Problemas no Paraíso escrita por DrixySB


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Já que não rolam cenas fofas FitzSimmons na série, vamos de fanfic :)



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Depois de tudo o que haviam passado, de todos os percalços em sua história, Fitz acreditava que somente algo muito, muito sério poderia ocasionar uma briga entre eles.

E, bem, aquilo era realmente sério.

Com toda aquela história de Simmons ter sido promovida a Assessora Especial do Diretor de Ciência e Tecnologia, ser o braço direito de Jeffrey Mace, que não parecia lá muito confiável aos olhos do time, e ter que passar frequentemente pelo detector de mentiras, Fitz achou melhor não revelar a ela a respeito do mais ambicioso projeto de Radcliffe que consistia em um robô com aspecto surpreendentemente humano. Tão realista que ninguém julgaria se tratar de um androide com corpo de mulher.

Ninguém, a não ser Jemma.

Ao bater os olhos em Aida, o tal androide, algumas suspeitas começaram a emergir. Primeiramente, no entanto, ela reparou no quanto a suposta assistente do Dr. Radcliffe era bonita. E não deixou de sentir uma leve pontada de algo que só poderia se tratar de um ciúme infundado ao se dar conta que seu namorado passava mais tempo ao lado de Aida – no apartamento de Radcliffe – do que ao seu lado – procurando um apartamento para eles morarem juntos.

Mas isso durou apenas alguns segundos. Ao analisar o modo como Aida interagia com Coulson, Simmons logo percebeu que se tratava de um androide.

Algo que Fitz havia escondido dela.

Discretamente, Jemma puxou Fitz para um canto da sala do apartamento de Radcliffe, questionando os motivos de, durante todo o tempo, ele ter mantido aquele projeto de estimação em sigilo.

Fitz tentou explicar. Jemma sabia que ele não estava usando de artifícios ou evasivas quando atentou para o fato de que ela tinha de passar comumente pelo polígrafo. Um time confiável é um time que triunfa, repetia o insuportável novo diretor. E como Jemma era seu braço direito (alguém perfeito para lidar com a burocracia da SHIELD e uma série de protocolos e regras), essa era uma forma de Simmons garantir a confiança que ele havia depositado nela.

Jemma era uma péssima mentirosa. Era o que todos diziam, inclusive Fitz. Ela não sabia manter segredos para si por muito tempo. Tinha de se abrir com alguém eventualmente. E ser pega tentando esconder algum segredo no teste do polígrafo, era suicídio na certa. Para usar de termos menos dramáticos: a agente seria exonerada instantaneamente.

E foi apenas por isso que Fitz manteve Aida em segredo.

O que ele não contava é que vários segredos cairiam sobre Jemma praticamente ao mesmo tempo. As ações de Daisy Johnson; Robbie Reyes e sua peculiar cabeça em chamas; e agora ela acabara de descobrir a natureza de Aida assim que pôs seus olhos nela.

Desse modo, Jemma tinha uma coleção de segredos bombásticos a atormentando e apenas uma noite para se preparar para o teste do polígrafo no dia seguinte.

*

Ela não trocou uma palavra com Fitz desde que voltaram para a base após deixarem o apartamento de Radcliffe.

Como se não bastasse o fato de não falar com ele, a expressão no rosto de Jemma quando seus olhares inevitavelmente se cruzavam, era ameaçadora. Parecia que ela estava lhe fuzilando com o olhar.

Fitz tentou agradá-la de todas as formas. Contudo, se ele dizia algo vagamente engraçado para dissipar a tensão acumulada no ar, ela se limitava a respirar fundo, como se contasse até dez para não correr o risco de esganá-lo. Se ele tentava tocá-la, Jemma se esquivava levemente e dava passos incertos pelo quarto, fingindo estar arrumando os objetos sobre o criado-mudo, as roupas nos cabides do guarda-roupa e verificando as notificações em seu celular unicamente para se ocupar até a hora de dormir.

