Lírio escrita por BeAr


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

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Era sábado, e Os Marotos acordaram cedo e desceram minutos depois para o café-da-manhã no Salão Principal. O grupo tinha quatro integrantes, sendo eles: James Potter, Sirius Black, Remus Lupin e Peter Pettigrew, e todos eram muito bonitos, exceto Peter, que era quase um penetra ali. Eles eram populares pela enorme bagunça que causavam no castelo todo santo ano. Os quatro irromperam da magnífica e imensa porta e andaram até a mesa da Grifinória, uma das casas de Hogwarts, mas todos pararam para observar uma estranha cena.

Lily Evans tinha um olhar venenoso no rosto e o corpo inclinado em direção a uma menina aparentemente primeiranista. As mãos seguravam firme as barras da mesa, e ela parecia estar falando maliciosamente. A garotinha estava com os braços em cima da mesa e cobria o rosto com eles.

— Como ela se atreve? – sussurrou James Potter, inchado de indignação. – Olha isso! É só uma primeiranista, pelo amor de Deus!

Remus Lupin revirou os olhos.

— James, vocês azaravam eles.

— Não era nada psicológico! – defendeu-se o moreno. – Iremos ter com a Evans agora mesmo.

E, jogando os ombros para trás, marchou em direção à garota. Os três garotos se entreolharam, prendendo o riso. James era obcecado por aquela garota desde certo ano, e enchia o saco dela (e deles também) quase todo dia. Ele havia tentado amadurecer esse ano, e estava se saindo bem. Não azarava mais primeiranistas como fazia até ano passado. Mas talvez estivesse mesmo na hora: ele já tinha dezessete anos e era tempo de se comportar como tal.

Ele continuou a marchar, mas parou alguns passos depois ao ver a seguinte cena: a menininha, que ele supunha estar chorando, estava lançando a cabeça para trás, os cabelos castanhos ricocheteando nas costas, a boca bem aberta e todos os dentes à mostra, claramente gargalhando alto.

Lily também gargalhava igual e segurava a barriga.

— ...E, se você puder acreditar, ainda coloquei um sapo na boca dela! – dizia Lily, limpando uma lágrima de riso que rolava pela bochecha sardenta.

Os Marotos se entreolharam, espantados, e se aproximaram sorrateiramente para ouvir.

— Você é animal! – disse a primeiranista, rindo de se acabar.

Lily jogou para trás os cabelos ruivos.

— Eu sei, Skylar, amor. – e piscou o olho, fazendo a garotinha soltar uma risadinha.

— Evans? – chamou Sirius Black, cauteloso.

O sorriso feliz da ruiva desapareceu no mesmo instante. A tal de Skylar olhou a cena apreensiva, agarrando-se ao livro em sua frente.

— Olá, Marotos. – disse Lily, irritada de repente. – Vamos, Skylar. Vamos sair daqui.

Aí a ruiva levantou-se e Sky também, as duas separadas pela mesa. As passadas de Lily eram tão rápidas e furiosas que a primeiranista tinha que praticamente correr para acompanhá-la, e as duas dispararam para fora do Salão.

— Uau – resfolegou Remus, soltando uma risada nervosa junto com a respiração que andara prendendo. – Isso foi de matar.

James sentou-se tentando parecer desinteressado.

— Essa foi a Lily Evans, rapazes. – falou, abrindo o Profeta Diário, jornal bruxo, e se pondo a ler. – Aproveitem.

***

Lily andou rápido até os Jardins de Hogwarts e, quando se deu conta que Skylar ofegava, parou, se sentindo culpada.

— Desculpe, querida. – disse em tom maternal, apoiando a mão fina no ombro da garotinha que a fitou desolada. – Podemos continuar à tarde? Estou com problemas agora.

— Você está bem? – perguntou Sky imediatamente.

— Sim. – respondeu a ruiva.

