De Repente Papai escrita por Lady Black Swan


Capítulo 43
As testemunhas de Sesshoumaru.


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo do ano então Boas Festas! ♥

GLOSSÁRIO:

Norovírus: Um tipo de vírus mais comum no inverno, semelhante ao rotavírus, que frequentemente causa vômito e diarreia.



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Ninguém entrava sem permissão nos aposentos de Sesshoumaru, fosse seu quarto ou seu escritório, é claro que agora ele não podia mais trancar suas portas por causa de Rin, mas isso nunca foi problema, ninguém tinha tão pouco amor à vida para simplesmente ir entrando em seu território, ou ao menos foi o que ele pensou até ser acordado com um soco no ombro direito, e então se deparou com o rosto irritado de Kinoshita Keiko, sem dúvida a última coisa que ele queria ver em um domingo de manhã depois de sessenta horas interruptas acordado trabalhando.

—Eu não tinha certeza se você estava dormindo ou fingindo, sua expressão é feita de mármore?

Sesshoumaru ergueu-se sobre um cotovelo o mais cuidadosamente possível para não acordar Rin… e ela estar ali era a única razão para Keiko não ter saído voando pela porta ainda.

—Como entrou na minha casa e o que faz no meu quarto? — perguntou por entre os dentes.

—Eu toquei aquela campainha idiota lá fora por quase meia hora e ninguém apareceu, e já estava prestes a ir embora quando aquela garota chegou naquele carro enorme e me deixou entrar. — Domadora. Sesshoumaru fechou a expressão, quando foi que ela conseguiu a chave da sua casa nova também?! Kinoshita Keiko ficou ereta e cruzou os braços — O que a minha priminha faz aí?

—Ela está dormindo. — respondeu em tom perigosamente baixo, e ficou particularmente satisfeito pelo “perigosamente” — Rin é como um pequeno filhotinho de macaco que constantemente não consegue dormir se não estiver agarrada a alguém.

E ultimamente ela já nem batia mais na porta para pedir para entrar, ela simplesmente entrava, se arrastava até a cama e subia ali junto com seu cobertor de estrelas para dormir com ele.

—E por que está tão gelado aqui? — a punk estremeceu — Parece um iglu!

—É a temperatura da minha preferência. — ele tirou o braço de Rin de cima de si e sentou-se — E por que você veio até aqui?

—Você me chamou. Lembra?

Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha.

—Sim. — confirmou — E isso foi há semanas.

Kinoshita Keiko bufou e girou os olhos, como se ele estivessem sendo o irracional ali.

—Bem, eu não sou um cachorro, sabe? Não vou correr até aqui simplesmente porque você estalou os dedos. — e estalou os dedos em um exemplo prático.

E agora ele estava calculando se conseguiria jogá-la para fora e impedi-la de gritar antes de Rin acordar.

—E achou que a melhor hora seria agora? — esticou as pernas para fora da cama — E não fui eu quem a chamou, foi Rin, lembra? Eu te avisei que ela queria falar com você sobre o progenitor.

—E como eu já disse, eu não sou um cachorro que vem correndo no instante em que… o que você está fazendo?! — reclamou quando ele fechou a mão em torno de seu braço, sua voz começou a se alterar — Tire a sua mão de m…!

Sua reclamação foi sufocada pela mão dele em sua boca, Keiko protestou, tentou empurrá-lo e até mordê-lo, mas de uma forma ou de outra ele a rebocou através do quarto e empurrou-a porta afora.

—Seu grosso! Como ousa…?!

—Rin está dormindo agora, não se atreva a acordá-la, então volte mais tarde ou espere lá embaixo, só fique quieta e suma daqui. — avisou antes que ela pudesse dizer mais qualquer coisa.

Fechou a porta o mais silenciosamente que conseguiu e então, depois de pensar por um instante, trancou-a também.

—Sesshoumaru-Sama?

Merda.

Ele virou-se.

—Olá Rin.

A criança bocejou e esfregou o rosto com seu cobertor de estrelas se encolhendo na cama.

—Era Keiko-san que estava aqui?

—Sim. — confirmou — Ela veio falar com você.

—Ah… certo.

Rin murmurou em concordância, virando-se na cama e se encolhendo, Sesshoumaru cruzou os braços, recostou-se à porta e esperou, ela sempre funcionava mais devagar no frio. Exatamente dois minutos depois ela sentou-se tão rápido como se houvesse sido eletrocutada.

—Keiko-san?!

—Foi o que eu disse.

Confirmou saindo, precisava verificar qual de suas “indicações” Kinoshita Keiko havia seguido, e esperava que tivesse ficado, porque não queria ter que dirigir para ir atrás da punk rebelde sem causa.

Por sorte ela estava lá embaixo na cozinha ainda, importunando Domadora por ovos com torrada e bacon — por que Sesshoumaru só atraia parasitas folgados?

—Eu não deveria ter vindo! — ela reclamou mal humorada quando o viu — Tenho que ir embora.

—Mas nós temos bacon. — comentou.

—O problema não é o bacon! — Kinoshita Keiko grunhiu. — Eu realmente não devia ter vindo!

No entanto quando ela tentou passar por ele, Sesshoumaru a deteve com a mão em seu braço. Ela estava com medo de ter que lidar com uma garotinha? Arqueou uma sobrancelha.

—Prefere presunto então?

Keiko tentou puxar o braço, mas Sesshoumaru a segurou onde estava e ela o olhou irada. Por que precisava de tanto delineador preto?

—É melhor me soltar agora mesmo antes que eu…!

—Keiko-san!