A hora de dormir, aliás, foi a pior de todas. Ela simplesmente trocou de roupa, se deitou sobre a cama que dividia com Fitz, puxou os lençóis para cima de seu corpo, virou-se para o outro lado e adormeceu. Sem dizer uma única palavra a ele.

Aquilo era realmente sério.

Desde que passaram a compartilhar o mesmo quarto e a mesma cama, ela jamais adormeceu sem conversar com Fitz, sem um beijo de boa noite, sem repousar a cabeça sobre o peito dele. Ela jamais recusara o aconchego de seus braços na hora de dormir.

Fitz a observou pegar no sono, sentindo-se culpado e desolado.

*

Se nada do que ele costumava fazer para atrair a sua atenção e carinho havia funcionado, era hora de recorrer a outras alternativas. Em uma tentativa desesperada de dialogar com ela, Fitz passou a falar dos demais assuntos que estavam sendo mantidos em sigilo pelo time. Já que o que havia ocasionado aquele desentendimento entre eles era o fato de ele omitir determinadas coisas dela, talvez conversar sobre outros segredos poderia ser um meio eficaz de consertar o que se rompera entre eles.

Fitz não poderia estar mais errado.

— Ok, pare! Não quero ouvir mais nenhuma palavra.

Bem, era uma pequena evolução. Ela estava falando com ele.

— Finalmente disse uma palavra para mim.

— Eu tenho que passar pelo detector de mentiras hoje. Não preciso de mais segredos! – disparou.

Ok, ela estava certa. Ao invés de consertar as coisas, Fitz só estava comprometendo mais o encargo de Simmons.

— Já é suficiente Daisy, Robbie Reyes e seu projeto de estimação, Aida – ela proferiu aquelas palavras em uma toada ácida.

— Qual é? Quantas vezes tenho que lhe dizer? O polígrafo é a razão...

— Esqueça o polígrafo. Isto não é sobre o polígrafo... – ela o cortou, irritada.

— O que eu deveria fazer?

— Deveríamos compartilhar tudo... – Jemma fez uma pausa antes de prosseguir em um tom áspero – Nós compartilhamos a cama. E todo esse tempo, você estava lá escondendo coisas de mim.

Ouch! Aquela sentença doeu mais do que Fitz gostaria de admitir.

— Ora, vamos! Eu queria lhe contar, é claro! – ele assegurou, sabendo que agora era tarde demais, portanto apelou para sua paixão em comum, a ciência – Sabia que você acharia ela fascinante.

Aquilo! – ela o corrigiu prontamente – “Aquilo” seria fascinante. E, agora, “aquilo” vai me fazer ser despedida.

Fitz identificou certo desprezo na forma como sua namorada se referia à Aida.

— Você sabia que existem mais de 212 microexpressões capazes de denunciar uma mentira? – Jemma continuou, dirigindo-se ao seu notebook – Uma virada de olho à esquerda e estou acabada. Ao contrário de certas pessoas, eu sou um fracasso em guardar segredos – lá estava novamente a nota ácida em sua voz.

— Então... Isto é sobre o polígrafo?

Fitz indagou sem pensar e foi imediatamente recompensado com o olhar incisivo de Simmons. Ele virou de costas por um momento, evitando o semblante homicida com que ela o encarava. Talvez se ele se oferecesse para ficar e auxiliá-la a encontrar uma maneira de driblar o polígrafo...

— Ok, está bem... Eu vou ficar e ajudá-la a praticar. Podemos usar a moeda no sapato e a tachinha embaixo da língua.

— É ao contrário. E não. Vá! Coulson precisa de você. Vou dar um jeito. Não vou ser demitida hoje – disse com convicção, soando extremamente segura de si, enquanto fechava a tampa do notebook empregando mais força do que o gesto demandava.

Mas, no fundo, Fitz sabia que ela não tinha tanta garantia do que acabara de afirmar.

— Não vire os olhos para a esquerda. Garanto isso cem por cento! – O engenheiro procurou encorajá-la de modo a atenuar o clima. Levantou a mão no ar para um high-five, mas ela não retribuiu o gesto, o deixando no vácuo. Fitz percebeu que estaria em apuros se continuasse por ali, tentando manter um diálogo com ela, e achou melhor se afastar – Está bem... Vejo você mais tarde, então.