Lily fitou Skylar McLaw. A garota tinha onze anos e estava em seu primeiro ano em Hogwarts. Ela era baixinha e roliça, com cabelos castanhos que caíam em ondas pelas costas e emolduravam o rosto incrivelmente alvo dela. As cores contrastavam. Os olhos grandes e azuis a miravam, curiosos, e os cílios longos e escuros rodeavam-nos, dando-lhe uma aparência infantil. O nariz era fino e reto e curto, e os lábios eram rosados e finos. Ela era muito bonita e inteligente. Lily gostava dela como a irmã mais nova que nunca teve.

Não que Lily Evans não tivesse irmãs. Ela tinha uma, mas Petúnia Evans era tão malvada que não contava. As duas viviam em pé de guerra desde que Lily entrara em Hogwarts, e o clima entre elas era de competição constante, de quem tinha as melhores notas na escola, as melhores roupas, o melhor gosto e os melhores namorados. Nesta última categoria Petúnia ganhava por muito pouco: seu namorado se chamava Válter Dursley e era gordo e corpulento, com olhos saltados de porco e uma papada enorme com várias camadas. Mas ela ainda ganhava, porque tinha um namorado e Lily não. Era sempre assim, Lily sempre ficava em segundo lugar.

Furiosa com o mundo, a ruiva continuou a andar com rapidez até encontrar Marlene McKinnon estirada na grama.

Marlene era sua melhor amiga. Usava o uniforme de Hogwarts, com a saia cinza duas vezes mais curta que o normal e o suéter mais apertado que o de todo mundo. Seus sapatos eram de salto e ela tinha um casinho com Sirius Black do qual poucos sabiam, mas os dois eram muito soltos para se prenderem num relacionamento duradouro e, na opinião deles, chaaaato.

Marlene devia estar escondida por estar fumando, mas lá estava a delinquente, a vista de todos, com um cigarro quase no final. Ela segurava a coisa entre o dedão e o indicador, tragava, fechava os olhos e então soltava círculos de fumaça. Depois ria como se essa fosse a coisa mais legal do mundo.

— Você tem problema? – sussurrou Lily aflita, parando enfrente à garota.

Marlene franziu o cenho e descartou as cinzas, depois meteu o cigarro na boca de novo.

— Não. – respondeu com sua voz de soprano. – Quer dizer, depende. De qual problema você está falando? – meio frustrada, ela pisou na guimba do cigarro.

Lily sentou-se no chão, muito cansada para rebater. Ao invés disso, preferiu declarar:

— Eu odeio James Potter.

Marlene revirou os olhos.

— É claro que odeia. Você é Lily Evans, o Lírio – Lily rosnou com o apelido –, e odeia James Potter desde sempre. Mas ele cresceu, sabe. Está mais maduro.

Lily fez um barulhinho de descrença com o fundo da garganta.

As duas deitaram-se na grama, de olhos fechados.

Lily demorou a perceber, mas abriu os olhos imediatamente ao ver Potter sobre si, de cabeça para baixo.

Sentou-se depressa.

— Evans, eu vim aqui para me desculpar pelo o que aconteceu mais cedo. Eu pensava que você estava debochando da, hã... – ele fez uma careta. – Skylar, certo?

— Sim. – respondeu ela. – E desde quando você se importa? Que eu saiba, você os azarava até o ano passado.

Marlene se encolheu e desejou mais um cigarro.

— Mas não enchia o saco deles depois. – replicou ele, sem se alterar. – De qualquer forma, eu estava pensando... – James abriu um sorriso capaz de parar o trânsito. – Que tal irmos à Hogsmeade? Como pedido de desculpas. – Hogsmeade era o povoado completamente bruxo que ficava nos arredores de Hogwarts.

— Não. – respondeu a ruiva, sem rodeios.

— Por favor, Lírio. É só uma vez. – ele sorriu matreiro e apanhou uma mecha de cabelo ruivo que havia caído no ombro de Lily, e acabou levando um tapa na mão. – Você sabe que não vou desistir.

