Eve e Daan deixaram Shae no quarto e subiram mais uma vez para o convés. Ele não desgrudava os olhos dela e ela não tirava os olhos do chão.

— O que foi, Eve? — Ele repetiu, mais uma vez.

— Eu tive uma visão, mais uma.

— Foi muito ruim?

Ela não respondeu, não queria voltar a chorar e sabia que o faria se começasse a falar sobre isso, mas sentia que Daan merecia saber, da mesma forma que achava que Shae deveria saber sobre a própria morte.

— Não posso falar sobre isso Daan, não com você. — Ela se virou para o mar, sem querer encara-lo.

— A visão tinha a ver comigo? — Ele também se encostou na amurada.

— Como sabe? — Eve continuou encarando a água.

— Você começou a chorar assim que me viu, poderia ser só coincidência, mas...

— Você está certo. — Ela engoliu o choro. — Eu vi a sua morte, Daan.

Ela percebeu ele prendendo a respiração, parecia hesitante, sem saber se continuava ou não com aquele assunto.

— Foi muito horrível?

— Você morreu salvando pessoas. — Ela finalmente olhou para seu rosto, estava sereno, com uma calma que ela não imaginaria, devido a situação.

— Como foi?

— Não sei se é uma boa contar isso para você. Você pode tentar mudar as coisas e aí o pior pode acontecer.

— O pior já vai acontecer, Eve. Vamos, conte. Quero saber quanto tempo ainda tenho.

Ela se lembrou de Shae, delirando em seu quarto.

— A julgar pelo estado de Shae, não muito.

Os olhos dele estavam tristes e Eve odiou que aquele homem fosse morrer tão cedo. Se perguntou se sua morte só aconteceria desse jeito por que ela tinha o encontrado, acreditava que sim.

— Tudo bem. — Ela suspirou e contou sua visão, tentando amenizar toda a situação, tentando segurar as lágrimas.

Ao final, Daan parecia muito bem. Não estava pálido, nem tinha lágrimas nos olhos. Era como se Eve tivesse lhe tido o que comeria no café da manhã.

— Então eu morri tentando salvar uma criança. Não é uma morte tão horrível assim. — Daan abriu um sorriso e Eve não conseguiu ver até que ponto era verdadeiro.

Eve segurou suas mãos.

— Vai morrer — ela corrigiu. — Você ainda está aqui.

— Deve ser horrível ter que viver isso duas vezes, não? Você já viu a morte de outra pessoa conhecida?

Ela ficou calada, não sabia se queria compartilhar sua visão com Shae. Mas era um fardo tão pesado para ela suportar. Vinha guardando isso há tempos e era aterrorizada por isso cada vez mais. As vezes doía olhar para Shae, porque assim que o fazia via o reflexo de sua cabeça sendo cortada, via a sombra da espada que pairava sobre ela.

E então percebia que aquela garota, sempre entusiasmada e cheia de vida seria silenciada para sempre. Doía tanto quanto vê-la deitada em uma cama, ardendo em febre.

— Eu vejo a morte de Shae, desde meus doze anos.

Ela contou para o homem sua visão mais aterrorizadora, sem deixar nenhum detalhe de fora. Dessa vez Daan empalideceu. Parecia mais assustado com isso do que com a visão sobre sua própria morte.

— É por isso que foi encontrá-la?

Ela negou com a cabeça.

— Nos conhecemos realmente por acidente, não foi planeado. Apesar de eu acreditar que essa foi uma artimanha do destino, ou talvez de Cersey, não sei. — Deu de ombros. — Mas eu comecei a acompanha-la nessa loucura de vingança por conta disso, queria tentar mudar seu destino, apesar de ter certeza de que não conseguirei.

— Não tenha tanta certeza assim, o futuro pode mudar. Ele é moldado com base em nossas escolhas. Você não pode desistir assim, sem ao menos tentar.

— Você está dizendo isso por conta da morte de Shae ou da sua?

Daan abriu um sorriso culpado e mostrou a palma das mãos, como quem não pode fazer nada.

— Acho que pelos dois. Não vou dizer que estou animado pela minha morte e não sei se vou seguir seu conselho de não tentar muda-la, mas me parece uma pena que Shae faça toda sua jornada e consiga o que quer para cinco minutos depois perder a vida.

— É tão cruel....

— É por isso, não é?

— Hm? — Eve não entendeu a pergunta.

— É por esse motivo que você não quer aceitar seus sentimentos por ela, porque teme que ela vá morrer e você ficará sozinha!

Ela concordou com a cabeça.

— Não posso me dar ao luxo de me apaixonar, de me entregar para uma pessoa apenas para perdê-la em seguida. Não posso, não de novo. Eu já fiz isso uma vez.

 — Mas também não deveria se privar de uma história feliz apenas porque o fim pode não ser o que você esperou. Além disso, você sabe o que vai acontecer. Está mais preparada.

— Não tem como se preparar para coisas assim, Daan. Quando chegar sua hora você vai ver.