Sesshoumaru a soltou e se afastou no instante em que Rin surgiu atirando-se com os braços abertos para abraçar a prima. O que, aparentemente, foi mais efetivo que qualquer movimento que Sesshoumaru pudesse ter tentado para mantê-la quieta.

—Rin, por que não leva sua prima para o seu quarto? Vocês podem conversar mais a vontade lá. — sugeriu. As duas precisavam conversar e Kinoshita Keiko talvez ficasse menos inclinada a fugir se para isso tivesse que pular de uma janela do primeiro andar… — Eu levo o desjejum quando estiver pronto.

—Obrigada Sesshoumaru-Sama!

Rin agradeceu animadamente, mas quando puxou a mão de Keiko ela parecia ter fincado raízes no lugar, pelo menos não estava tentando sair correndo. Sesshoumaru voltou-se para Domadora, fritando ovos com bacon em seu fogão.

—Domadora, o que você está fazendo na minha casa tão cedo pela manhã?

—Inuyasha e eu temos um encontro. — ela respondeu descontraída.

—Inuyasha ainda está lá em cima babando no travesseiro. — informou-a — Se quiser pode ir acordá-lo, mas ele costuma dormir pelado.

Domadora deixou a espátula cair ruidosamente na frigideira, com as faces alcançando uma impressionante tonalidade de vermelho em questão de segundos, atrás dele Kinoshita Keiko arquejou e saiu rapidamente dali levando Rin consigo.

—Tio Inuyasha dorme de calça e às vezes usa camisa — ouviu Rin explicar enquanto as duas subiam a escada. — Eu dividia o quarto com ele.

Espere um pouco. Ele não devia estar tentando manter a punk convencida de que ele seria um bom pai para Rin e testemunhar a seu favor no tribunal?

Bom, de qualquer forma se ela tentasse sequestrar Rin novamente, a criança certamente não iria calada, e elas não teriam como sair da propriedade também, a menos que ela planejasse pular o muro junto com Rin…

—Domadora, se de qualquer forma você vai agir como se morasse aqui, me sirva um café. — ordenou indo se sentar.

—Quando cheguei e vi aquela mulher na frente da sua casa, pensei que fosse uma das suas ex-namoradas. — ela comentou ligando a cafeteira. — Mas então ela se virou e… uau! Ela e Rin são incrivelmente parecidas, não é?

—Assustadoramente, você quer dizer, sim. — confirmou. — Em mais de um sentido também, temo.

Se Rin começasse a querer usar exclusivamente preto e passar delineador demais nos olhos...

—Eu tive uma incrível sensação de déjà vu! — Domadora riu enquanto buscava uma caneca e servia o café — Claro que Inuyasha já havia me falado sobre essa prima de Rin, que tentou levá-la uma vez, mas… — quando ela deixou a caneca de café diante de Sesshoumaru, já estava completamente séria. — Por que ela está aqui Sesshoumaru?

Sesshoumaru bebeu três longos goles de café. Como aquelas mulheres podiam importuná-lo tão cedo e esperar que ele realmente respondesse de forma minimamente civilizada sem nem ter tomado café antes?

—Rin queria vê-la.

—Queria, é? — Domadora semicerrou os olhos para ele e puxou uma cadeira para sentar, as costas estavam tão eretas que ela nem precisava do encosto — Talvez Inuyasha e eu não devêssemos sair hoje.

—Ou talvez você devesse se lembrar que não mora aqui.

Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha e tomou mais um gole de café.

—O que está acontecendo? Por que não vamos mais sair? — Inuyasha perguntou entrando tropegamente na cozinha. — Eu me atrasei? Coloquei sete alarmes no despertador para garantir que acordaria! Kagome, não sei o que Sesshoumaru te disse para ficar brava comigo e cancelar, mas não acredite em nada!

—Eu não faço a menor questão que vocês fiquem aqui. — Sesshoumaru declarou tirando o celular do bolso, para conferir os e-mails e as notícias — Na verdade se quiserem viajar eu pago as passagens, ouvi dizer que o Saara é excelente nessa época do ano. Por que não incluem Pervertido e Gata Selvagem como bagagem de mão? São ambos um par de malas sem alça também.

—O ignore. — Domadora tamborilou com os dedos na mesa, como se a casa não fosse de Sesshoumaru. — Inuyasha, nós não podemos sair porque Keiko, a prima de Rin, está aqui.

Inuyasha fez uma expressão bastante estúpida, Sesshoumaru terminou o café e levantou-se para ir pegar dois pratos antes que o meio-irmão sentisse o cheiro de comida no fogão, afinal havia prometido desjejum para Rin e a prima punk, mas não estava nem um pouco a fim de cozinhar.

Rin em geral preferia começar o dia com uma refeição mais leve e saudável, como arroz com chá, sopa misô e peixe grelhado — como se tivesse quarenta anos de idade e não nove —, mas se Sesshoumaru havia conseguido convencê-la certa vez a comer cereais com leite no desjejum — que ela chamou de “bomba de açúcar sem valor nutricional” — então ele também podia fazê-la comer bacon.

—Eu sei que Keiko está aqui. — ouviu Inuyasha responder — Ela e Rin entraram no meu quarto para me acordar… Rin estava dizendo alguma coisa sobre eu dormir com calças e às vezes usar camisa também…

—Inuyasha será que você não pensa?! — Domadora perdeu a paciência.

—Não com frequência. — Sesshoumaru comentou pegando suco na geladeira.

Ignorando-o, Domadora prosseguiu como se ele nem estivesse ali:

—Sesshoumaru estava esperando um dia em que a casa estivesse vazia para mandar Rin embora com a prima!

—Eu anseio por dias com a casa vazia desde que me entendo por gente. — alegou girando os olhos.