Lily suspirou. Ele cresceu, sabe. Está mais maduro. A voz de Marlene ecoava em todos os cantos de sua mente.

Olhou para o lado a fim de ver a amiga, mas ela havia desaparecido.

— Onde está Marlene? – perguntou.

— Foi-se. – ele continuava a brincar com o cabelo dela.

— Então está bem. Eu vou. – resolveu Lily.

— Assim? – ele perguntou, confuso. – Fácil?

— Sim. – ela se levantou de supetão. – Mas não brinque comigo, Potter, ou você vai se arrepender, e muito. – estreitando os olhos, ela o fitou, ameaçadora, por alguns poucos segundos antes de se retirar.

Ele fitou a figura desaparecer com um sorriso. Há anos queria levá-la para Hogsmeade, e mal podia acreditar que havia conseguido assim, tão fácil. Ele riu com o pensamento. Domingo que o esperasse.

***

Lily espiou sua aparência pela enésima vez num espelho, e suspirou. Não sabia por que estava tão nervosa, afinal só iria sair com Potter. Mas não podia negar que seu interior borbulhava em ansiedade e que seus dedos não paravam de tentar esmagar a seda da saia que usava. Tinha até pintado as unhas, não que tivesse muito delas. Roía tudo quase sempre.

Tinha se arrumado para parecer tipo escolhi-a-primeira-roupa-que-me-apareceu-e-nem-passei-maquiagem, mas a verdade era que tinha demorado horas para escolher aquela saia ligeiramente curta de seda preta, para contrastar com a pele branca de suas pernas, a camiseta rosa, o suéter verde (para destacar os olhos) e o tênis despojado. E tinha sim passado maquiagem, para esconder aquelas sardas ridículas e para alongar seus cílios quase inexistentes. Havia até ajeitado os cabelos. Eles estavam longe do seu rosto por causa da tiara que usava, e caíam ondulados ao redor do seu rosto.

Esperava não ter passado muito perfume para não sufocar Potter.

O que estava pensando? Que Potter fosse se danar. Ela usava o tanto de perfume que quisesse.

Levantou de sua cama e engoliu em seco, checando o relógio de pulso trouxa que sua mãe havia lhe dado no Natal anterior. Estava quase na hora. Ela devia começar a descer para o Saguão de Entrada do castelo ou iria se atrasar.

Suspirou de novo e começou a descer as escadas do dormitório feminino da Torre da Grifinória. Quando chegou à sala comunal, encontrou Peter Pettigrew, o único Maroto presente no local, com um pedaço de pergaminho nos dedos.

Lily passou direto, porque ele parecia ocupado com aquilo. Seu coração começou a disparar como se tivesse roubado um banco. Ela já sentia a respiração se tornar ofegante enquanto se aproximava da aglomeração de alunos que iam para Hogsmeade, e se forçou a parar quando seus dedos começaram a tremer. Era só o idiota do Potter, que pensava que ela importunava primeiranistas. Era só o idiota do Potter, com aquele sorriso capaz de transformar um dia cinzento em um dia ensolarado.

Ela franziu o cenho com o pensamento. O quê?! Desde quando, pelas barbas de Merlin, ela reparava no sorriso de James Potter?

Andou até achá-lo parado, a cabeça pendendo para o lado enquanto era examinado à procura de objetos perigosos pelo zelador da escola. Ela se aproximou e parou enfrente à ele, que abriu um sorriso na hora ao vê-la. A ruiva resistiu a vontade de sorrir também. James era tão infantil às vezes.

Lily não sabia por que exatamente Potter era tão insistente, mas certamente era divertido o ver tentar conquistá-la com suas cantadas baratas. Ela meio que gostava disso.