Ele vestiu o casaco e deixou o laboratório, torcendo para que tudo desse certo. Pelo bem de Jemma e pelo seu próprio.

*

As palavras dela reverberaram em sua mente pelo resto da tarde. Fitz procurou se concentrar no trabalho de manter Daisy, Coulson, May, Robbie e Mack a salvo, os monitorando e guiando enquanto eles partiam em busca de Eli Morrow, o tio de Robbie, na Penitenciária de South Ridge. Mas sempre que encontrava um momento vago, aquele colóquio no laboratório invadia sua mente.

Eles brigaram e discutiram a vida inteira. Desde que eram apenas amigos. Aliás, quando se conheceram, aos 16 anos na Academia da SHIELD, eles sequer iam com a cara um do outro. Depois de descobrirem que formavam uma ótima equipe, e que juntos eram melhores do que separados, passavam a maior parte do tempo lado a lado. Fosse na época da Academia ou depois, quando se juntaram ao time de Coulson, na SHIELD. A não ser pelo turbulento ano que tiveram após Grant Ward os jogar no fundo do oceano, e aqueles seis longos e dolorosos meses em que Jemma ficou isolada em Maveth, eles jamais ficaram muito tempo afastados. Eram inseparáveis. Qualquer um poderia dizer que um não existia sem o outro.

E quando se passa muito tempo junto de outra pessoa, é inevitável que ocorram momentos tensos de vez em quando. Opiniões conflitantes, discussões e brigas surgem eventualmente, como resultado do convívio entre duas pessoas de personalidades e gênios extremamente parecidos, mas pontuados por suas diferenças. Ainda que afinados, a melodia, vez ou outra, soava dissonante.

Agora que a amizade se tornara algo mais e, além da relação profissional de colegas de laboratório e da cumplicidade de sempre, eles mantinham um relacionamento amoroso, as coisas tendiam a se complicar ainda mais.

Aquela era a primeira briga de casal entre eles. Mais um desafio a enfrentar.

Foram tantos passos importantes dados nos últimos meses... Cruzar a linha que os transformou de amigos a amantes, separar sua vida pessoal da profissional, passarem a dividir a mesma cama e agora procurarem um apartamento para enfim morarem juntos... Eles definitivamente não contavam que uma briga séria iria acontecer em meio àquela, até então, deliciosa torrente de acontecimentos.

*

Horas mais tarde, Jemma entrou no quarto com um sorriso estampado no rosto. Fechando a porta atrás de si, permaneceu recostada à superfície lisa por um momento, e parecia imersa em um desvario. Era como se ela não estivesse ali de verdade, parecia distante, como se habitasse um universo paralelo...

Sequer pareceu notar a presença de Fitz no quarto.

Ele a observou por um longo momento, então fechou a gaveta da cômoda com um estrondo, na tentativa de despertá-la daquele transe.

O barulho sobressaltou Jemma. Seus olhos ganharam foco novamente e ela fitou o engenheiro, levemente surpresa.

— Me desculpe! – disse ele, mesmo seu gesto tendo sido intencional para capturar a atenção dela.

Ela abriu e fechou a boca novamente, como se houvesse desistido de dizer alguma coisa. E aquela expressão altiva tornou a tomar de assalto seu semblante. Fitz não tardou em notar e suspirou, frustrado. Jemma continuava brava com ele.

— Não foi nada! – tornou ela, desviando o olhar do dele e caminhando pelo quarto na direção do guarda-roupa.

— Então... – ele tentou outra vez, querendo desesperadamente manter uma conversa que envolvesse mais do que meias-palavras e alfinetadas – Como foi? Digo, com o polígrafo?

Ela girou nos calcanhares e o encarou, parecendo extremamente satisfeita e orgulhosa de si mesma.

— Eu consegui driblar Mace. Não preciso mais passar pelo polígrafo.

Fitz sorriu de maneira contida, surpreso e curioso.