Inuyasha bocejou, parece que depois de acordar o cérebro dele ainda levava de quarenta a setenta minutos para começar a funcionar.

—Kah, eu acho que o Sesshoumaru nem sabia que nós íamos sair hoje.

Domadora não estava convencida:

—E você também achava que ele não sabia que Miroku havia contraído norovírus há três anos, mas quando voltou da escola ele já tinha trocado a fechadura de casa!

Como se ela mesma convenientemente não tivesse tido que se ausentar em uma “viagem de assuntos familiares” nessa mesma época, além do mais trocar aquela fechadura provou-se uma das decisões mais sábias de Sesshoumaru: graças a isso Inuyasha havia tido que ir dormir na casa de Gata Selvagem, e dias mais tarde os dois estavam disputando pelo vaso sanitário. Na verdade, o irmão daquela garota devia ter uma saúde de ferro, já que permaneceu perfeitamente sadio durante todo o período.

Sesshoumaru não tinha disposição para aquela ladainha toda, ele arrumou o desjejum de Rin e sua prima punk sobre uma bandeja, era um péssimo dia para Jaken ter folga, e saiu.

—… era muito discreta. — ouviu Kinoshita Keiko dizer no quarto de Rin, quando se aproximou com a bandeja. — ela nunca me falou detalhes.

—Então você não sabe nada sobre ele, Keiko-san? — a voz de Rin lamentou-se.

Quando Keiko não respondeu de imediato, Sesshoumaru se manteve junto à porta e esperou, se ele pretendia mesmo castrar alguém a sangue frio, era melhor ter um nome em mente para começar.

—Mari-nee-san nunca me deu muitos detalhes a respeito de nada. — Keiko falou outra vez. — Mas… eu posso tê-la seguido. — pigarreou — Algumas vezes.

Quanta demora! Sesshoumaru conteve-se para não estalar a língua ou começar a bater o pé no chão com impaciência.

—Então você sabe quem era…? — Rin sequer conseguiu terminar a pergunta, de tão ansiosa.

—Ele era alto, por isso não entendo como você pode ser tão pequeninha…

—Keiko-san!

—Desculpe. — Uma risadinha, e então o silêncio novamente. — Mas você tem os olhos dele, Rin.

—E-eu tenho?

—Hum… quase. Eles são doces e sinceros como os de Mari-nee-san costumavam ser, mas os dela eram dourados e os seus…

—Castanho escuro. — Rin completou.

—Como os dele. — Keiko concordou, e então houve silêncio. Quanto mais tempo aquilo levaria?! — Você quer saber o nome dele?

Sim!

—Eu… achava que sim. — Rin começou a dizerMas esse homem não me quis, e ele magoou a mamãe.  — o que? — Foi Sesshoumaru-Sama quem disse que sou a filha dele, eu não preciso mais de nenhum outro papai.

Ah… então era assim.

Sesshoumaru olhou para o alto e talvez, só talvez, ele tenha sorrido. Mesmo que só um pouquinho.

E então abriu a porta com um chute.

—Minhas mãos estavam ocupadas. — explicou entrando. — Eu trouxe o desjejum.

As duas estavam sentadas em volta do kotatsu olhando-o com expressões idênticas de olhos arregalados, Sesshoumaru havia deixado que o móvel ficasse com Rin por ela ser muito frienta… e também porque quando chegasse o inverno, aquilo se tornaria um chamariz de parasitas.

—Sesshoumaru-sama… — Rin fez uma careta quando viu a comida.

Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha para o grande urso de pelúcia que também estava sentado junto ao kotatsu, aquele mesmo que Domadora havia presenteado a ela no natal passado.

—Eu não sabia que você tinha mais um convidado à mesa, então vocês duas terão que dividir com ele. — comentou colocando a bandeja debaixo do braço e saindo.

—Ele… acabou de fazer uma piada, não foi?

Ainda ouviu Keiko perguntar confusa, enquanto saía.

—E quando acabarem aqui desçam até meu escritório. — instruiu fechando a porta.

Ele precisava tomar uma atitude. Agora.

—Vocês dois. — chamou retornando à cozinha — Quando Gata Selvagem e Pervertido vão estar aqui?

Domadora estava se servindo de café em sua cafeteira, ela o olhou.

—Por que acha que eles estão vindo para cá?

Sesshoumaru jogou a bandeja na pia com um estrondo que fez a garota estremecer e arqueou-lhe uma sobrancelha.

—Você está certa de que estou prestes a extraviar Rin e está me dizendo que não tentou chamar reforços? — indagou em tom desafiante.

Inuyasha o olhou por cima da porta da geladeira.

—Miroku não está respondendo, deve estar dormindo ainda, e Sango tinha que ir ao jogo de baseball do Kohaku. — revelou-lhe, ignorando a namorada cujas faces já esquentavam por ter sido pega em fragrante.

Mas era um bando de inúteis mesmo. Sesshoumaru girou os olhos.

—Que seja. Então terá que ser apenas vocês, de qualquer jeito sei que passarão a notícia adiante em segundos. — conformou-se lhes dando as costas e ordenando: — Venham comigo. Agora.

—Onde estamos indo? — Domadora questionou o seguindo.

—Eu vou trancá-los no meu escritório e deixá-los lá enquanto empacoto Rin e todas as suas coisas. — ele parou diante da porta aberta do escritório e fez um gesto para os dois entrarem.

Ambos ficaram estáticos no corredor, Sesshoumaru girou os olhos e entrou, então enquanto esperava eles acabarem de discutir para decidirem se ele estava brincando ou não, ligou o notebook e abriu o arquivo de seu livro.

Seu protagonista estava caçando a terceira das amigas do irmão…

 —Inuyasha quando você ouviu Sesshoumaru brincar?!

 —Mas ele entrou também!

—Para nos segurar!

—Kagome, o que te parece mais improvável: Sesshoumaru fazer uma piada ou se trancar voluntariamente em um quarto conosco?

Por um minuto inteiro, o único som que Sesshoumaru ouviu foi o som de seus dedos teclando no notebook.

E então os dois entraram.

—Muito bem Sesshoumaru, nós já estamos aqui, o que você quer? — Domadora questionou fechando a porta atrás de si.

Sesshoumaru não ergueu os olhos do computador, ele podia ter aquela conversa e trabalhar ao mesmo tempo, e agora precisava de algo pesado para bater na cabeça dela… um castiçal de prata? Poderia funcionar…

—Sentem. — ordenou.

A vítima estava resistindo, talvez devesse fazê-la torcer o tornozelo? Não… muito apelativo.

Era melhor se concentrar no agora, fez uma pausa no trabalho, salvou o arquivo e ergueu os olhos.

—Rin não é minha filha biológica. — disparou.

Foi bom ter dito para que se sentassem, ou então eles teriam caído.

Depois de alguns instantes chocados em silêncio, Inuyasha foi o primeiro a reagir:

—Mas que droga, Kagome você estava certa!

—Sesshoumaru de novo com essa história?! — Domadora já estava se levantando

— Repito isso desde o começo simplesmente porque é verdade. — argumentou abrindo a gaveta da sua mesa — E, como devem se lembrar, Rin já mencionou que eu fiz um exame de DNA para comprovar isso, algum tempo atrás…

Ele entregou o exame nas mãos de Domadora, interrompendo o, provavelmente longo, discurso que ela estava prestes a começar acusando-o de tramóias e maquinações para ver-se livre de Rin.

—Mas a data desse exame… — Domadora balbuciou mostrando o documento para Inuyasha — Sesshoumaru o que você está planejando dessa vez…?!

—Sesshoumaru-Sama?

Rin chamou batendo na porta e, sem esperar resposta, abriu-a e entrou correndo como um furacão, só parando momentaneamente ao ver que todos os assentos já estavam ocupados, antes de decidir-se por correr para sentar em seu colo.

Havia algumas cenas descritas no arquivo aberto de seu computador que poderiam ser bem perturbadoras a uma criança, então discretamente Sesshoumaru baixou a tela.

—Planejo adotar Rin legalmente. — respondeu enquanto acomodava a menina. — Mas os avós dela são um par velhos intransigentes, então o que deveria ser um simples audiência de guarda legal tornou-se numa complicada batalha judicial de transferência de guarda onde deverei convencer algum juiz qualquer da vara de infância de que eu sou a opção mais qualificada. — girou os olhos — O que francamente não deveria ser um problema, porque se ele não consegue ver isso então deveria procurar outro emprego…

—Sesshoumaru-Sama! — Rin o repreendeu.

Ah claro, ele ainda estava falando dos avós dela, Sesshoumaru tocou-lhe o topo da cabeça para tranquilizá-la e prosseguiu:

—Por isso meu advogado me aconselhou que o ideal fosse eu conseguir três testemunhas para depor a favor da minha índole, mas como devem saber, não tenho tantos contatos assim para atestar pela minha moral.

—Feh, nem imagino por que! — Inuyasha reclamou cruzando os braços e girando os olhos.

—Você já até tem um advogado? — Domadora inclinou a cabeça, confusa.

No fundo da sala Kinoshita Keiko fez uma careta, era bom ela não estar cogitando mudar de idéia, indicando-a com um gesto de mão Sesshoumaru continuou:

—Kinoshita Keiko, prima de Rin, concordou em ser a testemunha n° 01.

O cérebro de tic-tac de Inuyasha ainda precisava de algum tempo para processar as informações recebidas, mas Domadora compreendeu de imediato:

—Você quer que nós testemunhemos a seu favor na audiência pela guarda de Rin?!

Sesshoumaru encarou-a:

—Francamente eu preferia que você fosse minha testemunha, Domadora, mas segundo meu advogado, já que a primeira testemunha será alguém da família de Rin, seria melhor se uma das outras testemunhas fosse meu parente, mas embora eu não duvide que a Senhora Arina, meu pai ou Izayou se disporiam em um instante caso eu solicitasse isso a eles, infelizmente eles não possuem uma “familiaridade extensa o suficiente de minha relação com Rin para seus testemunhos serem levados em consideração”, então só me resta…

E gesticulou sem muita animação para o idiota sentado ao lado dela.

—Sesshoumaru. — Inuyasha chamou-o de cenho franzido — Eu sei que seu acordo com nosso pai era que ele pagasse metade do aluguel do apartamento onde vivíamos, mas você sempre passava o valor total do aluguel.

—Sou inescrupuloso e minha índole é das piores. — ele deu de ombros — Mas isso não muda o fato de que vocês querem mais do que qualquer coisa a permanência definitiva de Rin.

—Caramba, você é mesmo um grande canalha, o que Mari-nee-san e Rin viram em você? — Keiko comentou rindo ao fundo — Seus fins justificam os meios.

Ao menos ela não parecia desaprovar ao ponto de ele começar a se preocupar em perder uma de suas testemunhas.

—E para balancear, a terceira testemunha provavelmente teria de ser alguém mais velho, para emprestar algum peso extra à credibilidade do testemunho, sem laços familiares, mas ainda com uma boa convivência conosco.

Rin o olhou.

—Então será o Jaken-san?

—Não. — na verdade ele havia cogitado isso, mas Jaken era seu funcionário, e isso poderia ser visto como algo não tão “ético”. — Mas, em último caso, eu gostaria que você estivesse disponível Domadora, e também vou precisar da sua ajuda para adestrar meu irmão e evitar que ele diga qualquer imbecilidade na audiência.

—Adestrar?! — Inuyasha irritou-se — Ouça aqui Sesshoumaru seu grande estúpido, eu não sou nenhum cachorro…!

—Conte comigo. — Domadora concordou de imediato.

—Ei Kagome! — Inuyasha virou-se ofendido.

E Rin desatou a rir.

Se dependesse dele, Sesshoumaru passaria por todo aquele processo judicial sem dizer uma palavra aos parasitas — pois tinha plena noção que depois do fato revelado, sua casa seria um inferno —, mas infelizmente precisava daquelas testemunhas.

É claro que ninguém ficou mais satisfeito em ser atualizado sobre os recentes acontecimentos do que seu advogado, pois, assim como havia sido instruído, ele já dera inicio ao processo legal e notificara os avós de Rin, que também haviam começado a buscar por ajuda legal, de forma que a audiência era só uma questão de tempo, então ele queria marcar uma hora para se encontrar com suas testemunhas o quanto antes e falar com Rin imediatamente também.

Então, no dia seguinte, após buscá-la na escola ele precisou levá-la ao escritório e foi deixado esperando do lado de fora por mais de quarenta minutos enquanto seu advogado e Rin conversavam em particular.

Por que eles estavam demorando tanto afinal?

O que ele estava tentando arrancar de Rin? Achava que ela era alguma vítima de sequestro ou coisa assim?!

Por fim, enquanto esperava Sesshoumaru decidiu parar de inutilmente bater o pé com impaciência e fazer algo de útil com seu tempo, então pegou o celular e começou a redigir um e-mail:

Preciso que faça algo por mim

Definitivamente não. Ele apagou e recomeçou:

Assunto: Terá que testemunhar a meu favor.

Fui intimado a levar três testemunhas para depor a meu favor no tribunal pela guarda de Rin.

Você será uma das testemunhas então coloque um terno limpo e tente não transparecer que está caducando.

Meu advogado entrará em contato.

Havia acabado de enviar o e-mail, quando a secretária avisou-o que finalmente poderia entrar.

Embora seu e-mail tenha sido respondido em menos de uma hora, Sesshoumaru só o leu tarde da noite quando se trancou em seu escritório, mas parecia muito mais uma ladainha sem sentido do que uma resposta de fato:

Assunto: Tenha cuidado com os efeitos cardíacos das suas palavras.

Sesshoumaru;

Se um editor recebe de um de seus escritores mais sádicos e de índole moralmente duvidosa um e-mail com o assunto de “Terá que testemunhar a meu favor” e que começa com “Fui intimado a levar três testemunhas para depor a meu favor no tribunal” a tendência é esse editor ir imediatamente atrás de suas pílulas para pressão e coração…

E assim continuava por vários parágrafos inúteis, então Sesshoumaru girou os olhos e pulou logo para o final.

Surpreendentemente Kinoshita Keiko não foi a mais difícil de convencer entre suas testemunhas, pois essa testemunha levou quase três dias inteiro de intensa discussão pelo telefone e na verdade Sesshoumaru teve a nítida impressão de que praticamente precisou firmar um pacto com sangue por aquela testemunha…

—Então… pelos próximos vinte e cinco meses você precisará comparecer a, pelo menos, uma sessão de autógrafos a cada três meses e, pelo menos, uma entrevista por bimestre? — Eleonor indagou-lhe com um sorriso debochado de canto.

—Para começar. — concordou.

—Eu diria que aquele seu editor velhote está começando a caducar. — Ela apoiou o ombro da janela do carona, olhando-o por debaixo dos cílios ainda com aquele mesmo sorriso debochado de canto. — Porque eu no lugar dele com certeza teria exigido muito mais.

—Como eu disse: isso é só para começar. — reforçou impassível, parando no sinal vermelho.

Mas Eleonor certamente estava se divertindo com tudo aquilo.

—Apenas não se esqueça de se certificar que nenhum dos contatos das mulheres que passaram pela sua vida caia nas mãos dos avós da garota, porque eu tenho certeza que qualquer uma delas brigaria pela oportunidade para despejar o quão cafajeste e devasso você é!

Na verdade, internamente aquela brincadeira deixou Sesshoumaru levemente inquieto, graças ao histórico de previsões assertivas — quer tenham sido intencionais ou não — daquela bruxa das neves, mas admitir isso o faria parecer crédulo demais, por isso ele jamais o faria.

O sinal ficou verde.

—Você inclusa? — arqueou uma sobrancelha.

—Ah, eu seria a primeira da fila! — o sorriso de Eleonor aumentou — A propósito, a data e à hora da audiência já foi marcada?

—Isso é o que ganho por te ceder meu carro e te dar carona sempre que precisa? — reclamou, embora soubesse se tratar apenas de uma dose do humor distorcido dela — Estamos agora mesmo voltando do supermercado onde fizemos as suas compras do mês, Madame, ainda que provavelmente eu tenha coisas melhores a fazer em uma quinta-feira à noite: terminar meu livro, por exemplo.

Sem se deixar abalar, Eleonor admirou as próprias unhas enquanto respondia:

—Eu liguei perguntando se você iria ao supermercado hoje, só estou aproveitando a carona.

E ela sabia que geralmente era o meio-irmão dele e Rin quem saia para fazer as compras do mês.

—E que eu me lembre, eu respondi “não”. — ele parou o carro diante da guarita do prédio e baixou o vidro para que o porteiro pudesse reconhecê-lo e liberar sua entrada. — Quando a data sair, eu a aviso.

—Seu celular está tocando.

Estacionando na vaga de Eleonor, Sesshoumaru pegou o celular por um instante, olhou o nome piscando na tela e arqueou uma sobrancelha, claro que eram eles novamente, há praticamente vinte e quatro horas que não o deixavam em paz.

—Ignore. — então guardou o aparelho de volta no bolso.

Obviamente aquele Myuga não era só um velho astuto, mas também muito fofoqueiro, e logo o celular de Sesshoumaru começara a tocar sem parar, recebendo tantas ligações interurbanas de Inu no Taisho e Izayoi que ele começou a cogitar que talvez os dois já estivessem aposentados e não tivessem mais nada para fazer o dia inteiro, exceto lhe encher a paciência.

E ele nem sequer podia desligar o celular, pois a qualquer instante poderia receber uma ligação de seu advogado.

—Estou trabalhando, parem de ligar. — respondeu sério ao finalmente atender.

—Sesshoumaru! Sabe quantas vezes já ligamos?!

Seu pai gritou do outro lado da linha antes que ele pudesse desligar, fazendo-o afastar momentaneamente o aparelho do ouvido.

—Se vai gritar dessa forma posso te ouvir aí do continente mesmo se não me ligar. — afirmou — Eu perdi as contas das ligações, mas e quanto ao senhor, sabe que horas são aqui?

—Não me venha com gracinhas Sesshoumaru! — somente seu pai e a esposa para afirmarem que Sesshoumaru fazia algo como “gracinha” — Se viu que estávamos ligando deveria ter atendido de uma vez!

—Se viu que eu os estava ignorando deveriam ter desistido de uma vez. — deixou o celular sobre a mesa no modo viva voz e voltou a trabalhar. — Está me fazendo perder tempo.

Na verdade, só agora lhe ocorria que poderia ter simplesmente bloqueado os números daqueles dois, esse processo judicial certamente estava-o deixando variado das ideias.

Mas pelo menos a ameaça implícita de encerramento imediato da ligação serviu para fazer Inu no Taisho ir direto ao ponto de uma vez:

—Por que não nos contou que vai adotar sua filha?

—Preciso enviar um relatório diário sobre minha vida particular?

Provavelmente seu pai não ouviu essa última parte, pois coincidiu com um alvoroço do outro lado da linha e de repente o seu interlocutor mudou:

—Filho insensível e cruel! — Izayoi bradou.

—Olá Izayoi, como vocês ainda não foram demitidos?

—Como pôde nos esconder algo assim?!

Era como ter duas conversas paralelas, que cansativo.

Que interesse tão extremo todos tinham no seu cotidiano? Deveriam cuidar das próprias vidas.

—Não escondi nada, apenas não vi razões para contar.

—Não viu ra…?! — Izaioy ficou muda de indignação — Filho cruel! É da minha neta que estamos falando, isso não é razão o suficiente?

—Não.

Talvez ele tenha feito Izayoi começar a chorar, Inutaisho retornou:

—O que foi que você disse a ela? Esqueça, não quero saber, só me diga quando é a audiência Sesshoumaru.

—Eu ainda não sei.

—Não sabe ou não tem razão para nos contar?!

—Ambos. — Ele tamborilou com os dedos na mesa, já impaciente, não conseguia trabalhar assim e pretendia entregar aquele manuscrito no próximo final de semana… talvez só um pouco com a intenção sádica de acabar com os dias de folga daquele velhote aproveitador. — Por quanto tempo ainda vai tomar o meu tempo? Alguns de nós ainda precisam fazer algo chamado “trabalhar”, talvez tenha ouvido falar…

—Não ouse usar esse tom condescendente comigo…!

Três batidas na porta desviaram sua atenção daquela rabulice toda.

—Pode entrar Rin. — concedeu.

Somente Rin viria àquela hora até seu escritório.

Ela enfiou a cabeça timidamente pela fresta da porta.

—Sesshoumaru-Sama, já passa das duas da madrugada, o senhor deveria descansar um pouco…

Inu no Taisho ainda estava proferindo alguma inutilidade pelo telefone, mas Sesshoumaru não estava escutando-o, apoiando o rosto sobre uma mão ele disse a Rin:

—Claro, só preciso terminar aqui, mas para que eu posso ir logo poderia me ajudar em algo?

—Do que precisa? — ela se prontificou de imediato, assumindo posição de sentido.

Sesshoumaru tirou o celular do modo viva voz e estendeu-o por cima da mesa para a criança:

—Veja se consegue distrair seus avós, para que eles me deixem trabalhar em paz.

Rin assustou-se e hesitou, ficando visivelmente confusa, mas não fugiu de sua missão, embora sua mão estivesse trêmula quando alcançou o aparelho.

—A-alô? — alguns segundos depois, o alivio tomou conta de sua expressão — Vovô Inu no Taisho! — virando-se, ela começou a afastar-se em direção à porta — Sim, sou eu… eu sei, mas é que Sesshoumaru-sama não foi dormir ainda, então eu… hã? Não, não sei a data…

Antes de ir, ela despediu-se com um “joinha” e uma piscadela.

Quando ela saiu, Sesshoumaru olhou para a tela de seu computador, precisaria de talvez mais três mil ou quatro mil palavras para terminar a história, mas para isso teria de ficar acordado pela madrugada adentro — quem sabe virar a noite — então se levantou para ir buscar uma caneca de café.

Que bom que Rin havia deixado aquele futon no escritório dele… mas claro que também havia o lado ruim na sua filha ser tão prestativa: ela era sociável demais, e sem nenhum aviso prévio — ou talvez tenha dito algo no sábado, mas ele não podia dizer com certeza, pois estava bem no meio de seu estágio de hibernação de trinta e seis horas pós-finalização de livro — convidou todos os parasitas para jantarem na sua casa na segunda-feira.

Como se os parasitas realmente precisassem de qualquer desculpa para aparecerem!

—Rin, você não se lembra de quando eu lhe disse que se os alimentar eles nunca irão embora?

Reclamou sentando-se à mesa depois que ela agarrara-se às pernas dele e irredutivelmente se negara a deixá-lo ir se trancar no quarto ou no escritório para comer sozinho e em paz porque “queria que todos comessem juntos”.

—Eu sempre achei que se Sesshoumaru fosse ao tribunal da vara familiar seria por se recusar a assumir qualquer paternidade. — Pervertido comentou olhando-o estupidamente.

Gata Selvagem passou a mão no queixo e semicerrou os olhos criticamente, declarando:

—Eu achava que seria por falta de pagamento da pensão alimentícia.

Domadora olhou de um para o outro.

—Vocês realmente ficavam imaginando algo assim?

—Bem, de certa forma nós sempre soubemos que mais cedo ou mais tarde alguma mulher iria acabar batendo na porta com um bebê… — Inuyasha deu de ombros.

—Ai céus! — a voz de Domadora se tornou um tom mais agudo quando ela tampou os ouvidos de Rin.

—Essa também é uma dúvida que sempre tive. — Pervertido recomeçou a falar — Se Sesshoumaru repudia tanto a convivência em sociedade, como é que se envolveu com tantas…?

A mesa sacudiu e ele calou-se com um gemido que, a julgar pelo olhar fulminante de Gata Selvagem ao lado dele, só podia ter sido resultado de um golpe que levara por debaixo da mesa, enquanto Rin piscava aparentemente sem entender coisa alguma.

Afinal apesar de seu apreço por paz e privacidade, ele ainda tinha necessidades físicas.

Sesshoumaru voltou os olhos para o teto, realmente fazia apenas um minuto que ele se sentara ali e não uma hora inteira?

—Jaken. — sua mão fechou-se em torno do braço do velho lacaio — Você esqueceu-se de por um lugar à mesa.

Jaken arregalou os olhos.

—Eu sinto muito, amo! N-não percebi que receberia mais alguém para o almoço!

—Não vou. — negou seriamente, não pretendia transformar sua casa em nenhuma hospedaria afinal — O lugar é para você, sente-se e coma conosco. — ordenou — Rin quer que todos comamos juntos.

Se os olhos de Jaken pudesse se arregalar um pouco mais, Sesshoumaru acharia que seria bem possível que eles saltassem das órbitas e voassem direto para os pratos.

—A-amo Sesshoumaru, seria uma honra!

E com mais agilidade do que Sesshoumaru julgou ser possível a um homem daquela idade, ele saiu correndo para pegar mais um conjunto de prato e talheres para si mesmo.

Pois Sesshoumaru é que não aguentaria aquele tormento sozinho!

Porém, depois do irritante ataque dos parasitas, foi à vez de Rin contra atacar:

—Tio Inuyasha, você e Kagome-chan já têm dezoito anos?

—Hu…! — seu meio irmão idiota tentou responder, mas estava ocupado enfiando na boca mais comida do que seria possível caber lá — Kafomi exi dexember!

Domadora torceu a orelha dele entre os dedos.

—Coma ou fale, escolha um!

—Ai! Xua buxa…!

—Você continua falando de boca cheia! — ela o repreendeu torcendo sua orelha ainda mais, mas então suspirou e virou-se com um sorriso amistoso para Rin — Só completo dezoito no final de dezembro, Rin.

—Sei… — ela estava olhando-os atentamente gora.

Aí vinha coisa… Sesshoumaru pousou cuidadosamente o copo sobre a mesa.

—É quase a idade que Mariko tinha… então ainda são muito novos para ter bebês, mas se Kagome-chan ficasse grávida o senhor não fugiria e deixá-la-ia sozinha, não é tio?

Como já era de se esperar, foi um caos absoluto.

Boquiaberto e de olhos arregalados, Jaken ficou completamente estático, enquanto Domadora deixou os talheres caírem no chão e seus olhos quase saltaram das órbitas, Gata Selvagem cuspiu na cara de Pervertido — e talvez isso tenha sido um pouco engraçado —, e Inuyasha começou tossir e engasgar-se enquanto socava o peito com uma mão e a mesa com outra.

—Por isso não se deve ter a boca maior do que os olhos. — Sesshoumaru comentou calmamente, em fim tomando um gole de seu suco.

Mas talvez precisasse sair para comprar algo mais forte, cerveja provavelmente.

—M-m-menin-a, i-isso não é assunto para se trazer a mesa! — Jaken afinal recuperou a voz.

Gata Selvagem e Pervertido estavam tendo uma briga silenciosa pelos guardanapos, Domadora dava tapinhas nas costas de Inuyasha enquanto lhe oferecia um copo de água, e Rin olhava toda aquela situação sem parecer entender coisa alguma.

—Mas… por quê?

—P-porque…!

Jaken olhou angustiado para Sesshoumaru, esperando que ele tomasse à dianteira, e Sesshoumaru encarou o fundo de seu copo de suco, definitivamente ele precisava de uma cerveja.

—Ah, tem alguém na porta. — Rin comentou ouvindo a campainha.

Nunca antes Sesshoumaru havia visto um grupo tão feliz em ter a refeição interrompida.

Simultaneamente todos na mesa começaram a fazer menção de se levantar, balbuciando coisas sobre irem atender à porta.

—Fiquem aí. — ordenou se levantando.

Independente de quem fosse talvez ele até aproveitasse a chance para realmente sair e comprar alguma cerveja…

—Quem é? — atendeu pelo interfone, ligando a câmera.