— Oi, Lírio. – falou ele, enquanto dava espaço para Lily ser examinada também. – Você está linda. – os olhos dele se demoraram nas pernas dela, que sentiu vontade de voltar ao dormitório e vestir calças.

— Obrigada. – agradeceu, se contorcendo para fugir do toque da varinha do zelador, que doía.

— Quieta. – pediu o homem, irritado.

Finalmente ela foi liberada. Potter lhe ofereceu o braço, ao qual ela ignorou.

Eles entraram no coche em silêncio, e Lily sentou-se devagar no banco acolchoado, cuidando para não mostrar nada e acabar em apuros. O coche era pequeno e o perfume de Potter era perceptível e muito, muito bom, o que ela nunca tinha percebido. Inclinou ligeiramente a cabeça para sentir melhor, mas ele pareceu perceber porque olhou malicioso para ela. Lily corou e se afastou o tanto que pôde, mas o banco era curto. Ela estava quase encostada nele, os braços a centímetros.

— Você vai gostar, Evans. – falou ele do nada, confiante.

Ela mirou-o, nervosa de novo, fazendo-o gargalhar e puxar um cacho de cabelo dela.

— Calma, Lily, vai ser legal.

— Humpf. – correspondeu ela, desconfiada.

O coche chegou a Hogsmeade alguns momentos depois, chamando a atenção dos dois. Lily desceu primeiro e James logo depois. Ele tentou segurar a mão dela, mas a mesma se afastou.

— James – falou, em tom de aviso.

Ele ergueu as mãos, culpado.

— Desculpa, desculpa.

— Você disse que esse passeio serviria como pedido de desculpas. – continuou ela no mesmo tom, ainda parada na rua.

— E é. – ele revirou os olhos. – Vamos logo, Lírio, eu juro que não farei de novo.

Lily o seguiu, ainda cautelosa.

Eles andaram até alcançar o Três Vassouras, uma espécie de bar. James entrou e manteve a porta aberta para a ruiva, fazendo-a bufar.

— Pode parar, Potter, eu sei me virar sozinha.

Ele fez sinal para a Madame Rosmerta, dona do local e garçonete.

— Duas cervejas amanteigadas, por favor. – pediu.

A mulher veio minutos depois, trazendo os pedidos consigo, entregou tudo e se retirou ligeira. Lily segurou a sua caneca com as duas mãos e tomou um longo gole, sentindo a bebida aquecê-la até a ponta dos pés.

James caiu na gargalhada.

— O que foi? – perguntou Lily, incomodada.

— Você está com bigodinho. – respondeu.

Queimando de vergonha, a ruiva levou a manga do suéter até o buço, tomando cuidado para não tirar o batom também.

— Você é hilária – comentou ele, fitando o outro lado do bar.

— E você é idiota. – rebateu ela, mais por reflexo do que por qualquer outro motivo. Ele não replicou, o que a surpreendeu. Eles eram capazes de se provocar por horas, até que alguém lançasse algum feitiço. Talvez ele tivesse realmente amadurecido. Ela ficou confiante.

— Nós iremos para um local que descobri dia desses aqui. – disse James, terminando sua cerveja num gole apressado e largando um galeão na mesa. Lily bebeu o restinho que havia ficado na caneca, afobada, e correu para acompanhá-lo.

Os dois saíram e andaram por um tempo até chegarem à frente de um estabelecimento que continha uma fachada animada com os dizeres “SUMMER!”.

— O que é isso? – indagou Lily, mas James apenas abriu a porta.

Uma música que dizia “meu bruxinho, meu bruxinho encantado” soava alto e alguns poucos casais rodavam na pista de dança. A luz era completamente difusa.

James a conduziu para uma mesinha, na qual eles se sentaram.

— Que raio de lugar é esse? E que raio de música é essa?

James riu.

— Esse local é temporário, eles vão fechar e se mudar daqui a alguns dias. Mas, como eles ainda estão abertos, pensei que seria legal virmos aqui. E a música... Bem, sempre podemos pedir para trocar. – ele a olhou com expectativa. – Você quer dançar?

