Maria Madalena escrita por Beatrice do Prado, Arrriba, Beatrice do Prado


Capítulo 2
A praça é Nossa!


Notas iniciais do capítulo

Ninguém nos processou até o momento gente, temos que comemorar!!!!

/ Tchan tchan tchan /

Queremos agradecer imensamente os reviews das incríveis leitoras/autoras brilhantes:

Lucy, AustenGirl, Bynes e Menta

Convidamos a entrarem no perfil dessas autoras e conhecerem as suas fanfics que são incríveis, menos a Bynes que foi para o Canadá XD brincadeira, menos a Bynes que tem vergonha de postar a fanfic no Nyah

=P chupa essa manda Mandinha!

Muito obrigada por tudo, suas lindas ♥



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Anteriormente, nesta porra:

“-Daryl e Rick saíram de Alexandria a fim de buscar mantimentos, preocupados com a situação precária do lugarejo. Envoltos por uma estranha maré de sorte, cruzam o caminho de duas figuras no mínimo peculiares...”

“-Porra, Jesus, peculiares? É da gente que você ‘tá falando, se liga!”

“-OK. Duas figuras extremamente charmosas e inteligentes. Satisfeita, Madalena?”

“-Melhorou! Não é aquela coisa que se diga: minha nossa, mas que maravilha de apresentação...”

“-Após esse inesperado encontro, o xerife e o arqueiro são surpreendidos pela astúcia dos dois estranhos, e o caminhão cheio de mantimentos é habilmente roubado por eles.”

“-Também é relevante dizer que o tiozão da besta quer meu corpo nu. Vi isso nos olhos dele. Nítido!”

 

 

Rick e Daryl mantiveram os olhares completamente focados ao horizonte já vazio, incomodamente calmo agora que mais uma vez estavam sozinhos, sem transporte no meio daquela longínqua estrada. Nenhum deles conseguindo acreditar no que acabara de acontecer... Ainda digerindo o fato de terem sido driblados por dois desconhecidos daquela forma humilhante, que facilmente poderiam ter evitado, caso não se deixassem levar pelas distrações causadas pelas estranhezas do casal. Por conta desse crasso erro, haviam perdido o caminhão todo carregado por suprimentos que Alexandria tanto precisava, talvez condenando seu grupo a ter que aprofundar a contenção do consumo de alimentos e artigos no geral, quando estivera tão próximo de resolver o problema – ainda que temporariamente.

Nenhum dos dois conseguia encarar o fato de ambos terem sido ludibriados daquele modo tão banal, tão degradante. Depois de todos os acontecimentos passados, de todas as dificuldades já vividas – e superadas – pelo xerife, sentia que acabara facilitando algo que deveria ser inaceitável em sua trajetória experiente. Desconfiar mais a fundo da aparição misteriosa daqueles dois seria o mínimo que poderia ter feito diante da situação.

Rick Grimes falhara com seu grupo, e aquele era um dos sentimentos mais angustiantes ao xerife.

Foi Dixon quem tirou Grimes de suas preocupantes elucubrações.

"-Não adianta ficar pagando o atestado de otário aqui, no meio do nada. Temos que ir atrás deles." – disse Daryl, convicto. Disposto a retomar tudo o que fora roubado, seus instintos mais arraigados de sobrevivente alertando-o de que ainda poderiam ser capazes de contornar aquela situação, caso se colocassem imediatamente em movimento.

Cheio de pressa, ajeitou a besta em seu ombro, ansioso para tentar um revide. Assim como Rick, não se conformava com os acontecimentos. Assim como o líder, sentia a necessidade de reparar aquele desacerto.

"-Você tem razão... Temos que pegar logo esses filhos da puta, enquanto ainda podemos ter alguma chance de alcançá-los" – concordou Rick, iniciando a caminhada para encontrar a dupla.

