Eu estou dormindo, acordado ou em algum lugar entre os dois?

Não consigo acreditar que você está aqui e deitado ao meu lado

Ou eu sonhei que nós estávamos perfeitamente entrelaçados?

Como os ramos de uma árvore, ou galhos presos em uma videira.

Louis abriu os olhos devagar, piscando para se acostumar à baixa claridade do quarto. Apenas alguns raios de sol se filtravam pela cortina na janela, insuficientes para aquecer o ambiente. Ainda devia ser cedo.

Quando sua visão finalmente se adaptou, a primeira coisa que ele viu foi aquele monte de cachinhos desgrenhados, espalhados sobre o travesseiro ao lado do seu.

Ele prendeu a respiração ruidosamente, arregalando os olhos enquanto as memórias daquela noite, antes nebulosas como um sonho, voltavam vívidas à sua mente.

Harry dormia tranquilamente, as costas nuas voltadas para ele. Louis estendeu a mão devagar como se fosse tocá-lo, mas parou a milímetros de distância. Seus dedos tremiam. Não podia ser real. Ele ainda devia estar sonhando.

Como todos aqueles dias e semanas e meses que passei tentando roubar um beijo

E todas as noites insones e as fantasias em que eu imaginei isto.

Eu sou apenas o perdedor que finalmente conseguiu a garota

E eu não tenho vergonha de dizer isso para o mundo

Conforme os minutos se passaram e ele finalmente se convenceu de que alguma forma aquilo era real, Louis pôde sentir o coração começando a bater mais rápido no peito. Então tinha acontecido. De verdade dessa vez. Não era sonho, nem imaginação.

Ele permaneceu muito quieto, tentando assimilar isso. Fechou os olhos, respirando fundo.

Ele se lembrava muito bem de todas as noites que ele tinha passado acordado, tentando convencer a si mesmo de que não era verdade. Ele nunca havia sentido nada parecido por outro garoto antes e a ideia o perturbava. Não era certo.

Ele se lembrava de todas as vezes em que havia chorado e implorado a quem quer que estivesse olhando lá de cima, implorado para não sentir. Ele se lembrava de todas as noites em que tinha se convencido a abandonar o programa, a desistir de tudo só para fugir daquilo. E de todas as vezes em que o sorriso do Harry dizendo “bom dia” o tinha feito voltar atrás.

Louis engoliu em seco, abrindo os olhos.

Ele se lembrava de todas as vezes em que tinha baixado a guarda e acabado imaginando como seria enroscar seus dedos naqueles cachinhos ao puxar Harry para um beijo apaixonado.

Louis fechou os olhos de novo, lembrando o gosto dos lábios do Harry. Ele ainda podia senti-lo.

Ele ainda se lembrava de como essas fantasias o tinham atormentado. Ele se lembrava de cada vez que Harry tinha feito ou dito alguma coisa, alguma coisa minúscula, mas que o tinha feito imaginar uma vida inteira ao lado dele. E se lembrava do quanto se sentira estranho, errado, ao pensar em tudo aquilo. Ele se lembrava de rir alto, de fazer piada de tudo, torcendo para que o outro não pudesse ouvir as batidas desesperadas de seu coração. Nada daquilo era certo, não podia ser.

Ao seu lado, Harry suspirou profundamente e esse simples som fez o coração dele saltar e bater freneticamente, como um pássaro tentando alçar voo. Louis sorriu e estendeu a mão para acariciar de levinho o cabelo dele, com cuidado para não o acordar.

Que idiota ele tinha sido. É claro que era certo. Era a coisa mais certa que ele já tinha encontrado na vida.

Verdadeiramente, loucamente, profundamente eu estou

Estupidamente, completamente me apaixonando

E de alguma forma você derrubou todas as minhas paredes

Então baby diga que você sempre me manterá

Verdadeiramente, loucamente, profundamente apaixonado por você

Apaixonado por você

Louis continuou sorrindo igual bobo enquanto brincava com o cabelo do Harry. Não havia mais jeito. Ainda que não pudesse explicar nem para si mesmo, ele precisava admitir: estava completamente apaixonado por aquele garoto.

Ele tentou imaginar como seria apresentar Harry para sua família. Não como seu colega de banda agora, mas como seu... namorado. Ele sentiu borboletas voando furiosamente em seu estômago ao pensar na palavra pela primeira vez. Meu namorado Harry Styles. As borboletas tomaram vida de novo. Ele gostava da sensação.