Lily olhou para os casais com terror. Seu olhar capturou alguma coisa no lado norte do recinto, e ela apertou os olhos para conseguir enxergar direito. Adolescentes se agarravam na mesinha, o garoto quase deitando a menina no banco, enquanto ela parecia estar tentando sugar o rosto dele inteiro de uma só vez com a boca.

Ela hesitou.

— Ah, qual é, Lily, vai ser legal. – a música mudou para uma mais animada. O som de uma bateria sendo tocada soou e um coral de três vozes dizendo “uh uh uh” também. Era música trouxa.

Ele cresceu, sabe.

Lily se animou e aceitou a mão que James estendia.

Eu não estou feliz, estou me sentindo contente, dizia a letra da canção.

James a levou, e a mão dele era quente na dela. Ele apertava de leve. A ruiva tentou se reprimir.

Ele começou a balançar os quadris, mas Lily não sabia o que fazer, então se pôs a fitá-lo. Ele riu e puxou-a pelas mãos, fazendo-a balançar no ritmo dos quadris dele. Ela riu também, balançando o resto do corpo.

James virou-se de costas e começou a esfregá-las contra as suas, descendo e subindo, fazendo Lily gargalhar loucamente.

— Que passo de dança é esse?! – berrou no ouvido do Maroto, meio às risadas.

— É a dança do acasalamento – explicou James, fazendo-a revirar os olhos e rir de leve.

Eles continuaram nesse estilo até a música trocar para uma mais lenta. James ondulou as sobrancelhas com malícia e começou a se aproximar, ao passo que Lily se afastava.

— Nem pensar, Potter – disse, mas James agarrou sua cintura assim mesmo. – Potter! – exclamou Lily surpresa.

— Relaxa, Lily. Até parece que você nunca dançou assim com alguém.

Lily engoliu em seco. Ela nunca tinha dançado assim com alguém. Ela esperava que ele não sentisse seu coração batendo forte.

Com relutância, colou o tronco no do Maroto e pôs as mãos ao redor do pescoço dele. O peitoral de James era sólido, provavelmente por causa do Quadribol, esporte que ele era obcecado desde... bem, sempre.

— Relaxa – sussurrou ele no ouvido da garota. Estavam muito perto mesmo. Eles começaram a mover os pés lentamente para os lados, para frente e para trás.

A parte boa de estarem dispostos assim era que o nariz de Lily estava à centímetros do pescoço dele, e o perfume forte impregnava suas narinas. Era absurdamente bom. Ela fechou os olhos e inspirou até não aguentar mais, e sentiu algo no fundo de seu coração se remexer.

Ele cresceu, sabe.

Deitou a cabeça no ombro do garoto e começou a acariciar de leve a pele exposta dele, sentindo o rosto enrubescer.

— Lily – chamou James, e a voz dele parecia tão diferente, frágil e cuidadosa, que a ruiva olhou imediatamente. Sua atenção foi capturada pelos olhos esverdeados de Potter. Pareciam tão brilhantes, tão lindos. Ela nunca tinha reparado.

Os pés não se mexiam mais. O mundo tinha parado de girar e as pessoas tinham desaparecido. Tudo o que existia era a luz daqueles olhos.

James e Lily começaram a se aproximar inconscientemente até os lábios tocarem. Os corações saltaram. Lily sentiu os lábios do Maroto se mexendo contra os dela, e retribuiu. Então do nada a lembrança dos dois adolescentes se agarrando no fundo do Summer veio a sua mente. Ela se afastou. Era isso que James queria?

— O que você pensa que está fazendo? – sussurrou mortificada, levando a mão até a boca.

James ficou confuso.

— Hã? Lily, o que...

— Eu achei que você tinha mudado. Mas você nunca mudou. E nunca mudará! – antes que pudesse refrear, um soluço escapou. A ruiva apanhou o suéter verde que havia deixado na mesa e saiu correndo para fora do local.

James berrou seu nome.

Ela correu até metade do caminho para Hogwarts, e então começou a andar o mais rápido que podia. Suas pernas reclamaram e ela sentiu uma pontada nas costelas, mas não parou.

As lágrimas caíram. O que diabos havia acontecido?

***

Lily jogou-se em sua cama e se encolheu em posição fetal, trazendo o lençol branco que havia ali consigo.

Que raio havia dado nela? Era só um beijo. Com James Potter.

Ela fechou os olhos com força. Não era um beijo. Caramba. Ela se sentia meio que... Usada. Ele sempre saía com várias meninas e todas se vangloriavam como se não tivessem sido apenas objetos para a diversão de James. Ela não queria ser assim.

— Lily? – a voz risonha soou no quarto.

Ele cresceu, sabe.

— Ele não cresceu. – resmungou Lily com a voz abafada pelo lençol.

— O quê? – um cigarro foi aceso e uma porta, fechada.

— Ele não cresceu! – gritou Lily, com rosto inchado, maquiagem borrada e cabelos voando.

Marlene sobressaltou-se.

— Lils, de quem você está falando? – perguntou, assustada.

— Do James – chorou Lily, escondendo o rosto no lençol.

Confusa, Marlene soltou um:

— Hã?

Entre fungadas, Lily contou a história. Ao ouvir o final, Marlene assobiou, tragando seu terceiro cigarro.

— Cara... – ela respirou fundo. – Você foi precipitada. Só deixa rolar, Lils, afinal, é o James. Ele gosta de você, todo mundo sabe disso. Por que você acha que ele fica todo pomposo quando te vê? Ele deve estar pelo menos te sacando. Você devia falar com ele e pedir desculpas por ter saído daquele jeito. Explicar como se sentiu. Tenho certeza que ele não quis te usar como as outras. Ele nunca pediu às outras para sair por mais de uma semana, que dirá três anos, como fez contigo.

— Eu não sei. – Lily deitou-se e encarou a amiga.

***

No dia seguinte, Lily Evans acordou e desceu para tomar café-da-manhã, mais nervosa que nunca. Seus dedos comichavam para apertar algo, e os dentes rangiam. Seus pés pareciam grandes demais, porque ela não parava de tropeçar neles.

Sentou-se na mesa da Grifinória e esperou pelos Marotos.

Depois de alguns minutos, Sirius Black entrou dando petelecos na cabeça de Peter Pettigrew. Remus Lupin veio atrás, simplesmente exausto. E então veio James Potter, parecendo perfeito.

Ofegando, querendo fugir, Lily se adiantou. Parou na frente dos rapazes, abriu a boca e tomou fôlego, mas antes que pudesse falar algo, James a puxou para fora do Salão Principal com seus braços grandes até um corredor vazio num andar qualquer.

E se virou para encará-la de braços cruzados.

— Você pode me explicar o que aconteceu ontem? – James estava aborrecido.

Lily contou-lhe tudo o que havia acontecido sob seu ponto de vista, e quando terminou uma veia saltava na testa de James.

— Mas, Lily... Eu estava com você! Eu nunca faria uma coisa dessas com você. Tem ideia do quanto eu esperei por aquilo? Eu nunca iria desperdiçar de maneira tão idiota.

— James, desculpa! Eu tinha medo.

— De mim?

— De nós!

James afastou os cabelos ruivos de Lily para longe do rosto dela e segurou-os de forma a obrigá-la a encará-lo.

— Lily, prometa-me que nunca fará isso de novo. – pediu, sério.

— James, prometa-me que nunca me usará. – pediu ela, igualmente séria.

— Eu prometo.

— Eu prometo.

E antes que qualquer um dos dois pudesse pensar direito, os lábios se juntaram.


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