Apesar de parecer extremamente improvável que obtivessem algum sucesso em rever o inusitado casal, mantiveram-se numa marcha firme, por vezes precisando abater algum errante que se arrastava em direção à carne fresca de seus corpos, sedentos pelo cheiro pulsante e saudável dos vivos.

Na metade do caminho, os moradores de Alexandria encontraram a máquina de refrigerantes largada no meio da estrada, que com o arranque apressado do caminhão havia se arrastado por parte do trajeto, e logo foi abandonada ali no meio da rodovia. Sem nada dizer, o arqueiro pôs-se a quebrar o vidro da máquina com a parte de trás da balestra, disposto a ao menos ser capaz de atender ao pedido de Denise. No instante seguinte, Rick se juntou àquele intuito, e juntos guardaram o máximo de latas que podiam do refrigerante, aproveitando para tomarem algumas no meio do caminho.

Os companheiros seguiram o rastro bem visível deixado pelo caminhão sem muitas esperanças, até que após uma considerável distância percorrida conseguiram avistá-lo, e quando finalmente tiveram a possibilidade de observar ao longe o veículo, constataram que Jesus fazia algum tipo de manutenção no motor.

Mesmo não conseguindo verificar onde a mulher que o acompanhava estava, eles decidiram enfrentar o homem de longas mechas antes que ele fugisse de novo, caso percebesse a presença dos dois e conseguisse ganhar nova distância com o caminhão. Rick chamou Daryl com um movimento de mão para a margem da floresta, pedindo silêncio em seguida ao colocar o indicador sobre a boca. Algo que sequer era necessário demandar, uma vez que o próprio Dixon já se movia com cuidado, entendendo que deveriam ser sutis em cada passo. Sorrateiramente os dois se aproximaram de Jesus, e quando o abordaram num cerco, suas armas imediatamente se apontaram em seu sentido.

"-É melhor não fazer nenhuma gracinha" – alertou Rick, pouco amigável em seu olhar bruto. Indisposto a cometer novos erros. Jesus ergueu os braços, imitando aquele mesmo sinal de rendição que improvisara antes, dando a falsa impressão de ser alguém inofensivo.

"-Onde está a garota?" – perguntou o arqueiro, vendo o homem cabeludo através da mira de uma flecha já a postos de acertá-lo.

"-Ela foi colher algumas flores silverstones*." – respondeu Jesus, parecendo pouco abalado com o fato de ter sido alcançado pelos dois homens armados. Seus traços, quase entediados, incomodaram profundamente tanto o xerife quanto o arqueiro, que por conta disso acabaram assumindo uma postura ainda mais alerta.

Rick fez um sinal para que Daryl desse uma olhada na cabine do veículo, e após constatar que aquela que chamavam de Maria Madalena não ocupava o local, deu uma rápida olhada por debaixo do caminhão, tentando encontrá-la em algum tipo precário de esconderijo.

Após uma breve e cuidadosa vistoria do arqueiro, Daryl logo surgiu para fora do veículo com seu típico olhar carrancudo, a cabeça balançando em leve negação.

"-Não está aqui" – anunciou ao seu modo sucinto, ao que Rick, ainda apontando a arma para Jesus, aproximou-se do homem com passadas ameaçadoras, indo em direção àquele que o enganara com um brilho de triunfo no olhar. Retirou do ombro a corrente que havia servido para prender a máquina de refrigerante no caminhão, mais confiante por perceber que fora capaz de consertar aquela falha, que por certo custaria caro à Alexandria. Apenas naquele instante desfez a mira de sua pistola, ocupando-se em amarrá-lo firme com o metal.

"-Torça para que aquela doida te encontre antes de um errante – o xerife tripudiou, permitindo-se um leve sorriso – Embora eu ache que exista mais misericórdia em ser comido vivo a ter que conviver com aquilo por muito tempo."

"- Que nada, cara, ela é um amor quando ‘tá dormindo..." – Jesus falou de forma suspirante, parecendo conformado com seu destino. Rick quase viu a sombra de um sorriso em seu rosto, e não gostou nada daquela confiança tranquila que o prisioneiro parecia exalar.

