Maria Madalena escrita por Beatrice do Prado, Arrriba, Beatrice do Prado


Capítulo 7
Bônus Madalenístico: …Mas Tenho Que Aceitar Que Fics Vêm E Vão, Sendo Paródias Ou Não, Se Tens Que Terminar… Que Seja Em Gozação!


Notas iniciais do capítulo

Gente, antes de mais nada, nos perdoe por esse pequeno atraso! Como vocês vão ver, esse capítulo foi de longe o mais trabalhoso de todos não só pelo tamanho, mas também porque no meio dele colocamos várias... pequenas surpresas, por assim dizer, que nos tomaram um tempo ENORME editando! (E bom, se a gente não acabasse atrasando nenhuma vez, não seria a gente xD)

Mas, enfim, cá estamos com o último capítulo de Maria Madalena, e realmente esperamos que todos gostem e aproveitem bastante essa leitura! Ele é dedicado a cada uma das maravilhosas leitoras comentaristas que sempre nos empolgaram tanto com essa história, vindo nos prestigiar fielmente a cada sexta-feira! ♥ Vocês são demais, muito obrigada mesmo pelo apoio!

Obs.: Menção honrosa à leitora Menta, que está aniversariando nesse sábado ^^ Parabéns, Mentitazita, sua linda, desejamos a você toda a felicidade do mundo, e que ainda venham muitos e muitos anos cheios de saúde e alegria comemorando essa data mais do que especial! ^^

Nós fizemos inúmeros videozinhos que estão espalhados no texto, então qualquer palavra em azul, cliquem ok XD


O impossível aconteceu gente, acho que conseguimos nos superar



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À frente de uma plateia animada e sedenta por confusões, Christina Pedregulho iniciava o seu programa diário com um semblante circunspecto, pronta para interagir com os convidados do caso que seria explanado naquele dia, e já preparada para lidar com as possíveis perguntas e comentários que surgiriam naquela gravação de mais um Barracos de Família, hoje contando com várias personalidades famosas, algumas queridas pelo público, outras nem tanto.

“-Sejam bem vindos a mais um Barracos de Família, e já aviso que hoje esse programa vai pegar fogo, minha gente! – a mulher direcionou o olhar à psicóloga oficial do programa, os lábios querendo se abrir num sorriso arteiro – Não é mesmo, doutora Peletier?” – perguntou a apresentadora, satisfeita com o roteiro que haviam programado.

“-Sempre, afinal se o fogo existe, a gente tem mais é que queimar a porra toda.” – disse a mulher em seu melhor humor. Os fios grisalhos daquele corte bagunçado se demonstrando a única característica mais desordenada na mulher impecável. Seus olhos bem azuis transmitiam uma calma profissional, e a prancheta já estava a postos em seu colo comportado para qualquer anotação que pudesse querer fazer ao longo do programa.

“-Bom, o tema de hoje é ‘Meu inimigo quer tirar tudo de mim’, e como primeiro convidado vamos chamar o xerife Rick Grimes, pode entrar Rick.” – convocou a mulher, antes que a plateia vibrasse em sonoros aplausos com aquela participação, que veio em conjunto ao som da música tema escolhida com muito cuidado e zelo, especialmente para contemplar a personalidade que agora adentrava o palco. Grimes sentou, suas feições demonstrando que o homem sentia-se um tanto deslocado naquelas circunstâncias.

“-Rick, seja muito bem vindo ao nosso programa.”

“-Eu que agradeço, Christina! Depois de tudo que meu grupo e eu fomos obrigados a passar, está mais do que na hora de colocar algumas pessoas em seus devidos lugares.” – afirmou ele, de imediato recebendo um uivo incentivador da plateia.

“-Eu avisei, gente, que esse programa ia ser um estouro! – disse sorridente a apresentadora, acenando empolgada para a psicóloga do programa. Carol apenas a fitou de forma serena, como se demostrasse um leve interesse pelo que viria a seguir – Mas explica para a gente o que esse seu inimigo fez para você, nós queremos saber a sua versão dos acontecimentos.”

“-A história é longa, Christina! Nossa rixa só vem crescendo desde a sexta temporada. – Rick Grimes contou, seu olhar parecendo perdido em tristeza e aversão ao se deixar levar por aquelas lembranças recentes – Tudo começou quando um dos grupos dele quis matar três de meus companheiros, e após termos invadido um dos esconderijos e atacarmos dezenas de homens, ele nos encurralou em uma armadilha covarde para botar medo no meu grupo, matando em seguida dois amigos muito queridos. E como se não bastasse todo o terrorismo que já tinha feito conosco, quase me obrigou a cortar o braço do meu próprio filho, ameaçando assassinar o grupo inteiro se eu não o obedecesse.”

“-Mas gente, esse carinha aí é de satanáries? Que maldade, que absurdo, tragam logo esse filho da puta que eu mesma vou me vingar por todos os seus amigos, Rick, pode deixar.” – afirmou a apresentadora demonstrando notória revolta, sendo acompanhada pelo incentivo da plateia que gritava enlouquecida:

“Christina, Christina...”

“-Fico até emocionado com o seu apoio, ele acabou com as nossas vidas... – Rick, choroso, tentava limpar as lágrimas com a manga de sua camisa, parecendo de leve envergonhado por se deixar levar por aquela comoção – Passamos por tantas coisas, para esse desgraçado vir agora e...”

“-Já acabou, né, Jéssica? – disse ela impaciente, cortando o desabafo de Rick sem nenhum remorso – Também não vem querer abusar desse espaço aqui, que o nosso tempo é curto ‘pra você ficar despejando todo esse mimimi no meu ouvido. Vamos agora receber e conhecer o grande filho da puta. Pode entrar, Negan.”

No instante em que a porta do estúdio – responsável por apresentar os convidados – se escancarou de modo a permitir a visão de Negan, a plateia em polvorosa se pôs a vaiar o vilão, mesmo antes que ele entrasse em cena ao som do clássico Bad, descrevendo com os pés um impecável moonwalker enquanto alojava Lucille de modo descontraído em seus ombros largos. Mesmo ao som das vaias, o sorriso sacana mantinha-se firme em seu rosto conforme passou a caminhar pelo palco, sentando na poltrona oposta ao xerife.

Rick levantou-se de um salto impensado do estofado a fim de enfrentar o inimigo fisicamente, mas foi contido no mesmo instante por dois seguranças do auditório, T Dog e Merle, que já prevendo essa iniciativa desesperada, tentavam acalmar o antigo colega de elenco.

“-Eu nem bem cheguei e ele já ficou todo putinho.” – sacaneou Negan, tendo mais vaias como réplica do público ali presente, algo que em nenhum momento pareceu abalar o vilão.

“-Senhor Negan, sem provocações, por favor! Esse aqui é um programa de família, mais respeito com o nervosinho aí.” – Christina Pedregulho redarguiu, tendo que entrar naquele papel nitidamente falso ao tentar se posicionar contra possíveis brigas e conflitos, quando na verdade tudo o que realmente queria era alimentar esses momentos.

“-Os homens desse filho da puta do meu lado mataram um grupo de motoqueiros da minha comunidade, e não satisfeitos invadiram uma base minha e mataram dezenas de Salvadores. – Negan contou o seu lado da história antes mesmo que pudesse ser questionado sobre, e apesar das duras palavras não parecia de fato comovido. Ainda mantinha o mesmo sorriso fácil e doentio no rosto ao fitar o xerife, embora seu discurso fosse dirigido à Christina – Enquanto ele matou inúmeros dos meus companheiros, eu que sou um homem bondoso e tolerante apenas matei dois do grupo dele. Não entendi ainda qual a queixa aqui, Rick.” – Negan terminou, agora falando abertamente ao líder de Alexandria.

“-Mas gente, esse carinha aí é de satanáries? Que maldade, que absurdo, que filho da puta, eu mesma vou me vingar por todos os seus amigos, Negan, pode deixar.” – Christina se intrometeu, dispensando exatamente a mesma indignação de quando ouvira a versão de Grimes.

“-Mas isso foi o que você disse para mim antes...” – Rick lembrou-a, sem entender a mudança de lado da apresentadora.

“-Querido, as falas nesse programa são padrões, é tudo protocolado, e além do mais eu concordo com o ponto de vista dele, vou até dar mais visibilidade ao moço ‘pra tentar fazer com que os telespectadores não consigam fazer um julgamento justo entre vocês dois. Câmera Um, foca na carinha de carente do bonitão com o taco.” – Christina ordenou, e imediatamente uma melodia tocante preencheu o estúdio.

“-Tô fora, da última vez que eu fui filmar essa praga, ele me escolheu no uni-duni-tê no fim da sexta temporada, e eu nem fiz nada de errado, sabe... Ficava apontando o taco para mim o tempo todo, nem tentou disfarçar a escolha, fiquei chateado.*”

Ainda ao som da música que repetia à medida que as outras câmeras focavam no homem, Negan mais uma vez tomou a palavra, pela primeira vez desde que entrara ali adotando feições mais sérias e enrijecidas.

“-Tudo o que eu prego é uma boa convivência com a vizinhança, Christina, posso dizer que meus métodos são incompreendidos. Imagine você, todas as pessoas vivendo em paz. Claro, você pode virar para mim e me dizer que eu sou a porra de um sonhador, mas acredite, eu não sou o único, inclusive de uma forma bem literal já que todo meu grupo também atende pelo nome de Negan. Eu tenho a esperança de que as comunidades se unam a nós e, um dia, o mundo será como um só... Como os Salvadores...”

“-Negan, toma vergonha nessa sua cara, você acabou de recitar o mesmo trecho da música que tocou ainda agora no seu close...” – Christina observou, não se deixando emocionar pelo discurso piegas do homem que carregava o bastão.

Ele deu de ombros, suspirando.

“-Não sou muito bom com discursos pacifistas, e fiquei sem ideias sobre o que dizer...”

“-Bom, antes de prosseguirmos com os pontos de vista, vamos ver o que a plateia acha desse caso – Christina seguiu com o programa, aproximando-se de um rapaz esguio que acenava freneticamente num pedido para que o escolhessem – Você tem alguma pergunta para fazer a algum dos convidados?”

“-Na verdade não é uma pergunta não, moça, é um desabafo para esse demônio desse Negan. Estavam os irmãozinhos felizes em Alexandria, depois de tantas provações que eles tiveram que passar por todas as temporadas, e aí apareceu esse lazarento, pobrezinho do irmão Ricardo, ficou todo triste quando os amigos morreram, sendo que um deles iria se tornar pai de família, o irmão Glenn, que sempre foi tão bom, sabe, é aquele tipo de missionário que todo mundo torce. Essa desgraça tem que morrer, esse filho do coisa ruim, o inimigo encarnado. Deixa os irmãos em paz, esse é o meu apelo, Christina.”

“-Vejo que a plateia tem um envolvimento emocional bem forte com esse caso. Acho que agora vou pedir a opinião da nossa psicóloga. O que acha de tudo isso, doutora?”

Carol levantou o olhar distraído para a apresentadora, só então parando de desenhar alguns rabiscos incoerentes no papel que se apoiava na prancheta, parecendo um tanto enfadada quando soltou um audível suspiro antes de responder.

“-Queima a porra toda, Rick, já te disse! – reproduziu um comando que já parecia ter sido exaustivamente repetido por ela – Parece que não aprendeu nada com as coisas que eu já fiz.” – Peletier foi sucinta e incisiva, não escondendo de ninguém que achava tudo aquilo uma enorme perda de tempo.

“-Você se graduou psicóloga em qual universidade mesmo?” – Christina não conteve a pergunta, parecendo de leve chocada com aquela resposta tão radical por parte da mulher, que sequer se dava ao trabalho de analisar o comportamento dos participantes.

“-Na universidade federal de Botafogo, por quê? Quer ver o diploma?” – Carol a mirou com despeito, desafiadora.

“-Nada, quem sou eu para discordar de uma dama tão amável como você, doutora, deixa disso... – Christina assustada voltou-se para os convidados novamente, encerrando ali aquele assunto – Bem, agora vamos receber dois convidados que farão parte da defesa de Rick. Pode entrar, Maggie.”

A última Greene caminhou de modo decidido pelo palco ao som de uma melancólica composição, não evitando o olhar cheio de ódio que acabou pousando em Negan quando passou por ele. Ela sentou ao lado do xerife, sem nada a dizer por enquanto.

Christina apenas esperou que a viúva de Rhee se acomodasse para chamar a próxima convidada, sem tirar os olhos dos cartões estilizados com o nome do programa.

“-E Tara, vem ‘pra cá!”

Dessa vez a música que acompanhou a entrada da segunda mulher foi mais animada, de modo que Tara entrou acenando com descontração para a plateia com sua música tema, um sorriso tímido se formando no canto dos lábios enquanto também se posicionava perto de Rick. Fez uma breve careta ao cruzar seus olhos com os orbes maliciosos de Negan, de repente perdendo o que restara de seu bom humor.

“-E do outro lado da moeda, chamo agora os que irão defender Negan. Pode entrar, Shane.”

O homem robusto veio caminhando com um semblante rude, parecendo tão concentrado em fuzilar Grimes com o olhar que nem sequer chegou a se ofender com a música escolhida para sua entrada. Mais uma vez a voz de Christina Pedregulho reverberou pelo estúdio, chamando o último convidado.

“-E agora um tal de... Governador. Puta que pariu, que merda de nome...”

O homem caolho veio se juntar aos outros com o mesmo caminhar firme, o único olho restante se direcionando com algum furor para a direção em que se percebia a fonte de sua música.

“-Vocês só podem estar de brincadeira comigo – retrucou Maggie se levantando, seus olhos de um profundo verde mirando a todos com enorme indignação – o Shane atirou em todos os meus parentes no celeiro, o Governador matou o meu pai e o Negan massacrou o meu esposo, o que é isso, um programa para relembrar as minhas perdas?”

Tara apertou o ombro da amiga de forma encorajadora, seu olhar igualmente carregado de apoio.

“-Não se preocupe, Maggie, vamos unir forças e nos vingar de todos eles! Eu também me sinto prejudicada aqui, é só eu ter uma namorada que ela morre, sacanagem.” – disse Tara numa tentativa de acalmar a mulher ao seu lado.

“-Que frescura... Estavam todos mortos naquele celeiro, eu só quis proteger o grupo, e que tipo de gratidão eu recebo em troca?” – Shane se manifestou pela primeira vez, suas íris banhadas em raiva ainda fixas no xerife, aquele que um dia fora seu melhor amigo e que posteriormente se provara um estorvo ao antigo líder do grupo.

“-Você nem deveria estar aqui, seu traidor de merda.” – Rick destinou a ele o mesmo desprezo, sem conseguir esconder também a pontada de amargura.

“-E a Judith, como vai?” – Shane perguntou de supetão, agradando-se com o ódio que viu brotar no rosto do xerife. Grimes tentou se lançar em sua direção, mas foi apartado por Maggie e Tara, que logo tentaram acalmá-lo diante daquelas provocações que certamente despertaram o lado mais impulsivo do líder.

“-Ui, ele está puto... – debochou o Governador – Me arrependo de não ter cortado a sua mão quando tive oportunidade.”

“-Você fica na sua, Mike Azauski.” – Rick arfou, conseguindo controlar um pouco melhor os nervos, novamente sentando ao toque acolhedor de Maggie e Tara.

“-Quem diria... – Negan fez crescer ainda mais o sorriso, encarando Grimes de forma instigada enquanto se distraía num balançar ritmado de Lucille – Logo você fazendo piadas sobre caolhos, Rick... Se bem me lembro, seu filho também tem um campo de visão bem limitado.” – provocou, cumprimentando o Governador com um high five animado.

“-Pelo menos eu ainda fui capaz de sobreviver a sete temporadas da série, enquanto vocês mal surgiram e já foram descartados. Não importa quão ruim seja a situação, Negan, guarde minhas palavras... No fim das contas eu sempre levo a melhor, seus filhos da puta!” – garantiu Rick, correspondendo aos cumprimentos também acalorados de Maggie e Tara.

“-Pode até ser, Rick, vamos ver... – Negan piscou, em nada incomodado com a ameaça velada – Nessa série só temos certeza de uma coisa. O queridinho continua sendo o Daryl.” – comentou despreocupado, seguido por um eufórico fã clube do arqueiro na plateia, que naquele instante gritava seu nome a plenos pulmões, erguendo dizeres com os mais diversos recados ao caipira. Uma das faixas chamou a atenção de Christina Pedregulho, que mandou dar um close nas meninas que pulavam alegremente ao erguê-la.

“VOLUNTÁRIAS A INSTRUTORAS DE BANHO!”

“-Uau temos um fã clube bem forte aqui, e olha que esse tal de Daryl nem apareceu ainda – considerou a apresentadora, impressionada pela amostra de carinho tão intensa à simples menção daquele nome – Enfim, vamos dar espaço para a plateia se manifestar novamente – ela se aproximou de um senhor que portava um chapéu bege de pesca e havia pedido a palavra – Qual o seu nome, e para quem você quer direcionar a pergunta?”

“-Meu nome é Dale Horvath, e na verdade eu queria dar um conselho para todos os convidados, em especial para o xerife. Meu amigo, a vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena... E agora outro recado direcionado para o Negan. – Dale retirou o chapéu, segurando-o solenemente em frente ao corpo – Não podemos deixar que esse mundo do avesso destrua nossa humanidade, que ainda é aquilo que temos de melhor, a única coisa que nos separa dos monstros que agora dominam a Terra. E Rick, tome tento! Eu morri por causa do seu filho e nem por isso estou aí te acusando de algo. Paz e amor, já fui.”

“-Até me emocionei com essa declaração! – disse Christina simulando um choro pouco convincente – O que acha de tudo isso, doutora?”

“-Minha opinião ainda é a mesma. – Carol avisou, seu tom monocórdio – Queima tudo, só não vão se meter com o meu Ezequiel que eu já estou de olho naquele homem.”

“-Caryl para sempre.”— ouviu-se o grito no fundo da plateia.

“-Não, Bethyl para sempre.”— replicou outra voz, ambos os comentários gerando alvoroço entre os que viam o programa ao vivo.

“-Essa discussão vai acabar agora, esse não é o foco do tema de hoje – a apresentadora colocou uma das mãos no ponto eletrônico em seu ouvido, de repente franzindo o cenho numa expressão duvidosa – Como assim, produção, o programa já vai acabar? Mas ainda temos o tema ‘Meu amigo não quer tomar banho’, e... – ela parou de falar, ouvindo a resposta de seu chefe que chegava apenas a ela. Seus traços ficaram ainda mais indignados – Temos um novo programa agora? Ah, mas que desrespeito, cortam o Barracos de Família pela metade e não me avisam nada. Querem saber, eu não preciso disso, meu marido tem dois empregos – Christina olhou fixamente para os convidados, não mais escondendo seu profundo desagrado – E vão se foder todos aqui, seus problemáticos, nunca gostei de vocês! Bando de criancinhas birrentas! Quem é a vagabunda que vai entrar no meu lugar? – Christina lançou a pergunta, logo recebendo aquela resposta através da comunicação entre o ponto eletrônico – O nome da nova apresentadora é qual? Maria Madalena? E o programa vai ser dirigido por quem? Jesus? Aqui não é o canal da Recordação, não, isso deve ser algum engano.”

“-Essa mulher de novo não!” – Rick suspirou, parecendo exausto. 

“-É agora que eu me vingo por aquela morte escrota.” – Negan sorriu, ansioso por ter uma nova chance com a garota de sanidade discutível, ainda inconformado com o fim tão ordinário que teve na fanfic.

“-Não queria te desanimar, mas acabaram de me informar que você não foi convidado, só a Lucille.” – Christina avisou com mau humor, arrancando uma expressão satisfeita de Rick Grimes.

“-Tenho certeza que para participar desse outro programa não pode ser vacilão, por isso que eu certamente fui convidado enquanto você vai esperar seu bastão do lado de fora do estúdio...”

“-Na verdade não. – Christina continuou dando as diretrizes do próximo programa enquanto passavam a ela as instruções, parecendo extremamente aborrecida por ser a porta voz do que viria a seguir – Você vai fazer parte do programa como Madalenete, vestindo um biquíni fio dental e dançando para a plateia na companhia de Abraham e Eugene.”

O xerife, de súbito dominado por um surto psicótico, ergueu-se com tudo da poltrona e começou a berrar em todas as direções, como às vezes fazia na série sem grandes motivos (ao menos na maioria das vezes).

“-CARL! CARL! Cadê você?”

“-Ele está apresentando o programa bom dia e companhia com a Sophia. Alguém tem que trabalhar na família. Agora todo mundo cai fora do meu palco que eu não preciso passar por isso. Se não tem mais Barracos de Família por hoje, também não quero mais olhar ‘pra cara fodida de nenhum de vocês.”

“-Seu palco é o caralho, sai daqui você também, figurante! Já falou demais, se manda que agora o programa é meu! – Madalena fez sua entrada triunfal, arrancando um estrondoso aplauso da plateia ao som da estranha música que abriu o seu programa. A jovem loira parou de caminhar, inconformada ao ouvir a vinheta errada anunciando o início de seu trabalho ali – Porra, Jesus, não era essa a música certa, te falei mil vezes, seu tonto! Pode sair da direção, você acaba de ser rebaixado a animador de plateia... Animal...”

“-Me confundi, Madalena, desculpa... Achei que era ‘pra pôr a música tema da sua relação com o Daryl – Paul Rovia se explicou ao entrar correndo no palco – Já coloco a música certa, aguenta aí!”

“-Já coloca é o teu cu, você estragou minha abertura! Não quero mais saber de você conduzindo isso aqui. Chama o Chacrinha ‘pra dirigir essa porra!”

“-O Chacrinha já morreu, Madalena...” – Jesus avisou, algum traço de impaciência permeando seu tom normalmente tranquilo.

“-Ninguém liga... ‘Tô só um pouco desatualizada... Então traz o Carlosalberto, e você, Jesus, vai lá animar o povo todo enquanto eu chamo a primeira entrevistada.”

“-Mas faltou a vinheta...” – Jesus notou, disposto a ganhar alguns pontos com a irmã e, quem sabe, recuperar o emprego na direção.

“-Se foder você, por que não me lembrou disso antes? Vou entrar mais uma vez então, e vocês aplaudam tudo de novo, figurantes!”

Maria Madalena refez sua entrada, dessa vez com o efeito sonoro correto.

“-Antes de iniciar o programa, quero dar um enfoque especial às minhas meninas, que tanto se esforçaram para o cargo de Madalenete, e nem precisaram passar pelo teste do sofá porque a gente ‘tava sem tempo e escalou a primeira merda que apareceu! Com vocês, Rick Grimes... – o xerife surgiu com uma expressão puta da vida, fuzilando Madalena por aquele cargo vergonhoso – Eugene Porter! – o ex professor de ciências veio ao palco com um sorriso deslumbrante, acenando para toda a plateia com empolgação – E por último, mas não menos importante... Abraham Ford!” – o ruivo foi o último a entrar, sem muito tato tentando tirar o fio dental do meio dos glúteos, dos três o mais incomodado com os trajes femininos sufocando suas bolas.

Os três se posicionaram ao longo do palco, todos usando biquínis com o rosto da apresentadora estampado, os trajes minúsculos aos seus corpos robustos – de formas tão diferentes. Dos três, Grimes se destacava pelo uso de uma tiara da qual saíam dois chifres de rena, o único ali a ostentar aquele apetrecho. Abraham prestou atenção na feição extasiada de Porter, encarando-o com desgosto evidente.

“-Sempre soube...” – o ruivo resmungou, desagradado, ainda não conseguindo tirar o biquíni que se afundara com força rumo ao brioco. 

“-É isso aí, plateia, como eu disse foi o que deu pra arrumar em tão pouco tempo... a expectativa era o Daryl, mas a realidade foi cruel e nos deu o Eugene porque a vida é mesmo uma vadia desalmada... – tagarelou, exteriorizando sua decepção com a escolha das Madalenetes – Mas vamos ao que importa! Madalena Entrevista acaba de começar, e eu já aviso que essa estreia será emocionante! Bom dia... Boa tarde... Boa noite... Ah, vão se foder... – Maria irritou-se sem grandes causas aparentes, dando início à apresentação dos convidados – Quero chamar aqui uma presença ilustre, que protagonizou o fim da sexta e começo da sétima temporada da série mais sacana da atualidade... Com vocês... Lucille!”

Glenn e Maggie surgiram ao palco em meio à música de Lucille, cada um segurando um lado da pequena poltrona vermelha que acomodava o tão temível taco de baseball adornado por arame farpado, ambos parecendo extremamente desconfortáveis em carregar o bastão de Negan (o duplo sentido incutido na frase não foi intencional, desculpa aí...). Pousaram-na defronte à poltrona de Madalena ao som de uma música meticulosamente escolhida àquela personagem, e a apresentadora sorriu largamente antes de iniciar sua entrevista.

“-Pois é... Lucille... Eu não sei bem o que perguntar a um bastão, mas e aí... como vai? Problemas com cupim?”

“-Nunca tive esse tipo de embaraço. Negan me lustra o tempo todo, enche até o saco às vezes...” – Lucille respondeu, para o espanto de todos, ninguém conseguindo ver de onde saía sua voz aguda.

“-Ele lustra é, não me diga... O que mais ele faz com você?”

“-Nada muito diferente do que vocês viram na série... ele me chama de vampira sempre, e eu acho isso muito estranho... Não é como se eu gostasse de Crepúsculo ou algo do tipo... Mas os Halloweens com ele são incríveis. Só não gosto muito do dia dos namorados, ele fica todo choroso me abraçando enquanto canta ‘Everybody Hurts’ e fica fungando em mim, sabe? Desnecessário, não sou obrigada... ”

“-Ôw, caralho, eu ‘tô mesmo falando com o taco... E pior, ‘tô até ouvindo as respostas que eu queria, isso não pode estar certo... Produção, aquele chá que me deram era de quê? – olhou ao redor do estúdio, procurando pela resposta que não veio – Bom, eu realmente não quero alongar isso, então vamos ao que interessa... vou fazer uma pergunta e você responde a primeira coisa que vier à cabeça... Ou sei lá o que é isso que você tem... Um hobby?”

“-Baseball...”

“-Uma cor?”

“-Vermelho sangue...”

“-Um sonho?”

“-Ter um encontro íntimo com o Daryl.”

“-E quem não quer, minha cara? – suspirou, perdendo o foco por um instante – Um ídolo?”

“-Wilson.”

“-A bola?”

“-O que você acha?” – respondeu com certa rudeza, sarcástica.

“-Ah, céus, fui trollada por um taco... Em todos esses anos nesta indústria vital, essa é a primeira vez que isso me acontece... Depois dessa, melhor encerrar o quadro. Próximo bloco teremos alguém realmente interessante, não saiam daí que apresentaremos...”

“-Eu!” – Chapolin Colorado surgiu, dono de sua típica empolgação ao se anunciar, as anteninhas balançando conforme seu corpo bambeava naquela postura agachada.

“-Ainda não era sua hora, Vermelinho, eu tinha que chamar o comercial...”

“-Mas eu já fiz minha entrada...”

“-Bando de amadores do caralho... Tá, vamos fazer isso logo então... Senta aí! – indicou a poltrona ao lado, Lucille já sendo carregada com receio para fora do palco, ninguém querendo se aproximar dela mais do que o estritamente necessário – Chapolin... Por que você fugiu do confronto com o Negan no terceiro capítulo, seu bosta?”

“-É que... Foi sem querer querendo...”

“-Essa fala é do Chaves, não vem plagiar o menino aqui não!”

“-Mas é que eu sou ele e ele é eu...”

“-Chaves e Chapolin a mesma pessoa? Ah, nem vem... agora só falta você dizer que o Nhonho também é o seu Barriga... Ou que a dona Florinda é a Popis... Que o Seu Madruga é o Tripa Seca... Ou que o Quico é o Quase Nada...”

“-Mas é... Sabe, na época não tínhamos verba para contratar mais pessoas...”

“-REVELAÇÃO BOMBÁSTICA, PRODUÇÃO! Põe no rodapé aí ‘pra chamar audiência: confissões inéditas de Chaves e Chapolin... Até as Madalenetes ficaram chocadas e pararam de rebolar! Foca nelas, vai lá, corta pra elas!” – Madalena ordenou, ao que os telespectadores puderam ver que só Eugene dançava conforme o combinado, alegre, enquanto Rick e Abraham tentavam carregar em segredo duas pistolas.

“-Silêncio, silêncio! Minhas anteninhas de vinil estão detectando a presença do inimigo...” – Chapolin alertou, seus olhos agora bem focados em todo o ambiente ao seu redor.

“-E você vai fazer o que, palhaço, correr com o rabo entre as pernas de novo? Não foge da pergunta! Fala logo, por que não ajudou o grupo quando a gente precisava?”

“-É que teria sido melhor se a paródia fosse do filme do Pelé...” – disse, envergonhado, não conseguindo encará-la nos olhos.

“-Vai se foder você também! Eu só não te dou a porra de uma cacetada porque... – Madalena parou, ouvindo algumas instruções no ponto eletrônico que se encaixava em seu ouvido – E mais essa agora, estão me xingando porque eu estou perdendo o foco dessa merda, e ainda reclamam dos caralhos dos palavrões... Porra, por que me contrataram então, seus fodidos? Bom, vamos lá, de volta à entrevista... Por que você brigou com a Chiquinha?”

“-Mas eu sou o Chapolin, não o Chaves.”

“-Cacete, você não acabou de dizer que os dois são a mesma pessoa? TIRA O RODAPÉ, PRODUÇÃO, ERA PEGADINHA!”

“-Eu posso ir embora? Diz que sim, não seja covarde...”

“-Já misturou com o Quico agora... Sai da minha frente, criatura. Vai e não volta!”

“-Isso, isso, isso...!” – Chapolin agradeceu aliviado, levantando-se com pressa e correndo estabanado rumo à saída, no meio do caminho esbarrando em Abraham por conta de seu movimento afobado. O soldado, por sua vez, desequilibrou-se e caiu por cima do xerife, e um mar de munição se espalhou pelo palco naquele efeito dominó, fazendo Eugene escorregar em um dos projéteis que rolou até ele, levando o antigo professor de ciências a tombar por cima da plateia, que teve de ser socorrida às pressas.

Madalena olhou a cena boquiaberta ao se deparar com os paramédicos saindo em socorro às vítimas.

“-Pois é, isso deve ter doído um bocado... – parou, olhando com desgosto para as duas Madalenetes que restaram – Agora os dois vão ter que rebolar por três! – Anunciou, já sem muita paciência para lidar com os imprevistos de uma transmissão ao vivo – Gostaria de chamar agora uma pessoa muito especial, que tem uma habilidade sobre-humana de aturar o Carl. Todos aqui sabemos que ela aguenta o moleque porque quer continuar comendo o pai dele, mas ainda assim é um mérito e tanto. É ela mesma, senhoras e senhores, Michonne... – Madalena freou sua apresentação de forma abrupta, parecendo um tanto pensativa – Só Michonne mesmo, ninguém sabe o sobrenome dela!”

A espadachim entrou com o efeito sonoro separado especificamente a ela, resoluta naquele caminhar decidido em que segurava sua katana, como se já se preparasse para algum ataque repentino. Ela sentou no lugar antes ocupado por Chapolin, de todo séria.

“-Qual o seu sobrenome, mulher?”

“-Não sei...”

“-Bom, também não interessa. Te convidei ao Madalena Entrevista porque tenho uma pergunta importantíssima, que não pode esperar. Me dá sua katana?” – a jovem loira pediu, esperançosa.

“-Não.”

“-Ah, por favor, vai, me dá a katana, só um pouquinho, eu juro que não estrago.”

“-Já disse que não!”

“-Mas por que você não quer me dar a katana?”

“-Eu vim aqui participar de uma entrevista, não fazer caridade.” – a espadachim reclamou, incomodada.

“-E você está em uma, mas convenhamos, não ‘tá respondendo bem as perguntas. Vou tentar de novo porque sou muito boa gente. Me dá a katana...”

“-Não!”

“-Não vai me dar?”

“-Já disse que não.” – continuou repetindo aquelas resposta padrões, inabalável perante a insistência azucrinante da garota.

“-Tem certeza de que não quer me dar a katana? Porque eu acho que você quer!”

“-Tenho certeza.”

“-Ah, então some daqui, caralho. Nem queria te entrevistar mesmo, palhaçada isso... Mas eu ainda sou sua fã, viu? Quando se cansar do corno manso tenho uns partidos bem melhores ‘pra você, sua linda! – avisou, e Michonne logo se retirou dali, tão resoluta quanto no momento em que entrara – Gente, vamos falar de coisa boa? – Madalena saiu de sua poltrona, caminhando com graça até uma bancada de produtos e desviando do estrago feito por Eugene em sua queda – Hoje eu quero apresentar a vocês a tinta de cabelo Wellatonta, feita especialmente para as mulheres de The Walking Dead. Essa nova linha cosmética conta com uma única tonalidade castanha, porque estudos apontam que personagens loiras sempre se fodem e morrem nessa série. – Maria ergueu um pote da tintura com esmero, sorrindo cheia de doçura para a plateia – Wellatonta. Porque só quem sobrevive são as morenas!” – ampliou seu sorriso simpático para a câmera por uns segundos a mais, a expressão se transformando em pura irritação quando a voz de Jesus se pronunciou audível pelo estúdio.

“-...Disse a loira folgada da história...” – resmungou, visivelmente entediado agora que não fazia mais parte da direção do programa.

“-Cala a boca, animador de plateia, que ninguém tinha percebido isso! – voltou ao seu lugar, estudando brevemente as fichas que tinha em mãos e já identificando o próximo a ser entrevistado – Uhhhh... pegaram pesado com esse aqui, produção! – disse, embora fosse aparente o brilho instigado em seus olhos – Não sei não, vaiaram até o Negan que dá um bom caldo, quando eu chamar esse aqui aí mesmo que a plateia não vai perdoar, e o cara provavelmente vai sair correndo com medo das vaias... Mas bom, vamos chamar, né, se está no roteiro... Mas antes gostaria de fazer uma ressalva. Aqui no Nyah não é permitido citar pessoas reais, por isso vou me referir a ele como Golpista. – Madalena anunciou, prática – Chega aqui, Golpista!”

Um silêncio profundo invadiu o local, todos vistoriando os lados em busca do tal entrevistado, sem sinal de qualquer aparição sua. Madalena franziu o cenho, parecendo ouvir um comunicado que era transmitido apenas a ela.

“-Acabei de ser informada de que Golpista está com medo das vaias, e que só aceita ser entrevistado se eu for até o aeroporto falar com ele... Foda-se, produção, traz ele ‘pra cá à força!”

Sob alguns protestos, um homem idoso e bem aprumado vinha ao palco sendo carregado por dois seguranças, um em cada braço, olhando a plateia com terror quando esta ameaçou se manifestar diante daquela aparição, embalada por sua música tema.

“-Calma, mister Fora, eles vão se comportar, eu prometo. Senta aqui, querido, vamos conversar. – O homem acatou a sugestão, sem muita escolha. – O senhor assiste The Walking Dead?”

“-Não tenho o costume, mas em breve assisti-la-ei, assim que concluir meus estudos mais minuciosos de House of Cards.”

“-Entendi, Golpista. Mas, sejamos honestos, mesmo aqueles que não assistem The Walking Dead são bombardeados, semana após semana, com comentários e spoilers da série. Vossa Insolência tem alguma parte preferida?”

“-Terei de pensar. Ah sim! Agradou-me demais presenciar os golpes... digo... baques da Lucille, e dessa forma o excelentíssimo Negan conseguiu tomar o poder através do impeachment de Grimes, tudo nos conformes de um processo democrático muito legítimo, devo salientar! Seria de meu agrado, inclusive, que mais cenas aprazíveis como essa fossem aprofundadas na série para que vislumbrá-las possa...”

“-Acho que o grupo do xerife não concorda muito com isso, mas enfim... Tenho uma pergunta muito importante ao senhor, mister Fora... Dorme em caixão aberto ou fechado? Sai normalmente à luz, ou a claridade o queima?”

“-Não é porque apossei-me da República numa sexta feira 13 que sou chegado a teatralidades do tipo...”

“-Mas pelo menos nasceu na Transilvânia, certo?”

“-Sou originário de Tietê.”

“-Ah, sei, aquele rio imundo que corta São Paulo. Faz sentido! A gente encontra todo tipo de porcaria jogada lá mesmo, é impressionante...”

“-Não no rio. Tietê é uma cidade interiorana do grandioso estado de São Paulo, a qual até o fim de minha vida orgulhar-me-ei de pertencer...”

“-Ai, gente, que cara chato, tira ele daqui... Se eu ouvir mais uma mesóclise vou vomitar...”

“-Por acaso vê-me como um convidado decorativo? Deverei então externar minha injúria por meio de um documento escrito. Tenho um fraco por cartas, não sei se sabe... – mister Fora retirou do bolso do paletó um papel meticulosamente dobrado e uma caneta de ponta fina, já se preparando para escrever – Começá-la-ei com o clássico Verba volant, scripta manent. Jamais perderá a elegância o uso de uma língua tão decrépita quanto eu mesmo! – pôs-se a escrever, logo voltando a falar – Não se ofenda com as palavras que aqui deposito. É mandatório que eu tome o seu cargo de entrevistador... Dessa forma, ver-me-á de uma maneira menos descartável...”

“-Ih, gente, vê se pode, mal deu um golpe e já quer dar outro... Não quer sair, senhor Fora? Eu sei como te tirar daí num minuto!” – Madalena encurvou-se para mais perto do homem, naquele exato instante sentindo um cheiro insuportável de enxofre invadir suas narinas, e deu início a uma vaia contínua, tentando respirar o menos possível para não precisar lidar com aquele odor mais do que o necessário.

De imediato, Golpista retraiu todo o corpo, mostrando os dentes estranhamente pontiagudos numa ameaça de uma presa desesperada. Como o som continuou a se propagar de forma unificada e um tanto firme, mister Fora saiu correndo para longe, finalmente sumindo de vista.

“-Ufa, toda essa chatice me deu fome... – a entrevistadora anunciou, indo de encontro a uma barraca recém montada num canto do estúdio, em que se lia ‘Pastelaria Glenn, Pra Você Ficar Bem’ – No sabor único de pastel de flango, a Pastelaria Glenn, Pra Você Ficar Bem garante o paladar exclusivo do tradicional pastel de feira amassado, assim como o nosso garoto propaganda.”

Madalena apontou para o rapaz de traços orientais, que agora caminhava pela plateia distribuindo o salgado por entre as pessoas. Conforme o foco se mantinha contínuo em Rhee, uma música preencheu o ambiente do estúdio, se repetindo até o momento em que o jovem se retirou.

“-E agora, o momento que todas esperavam... Rufem os tambores, que o próximo convidado é ninguém menos do que ele, o tiozão que é aterrorizado pelas novinha... Aplausos para Daryl Dixon, meu povo, o fetiche de geral! – Maria o anunciou, ao passo que a plateia começou a gritar seu nome de forma ensandecida, deixando claro que apenas haviam pagado o ingresso do programa por aquele momento em específico. Contudo, as aclamações logo foram substituídas por um burburinho confuso quando viram entrar um zumbi, a única que não mudara sua postura sendo a própria Madalena, que foi em direção ao errante num caminhar sedutor – E então, Daryl, seu gostoso...”

“-Maria...” – Jesus tentou intervir, porém foi calado pelo olhar irritado que a irmã lhe lançou.

“-O cheiro está um pouco melhor... Tomou banho hoje, querido? E sem mim?”

“-Grrrrrrrrr”

“-Grrr pra você também, seu delícia! – disse, empolgada com os braços podres que se projetavam sedentos em sua direção, achando que finalmente teria alguma sorte com o arqueiro – Sabia que você não ia resistir por muito mais tempo aos meus encantos! Vem ni mim, garanhão! sua!”

“-Maria...!”

“-Jura que você quer pagar de vela bem agora, Jesus? Quando eu finalmente estou prestes a me dar bem por aqui?” – olhou para o irmão, irritada.

“-Não é o Daryl, é um zumbi, porra!”

“-Ai, caralho! – Madalena arfou de assombro, já praticamente sendo abraçada pela criatura decomposta que se arrastava com afã para cima de si. Quando foi capaz de sentir o hálito podre da criatura bater em seu rosto, uma flecha atingiu o caminhante bem no meio da testa. Ele caiu ao som dos últimos rosnados, já sem vida, permitindo à Maria Madalena a visão do verdadeiro Daryl, que ainda mirava naquela direção com a besta, como se por um segundo cogitasse disparar um novo tiro na mesma rota em que Madalena se tornara agora o alvo – Meu herói!” – ela suspirou.

“-Como isso foi acontecer? Por que o zumbi entrou e o Daryl foi barrado do lado de fora do estúdio?” – Paul Rovia se aproximou, fitando a irmã com alguma reprovação.

“-Ah, gente, os dois grunhiam e fediam, eu fiquei na dúvida e peguei o primeiro... Mas agora que a confusão já passou, senta aqui, meu lindo – puxou-o rumo ao móvel destinado aos convidados com um sorriso insinuante, e o arqueiro soltou uma respiração pesada de impaciência, se apegando ao fato de que aquele era o último capítulo em que precisaria aturar a insolente garota loira. Dixon se acomodou no local indicado, e para seu profundo desagrado e surpresa, Madalena se ajeitou não em sua poltrona específica, mas no colo do arqueiro, abraçando-o com intimidade pelos ombros – Primeira pergunta... Já jogou strip poker?”

O arqueiro, ao invés de responder tentou desvencilhar-se daquela proximidade, visivelmente incomodado com a ousadia irrefreável da irritante menina. Ela por sua vez o conteve, usando um tom de voz brando e ao mesmo tempo firme.

“-Não se esqueça de que as autoras ameaçaram falar daquele seu filme caso você não cooperasse aqui comigo... – fez o aviso, e no mesmo instante Daryl cedeu, achando inevitável não demonstrar sua aporrinhação – Tudo bem, não precisa responder a primeira pergunta, sei que você é um rapaz tímido e arisco... vou para uma mais fácil... Qual foi a última vez que você tomou banho?”

O arqueiro soltou um som incoerente de desdém, parecendo estar de péssimo humor e não querendo colaborar com o programa. Madalena ergueu uma única sobrancelha, o julgando com aquele olhar quando refez a pergunta:

“-Você tomou banho alguma vez? – questionou, parecendo se lembrar de algo importante – Minha nossa, onde eu estava com a cabeça? Você entrou tão de repente que nem deu tempo de tocar sua música que eu mesma escolhi com tanto carinho! O que é ótimo, agora eu posso te ensinar de uma forma bem didática como se toma banho enquanto ela toca, vem ‘pra cá!” – conduziu-o para o meio do palco ao som da melodia de Dixon, esfregando a mão em cada parte do corpo que a música determinava. Quando se anunciou o 'fazedor de xixi', Madalena olhou desejosa para o volume entre as pernas do arqueiro, avançando sua mão cheia de cobiça até aquele pretenso alvo, quando Dixon se esquivou com notável rapidez, furioso.

“-Eu já entendi...” – resmungou.

“-Tem certeza? Porque essa é a parte mais difícil de lavar, e eu tenho essa mania de não conseguir me conter em ajudar as pessoas, sabe, é incontrolável...”

“-Madalena, tem um cara furioso do lado de fora do estúdio...” – Jesus veio avisar, parecendo de fato preocupado ao interromper a bizarra relação que se desdobrava entre o arqueiro e a irmã.