— Oh, isso é ótimo. Como conseguiu?

— Digamos que ele também é do tipo que guarda segredos e não diz de todo a verdade. Algumas de suas microexpressões o denunciaram rapidamente.

— Genial, você conseguiu escapar do polígrafo baseando-se em um palpite para acuá-lo? Impressionante – ele disse para exaltá-la, mas a verdade é que estava achando difícil de acreditar.

— É mais do que um palpite, Fitz. É certo que ele acredita que as pessoas vão se deixar levar pela sua lenda de heroísmo por conta de seu carisma – disse em um tom irônico – mas há muito mais por trás disso. Ele tem seus segredos. É um demagogo.

Jemma virou-se novamente, tirando seu casaco e o pendurando em um cabide no guarda-roupa, então observou seu reflexo no espelho por um longo instante. Ela soava triunfante.

Fitz a espiou de esguelha, por cima do ombro. Quando Jemma passou as mãos pelo cabelo, o enrolando com os dedos como se fizesse um coque no alto da cabeça e deixando a sua nuca visível, ele sentiu uma vontade absurda de tocá-la.

Por Deus, ele sentia muita falta de tocá-la, ainda que eles estivessem brigados há apenas um dia.

— Jemma... – ele tentou em uma voz baixa – eu acho que a gente deveria conversar... Sobre o que aconteceu entre nós... Sobre o que falamos mais cedo no laboratório.

Ela deu um longo suspiro que denunciava exaustão.

— Hoje não, Fitz – respondeu, ainda analisando seu próprio reflexo e notando que conseguia sondá-lo pelo canto do espelho – eu estou cansada.

Sorrateiramente, ele aproximou-se. Jemma sabia que ele estava logo atrás dela, mas não teve energia para se esquivar dessa vez. E não porque estava esgotada do dia denso que tivera, mas porque também sentia falta de seu toque. Fitz a envolveu em seus braços suavemente e pressionou os lábios contra o cabelo dela. Jemma fechou os olhos, procurando exercitar seu autocontrole. Intimamente, torceu para que ele não deslizasse a ponta do nariz e os lábios pelo seu pescoço. Se ele fizesse isso, ela estaria entregue, não responderia mais pelos seus atos...

Mas ela manteve-se firme. Fitz percebeu como ela se retesou em seus braços, parecendo tensa de repente.

— Por favor? – ele perguntou em um tom súplice, movendo os lábios para o seu ombro coberto pelo fino tecido da camisa que ela usava – não posso dormir outra noite ao seu lado sabendo que está brigada comigo...

Droga! Por que ele tinha que usar aquele tom de voz?

— Não fale desse jeito! – ela o censurou em um sussurro, odiando-se por um momento ao constatar que o toque dele tinha o poder de fazê-la fraquejar, de baixar a guarda.

Antes que ele conseguisse quebrar sua resistência, Jemma se desvencilhou de seus braços e virou-se na direção dele para encará-lo de frente. Os profundos olhos azuis pareciam pedir mil vezes perdão.

— E não me olhe com essa cara – completou.

Fitz baixou o rosto, projetando o lábio inferior para frente, com uma expressão emburrada. Jemma revirou os olhos.

— E não faça isso com sua boca. É infantil de sua parte.

— Tudo o que eu faço te incomoda – ele finalmente disse, aborrecido.

— Eu estou chateada com você – ela alteou o tom de voz e cruzou os braços em frente ao corpo, fechando-se para ele – e com razão. Estamos em um relacionamento e você sabe o que isso implica. Devemos ter total confiança um no outro. E a confiança que eu tinha em você está abalada. Estou chateada que tenha escondido algo tão extraordinário de mim. Chateada que tenha passado todo esse tempo trabalhando em algo que não era do meu conhecimento ao invés de estar procurando um apartamento comigo. Achava que era importante pra você...

— É importante pra mim – ele a cortou, depois de passar um tempo a ouvindo em silêncio – não pense que escolhi uma coisa em detrimento de outra. Eu queria estar lá com você conhecendo o nosso apartamento... A minha preocupação era o Radcliffe. Você sabe que ele tem um parafuso a menos e o meu medo era onde ele queria chegar com esse projeto. Tenho receio do que ele possa fazer a seguir, de qual é o propósito dele... E estava intrigado com toda essa história da May.  Com aquele gênio excêntrico, Radcliffe precisa ser contido. Ele é brilhante, mas é necessário que se coloque rédeas nas suas ideias. Você, melhor do que ninguém, se lembra de quando o conhecemos.

Jemma o ouviu, calada por um momento. Afastou seu olhar do dele e inspirou profundamente, procurando organizar seus pensamentos e se acalmar.

— Eu entendo as suas preocupações, mas, para esse relacionamento funcionar, é necessário que se preocupe conosco também. E que não haja segredos entre nós.

— Não vai mais acontecer – ele prometeu – não vou esconder mais nada de você. E, sim, eu me preocupo com nosso relacionamento. Isso é importante demais pra mim. Depois de tudo o que passamos... Isso é o que de mais valioso eu tenho.

Nós temos.

Ele sorriu. Jemma estava prestes a retribuir aquele simples gesto, quando um pedaço de papel escapando pela gaveta que Fitz tinha fechado há alguns minutos, capturou a sua atenção e acendeu seu constante anseio por ordem e organização.

— Você é tão descuidado – ela disse de modo casual e se pôs a caminhar na direção da cômoda, na intenção de fechá-la devidamente. Ao abri-la, para devolver o pedaço de papel para dentro, no entanto, ela foi tomada pela curiosidade e quis saber de que se tratavam aquelas folhas de papel. No mesmo instante, foi surpreendida por Fitz que pareceu se teleportar para perto dela, tomando as folhas de suas mãos, jogando-as na gaveta e a empurrando de maneira abrupta com as duas mãos. O estampido e a súbita aparição de Fitz fizeram o coração de Jemma disparar.

— Deixa que eu fecho! – ele disse, extremamente pálido e forçando um sorriso.

— Enlouqueceu? Você quase me matou de susto! – Jemma bradou, estranhando aquela atitude – o que há com você? O que é isso, afinal? – indagou, tentando abrir a gaveta e sendo interrompida por Fitz.

— Não é nada... Somente umas anotações...

— Então por que está agindo assim? Como se tivesse medo que eu... Oh! – um repentino lampejo de compreensão iluminou sua mente – você está escondendo mais alguma coisa de mim, é isso!

— Jemma...

— Não é possível, Fitz. Aqui estou eu tentando esclarecer o motivo de nossa briga, dizendo que o nosso relacionamento só irá funcionar se não existir segredos entre nós, ao mesmo tempo em que você promete que nunca mais fará algo assim quando, na verdade, está escondendo outro segredo de mim? Como eu posso confiar em você desse jeito? – vociferou enquanto sentia lágrimas de raiva inundarem suas pálpebras.

— Não é isso... – Fitz tentou, mas foi instantânea e bruscamente interrompido por ela.

— Não vai dar certo assim, Fitz. Para dar certo, é necessário que não haja segredos ou gavetas fechadas entre nós – Jemma não estava se importando se o volume de sua voz estava alto demais, ela precisava externar sua frustração – o que diabos é isso, afinal? Outro de seus projetos com o insano doutor Radcliffe que parece importar mais para você do que eu e nosso relacionamen... – ela parou de falar ao abrir a gaveta e tomar os papeis entre as mãos.  Jemma ficou sem reação ao se dar conta de que se tratava.

Fitz se afastou enquanto ela encarava aquelas folhas atônita, a boca entreaberta, sem que ela conseguisse evitar. Ele parou frente ao criado mudo, os braços cruzados. Estava extremamente decepcionado. Em parte consigo mesmo. Na hora em que ela entrou no quarto, Fitz estava avaliando aqueles papeis e tratou de enfiá-los de qualquer jeito na gaveta, para que ela não os visse. A ideia era fazer as pazes com Jemma, esperar que ela dormisse e então ele os removeria os para um lugar mais seguro, fora do alcance de Jemma.

