Aparições escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oi!

Cheguei com mais um conto de terror!

Desta vez envolvendo essas criaturas do bem super fofas (palhaços)!

Espero que gostem!



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Noite de Halloween e eu separando roupas para lavar. Deprimente?

O que posso fazer se não gosto muito de celebrar a data? Graças a Deus, já passei da idade de sair por aí fantasiada, batendo de porta em porta, pedindo doces ou ameaçando os vizinhos com a promessa de travessuras. Agora como adulta, não aprecio muito as festas dessa época. Ainda mais esse ano com a onda de palhaços macabros influenciando a escolha de 99% das fantasias.

Sempre apostei nos zumbis, mas parece que estamos vivendo o prelúdio de um apocalipse de palhaços mesmo. E confesso que isso me dá... arrepios.

Chama-se coulrofobia e evito ao máximo deixar que as pessoas descubram essa minha fraqueza. A maioria não entende como alguém teme um personagem tão lúdico e que só quer divertir as crianças. Porém a verdade é que palhaços não têm nada de fofinhos ou engraçadinhos. Para mim, estão sempre rindo de alguma piada sinistra interna, aproveitando-se da imagem inocente, que estampam com roupas coloridas, máscaras ou quilos de maquiagem e tinta, para planejar algo violento contra sua potencial vítima.

Eu sei, no fundo é um medo irracional e ridículo, mas não consigo deixar de senti-lo. É como se alguém fantasiado de palhaço não fosse mais alguém, e sim algo. Como se deixasse de ser uma pessoa e virasse... outra coisa.

Por isso, preferi ficar em casa esta noite, recusando o convite de Betty, minha melhor amiga desde o colegial, para uma festa de Halloween com o pessoal da faculdade. Não estou a fim de me sentir angustiada, levar sustos a cada minuto e virar motivo de piada no final.

Afasto esses pensamentos, ajeito a cesta com roupas sujas na lateral do corpo e com a mão livre abro a porta do porão. Espalmo a parede até encontrar o interruptor e acendo a luz. Desço os degraus enquanto a madeira antiga range sob meus pés. Aproximo-me da máquina de lavar...

Meu celular toca brevemente, porém é o bastante para me causar um sobressalto em meio ao silêncio até então absoluto da lavanderia.

Largo a cesta no chão e pego o aparelho no bolso da calça. Em uma mensagem, Betty diz que está eufórica com sua fantasia e pergunta se pode passar aqui para me mostrar. Respondo que sim e retomo minha tarefa com as roupas.

Deixo a porta do porão aberta para ouvir quando a máquina encerrar o ciclo e assim voltar para colocar tudo na secadora depois.

Largo o celular sobre a mesa de centro da sala e sento-me no sofá. Puxo o notebook — esquecido sobre ele desde esta tarde —, para meu colo e abro a internet. Esfrego os olhos para afastar certo sono e acesso um portal de entretenimento.

Como era de se esperar, o assunto do momento é o Halloween. Há artigos especiais sobre a origem da data, sugestões de filmes para entrar no clima, dicas de maquiagem e para customizar fantasias e, claro, uma matéria especial sobre as aparições de palhaços macabros pelo mundo. