De Repente Papai escrita por Lady Black Swan


Capítulo 18
Disseram que ficaria tudo bem…


Notas iniciais do capítulo

Feliz 2020!
Primeiramente só queria agradecer à Wtsthay pela belíssima recomendação ♥

E agora sem mais delongas... Já prepararam os lenços para esse ano?

GLOSSÁRIO:

Futon: Tipo de colchão enrolável feito para se por em pisos tipo tatame.  É formado por um shikibuton (inferior) e um kakebuton (acolchoado grosso).

Genkan: Área da casa, posicionada à entrada, onde se deixam os calçados antes de entrar;

Kotatsu: uma invenção japonesa que consiste de uma colcha posicionada entre a armação e o tampo de uma mesa, na qual a parte inferior possui uma fonte de calor. A origem desse objeto é datada do século 14 e ele é derivado dos irori (espécie de lareira japonesa). A diferença desse artefato é que sua versão moderna é móvel, tratando-se de uma evolução dos modelos fixos cavados no chão, utilizados no século 17.



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Cinco dias.

Fazia exatamente cinco dias que Rin não via Sesshoumaru-Sama.

O que foi mesmo que ele tinha dito para ela nas ultimas horas do ano anterior?

Possivelmente algo como...

 “Pare de agir como se eu fosse desaparecer no momento em que você virar as costas, eu não vou desaparecer.”

E agora onde ele estava?!

A última vez que o vira fora logo depois de ele dar o otoshidama a ela e ao tio — Rin ficou muito surpresa porque ganhara o dobro do que costumava ganhar dos avós, e seu tio muito irritado porque Sesshoumaru-Sama continuava dando a ele o mesmo valor que ele ganhava no ginásio, mas não pôde reclamar muito, porque quando tentou começou a tossir sem parar — e receberem os cartões de ano novo daquele ano — no dia 1 de janeiro, como manda a tradição — eram cerca de uma dúzia e a maioria deles eram do tipo que já vendem prontos apenas para preencher o endereço e o remetente, e vinham de parentes distantes, dos quais tio Inuyasha dizia não lembrar da maioria, e estavam endereçados “aos Taisho”.

Mas havia três cartões especiais que eram diferentes desses: Os de Sango-chan, Miroku-kun e Kagome-chan — o cartão, a propósito, fora a única noticia que Rin tivera de Kagome-chan desde o natal — obviamente ela mesma não havia enviado nenhum cartão e nenhum desses três era endereçado a ela, por respeito a seu luto pela mãe.

O cartão de Kagome-chan possuía uma imagem de galhos de cerejeira em pleno desabrochar e parecia pintado à mão, mas, de alguma forma, era como se não fosse ela falando.

O cartão dela dizia assim: “Lhes desejo muito paz e mais prosperidade nesse ano que começamos. Que seus dias sejam quentes e agradáveis, e sempre cercados de amigos”.

—A família de Kagome não dá a ela muita liberdade para escrever o que quer nos cartões. — Miroku-kun lhe explicou quando Rin mostrou esse cartão a ele — Eles levam tradições muito a sério por lá. Então ela manda mensagens codificadas. Está vendo? Aqui ela diz “lhe desejo paz e mais prosperidade” é uma provocação ao Inuyasha, que nunca ganha às apostas contra ela.

—Feh. — resmungou tio Inuyasha.

—E a segunda frase é claramente uma provocação ao Sesshoumaru. — Miroku-kun riu.

—Ah entendi! — Rin sorriu.

Mas quando estava prestes a perguntar que tipo de família tão rígida era aquela de Kagome-chan, Sango-chan os chamou:

—Ah! Olha aqui os nossos cartões!

O cartão de Miroku-kun era um cartão engraçado com os dizeres “Feliz ano Novo” e uma imagem de um macaquinho tirando uma fantasia de carneiro que fez Rin rir, nele Miroku-kun escrevera coisas como que “queria comer mais da comida de Rin” e que “queria que Sesshoumaru ficasse menos ranzinza” e finalizava com “Se ele já me achou chato, nesse ano serei insuportável!”.

O cartão de Sango-chan também trazia os dizeres “feliz ano novo”, mas mostrava dois macaquinhos tomando chá em um kotatsu, ela basicamente dizia “Se preparem, esse ano vai ser uma loucura!”.

—Não sei por que vocês ainda se dão ao trabalho de enviá-los pelo correio, já praticamente moram aqui, deviam entregá-los pessoalmente. — Sesshoumaru-Sama comentou aparecendo à entrada da sala.

Isso foi aproximadamente na hora do almoço.

—Olhe aqui, Sesshoumaru, esse aqui é para você. — Tio Inuyasha o chamou por detrás da máscara hospitalar erguendo um cartão feito a mão assim como de Kagome-chan, mas Sesshoumaru-Sama o ignorou e saiu das vistas dele. — É da mãe dele, desde que consigo lembrar ela tem enviado um todos os anos, mas ele nunca respondeu nenhum sequer. — ele lhe explicou entregando-lhe o cartão a ela — É difícil enviar cartões de ano novo do exterior, então nosso pai e minha mãe nos enviam o deles por e-mail.

Logo depois ele curvou-se e começou a tossir, a gripe dele só estava piorando.

Desde o dia em que foram ao cemitério visitar Mariko, Sesshoumaru-Sama sempre vestia o sobretudo cinzento antes de sair de casa — ainda que fossem em raras exceções — mas daquela vez ele não o vestira, por isso nem sequer passara pela cabeça de Rin que ele ia sair.

E muito menos que ele simplesmente sumiria assim sem mais nem menos!

Quer dizer, ela não o via, mas sabia que ele havia aparecido em casa, no mínimo, em duas noites, o cesto de roupas limpas e dobradas que amanheceu à porta de seu quarto naquele dia — lavar a roupa era a única tarefa que ele nunca a deixara fazer, provavelmente achava perigoso que ela fosse sozinha até a lavanderia pública 24h que ficava a três quadras dali, mas só lavava as roupas dele e dela, e deixava as moedas para que tio Inuyasha se virasse depois — e a louça que amanheceu, misteriosamente, lavada anteontem lhe dizia isso, do contrário com certeza já teria informado o “desaparecimento” a policia.

Mas, no momento, o que Rin precisava mesmo era de uma ambulância.

Na noite passada ela havia finalmente, perdido a paciência e perguntado:

—Onde está o Sesshoumaru-Sama?!

Sango-chan e Miroku-kun ergueram os olhos de suas cartas — eles estavam jogando baralho.

—Hã? Como assim? — perguntou Sango-chan — Ele não está no quarto dele?

Eles nem sequer haviam notado que Sesshoumaru-Sama não estava em casa há dias!

—Não! — respondeu exasperada — Ele saiu logo depois de chegarem os cartões de ano novo e, desde então, praticamente não voltou mais para casa!

—Ah... Agora que você falou realmente faz um tempo que eu não ouço nenhum dos comentários ácidos dele. — Miroku-kun concordou.

—E onde ele está? — voltou a perguntar.

Sango-chan e Miroku-kuns se entreolharam e Sango-chan disse:

—Olha Rin, estamos em pleno inverno e essa é, geralmente, a época de maior produtividade do Sesshoumaru.

—E daí?

—Bem, geralmente durante o inverno, quando todos nós estamos fora daqui, Sesshoumaru passa horas e até dias escrevendo ininterruptamente, mas agora que estamos aqui, graças ao kotatsu, ele provavelmente não tem a paz de que precisa para escrever dessa mesma forma.

Rin arqueou a sobrancelha.

—Vocês estão dizendo que ele está em algum lugar por ai escrevendo?

—É exatamente isso. — Miroku-kun confirmou — Mas não se preocupe Rin, ele com certeza não foi muito longe, deve estar em algum café por aí ou, no mínimo, no apartamento de cima.

No apartamento de cima.

Essa não era a primeira vez que eles sugeriam que Sesshoumaru-Sama estava ou podia estar por lá, mas o que — ou quem — havia no apartamento de cima?

Francamente, Rin tinha uma pequena ideia de quem poderia ser, lembrava-se de algo, muito vagamente, da noite de ano novo quando ela ficara entre o estado de acordada e dormindo depois que seu sapato caíra no chão, uma voz de mulher talvez?

No entanto, isso era algo como uma memória reprimida ou coisa assim, e era desse jeito que Rin preferia deixar.

—E quanto à Kagome-chan? Por que ela não veio mais aqui desde o Natal?

Nesse momento tio Inuyasha, que já havia perdido a partida e estava deitado no chão sob o kotatsu coberto até os ombros pelo edredom do próprio kotatsu, pigarreou bem alto.

—Inuyasha não gosta que falemos sobre isso. — Miroku-kun explicou.

—Mas a Kagome voltará logo depois de as comemorações de ano novo terminar, assim que as aulas recomeçarem. — Sango-chan lhe garantiu.

