, Silena preocupada com a própria vida e Jason era fora de cogitação. Talvez fosse o momento de se abrir um pouco mais aquele relacionamento e Nico parecia mais do que disposto a escutá-la. 

No entanto, o medo de falar justo com Nico também estava ali. E se ele achasse que ela dava em cima do chefe? E se ele achasse tudo aquilo fútil? E se ele achasse que Thalia havia exagerado? Bom, aquilo provavelmente significaria que ele não era quem ela pensava que ele era, e significaria que eles nunca poderiam ter um relacionamento saudável.  E aquele pensamento doía também. 

— Quer conversar? — Nico perguntou suavemente, ainda a acariciando na bochecha. 

Thalia tomou sua decisão, assentindo com a cabeça. Em silêncio, deitou sobre o peito de Nico, abraçando-o pela cintura e ouvindo o coração acelerado. Seria mais fácil contar se não o olhasse nos olhos e não pudesse ver seu rosto. O italiano pareceu retesar o corpo, provavelmente estranhando a posição — Thalia se perguntou se eles já haviam ficado naquela posição antes, mas não lhe vinha nada na mente — e demorou um segundo para envolvê-la em seus braços, beijando-lhe o topo da cabeça. 

— Você se lembra do Halloween? Do meu chefe na festa do Luke? — Thalia começou, seu coração parecendo acelerar mais e, desta vez, por causa do nervosismo da reação de Nico também. 

— Lembro. — Nico respondeu, a mão direita nos cabelos de Thalia em um leve carinho. 

— Você me salvou dele me chamando de amor”. — Dessa vez Thalia sorriu, lembrando das provocações que aconteceram durante a noite por causa do termo. 

— Ainda não sei se posso te chamar assim ou não. — Nico riu e ela sentiu o corpo relaxar, levantando o rosto para poder olhá-lo, notando o leve tom avermelhado nas bochechas. 

— O que eu disse sobre isso? — Ela ergueu a sobrancelha, seus olhos focados no sorriso de Nico.

— Eu não sei, eu estava bêbado. Pode repetir?

— Vai ter que tentar a sorte agora. 

Thalia brincou, um pouco hipnotizada pela boca de Nico, um tanto próxima da sua, mas não o suficiente. O italiano notou seu olhar, abaixando o rosto até que não houvesse mais distância, beijando-a lentamente.

— Talvez depois. — Nico afastou-se, olhando-a nos olhos e acariciando na bochecha novamente. — Quando você estiver um pouco menos preocupada.

Thalia assentiu, segurando a mão de Nico e a apertando, tomando coragem para continuar.

— Tudo bem. — Ela se rendeu depois de alguns segundos, decida a terminar de contar olhando-o nos olhos, mas com a cabeça sobre o ombro de Nico. — Não foi a primeira vez que tive problemas com ele.

Nico continuou calado e seu semblante se tornou mais sério, provavelmente juntando o que Thalia havia dito no carro com o que contava agora. 

— Na verdade, antes do Halloween ele já havia tentado algo comigo. E ignorado quando eu disse não.

Thalia assistiu todo o corpo de Nico se retesar, seus lábios apertados e os olhos arregalados. Mais uma vez era difícil dizer se ele estava surpreso ou se era raiva.

— Como assim?!

— Foi naquela noite que sai com o pessoal do trabalho e você dormiu aqui. — Thalia começou, apertando a mão de Nico entre as suas. — Ele começou a agir como um idiota e falar da minha roupa… — Ela fez uma pequena pausa, balançando a cabeça. — Mas não aconteceu nada porque Luke apareceu.

— Thalia, você tem que tomar cuidado com esse stronzo. — Nico murmurou exasperado, seu sotaque italiano mais forte denunciando o nervosismo. 

— Eu tenho. — Thalia assegurou. — Hoje ficamos só nós dois e ele tentou de novo… Eu dei um basta nisso, ameacei processar ele. E, agora, vou direto pra rua. 

Finalizou amarga, abaixando os olhos até onde suas mãos estavam atadas a de Nico.

— Eu fui ignorante, agressiva e impulsiva. — Confessou, um tanto irritada. — Exatamente como era na adolescência e, pelo jeito, exatamente como continuarei sendo.

— Ei, não fale assim. — Nico pediu, seu tom de bronca, mas suave. — Você apenas se defendeu, esses caras não entendem mensagens sutis. O que ele fez foi assédio, há leis contra isso. 