A mãe dele iria amar Harry, ele tinha certeza. É claro, ela ia estranhar a ideia no começo. Mas ele tinha certeza de que ela acabaria se apaixonando por aquelas covinhas, do mesmo jeito que ele tinha se apaixonado. Harry e seu charme eram irresistíveis.

E ele tinha visto como ele era incrível com as crianças. Aliás, esse tinha sido um dos motivos pelos quais acabara abrindo seu coração para ele. Louis podia imaginar a festa que suas irmãs fariam brincando com Harry. Ele quase ficou com ciúmes ao imaginar a cena. Ele ia acabar se transformando no irmão preferido delas, se ele deixasse.

É claro, o mais difícil ia ser falar com Mark. Louis franziu as sobrancelhas por um momento, se contorcendo por dentro ao imaginar como seria contar aquilo para o padrasto. Mas logo sua expressão se suavizou. Mark era como um pai para ele, um cara incrível. Ele entenderia, com certeza. Quando visse que Louis estava feliz, ele receberia Harry de braços abertos. Era esse o tipo de cara que ele era. Não foi à toa que Louis decidiu adotar o sobrenome dele.

Louis sorriu de novo ao imaginar Harry tomando conta de sua família, conquistando um a um do mesmo jeito e na mesma velocidade com que o tinha conquistado.

Nessa hora, Harry se mexeu. Ele se virou na cama, ficando de frente para Louis, e por um momento, pareceu que ele ia acordar. Mas Harry só respirou fundo uma vez, e continuou dormindo profundamente.

Louis soltou devagar o ar que nem tinha percebido que estava prendendo. Ele se perguntou se algum dia isso ia parar. Cada pequeno movimento que Harry fazia parecia abalar o mundo dele inteiro. Ele se perguntou se algum dia isso ia passar — se ele ia, sei lá, se acostumar com a presença daquele garoto e simplesmente parar de sentir isso.

Ele se pôs a examinar o rosto do outro com cuidado. A expressão tranquila dele enquanto dormia. Suas sobrancelhas. A curva do nariz. O formato das maçãs do rosto. O tom rosado de seus lábios finos...

Não, Louis decidiu. Aquilo nunca, nunca mudaria. Nunca ia ter fim. Não importava o que acontecesse dali em diante, era tarde demais. Ele estava realmente, loucamente, profundamente, estupidamente, completamente apaixonado por aquele garoto. Eternamente.

Harry se mexeu de novo, mais agitado dessa vez. Ele estendeu o braço e por muito pouco não tocou Louis. Franzindo as sobrancelhas, ele recolheu o braço de volta para onde estava antes, próximo a seu rosto.

Então Louis se deu conta, e o pensamento veio com um arrepio paralisante: logo logo aquele garoto ia acordar. E o que ele devia fazer, então?

Eu deveria colocar café e granola numa bandeja na cama?

E te acordar com todas as palavras que eu ainda não disse?

E com toques carinhosos, apenas para te mostrar como eu me sinto?

Ou eu deveria agir friamente, como se não tivesse sido nada demais?

Será que ele deveria acordá-lo? Deveria preparar o café e lhe fazer uma surpresa? Ou isso seria um pouco demais? Se fosse com uma garota, ele... Mas ele nunca tinha dormido com uma garota logo no primeiro encontro. Aquilo contava como um “primeiro encontro”? Caramba, será que ele não tinha se entregado rápido demais?

Louis sentiu as maçãs do rosto arderem. De repente, se sentia uma vadia.

Será que ele devia agir como se nada tivesse acontecido? Talvez ele devesse sair do quarto agora enquanto Harry dormia e fingir que não tinha sido nada demais, no fim das contas. Só um... Um... Alguma coisa boba entre colegas de banda. E depois eles veriam o que fariam com isso. Mas, porra! Como ele podia fingir que não tinha sido nada?

Louis se sentou na cama devagar, atordoado, e olhou para o Harry de novo, tentando tomar uma decisão.

Porra, ele estava lindo com aquele cabelo bagunçado.

Eu queria poder congelar este momento em uma moldura e permanecer assim

Eu vou colocar esse dia no replay e ficar revivendo ele

Porque eis a trágica verdade: se você não sentir o mesmo

Meu coração se despedaçaria se alguém dissesse o seu nome.

E se não tiver sido nada demais para o Harry?

Louis escondeu o rosto nas mãos, tentando respirar.

O que ele tinha feito?