“-Fala que eu ‘tô ocupada e tenho mais o que fazer do que ficar dando autógrafo ‘pra ralé... – ela avisou, sentindo um cutucar irritado em seu ombro esquerdo. Sequer se dignou a virar para ver quem era ao soltar sua resposta irritada, abanando a mão naquela direção como se espantasse um inseto – Tira a mão de mim, eu ‘tô conversando aqui! Então, como eu dizia, se fosse alguém realmente importante, seria meu convidado de honra nas entrevistas, mas o tio da besta foi o último e eu não consigo pensar em mais ninguém que se enquadre nesse controle de qualidade... – continuou tagarelando, seu monólogo sendo freado apenas quando sentiu novamente o cutucão sobre o ombro, aquele toque parecendo ainda mais bruto e irritado. Ela finalmente se virou, a feição irritada, já pronta para xingar até mesmo as vidas passadas daquele ser inconveniente que não parava de interrompê-la – Mas que caralho, eu estou falando aqui e... – parou, seu queixo caindo assim que reconheceu o homem – Robert Kirkwoman**?”

“-Então, vocês fazem toda essa palhaçada com meu trabalho duro e eu ainda tenho que ouvir que não sou importante o bastante para ser chamado aqui? – o homem loiro inquiriu, visivelmente irritado – Posso saber que porra é essa?”

“-Kirkwoman, que emoção receber o senhor por aqui! Não é nada disso, o Jesus é um tonto e deve ter se esquecido de mandar o seu convite...”

“-Não me põe no meio disso não que eu sou só o animador de plateia, lembra?” – retrucou o irmão, irritado à sua maneira normalmente tão sossegada.

“-Bom, cartas na mesa... Não te convidamos porque as autoras ficaram com medo de tomar um processo... Mas olha, tem até uma musiquinha ‘pra sua entrada, ‘pro senhor não dizer que nem cogitamos te chamar!”

Kirkwoman olhou ao redor, embasbacado ao ouvir o teor da música que fora destinada à sua apresentação.

“-Então, estamos quites com a morte do Glenn?” – ele perguntou, descrente de que seria fácil assim retirar daquelas pessoas o choque pela morte de um dos personagens mais queridos, tanto da série quanto dos quadrinhos.

“-Pode apostar, senhor, é só nos deixar concluir essa história numa boa e sem maiores problemas que a gente te perdoa... Sabe como é, né, uma mão lava a outra...”

“-Não gostei do que vi aqui... – Kirkwoman avisou, sincero e direto – Mas como sei que as mortes do Glenn e do Abraham foram muito traumáticas para todos vocês, vou deixar esse total desrespeito com meu trabalho passar! Mas que não se repita esse disparate, ou o próximo a aparecer por aqui será meu advogado!”

“-Sim, senhor, fique tranquilo, senhor! – Madalena bateu uma continência exagerada, mantendo o corpo bem rígido enquanto Robert Kirkwoman se retirava do local, parecendo bufar dizeres ininteligíveis à medida que se afastava. Quando não pôde mais vê-lo, Maria voltou à sua postura despojada, uma careta de desdém se formando à medida que olhava para o lugar em que ela o perdeu de vista – Quites é o caralho, seu puto, quem disse que você manda em alguma coisa por aqui...”

“-Como é que é?” – a cabeça do homem se projetou novamente no estúdio, desconfiada.

“-Estava dizendo ‘pro Daryl que ele precisa de um banho, e rápido...”

“-Ah... – Kirkwoman engoliu facilmente aquela mentira, parecendo mais tranquilo – Precisa mesmo, rapaz, escute a moça...”

Ao dar aquele último conselho, ele novamente se retirou, e não mais apareceu no programa para o alívio de Maria Madalena e das autoras. A protagonista então sorriu para a plateia, sua expressão já deixando clara a derradeira despedida.

“-Esse foi o Madalena Entrevista de hoje, meus amores! Muito obrigada pela audiência e até uma próxima, pessoal! Para fechar o programa com chave de ouro, eu gostaria de chamar ao palco uma cantora espetacular. Elis Regina, baixa aqui!” – Madalena chamou, empolgada.

“-Maria, a Elis Regina já... Quer saber, deixa quieto...” – Paul Rovia rejeitou o que estava prestes a dizer, meneando a mão como se desistisse da irmã.

“-Sim, Jesus, eu sei que ela já morreu! – Madalena disse, parecendo orgulhosa da própria astúcia – Por isso mesmo eu trouxe ao programa uma Mesa Branca. Olha que maravilha, os médiuns tudo chamando a Elis!” – a jovem loira olhou com carinho para o grupo de pessoas que, sentados defronte a uma mesa redonda, se davam as mãos, seus corpos de leve tremendo naquele contato que faziam com o mundo espiritual.

Até que os tremores cederam, e todas as cabeças mediúnicas se abaixaram como se fossem invadidos por um cochilo coletivo, e assim permaneceram por vários segundos, até o momento em que os rostos de cada um novamente se reergueram, e todas as vozes dos médiuns se tornaram uma única, de um timbre feminino incrivelmente potente e belo.

Cantando, para todos que quisessem ouvir, o fim de Maria Madalena.

 

 


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Notas finais do capítulo

Dessa vez nossa nota final não será escrita, mas falada! Vocês podem conferir nossas últimas impressões sobre a história nesse vídeo aqui, que está enorme, mas vale a pena ouvir, haushaushaus! (VAI, BIA, PÕE O LINK DO VÍDEO, BOCÓ, ESSA PARTE É CONTIGO XD)

Vídeo com o agradecimento:

https://www.youtube.com/watch?v=TPxVRYARoHg&t=63s

*Piadinha ao fato que, no último episódio da sexta temporada, Negan ficou apontando a Lucille para o "camera man" :v

**Kirkwoman sim, porque não podemos escrever diretamente sobre pessoas reais, então nada como dar uma pequena mudada no nome da criatura, haushaushuash xD

Sério, dediquem um tempinho ao vídeo. A gente fez com todo carinho do mundo!



Beatrice:

Já que a Arrriba quis fazer essa surpresa com o nosso vídeo de agradecimento, quero agradecê-la também por todos os dias incríveis em que compartilhou comigo, de todas as risadas e ideias que bolamos juntas. Nada disso seria possível sem você.

Muito obrigada, sua praga, irmã gêmea de outra vida ♥



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