Rin inclinou-se para o lado para olhar para tio Inuyasha, ele estava deitado de lado no chão com os lábios entreabertos e a respiração um tanto acelerada, ela não tinha certeza se ele estava dormindo ou não, e teve a impressão de que ele estava suando frio, mas como Sango-chan e Miroku-kun não demonstraram qualquer preocupação, ela supôs que devia estar tudo bem.

Não estava.

Naquela manhã, logo depois de tropeçar no cesto de roupas recém lavadas e dobradas na porta do quarto, Rin o encontrara ainda deitado no mesmo lugar debaixo do kotatsu.

 —Tio Inuyasha? — ela o chamou, sacudindo-o pelo ombro — Tio Inuyasha, você está se sentindo bem?

Mas tio Inuyasha limitou-se a virar-se e ficar com a barriga para cima, a respiração estava bem mais acelerada do que na noite anterior e agora ele definitivamente estava suando frio.

—Tio Inuyasha! Tio Inuyasha! — chamou já mais preocupada, e erguendo a sua franja e a dele inclinou-se para tocar suas testas, estava febril, ela ergueu-se — Sesshoumaru-Sama! Sesshoumaru-Sama venha aqui! É o tio Inuyasha, ele não está bem!

Um segundo depois se lembrou de que os dois estavam sozinhos em casa.

Miroku-kun provavelmente apareceria para o almoço, mas Rin precisava de ajuda agora!

Em pânico ela correu para o telefone e discou o número da emergência.

—Você ligou para o serviço de emergência em que posso ajudar?

Oito meses atrás ela ligara para esse mesmo número e ouvira essa mesma frase.

—Alô! Alô! Aqui é Kimura Rin quem fala, eu tenho oito anos e preciso de uma ambulância!

Respondeu, exatamente como havia respondido oito meses antes.

—Qual o problema Kimura Rin?

Na ocasião o que ela respondera...

—É o meu tio! — respondeu — Ele não quer acordar! Está com febre, suando frio e respirando muito rápido!

... Fora que sua mãe caíra, e não se levantara mais.

...

Mas uma eternidade havia se passado e a ambulância ainda não havia chegado — quando se tem oito anos de idade e se estar sozinha com um adulto caído, sete minutos podem realmente ser uma eternidade — de forma que Rin, sem conseguir ter mais nenhuma ideia, saiu do apartamento e correu escadas acima até o apartamento de Sango-chan.

Sinceramente ela nunca imaginou que sua primeira visita ao apartamento de Sango-chan se desse daquela forma.

—Sango! Sango! — chamou batendo na porta em pânico, em um momento como aquele não havia tempo para formalidades.

Sango-chan abriu a porta, sonolenta e ainda de pijamas.

—Rin-chan? O que...? — bocejou.

—Venha rápido Sango! — a chamou tentando puxá-la pelo braço — É o tio Inuyasha! Eu já chamei a ambulância, mas...!

—Ambulância?! — Sango-chan repetiu, de repente muito desperta. — Por quê? O que houve com Inuyasha?!

—Eu não sei, ele está no chão desde ontem, achei que estivesse dormindo... Mas ele simplesmente não acorda!

Os olhos de Sango-chan moveram-se nervosos.

—E ele não estava gemendo ou resmungando? Como quando uma criança não quer ir para a escola?

Rin balançou a cabeça com força.

—Ele só está lá deitado respirando rápido!

—E Sesshoumaru?

Rin voltou a balançar a cabeça.

—Há dias que ele não aparece em casa, eu disse isso ontem!

Sango-chan saiu do apartamento fechando a porta atrás de si.

—Muito bem, ouça o que vamos fazer Rin: você vai voltar para o apartamento e esperar pelos paramédicos e eu vou tentar localizar Sesshoumaru para você!

Dito isso ela disparou pelo corredor e subiu as escadas — exatamente, subiu, e não desceu.

O que significava que Sesshoumaru-Sama ainda estava no prédio.

Mas voltar para o apartamento e esperar era simplesmente a pior coisa que Rin podia fazer e isso porque estar sozinha com um adulto caído a espera da ambulância era agonizante demais, os segundos se arrastavam em horas e era como se o tempo nunca passasse.

Foram os três minutos quase mais excruciantes de sua vida — perdendo apenas para aqueles minutos nos quais tivera que esperar pela ambulância para Mariko.

...

Foi somente quando os paramédicos já levavam tio Inuyasha às pressas em uma maca, com Rin correndo logo atrás, que Sango retornou com Sesshoumaru-Sama.