— Eu sei, mas o que adianta? — Thalia exclamou, exasperada. No fundo, ainda se perguntava se não estava exagerando. — Eu não tenho nenhuma prova, nenhuma testemunha. Estou naquela empresa há só três meses e é a palavra dele contra a minha!

— Sim, você tem. 

— Não me leve a mal, mas acha que sua palavra ajudaria muito? — Thalia fez uma careta, suspirando. — Vão dizer que você está mentindo, você não é exatamente uma testemunha impessoal.

— Eu sei, não estou falando de mim. — Nico continuou, tocando o queixo de Thalia com a mão esquerda. — Você disse que Luke estava com você na primeira vez.

— Mas ele não viu nada. — Thalia suspirou. — Além do mais, eles são amigos e sócios. Não posso pedir isso pra Luke sem ter provas.

— Ainda assim você tem uma pessoa. — Nico continuou. — Reyna.

— Reyna? — Thalia franziu a testa. — A irmã de Hylla?

— Reyna viu o que aconteceu na festa. 

— Mas ela é irmã de Hylla. — Thalia acentuou. — Por que ela faria isso por mim?

— Justamente por ser irmã de Hylla que que torna o testemunho dela ainda mais forte. Eu posso pedir pra ela interceder a seu favor, acredite, Reyna nunca me nega nada. E ainda se negasse, eu posso cobrar um ou outro favor. Não foi nada fácil ser cupido dela e de Jason.

— Eu agradeço por isso, mas ainda assim não acho que ela faria. Isso significaria ficar contra a própria irmã e não acho que ela faria. Eu não faria nada que pudesse prejudicar Jason.

— Escute, eu não conheço ninguém mais justo do que Reyna, tenho certeza que ela contaria a verdade. — Nico reafirmou. — E sei que Hylla confia na irmã mais do que em qualquer um, eu conheço a história das duas: cresceram tendo apenas uma a outra. Hylla acreditaria na palavra de Reyna. O que eu estou tentando te dizer é que você não precisa levar isso pros tribunais. Converse com Hylla, conte o que aconteceu. Ela vai saber que providências tomar.

— Eu não gosto dessa ideia. — Thalia murmurou em posição de defesa. 

— Por que não?! — Nico retrucou, levemente exasperado. — Você tem uma testemunha forte e o risco de ficar calada é quase o mesmo que o de falar com Hylla: ser demitida. A diferença é que, ficando calada, você vai estar dando a chance dele repetir isso. Se não com você, com alguma outra funcionária. 

— Mesmo assim. Se você parar pra pensar, isso tudo foi fora da empresa e hoje foi fora do expediente. Normalmente ele se comporta, não tem problema nenhum.

— Não tem problema nenhum?! Thalia! Até agora ele não ultrapassou completamente o limite com você, mas ele vai! Se não com você, com outra! Por que não denunciar ele?! Por que tem tanto medo?! 

Porque eu não quero que descubram do meu passado.”, Thalia pensou. “Porque não quero que tudo venha à tona, não quero que Dimi descubra, que você descubra tudo o que eu fiz!

— Porque é a palavra dele contra a minha. — respondeu por fim. —  Eu estou lá só há três meses e ele é o dono! Sabe o que pode acontecer com minha carreira?! Eu vou ficar com uma marca enorme e vou ter que mudar de profissão. As pessoas já não querem me contratar com meu passado, acha que preciso de mais um problema?! Eu não posso, Nico! Não posso jogar tudo o que trabalhei no lixo por causa de algo tão bobo! Você realmente acha que vale a pena?! Você realmente iria jogar tudo pra cima tendo Hazel pra cuidar?!  O que você faria no meu lugar?!

Nico parou, a respiração pesada e o rosto vermelho, agora de raiva. Ele fechou os olhos e trincou os dentes, Thalia quase podia ouvi-lo contar até dez e, quando abriu os olhos novamentes, as íris escuras estavam repletas de preocupação.

Como várias vezes naquela noite, ele a acariciou na bochecha a olhando nos olhos, a expressão mais triste que nervosa. 

— Eu não sei o que faria no seu lugar. — confessou, por fim. — Mas quero que me conte se algo acontecer, e não me perdoaria se ele te forçasse ao que você não quer. Às vezes esses caras são tão machistas que só escutam outros caras.

— Eu sei. — Thalia suspirou. — Mas não sei se é o caso dele, afinal, você já tentou resolver naquele dia. Vou apenas esperar e ver o que acontece. E comprar um spray de pimenta. Li em algum lugar que alguns se transformam em lança, será que acho para comprar?!