Ele não podia ter deixado isso acontecer. De jeito nenhum. Porque... O que seria dele se Harry não sentisse o mesmo? Como ele conseguiria seguir em frente, permanecer naquele programa e naquela banda, tendo que vê-lo todos os dias, falar com ele, sabendo que... Que tudo aquilo tinha acontecido. Que a noite anterior tinha existido. Que eles tinham estado ali naquela cama juntos, e que para Harry não tinha significado mais que uma diversão.

Se isso acontecesse, a simples menção do nome “Harry Styles” seria o suficiente para destruir cada parte dele.

Ele não podia ter feito isso. Não podia ter colocado seu coração nas mãos daquele garoto daquele jeito.

Eu espero que eu não seja um engano,

Espero que você não vá se levantar e ir embora

Pode ser que não signifique tanto assim para você

Mas para mim é tudo, tudo

Pensando bem, tinha sido Harry quem tinha tomado a iniciativa, não tinha? Então, ele devia sentir o mesmo. Ele também devia ter imaginado, sonhado, fantasiado...

Ou talvez não.

Porque Louis tinha estado assustado e confuso, mas Harry parecia saber exatamente o que estava fazendo. Era óbvio que ele já tinha feito aquilo antes. Era óbvio que ele já tinha tido outros. Talvez, no fim das contas, Louis tivesse sido só mais um para ele.

As lágrimas imediatamente encheram os olhos dele, com o simples pensamento.

Não era justo. Podia ser que realmente não significasse tanto assim para Harry, mas para ele era... Tudo.

Aquela noite, aquela única noite o havia mudado completamente. Não havia como voltar atrás.

Aquele garoto havia transformado a forma como ele se via no mundo. Havia transformado seu próprio mundo. Ele nunca mais voltaria a ser o Louis Tomlinson que era antes de Harry Styles.

E se ele fosse só uma diversão para ele?

.

.

.

Louis não viu, enquanto as lágrimas lhe embaçavam a visão, que Harry abrira os olhos e piscava confuso, franzindo as sobrancelhas e tentando entender onde estava. Apenas quando Louis piscou e as lágrimas escorreram foi que ele percebeu que Harry se erguia sobre os cotovelos, olhando para ele.

Louis congelou, sentindo a boca ficando seca e seu coração parando de bater por um segundo, só para começar a martelar com ainda mais força no momento seguinte. Ele não conseguiu impedir que uma última lágrima escorresse, mas nunca soube se Harry chegou a notá-la ou não.

Harry se sentou devagar, quebrando o feitiço que mantinha Louis paralisado. Louis se virou para ele, passando a mão discretamente sobre os olhos e se sentindo subitamente envergonhado por estar nu. Harry mantinha os olhos no rosto dele, com uma expressão que ocultava completamente seus pensamentos.

Louis esperou, mas Harry não deu qualquer sinal de que ia dizer ou fazer alguma coisa. Cada segundo a mais era uma tortura. Por fim, ele não aguentou:

— Harry, eu—!

Ele não pôde terminar de falar, porque Harry subitamente se lançou sobre ele e o calou com um beijo. Louis ficou em choque por um momento, mas logo em seguida se viu retribuindo o beijo apaixonadamente, entregando-se completamente àquele sentimento mais uma vez. Ele sentiu que os lábios de Harry se curvavam num sorriso, e não pôde evitar sorrir também, enquanto as borboletas enlouqueciam de novo em seu estômago.

— Bom dia. — Harry sussurrou ao se afastar, dando-lhe um último selinho rápido.

— Bom dia. — Louis sorriu, feliz ao ver aquelas covinhas que tanto amava.

— Você... Uh... Ia me dizer alguma coisa?

Louis baixou os olhos para os lençóis, tentando recuperar o fôlego e controlar o coração. Era inútil. Ele sabia que era. Ele ergueu os olhos de novo timidamente e encontrou um Harry descabelado olhando-o com ar de ansiedade. Então ele também estava nervoso.

— É cedo demais para dizer “eu te amo”?

Harry arregalou os olhos levemente, e depois sorriu. Devagar, como se para não o assustar, ele se aproximou do Louis e pôs a mão na nuca dele, olhando profundamente em seus olhos. Ele soltou o ar numa risada curta:

— Só me beija, seu idiota. — E o puxou para mais um beijo apaixonado.

Verdadeiramente, loucamente, profundamente eu estou

Estupidamente, completamente me apaixonando

E de alguma forma você derrubou todas as minhas paredes

Então baby diga que você sempre me manterá

Verdadeiramente, loucamente, profundamente apaixonado por você

Apaixonado

Apaixonado

Por você.