Contudo, apesar daquele seu mau pressentimento, havia outro ainda mais forte que o mandava sair dali, antes que algo mais pudesse dar errado. Rick caminhou até o veículo enquanto novamente apontava a arma na direção certeira de Jesus, sentindo-se vitorioso por, com a ajuda indispensável de Daryl, reaver todos os suprimentos que ali havia.

"-Não é melhor atirar nesse filho da puta?" – o arqueiro perguntou com rudeza, indisposto a confiar na sorte que Rick tanto mencionara aquele dia. A flecha ainda bem preparada para se fincar bem no meio daqueles olhos incomodamente serenos.

"-Ele não tem como se livrar das correntes, Daryl. Vamos logo, já perdemos tempo demais aqui..." – decretou, indisposto a continuar um minuto a mais naquele local. Queria voltar logo a Alexandria e dar as boas novas.

Dito isso, entraram no caminhão, e logo que Rick fez pegar o motor, Daryl ajustou o retrovisor ao seu lado de uma forma que lhe permitisse a visão de Jesus. Percebeu que o homem também o encarava em meio a uma expressão pacífica, e logo que se deu o arranque do automóvel o arqueiro levantou o dedo médio, o braço erguido o quanto pôde naquele gesto de desforra.

"- Foda-se você e aquela maluca!" – fez sua despedida, mantendo o braço dobrado para fora da janela, aproveitando o vento que a velocidade fazia entrar através do vidro abaixado.

Houve um rápido instante de silêncio em que os dois degustavam a vitória, o coração finalmente mais calmo dentro do peito após a perseguição contra a dupla de loucos. Foi Rick quem, sorrindo, quebrou a paz daquele silêncio.

"-E apesar de tudo, foi mesmo nosso dia de sorte..." – o xerife ainda insistiu naquela teoria, cedo demais.

"-PORRA, JESUS, EU DISSE ‘PRA ME AVISAR QUANDO FOSSE SAIR COM O CARALHO DO CAMINHÃO... – o grito estridente de Maria Madalena veio do teto, e no segundo seguinte suas pernas nuas já se projetavam para dentro do automóvel, batendo na cara de Daryl repetidas vezes conforme ela se esforçava para passar por aquela abertura com o veículo em alta velocidade – Eu avisei que eu ‘tava tomando sol, porra, precisava arrancar com o caminhão feito um maluco?"

A mulher finalmente conseguiu se ajeitar inteira para dentro do veículo, seu corpo coberto apenas por um biquíni modesto, que dava uma visão bem vasta de suas curvas em forma. Daryl fuzilou Rick com o olhar pelo seu último comentário, e o xerife apenas trajou aquela mesma expressão desacreditada que tanto vinha usando naquele dia.

Não era comum ver-se sem reação daquela forma tão contínua.

“...Filhos da puta!”

Daryl, reparando no corpo praticamente todo exposto da mulher, sentiu o sangue subir ao seu rosto, e como um reflexo involuntário, desviou os olhos, não sabendo como agir naquela situação totalmente fora dos padrões.

"-Ah, merda, pensei que era o Jesus! – proferiu, ainda com as coxas por cima do arqueiro enquanto tentava se ajeitar melhor, buscando por um espaço entre eles. Deu tapinhas alegres no ombro do xerife e do arqueiro, parecendo bem mais entusiasmada do que pedia a situação – E não é que vocês conseguiram alcançar a gente? Muito bem, rapazes, muito bem! E em pensar que eu não dei nada por vocês quando me deixei levar por essas caras de tontos. – olhou em volta da caminhonete, um sorriso sutil e fechado em seus lábios à medida que observava o interior do veículo – Cadê Jesus?"

"-Volta, Rick, por favor..." – o arqueiro pediu, quase implorando para que a devolvessem o quanto antes.

"-Como você conseguiu entrar aqui?" – o xerife questionou, por ora ignorando os apelos do amigo, que ainda se obrigava a fitar a paisagem, pateticamente sem jeito.