Mas agora não havia mais o que pudesse ser feito.

— Eu pensei em usar minha... Como você chama? Habilidade em guardar segredos— disse em um tom pungente – para fazer uma surpresa. Eu estava preparando isso há um tempo, mas agora... Bem, agora já era.

Ainda fitando o contrato de compra de imóvel, Jemma que, até então, estava paralisada, levou uma mão à testa, censurando a si mesma e sentindo-se péssima.

Perthshire. Ele havia comprado um chalé em Perthshire. Realizado o sonho dela...

— Talvez tenha sido por isso que eu não tenha me animado tanto quanto você para procurar um apartamento por essas redondezas... Eu tinha outros planos pra nós...

Deixando o contrato sobre a cômoda, Jemma virou-se na direção de Fitz. Ele permanecia de costas para ela, a cabeça baixa, os dedos massageando levemente as têmporas. Ela cerrou os olhos e respirou fundo antes de caminhar com passos vacilantes até ele. Insegura de seu gesto, ela tocou o ombro de seu namorado.

— Fitz... Me desculpe. Eu não imaginava...

— Está tudo bem – ele não se moveu – Não tem importância.

— Tem sim. Fitz, olhe pra mim! – Jemma pediu, suavemente.

Ele a olhou por cima do ombro. O desapontamento em seu semblante era de cortar o coração.

— Me perdoe. De verdade. Isso é... É lindo! A surpresa que você estava preparando... Me desculpe por estragar isso. Era para ser algo maravilhoso, eu sequer tenho palavras...

O engenheiro deu de ombros, virando-se para ela.

— Tudo bem, eu não estou bravo.

— Mas você deveria! Você tem o direito de estar tão bravo quanto eu estava... – ela afirmou em um tom austero – Eu não deveria falar o que falei sem saber de que se tratava... Eu sinto muito.

— Eu não quero ficar bravo com você. Eu quero que fiquemos bem... Quero que nosso relacionamento dê certo. Apenas isso. Não quero alimentar mais brigas – havia tanta sinceridade e doçura em sua voz que Jemma sentiu seu coração se aquecer com aquelas palavras.

Ela sorriu para ele.

— Sabe o que dizem a respeito de brigas em um relacionamento?

— Que elas são inevitáveis?

— Não – ela respondeu, aproximando-se mais de Fitz, tomando a mão dele na sua e a levando até sua cintura – Que elas são uma ótima desculpa para se fazer as pazes.

A voz dela caiu para um sussurro enquanto envolvia os braços no pescoço de seu namorado, roçando levemente a ponta de seu nariz no dele. Fitz apreciou aquela sensação de tê-la tão próxima de si por um longo instante. Eles estavam brigados havia apenas um dia, mas a verdade é que já fazia alguns dias que eles não tinham um momento mais íntimo. Ambos estavam trabalhando demais...

O beijo foi terno e afetuoso, a princípio. Seus lábios se encostaram de maneira suave. Todavia, logo, tornou-se profundo, excitante e incendiário, denunciando a falta que um sentia do outro. O beijo evoluiu para carícias e, posteriormente para toques abrasadores enquanto um livrava o outro de suas peças de roupas. Não demorou até que eles estivessem sobre a cama. Ele envolveu o corpo dela com o seu e ambos se deixaram guiar pelas sensações, pelo contato intenso e ardente entre suas peles, pela transferência constante de calor, pela consolidação do desejo que os consumia depois de todas aquelas noites...

Os gemidos, sussurros, as declarações espontâneas de amor, as incongruências proferidas, as palavras irracionais, desencontradas e indistintas tornavam-se mais frequentes à medida que o ritmo de seus corpos, colidindo um contra o outro, se intensificava. Eles pulsavam em total sintonia, em uma cadência indescritível.

Há anos que eles se conheciam bem demais. Porém, fazia poucos meses que se conheciam de maneira tão precisa fisicamente. Um sabia o que o outro queria, gostava, desejava... Ambos sabiam como proporcionar o devido prazer um ao outro.