— Acho que vi isso em uma super heroína. — Nico riu, a envolvendo em seus braços.  — Acho que daria certo com você.

Thalia sorriu, escondeu o rosto no peito de Nico e aproveitando a sensação de calma que o ritmo acelerado do coração dele e a temperatura alta lhe fazia sentir-se segura. Ela podia passar muito tempo assim, pensava, confortável e sem ter que se preocupar com mais ninguém. Contar para Nico havia sido uma boa ideia, seus ombros pareciam mais leves e os pensamentos mais claros, mas a ansiedade e nervosismo ainda estavam ali.

Ela sentiu o beijo de Nico no topo da sua cabeça e o apertou mais, aspirando o cheiro de madeira da colônia e de lavanda das roupas. 

— Vou acabar dormindo aqui. — Murmurou, sentindo os dedos de Nico passearem por seu cabelo. 

— E como eu volto pra casa? — O italiano riu.

— Não volta. — Respondeu atrevida, erguendo o rosto para o de Nico. — Dorme comigo hoje.

Pediu, forçando um bico, mas que logo se desfazia em um sorriso malicioso. 

— E que desculpa eu dou pros seus pais? — Nico questionou, erguendo a sobrancelha. 

— Depois de hoje, acha que realmente precisa de desculpa ou que exista alguma desculpa que realmente funcione? — Thalia sorriu marota, passando as mãos pelo tórax de Nico até a gravata. 

— Eu tenho a impressão de que você adorou fazer isso. 

— Você acha? — Thalia brincou, puxando-o novamente pelo tecido para si, aproveitando para beijá-lo “de verdade” dessa vez, com direito a todas mordidas e amassos que a proximidade permitia. 





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Notas finais do capítulo

É até um pouco irônico que essa parte final do capítulo eu tenha escrito há dois anos (recentemente achei esse trecho) e tenha passado por algo similar em março.
Eu estava no ônibus que volto do trabalho e um cara com conversa amigável, falando da própria esposa até, começou a me elogiar muito. Desconfortável, eu disse que ia tentar dormir e fechei os olhos. Logo em seguida acordei assustada com ele alisando meu braço, falando que eu tava gelada. Tentei me esquivar, fingir dormir de novo, mas acordei mais duas vezes com a mesma situação: ele me alisando falando que eu estava com frio e uma conversa que tentava soar amigável.
A prisão mental é a pior: você fica o tempo todo se perguntando se não tá vendo malicia onde não tem, se a pessoa só tá querendo ajudar, se não tá exagerando, enquanto sua mente grita que aquilo está errado e não sabe reagir. Foram mais de 1h30min de terror.
Eu precisava contar pra alguém e falei pro meu namorado (recente namoro) e tive as mesmas reações da Thalia: o medo de ser julgada, de "confirmar" que eu estava exagerando e ainda o medo do termo "assédio", que carrega tantos estigmas. E quando meu namorado chamou de assédio, foi também essa minha reação: ficar na defensiva, arrajando desculpas para não denunciar.
Por mais algumas semanas tive que ir no mesmo ônibus que esse cara (que ainda pegava e descia nos mesmos pontos que eu, onde as vezes ficavamos sozinhos à noite) e até hoje tenho medo que ele volte a trabalhar. Eu sequer lembrava que já havia escrito parte do capítulo e, garimpando os trechos de Fita Azul, o achei e percebi que me identifiquei muito com a Thalia. E mesmo que hoje fosse pra ser um dia de comemoração, queria compartilhar com vocês esse momento tão ruim, mas que é a realidade de muitas.
P.s.: Confesso que, enquanto escrevo esse texto ainda me pergunto se eu não estava exagerando. Isso realmente fica na mente.


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Chega de momentos tristes!
Saibam que tô preparando momentos cute-cutes a seguir! Vocês gostaram do capítulo? Gostaram da Thalia puxando o Nico pela gravata? Ou o Dimi de milhozinho? E a Hera dando alfinetada? Alguém aí quer a Hazz como nora?!
Comentem, recomendem, mandem M.P., mensagem de fumaça... O que vocês quiserem meus amores!
Hoje faz dez anos desde que postei minha primeira fanfiction (ou ontem, eu nunca lembro se é 24/08 ou 25/08) e que venham mais dez anos de muitos capítulos para vocês!




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