"-Ué, na série o Jesus escala o caminhão e ninguém acha estranho, agora porque eu entro pela janela, noooooossa..."

"-Dá tempo ainda, Rick, devolve... Ela não sabe o caminho..." – Mais uma vez o arqueiro rogou, tentando disfarçar os olhares que invariavelmente relanceava ao corpo praticamente despido da mulher.

"-Qual é a sua, cara? Aliás, foi você quem eu ouvi mandar eu me foder? Tá pensando o quê? Só porque roubou o caminhão que eu roubei primeiro não quer dizer que pode me tratar assim não, colega... – sua voz despontou histérica, o rosto da garota adquirindo um tom rubro que demonstrava a raiva repentina. Como num passe de mágica, sua expressão se suavizou num sorriso doce, e ela passou a olhar Daryl com interesse – Mas eu te perdoo, gosto tanto de você!" – sem qualquer aviso prévio se jogou sobre ele, enlaçando-o num abraço que não foi correspondido.

Daryl lançou um olhar suplicante a Rick, que apenas vislumbrava a cena como um espectador, ainda dirigindo, seus traços cheios de uma convicção que combinavam bem com o posto de liderança que lhe fora incumbido. O arqueiro sentiu as curvas daquele corpo chamativo o prensarem com mais força, e uma nova onda de vergonha o invadiu, sem saber como proceder. Só então o xerife retribuiu o olhar desesperado que o amigo ainda lhe lançava, e deu de ombros diante daquilo.

"-Tá no inferno, abraça o capeta, Daryl... Você já tá há o quê? Umas seis temporadas sem pegar ninguém? Olha aí sua chance, aproveita!"

"-Jura? Seis temporadas? Cacete, que sacanagem... Acho que os roteiristas não vão muito com a tua cara... – a mulher disse, ajeitando algumas mechas rebeldes do cabelo sujo de Daryl, sentindo-o retesar no mesmo instante, adorando a sensação de provocá-lo – Mas eu te achei uma graça, seu delícia, me manda nudes..."

"- Manda o quê?" – o arqueiro perguntou, verdadeiramente confuso.

"-Depois eu te explico, Daryl..." – Rick atestou, sem se conter deixando que um sorriso de canto brotasse em seu rosto pela inocência do amigo.

"-Por que você não enche a porra do saco dele também?" – Dixon inquiriu com grosseria, tentando desvencilhar-se do corpo feminino tão inconvenientemente próximo ao seu.

Contra todas as suas piores expectativas, Maria Madalena se afastou do arqueiro num movimento brutal, abaixando a cabeça entre os pulsos conforme seu corpo sacolejava sob o comando de soluços tão violentos quanto desconexos. Daryl, por mais que evitasse olhá-la diretamente naqueles trajes de banho insignificantes, acabou por encará-la cheio de dúvidas. Rick apenas se concentrava na estrada, inabalável pelo novo objetivo que tinha à frente, sem se permitir abalar em nada com o pranto repentino da garota.

"-Por que você ‘tá falando assim comigo? – a jovem loira questionou, sua voz chorosa aumentando ainda mais a confusão do arqueiro – Sabe, quando eu tinha seis anos, disseram que eu era gorda. Eu nunca superei, e agora vem você e diz que não quer mais nada comigo porque me acha uma baleia? Porque de repente percebeu que meus culotes te incomodam?"

"-Mas de que porra..."

"-E mais, quando eu fiz quinze – ela encurvou o rosto junto ao ombro de Rick, limpando o nariz em seu colete após interromper o arqueiro com sua voz lacrimosa –, meu namorado terminou tudo comigo porque dizia que tinha uma parte dele em mim e isso o fazia se sentir incompleto**... Quer dizer, quem diz uma merda dessa? O que essa porra quer dizer? O que aconteceu com o bom e velho clichê ‘o problema sou eu, não é você’?"

"-Rick..." – Daryl chamou, olhando para o líder com preocupação. O xerife fingiu que não era com ele, mantendo-se concentrado na direção sem nada a dizer.

"-OLHA ‘PRA MIM, DARYL DIXON! – Ela gritou descontrolada, atraindo os olhos amendoados e aturdidos do arqueiro – Você não me acha bonita, é isso?"

"-Rick..." – chamou uma segunda vez, sem saber como reagir.

"-É com você que ela está falando, Daryl. Quando alguém faz uma pergunta, ao invés de grunhir ou rosnar a gente responde. Vai, conversa com a moça... Eu não posso te ensinar todas as convenções sociais sempre. – o xerife complementou, e se as circunstâncias não fossem tão estressantes após quase perder todo o carregamento de suprimentos para aquela mulher e o homem que a acompanhava, até achava que poderia ter se divertido muito com a improvável situação. Ao notar que Daryl permanecera mudo, direcionou sua fala agora à mulher, ainda sério – Acho que ele ficaria um pouco mais confortável se você vestisse alguma coisa."

"-Ah, então é esse o problema? – a jovem loira se recompôs naquele mesmo segundo, como se jamais houvesse demonstrado qualquer tipo de abalo emocional – Que bonitinho, ele é tímido! – ela sorriu largamente, encurvando o corpo à procura de algo. Rick logo se alarmou, segurando a pistola no coldre e já pronto para sacá-la, até que a percebeu tateando o piso do caminhão em busca das roupas que estavam jogadas ali com desleixo. Não mais do que alguns segundos depois, o xerife reconheceu a mesma peça de roupa que ela estava usando antes, quando roubou o caminhão de Rick e Daryl – Licencinha, meu bom homem... E bota bom nisso, quer dizer... Difícil acreditar que você está há seis temporadas na seca sendo gostoso desse jeito – ela tagarelou ao caipira, fazendo algum malabarismo para conseguir se vestir naquela postura sentada e um tanto desconfortável no meio dos dois. Seu joelho esquerdo bateu em cheio no nariz de Daryl enquanto ela passava a calça por uma das pernas, extremamente desajeitada – E só pra constar, isso foi de propósito, por ter insinuado que eu sou gorda" – avisou, piscando divertida em direção ao arqueiro de ares carrancudos, incrédulos acima de tudo.

Terminou de se vestir e se aconchegou no estofado da poltrona, os olhos azuis preguiçosos fitando a imensidão da estrada que já começava a escurecer, permitindo-se um raro momento de silêncio. Respirou fundo, finalmente melhor encaixada no meio dos dois. Tanto Rick quanto Daryl agradeceram mentalmente pelo fato de a garota calar a boca, porém foi um agradecimento um tanto quanto precipitado. Logo sua voz vibrante ocupou mais uma vez o espaço fechado, parecendo até mesmo ecoar pela lataria num tremor.

"-Sério, gente, cadê Jesus?"

"-Se tiver sorte, foi comido por um andarilho... E mesmo assim teve mais sossego que a gente..." – Daryl bufou audivelmente, ainda mais irritadiço do que o habitual.

"-O que você quis dizer com isso?" – Maria Madalena inquiriu, sabendo que era uma pergunta retórica.

"-Não costuma ser pessoal, ele é assim mesmo..." – Rick tentou apaziguar os ânimos, e a cada segundo transcorrido Daryl estranhava mais a paz de espírito do xerife.

"-Desde quando você é tão paz e amor assim, irmão Ricardo***? Já sei... Santa Michonne fez milagres com você, dá ‘pra ver de longe... Tá até mais magrinho o menino, que beleza... Sempre shippei Richonne, viu, que mulher! Forte, formosa, foda... os três F’s..."

Rick pareceu de fato incomodado naquele momento, relanceando um olhar mais endurecido à mulher e interrompendo a tagarelice que jamais cessava. Empertigou-se sobre o banco do motorista, notando os músculos muito mais rijos.

"-Como você sabe sobre a Michonne?"

"-Eu tenho dom de ler a mente... – Maria Madalena virou com força o rosto de Rick, segurando-o firmemente com as duas mãos de modo a tirar a visão que o xerife tinha da estrada naquele rápido instante – E eu estou lendo a sua bem agora! Eu vejo o passado e o futuro! Você, por exemplo, eu sinto que já perdeu alguém importante... – Fez uma pausa à medida que seus olhos se esbugalhavam forçadamente, logo em seguida o soltando como se de súbito perdesse o interesse – Na verdade eu só li o script mesmo. Bazinga!"

"-Então assim sim... – Rick concordou de forma abestalhada, e Daryl franziu o cenho ao fitá-lo, não compreendendo mais porra nenhuma. O xerife o encarou, dando de ombros – Essa fala estava no meu roteiro, também não entendi..."

"-Tchuin tchuin tchun clain também ‘tava no meu, mas nem por isso eu disse..." – Daryl replicou com rudeza, revirando o olhar.

O caminhão foi perdendo a velocidade, imbicando em direção ao acostamento que dava vista a algumas casas na região. Até que o veículo parou por completo, o motor ainda ligado fazendo a lataria vibrar.

"-Você desce aqui" – Rick alertou com aquele mesmo ar perigoso de quando se via frente a um desafio, esperando que a estranha mulher descesse por conta própria do automóvel, porém disposto a forçá-la caso ela demonstrasse qualquer sinal de resistência. Impaciência já não era suficiente para explicar o seu estado de espírito.

"-Ah, cara, qual é, já começou a anoitecer... – A loira replicou, percebendo Daryl sair de seu lugar a fim de dar espaço para que a mulher conseguisse sair do automóvel, o sorriso prepotente sumindo do rosto feminino apenas naquele instante à medida que o alívio começava a dominar o arqueiro – É sério mesmo isso? Óh, e agora, quem poderá me defender? – Maria Madalena olhou em volta, como se procurasse por mais alguém. Como o silêncio foi sua única réplica, ela pigarreou, falando um pouco mais alto e pausadamente – Eu disse: óh, e agora, quem poderá me defender? – repetiu, ainda sem obter resposta. Suspirou, revirando os olhos à medida que aumentava ainda mais o tom de sua voz – É A SUA DEIXA, JESUS, PRESTA ATENÇÃO! De novo: óh, e agora, quem poderá me defender?"

"-Ah, é minha hora! Eu!" – a voz já conhecida de Jesus veio de cima do caminhão, e numa sincronia perfeita o corpo do homem escorregou para a lateral do veículo, sua cabeça se introduzindo no buraco aberto da janela, ao lado de Rick.

Maria Madalena retirou a chave da ignição num movimento rápido, Rick e Daryl ainda processando com incredulidade o súbito aparecimento do homem que a acompanhava. A jovem mulher jogou num movimento certeiro o objeto em direção ao parceiro, gritando a plenos pulmões:

"-CORRE, JESUS! COMO SE VOCÊ FUGISSE DO JUDAS****! Imagina o dono da festa te pedindo pra transformar água em vinho..."

Daryl pôs-se a correr atrás do homem de cabelo longo que já escapava, novamente em posse da chave do caminhão. A plenos pulmões, o arqueiro gritou:

"-SENHORA! SENHORA! Espera, senhora! – seus traços se tornaram mais impacientes, novamente bufando enquanto ainda corria atrás do homem que pela segunda vez os roubara – Quem escreve essa merda de roteiro?"

Rick permaneceu dentro do automóvel, atônito, os dedos rígidos apertando com força desnecessária o volante, fitando a perseguição numa expressão aérea. Não compreendia como estava sendo capaz de cometer tantas falhas naquele único dia, mas parecia que sua boa sorte do início havia se voltado contra ele em consecutivos deslizes.