Enquanto ela apreciava os lábios dele pressionados contra o seu pescoço, distribuindo beijos molhados por toda a extensão de pele que encontrava, ela roçou ligeiramente os dentes pelo ombro de Fitz, sentindo que estava cada vez mais próxima do ápice do prazer e precisando desesperadamente chegar lá. Seus braços descansavam de ambos os lados do travesseiro – as mãos de Fitz prendendo seus pulsos em um aperto suave – ao passo que suas pernas envolviam os quadris dele, sustentando seu peso de modo que, em um movimento intencional, ela arqueou as costas, levantando-as do colchão, o querendo ainda mais profundamente dentro de si. Fitz jogou a cabeça para trás por um momento, gemendo ruidosamente. Jemma, por sua vez, não evitou a lamúria que se desprendeu de sua garganta ao senti-lo tocar em pontos dentro de si que ela sequer cogitara a existência até aquele instante.

Ele recostou a testa na dela, intensificando suas investidas, suas entradas cada vez mais vigorosas. Ambos mantiveram os olhos cerrados, imersos em êxtase, banhados de suor, suas respirações irregulares enquanto buscavam saciar um ao outro e a si mesmos. Nunca havia sido assim antes. Sempre fora apaixonado, mas havia ternura, havia afeição. Naquela noite, porém, fora mais passional, urgente, instintivo, como se um necessitasse desesperadamente do outro. Consequentemente, o prazer foi descomunal. De ambos os lados.

— Wow! – Jemma disse depois de ambos permanecerem um tempo em silêncio, procurando recobrar o fôlego – você sentiu isso?

Fitz, que estava com o rosto enterrado em seu pescoço, levantou a cabeça para fitá-la.

— A que exatamente se refere?

Ela o encarou, subitamente incrédula.

— Não me diga que essa não foi a melhor pra você!

— Bem...

— Oh, Fitz! – ela não só o recriminou, como golpeou levemente seu ombro, lhe dando um empurrão.

— Hey, me desculpe! – ele disse, livrando-a do peso de seu corpo e deitando-se de seu lado na cama – foi maravilhoso, sério! – e aproximou-se novamente para beijá-la. Felizmente, ela não se esquivou – é só que eu prefiro quando você fica por cima.

Jemma sorriu altiva e maliciosamente.

— Bom saber disso.

Ficaram calados por quase um minuto antes de Fitz quebrar o silêncio.

— Jemma?

— Hmmm...? – murmurou, um tanto sonolenta.

— O que foi diferente dessa vez?

— Bem, eu acho que... – ela soou hesitante, como se refletisse antes de falar – eu acho que você tocou meu ponto G.

— E isso existe? – ele indagou, genuinamente curioso.

Jemma revirou os olhos

— Ugh, Fitz! Claro que existe!

— Só estou perguntando... É que você sabe que não foi cientificamente comprovado.

— Pois eu afirmo, com toda a propriedade, que existe.

— E isso já tinha acontecido antes? Quero dizer, já havia...

Ela, que havia cerrado os olhos, devido à exaustão, os abriu de imediato.

— Não, não tinha acontecido ainda... Mas não fique tão convencido.

Fitz procurou disfarçar o sorriso presunçoso, mas Jemma o notou mesmo assim.

— Por que é que eu fui falar? – ela acomodou mais a cabeça no travesseiro e, de repente, sentiu o braço de Fitz ao seu redor.

— Fico feliz de termos resolvido as coisas – ele sussurrou ao pé de seu ouvido.

— Eu também – Jemma concordou com um largo sorriso, mas mantendo os olhos fechados.

Não havia sensação que se comparasse àquela para Fitz. A de adormecer nos braços um do outro, especialmente depois da desastrosa noite anterior, quando ela sequer lhe dirigiu a palavra e dormiu virada para o outro lado, evitando seu toque. Agora eles estavam juntos, próximos, completamente entregues um ao outro, com um contrato de compra de um chalé em Perthshire sobre a cômoda. A promessa de um futuro feliz e tranquilo bem próxima da cama que partilhavam.

 

F I M


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ;)



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