Ambos saíram do elevador com a voz de Sango-chan, que vinha meio correndo ainda de pijamas, mas agora um pouco mais descabelada, ressoando pelo corredor:

—... Fala coisas desse tipo com Rin?! Bem que Kagome disse que você não tem mesmo nenhum tato com crianças!

Sesshoumaru-Sama, por outro lado, apesar de andar a passos largos, parecia bem mais tranquilo ao perguntar:

—Domadora disse isso?

—Disse! E com razão!

Rin correu até Sesshoumaru-Sama para abraçá-lo.

—Sesshoumaru-Sama! — chamou.

Sentiu-o por a mão sobre sua cabeça.

—Você é um parente? — um dos paramédicos perguntou a Sesshoumaru-Sama, com Rin ainda agarrada a ele.

—Ele é meu meio-irmão. — Sesshoumaru-Sama respondeu, embora não parecesse muito orgulhoso disso.

—Então você deve nos acompanha ao hospital. — o paramédico respondeu — Venha conosco na ambulância.

Rin rapidamente soltou-se de Sesshoumaru-Sama.

—Então eu também...!

—Rin. — ele a chamou — Fique aqui, Sango vai cuidar de você.

Sango. Ele a havia chamado de Sango.

Isso significava que a situação era séria.

—Mas eu...! — ela tentou dizer.

—Não se preocupe, não deve ser nada, esse idiota vai ficar bem e voltar para casa logo. — Sesshoumaru-Sama tentou tranquiliza-la, antes de virar-se e seguir os paramédicos.

Rin segurou a mão de Sango-chan e apertou-a com força.

—O que foi Rin? — Sango-chan olhou-a — Você não ouviu o Sesshoumaru? Inuyasha vai ficar bem.

Mas ela mesma não mostrava muita confiança na voz ao dizer isso.

Rin não conseguiu encará-la.

—Quando Mariko adoeceu. — engoliu em seco — Vovô e vovó também disseram que não devia ser nada, que logo ela ficaria bem e voltaria para casa. Eles disseram que ficaria tudo bem… — ela apertou ainda mais a mão de Sango-chan, tentando desesperadamente segurar as lágrimas — Mas a mamãe nunca mais ficou bem.

...

Depois de pegar algumas coisas suas no apartamento, Sango-chan a levou para o próprio apartamento, os pais de Sango-chan não estavam em casa, mas ela fez questão de explicar a Kohaku que Rin passaria aquele dia com eles.

O apartamento de Sango-chan era exatamente igual ao de Sesshoumaru-Sama, porém mobiliado de forma diferente — talvez todos os apartamentos do prédio seguissem a mesma planta?

As duas tomaram banho juntas e depois Sango-chan a arrumou e penteou prendendo seu cabelo em um coque que tinha a forma de um laço caído de lado no alto de sua cabeça, e depois a mandou para sala, para jogar videogame e assistir televisão com Kohaku enquanto ela preparava o almoço para os três.

Já fazia tempo que ninguém cuidava de Rin dessa forma, mas, ela estava preocupada demais com tio Inuyasha no hospital para aproveitar esse momento.

—Rin-chan. — Sango-chan a chamou — Rin-chan, você não vai comer seus camarões empanados?

Rin encarou seu prato.

—Sango-chan. — chamou — Você acha que tio Inuyasha está bem?

Sango-chan levou uns dois segundos para responder.

—Claro que sim, Rin-chan, não se preocupe, eu tenho certeza que Sesshoumaru vai ligar assim que tiver alguma noticia.

Rin mordeu o lábio inferior.

—Então por que ele ainda não ligou?

Sango-chan hesitou.

—É que... — nesse momento ouviu-se que alguém batia na porta e Sango-chan levantou-se imediatamente — A porta! Eu já volto!

E correu para fora da cozinha.

Rin hesitou por um segundo, mas logo depois se levantou e correu atrás dela.

—Sangozinha, minha linda! — ela ouviu a voz de Miroku-kun ainda do corredor — Você sabe onde Inuyasha e Rin foram? Eu passei os últimos dez minutos batendo na porta e nada. Pode até ser que o Sesshoumaru esteja em casa, mas você sabe como ele é: não abre a porta nem que...

—Sh, Miroku! — Sango-chan o interrompeu e continuou em voz baixa, quase sussurrando: — O Inuyasha foi para o hospital e Sesshoumaru teve que ir com ele.

A essa altura Rin já havia se posicionado com as costas grudadas à parede ao lado do genkan, para ouvir o que diziam.

—Hospital?! — Miroku-kun se espantou — Mas o que aconteceu?!

—Sh, Miroku! — Sango-chan repetiu ainda sussurrando. — Rin está aqui comigo.

O tom de Miroku-kun também se tornou mais baixo:

—E como ela está?

—Muito preocupada, parece que ela está ligando isso ao dia em que sua mãe foi internada... — sua voz foi se tornando cada vez mais baixa — Pouco antes de morrer.

—Mas o que Inuyasha tem afinal? — Miroku sussurrou parecendo realmente preocupado agora.

—Eu não sei, Sesshoumaru ainda não ligou para dizer nada. — Sango-chan respondeu — Mas ao que parece ele não estava simplesmente mal humorado por Kagome não estar aqui ontem à noite.

—Droga! — Miroku-kun praguejou — E Kagome, ela já...?

—Não! — Sango-chan o cortou — E nem pense em contar a ela, Kagome vai querer ir vê-lo e isso só vai arrumar problemas para ela.

—Certo.  — Miroku-kun concordou — E onde eles estão?

—O que?

—Em que hospital eles estão? — esclareceu — Eu quero ir ver meu amigo.

—Eu não sei.

—Você não sabe?!

—Eu já disse, Sesshoumaru ainda não ligou! — Sango-chan se defendeu.

—E por que você não liga e pergunta? — Sango-chan manteve-se calada.  — Você nem pensou nisso, não foi?

—Bem, eu estava ocupada tentando fazer Rin não pensar demais nisso!

—Bom, então vamos ligar agora.

—Está certo...

De repente Miroku-kun apareceu no corredor, com Sango-chan vindo logo atrás, surpreendendo-a.

—Mas o que vocês dois estão fazendo?! — Sango-chan ralhou com as mãos nos quadris.

Dois?

Quando Rin girou a cabeça, viu que Kohaku-kun também a havia seguido e estava bem ali ao seu lado, também com as costas prensadas contra a parede ouvindo-os.

Miroku-kun puxou-os para si, postou-se agachado atrás deles, com os braços em volta de seus ombros.

—Ah Sango, não se irrite com eles, eles certamente só estavam preocupados, não é crianças?

—Sim! — Rin concordou de imediato.

Kohaku-kun abaixou a cabeça e respondeu tímido:

—Eu também estava preocupado.

—Viu só?

Sango-chan cruzou os braços e girou os olhos.

—Tudo bem. — acalmou-se — Então eu vou pegar o celular no quarto e ligar para Sesshoumaru.

Miroku-kun levantou-se juntando as palmas.

—É isso ai crianças, então peguem seus casacos porque nós vamos sair!

—O almoço ainda está na mesa! — Sango-chan gritou do quarto.

—É isso aí crianças, então vamos almoçar e depois peguem seus casacos porque nós vamos sair! — Miroku-kun reformulou sua frase.

...

Em uma cantina de hospital havia vários médicos e enfermeiros, assim como familiares/amigos preocupados de pacientes, no entanto, havia uma figura ali que destoava do resto do cenário: sentado a uma mesa afastada com um prato onde só se viam restos de um almoço agora, Sesshoumaru-Sama permanecia tranquilamente digitando em seu celular.

—Sesshoumaru-Sama! — Rin o abraçou — Como está o tio Inuyasha?

Sesshoumaru-Sama depositou o celular sobre a mesa com a tela voltada para baixo.

—Os médicos fizeram alguns exames nele, e agora ele está descansando, lhe deram uma máquina de oxigênio, por isso ele já está respirando melhor. — ele respondeu — Eu só queria que os exames saíssem mais rápido. — por um segundo um ínfimo fio de esperança brotou em Rin, quando ela acreditou que Sesshoumaru-Sama podia estar realmente preocupado com tio Inuyasha, até que ele pegou novamente o celular e completou: — Como responsável por ele eu só posso deixar o hospital depois que os exames saírem, e a bateria do meu celular está quase acabando.

—Então você não sabe ainda o que ele tem? — Sango-chan perguntou.

Sesshoumaru-Sama ergueu os olhos.

—Foi o que acabei de dizer. — e guardando o celular no bolso perguntou: — Algum de vocês tem um carregador?

—N...! — Sango-chan quase disse.

Mas Kohaku-kun foi mais rápido:

—T-tenho. — ele entregou o carregador para Sesshoumaru-Sama.

—Kohaku! — repreendeu-o Sango-chan, e ele corou rapidamente.

Sesshoumaru-Sama pegou o carregador e levantou.

—Aonde vai, Sesshoumaru-Sama? — Rin perguntou.

—Procurar uma tomada. — ele respondeu afastando-se. — Deve ter algumas nesse hospital.

Porém, antes que ele saísse completamente da cantina, um médico o interceptou, segurando-o com os dedos em seu cotovelo, os dois falaram um pouco e Sesshoumaru-Sama foi embora o acompanhando.

Ele voltou vinte minutos depois.

—Então vocês ainda estão aqui. — ele observou.

Miroku-kun e Sango-chan levantaram-se com um salto.

 —E então? — Miroku-kun perguntou ansioso — Como é que foi?

—Bem. — Sesshoumaru-Sama respondeu — O médico me deixou carregar a bateria no escritório dele, está em 60% agora.

—Sesshoumaru! — Sango-chan exasperou-se — Queremos saber do Inuyasha!

—Ele vai ficar bem. — Sesshoumaru-Sama tirou o carregador de celular do bolso e jogou-o para Kohaku — Aqui está garoto. — e virou-se para Sango-chan — Agora, Gata Selvagem, Rin vai ter que ficar com você por mais uns dias...

—Sesshoumaru...! — Sango-chan tentou chamá-lo.

—Não será por muito tempo. — ele continuou a falar, sem dar atenção a ela — Só até eu acabar de esterilizar o apartamento.

Esterilizar?!

Por que ele tinha que esterilizar o apartamento?!

—O que o Inuyasha tem Sesshoumaru?! — Miroku-kun perguntou de uma vez.

Sesshoumaru-Sama o olhou.

—Pneumonia viral. — respondeu, e antes que eles o enchessem de perguntas seguiu falando — A gripe que ele pegou acabou evoluindo para isso, é um caso bem comum nessa época do ano, ele ainda deu sorte, podia ser do tipo bacteriana, o que seria bem pior, então ele vai ficar alguns dias aqui no hospital recebendo o tratamento adequado e depois eles o mandarão para casa. — ele tirou o celular do bolso, provavelmente para checar as horas, e então o guardou novamente — Vou deixar uma mala com as coisas de Rin do lado da porta do apartamento, por isso ela não precisa entrar, e já que chegaram aqui sozinhos não precisam de carona para voltar, isso é tudo.

E foi isso, ele foi embora sem sequer se despedir.

Sango-chan colocou a cabeça entre as mãos e suspirou.

—Pneumonia.

—Calma Sangozinha. — Miroku-kun tentou reconfortá-la — Você ouviu o Sesshoumaru, não é grave.

—Miroku você viu o jeito que o Sesshoumaru age! Ele não dá a mínima para o Inuyasha, e só o deixar morar com ele por causa da mesada que recebe para isso! — Sango-chan respondeu irritada — E, além do mais, é culpa dele Inuyasha estar doente! Ele deixou Inuyasha dormindo na sala desde o verão e, ultimamente, o coitado tem até dormido no chão para tentar se aquecer um pouco debaixo do kotatsu, só podia pegar uma pneumonia, mesmo!

Mas... Sesshoumaru-Sama só havia colocado tio Inuyasha para dormir na sala... Porque dera o quarto dele para ela, era por causa dela que ele estava dormindo na sala, e recentemente em baixo do kotatsu, durante todo aquele tempo... Mas então isso significava... Que era culpa dela tio Inuyasha ter ficado doente, não de Sesshoumaru-Sama.

Rin estava certa, ela estivera certa o tempo todo: Não importava aonde fosse aonde quer que ela esteja ela levava a morte consigo.

Matara sua mãe e da mesma forma quase fizera o mesmo com seu tio.

De repente, Rin sentiu uma mão em seu braço, era Kohaku-kun, ele sorriu.

—Rin... chan? — ele a chamou — Você quer vir comigo um pouco? Tem umas máquinas de chocolate quente bem ali, e eu tenho algumas moedas.

Rin sorriu, secando de leve as lágrimas antes que elas caíssem.

—Sim. — concordou — Obrigada Kohaku-kun.

Quando voltasse para casa, Rin prometeu a si mesma, ela diria para Sesshoumaru-Sama que tio Inuyasha não precisava mais dormir na sala por causa dela — e que, se preciso, ela até dormiria na sala no lugar dele.

Mas ninguém mais morreria por causa dela.

Rin não causaria a morte de mais ninguém que a amasse.

...

Durante os dias de internação de tio Inuyasha, Miroku-kun e Sango-chan se revezaram para levar Rin, e vez por outra Kohaku-kun também, ao hospital para visitá-lo, mas Sesshoumaru-Sama não apareceu uma vez sequer.

No quarto dia, tio Inuyasha recebeu alta do hospital, que também foi o mesmo dia no qual Kagome-chan ficou sabendo do que estava se passando — o que não a deixou nada feliz —, era o primeiro dia de aula do último semestre e ela, juntamente com Sango-chan e Miroku-kun foram buscar Rin na escola para que eles o recebessem todos juntos quando ele chegasse a casa.

—Vamos Rin-chan, vamos, ou vamos perder o metrô! — Miroku-kun a chamou puxando-a pela mão para que saíssem correndo, no momento em que a pegaram na escola.

Eles não deviam fazer isso, sabe?

Sair correndo com uma criança da frente da escola, quer dizer, já que isso parecia uma cena no mínimo suspeita.

Por sorte, ninguém os parou.

Quando estava com Sesshoumaru-Sama ele sempre a levava de caro aos lugares, e mesmo quando não usava o carro, Sesshoumaru-Sama sabia de cor os horários em que o metrô estaria menos lotado, de forma que já fazia algum tempo desde a última vez que ela fora amassada e espremida dentro de um vagão de metrô.

—Meninas fiquem perto de mim. — Miroku-kun as chamou, enquanto Rin era esmagada em meio aos três — Não queremos que nenhum tarado bote a mão por debaixo da saia de vocês.

—Miroku a cidade está congelando e nós estamos usando roupa demais para alguém encontrar nossas saias. — Sango-chan retrucou — E mesmo que não estivéssemos e algum tarado realmente tentasse tocar em mim ou em Kagome, levaria um belo soco no nariz.

Miroku-kun riu.

 —Sangozinha, você é demais. Tenho até vontade de beijá-la.

Ao ouvir esse comentário Rin corou intensamente, mas Sango-chan respondeu com toda a naturalidade do mundo:

—Não pense que você está isento do soco no nariz.

—Eu não acredito que vocês não me contaram nada do que estava se passando com Inuyasha! — Kagome-chan reclamou de repente, provavelmente deixando vir à tona o que estava contendo há horas — Como puderam me deixar de fora assim?!

—Kagome, foi para o seu bem. — Sango-chan justificou-se — Se tivéssemos contado, você teria dado um jeito de fugir para ir vê-lo.

—Mas é óbvio que sim! — Kagome-chan confirmou.

—Mas isso teria te deixado em sérios apuros! — Sango-chan argumentou — E sabe-se lá o quanto a sua família iria te restringir depois? E aí quem ficaria furioso conosco seria Inuyasha!

—Urgh! — Rin gemeu quando foi um pouco mais exprimida.

—Está tudo bem, Rin-chan? — ouviu Miroku-kun perguntar do alto.

—Está. — respondeu, mas estava tão apertada que mal conseguia abrir os olhos.

...

Assim, quando tio Inuyasha chegou a casa, todos o estavam esperando, já no genkan com bombas de serpentinas a mão.

—Bem vindo de volta! — comemoraram em conjunto, e dispararam as serpentinas, no momento em que ele cruzou a porta.

Um tanto curvado e pálido, mas bem agasalhado e com uma máscara cirúrgica sobre o rosto Inuyasha os olhou.

—Pessoal, vieram me receber? — Rin tinha certeza que ele estava sorrindo por detrás da máscara.

—Mas é claro que sim! — Sango-chan respondeu.

E Miroku-kun aproximou-se para lhe dar uma tapa amigável nas costas.

 —Nunca mais nos assuste assim, ouviu bem amigo?

Tio Inuyasha riu de leve.

—Pode deix...

Kagome-chan pulou em seus braços antes que ele terminasse a frase.

Sentindo-se corar intensamente pela segunda vez no dia, Rin teve os olhos rapidamente cobertos por Sango-chan.

—Se me esconderem outra vez que você está no hospital ou coisa assim. — ela ouviu Kagome-chan dizer, com a voz abafada — Eu juro que eu mesma te mando direto para lá.

—K-kagome. — ouviu tio Inuyasha gaguejar nervoso — Você não devia ficar tão perto assim, a pneumonia...

—Você pegou uma pneumonia que se desenvolveu a partir de uma gripe. — disse Kagome-chan, e Sango-chan finalmente tirou as mãos dos olhos de Rin, agora os dois estavam separados — Se eu fosse pegar alguma coisa de você, provavelmente seria gripe.

—Feh, com você não tem mesmo argumento, não é Kagome?  — tio Inuyasha se rendeu, já tirando o casaco e as luvas.

—Não tem mesmo. — Kagome-chan concordou, e o ajudou com o cachecol e o gorro. — Mas não vamos ficar aqui parados, vamos? Nós compramos, a caminho de casa, um bom lanche para comemorar a sua volta, temos bolo.

—Isso aí, um bolo delicioso! — Miroku-kun esfregou as palmas das mãos.

E quando todos já iam se indo, Rin ficou ali, esperando por alguém que não veio.

—E Sesshoumaru-Sama? — perguntou finalmente os seguindo — Ele não foi buscá-lo?

Todos pararam no corredor, tio Inuyasha virou-se e franziu o cenho.

—Feh, aquele lá só assinou o meu prontuário e meu deu dinheiro para o táxi, não quis de jeito nenhum me deixar entrar no carro dele. — respondeu.

Francamente isso não a surpreendia, depois de saber que tio Inuyasha havia contraído uma pneumonia viral, Sesshoumaru-Sama havia ido para casa, feito uma mala para Rin, colocado-a do lado de fora da porta e, praticamente, interditado o apartamento durante três dias.

Somente no dia anterior é que Rin havia recebido permissão de retornar para casa... E encontrara todo o apartamento mais limpo do que um hospital. Na verdade, ele até cheirava como um.

Foi só então que ela teve a oportunidade de dizer para Sesshoumaru-Sama que não dormiria mais no quarto de tio Inuyasha, fazendo-o ser obrigado a dormir na sala, e sugeriu que ela mesma poderia dormir na sala... Ideia na qual ele deu um ponto final com um definitivo não.

Bem, havia outras opções também, ela era criança, por isso não haveria nada demais que ela e tio Inuyasha dividissem a cama.

—Como seu responsável legal a lei diz que eu tenho que assinar seu prontuário de alta, mas nada me obriga a te trazer no meu carro e contaminá-lo todo. — Sesshoumaru-Sama respondeu por de trás de Rin.

Rin virou-se sorrindo.

—Sesshoumaru-S...!

Parou.

Sesshoumaru-Sama estava parado atrás de si.

E nas costas carregava um futon cor de rosa.


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Notas finais do capítulo

Curiosidades do Japão:

Otoshidama, o envelope de dinheiro para as crianças:
É tradição as crianças ganharem uma pequena quantia em dinheiro dentro de um envelope de seus pais, avós e/ou parentes próximos na época do ano novo, a quantidade de dinheiro que vai dentro do envelope depende da idade da criança, mas geralmente é o mesmo valor para cada uma, caso houver mais de uma criança na família. O valor mínimo é cerca de 1000 ienes, dados às crianças pequenas dentro dos envelopes que são ilustrados com motivos infantis variados. Para os adolescentes o valor é sempre maior e podem variar entre cinco a dez mil ienes. Geralmente o Otoshidama é entregue às crianças até completarem o ensino médio, mas existe casos em que estudantes universitários também ganham um certo montante de dinheiro dos seus familiares como presente de Ano Novo. Com essa tradição, os pais tem como principal objetivo ensinar as crianças a poupar parte do dinheiro para uma emergência e as incentiva a gastar a outra parte, comprando algo que elas gostam. Assim, elas vão aprendendo desde cedo sobre a arte de manusear o dinheiro com sabedoria, inteligência e sensatez.

Cartões de Ano Novo:
No Japão, é costume mandar Negajo, uma espécie de cartão postal, (hagaki) com uma ilustração, que pode ser desde personagens japoneses como o símbolo zodíaco do ano que vai entrar. Durante o Ano Novo, esse costume é visto como uma obrigação social e está enraizado na cultura japonesa. Os cartões são todos entregues de uma só vez, no dia 1 de Janeiro. Segundo a tradição japonesa, não se deve receber o Nengajo antes do primeiro dia do ano. Por causa disso, os correios precisam trabalhar duro nesta época do ano para darem conta de entregar todos os milhões de Nengajo. Por isso, geralmente recrutam trabalhadores temporários para ajudar na entrega. Cartões postais dessa natureza são carimbados com a palavra “Nengajo” para que eles possam ter prioridade. Existe uma regra levado muito a sério em relação ao envio de Nengajo. Uma família que perdeu um ente querido envia um tipo de cartão postal conhecido como Mochú Hagaki, para informar aos parentes e amigos sobre a morte. Quem receber o Mochú Hagaki, (Hagaki de Luto) saberá que não deve mandar o Nengajo de Ano Novo para aquela família, em respeito ao seu luto. Outra regra que deve ser seguida à risca no Japão, é que assim que você recebe um cartão postal Nengajo de alguém, que por descuido você se esqueceu de enviar, imediatamente deve mandar um em agradecimento. Caso não o faça, ficará mal na fita e passará como mal-educado.



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