"-Eu não ia repetir isso não, cara, mas olha, você é muito burro... – Maria Madalena se esparramou no banco antes ocupado pelo arqueiro, os olhos também focados naquela mesma direção da perseguição. Pegou a metade de um sanduíche amassado que vinha guardando no bolso da calça, e deu uma generosa mordida após desembrulhá-lo. Com a boca cheia, cuspindo algumas migalhas de pão, disse: – Dá gosto passar a perna em vocês... Já pensou que só precisava fazer uma ligação direta?"

Rick estancou, praguejando mentalmente. Já sem qualquer resquício do bom humor de antes, fitou a garota com um olhar que prometia apenas revide, sentindo-se subitamente exausto.

"-Acabou minha paciência com você – retirou do coldre sua arma, ajeitando a mira para o centro da testa da garota de olhos trocistas, destravando a pistola numa ameaça que começava realmente a querer consolidar, por mais que se tratasse apenas de uma garota jovem demais – Sai do caminhão" – ordenou, seu rosto de leve inclinado em ultimato.

"-‘Tô indo, cara, ‘tô indo, calma... – ela ergueu as mãos num sinal de paz e, ao se aproximar da porta, entoou numa voz cantada que mais parecia soar de um protesto – Sem violência! Sem violência!"

"-Sai do caminhão!" – rugiu uma segunda vez, disposto a atirar. O indicador tremeu sobre o gatilho, ansioso por qualquer oportunidade que justificasse o seu aperto.

"-PM FASCISTA!" – berrou antes de colocar-se para fora, correndo em direção à floresta que margeava a estrada e sumindo de vista assim que adentrou nas densas folhagens.

Rick, sem perceber o que fazia, pegou a metade já mordida do sanduíche de mortadela que ela deixou no banco do copiloto. Atirou-o para fora da janela, tendo como mira o mesmo ponto em que a garota desaparecera.

"-E leva seu pão com mortadela, petralha! – guardou novamente a arma, um vinco pensativo fazendo várias pregas duvidosas se formarem em sua testa – Nem sei o que essa merda significa..." – reclamou, pouco entendendo as estranhezas daquele dia, mais parecendo estar preso em algum tipo zombeteiro de pesadelo.

Esperou alguns minutos até que percebeu Daryl surgindo, sozinho, de volta ao automóvel. Sua postura derrotada e raivosa indicava o fracasso da perseguição, e embora não fosse necessário verbalizá-lo, o arqueiro subiu no caminhão explicando aquilo que já estava óbvio.

"-Ele escapou na floresta. E a maluca?"

"-Fugiu também. Mas não importa... Só precisamos fazer uma ligação direta, e sair logo desse inferno."

Daryl o fitou com alguma culpa, de súbito percebendo que perderam um tempo desnecessário com aqueles dois – mais uma vez. Sem nada dizer fechou a porta ao seu lado, tentando se concentrar na satisfação de não ter mais a garota tagarelando junto de seu ouvido. Rick já expunha os fios do painel, cortando-os a fim de ligar um no outro. O motor roncou, sem grandes problemas.

"-Que puta dia de sorte, hein..." – Daryl provocou, sabendo que aquele comentário irritaria o amigo.

"-Vai se foder." – replicou o xerife, novamente saindo com o veículo assim que conseguiu fazer o motor pegar. E, dessa vez, esperava não ter mais que parar até que chegassem a Alexandria.

 


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Notas finais do capítulo

*flores silverstones = referência ao nome da atriz Alicia Silverstone, que representa Maria Madalena na fanfic.

**Temos uma amiga que já passou por isso (mais ou menos), e não sabemos parar de zoar essa frase. Sim, um cara disso isso para ela...mais bizarro que a nossa fanfic

*** VEJAM ESSE VÍDEO ! https://www.youtube.com/watch?v=dQhqfsdgYEg

**** Norman Reedus interpretou Judas no clipe da Lady Gaga


Nós avisamos que a cada capítulo o besteirol ficaria pior...ok

XD

Beijos e chutes nas canelas.



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