Um casal estava parado diante de seu portão na calçada: um homem de óculos e terno e uma mulher baixa com rabo de cavalo e vestido marrom.

—Aqui é a residência de Taisho Sesshoumaru? — perguntou a mulher aproximando-se do interfone.

Sesshoumaru arqueou a sobrancelha.

—Não queremos comprar nada. — respondeu.

—Somos da assistência social. — apresentou-se o homem, fazendo Sesshoumaru enrijecer no mesmo instante. — Estamos aqui devido ao inicio de um processo judicial que diz respeito à guarda de uma menor que, segundo soubemos, se encontra em sua residência agora.

—Serviço social? Que tipo de funcionários públicos trabalha depois das 18h?

Em resposta a isso, ambos pegaram seus crachás de identificação e os mostraram diante da câmera.

—A noite está fria senhor Taisho, poderia nos deixar entrar agora? — o homem inquiriu.

Sesshoumaru comprimiu o maxilar, tinha um pressentimento ruim.

—Se é só a papelada do processo podem deixá-la aí na caixa do correio mesmo. — instruiu — Ou precisam que eu assine algo?

—Sim precisamos. — confirmou a mulher — E também estamos aqui para recolher a criança.

Automaticamente Sesshoumaru recuou, sentindo as pontas dos dedos formigarem como se houvesse recebido um choque do interfone, havia um chiado insistente ecoando em sua cabeça, como um canal que ficara fora do ar, mas levou vários segundos até se dar conta de quem eram as vozes dos assistentes sociais chamando-os através do interfone:

—… maru? Senhor Sesshoumaru? Senhor Sesshoumaru…?

—Ainda estou aqui. — respondeu finalmente.

—Precisamos entrar e recolher a criança agora. — o homem de terno insistiu.

Recolher? Por acaso achavam que Rin era algum entulho?

—Por quê? — rosnou.

—Conversaremos mais confortavelmente assim que entrarmos. — retrucou o homem.

—Voltem amanhã em horário comercial. — respondeu impulsivamente.

Ele assistiu pela câmera o casal de assistentes sociais discutirem entre si durante vários minutos, até que, por fim, a mulher inclinou-se em direção ao interfone e respondeu com uma voz muito séria:

—Senhor Sesshoumaru, saiba que se nós tivermos de vir aqui mais uma vez, então retornaremos com a polícia.

Desgraçados!

Sesshoumaru trincou os dentes e respondeu:

—Estou permitindo a entrada de vocês, aguardem no hall de entrada e meu criado os levará até meu escritório para que possamos conversar enquanto Rin se arruma.

Então ele destrancou o portão elétrico, respirou fundo por três segundos, e voltou à cozinha para dar a fatídica notícia.

Como já era de se esperar houve muito choro, gritos, reclamações e acusações infundadas… pois é claro que se Sesshoumaru houvesse planejado algo como aquilo ele teria no mínimo, misturado alguma valeriana ao suco dos parasitas.

Mas ele sempre soube que Rin era mais madura que aqueles quatro juntos, tudo o que ela pediu foi algum tempo para poder terminar sua refeição, antes de subir junto com Jaken para arrumar suas coisas, em algum momento aqueles parasitas escandalosos — eles eram piores que as cigarras no verão! — devem ter subido junto, mas Sesshoumaru não saberia dizer, pois estava ocupado com os assistentes sociais no escritório.

Aqueles dois despejaram uma infinidade de coisas inúteis e termos jurídicos sobre ele, mas tudo o que Sesshoumaru era capaz de compreender, era que estavam levando a sua menina.

Diante do portão de casa, Sesshoumaru apoiou-se sobre um joelho e colocou as mãos sobre os ombros de Rin.

—Está tudo bem se quiser chorar também. — avisou.

—Eu estou bem. — ela afirmou enquanto retorcia a barra da camiseta, mas era óbvio que queria chorar — Sesshoumaru-sama vai me buscar novamente, não é?

Sesshoumaru tocou sua bochecha.

—O mais rápido que eu puder. — prometeu.

Rin fechou os olhos com força e mordeu o lábio inferior, tentando conter os soluços, em suas costas estava à mesma mochila com a qual chegara ao seu apartamento mais de um ano atrás, os assistentes sociais já haviam levado a mala de rodinhas para o carro.

—Então não demore…! — pediu com voz tremula, ah… ela estava tentando ser forte, mas estava tremendo — Porque eu te amo, papai.

Sesshoumaru inclinou-se para frente e beijou-lhe a testa.

—Até logo, filha.

Ele ficou ali parado por um tempo indeterminado, apenas olhando para a rua vazia por onde o carro seguira até desaparecer com sua filha, então seu celular tocou e ele atendeu-o sem nem se atentar a quem lhe ligava em um momento como aquele.

—Senhor Taisho? — era seu advogado — Perdão por ligar a essa hora, mas estou ligando para informá-lo que a audiência já foi marcada.

—Sim. — Sesshoumaru encarou os papéis que tinha em mãos. — Eu soube.


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Notas finais do capítulo

Curiosidade sobre o título desse capítulo: ele é uma referência à história "os fantasmas de scroog", um famoso conto de natal onde um homem velho e avarento tem um encontro com três espíritos de natal (Natal Passado, Natal Presente e Natal Futuro) que o ensinam a ter espírito natalino e... bem, nesse capítulo Sesshoumaru é um homem cretino, inescrupuloso e de índole duvidosa, mas que precisa de três testemunhas para atestarem que ele não é tão ruim assim kkkk
Não deu para escrever nada de Natal esse ano, mas eu queria fazer pelo menos uma referência, então até 2022 XD



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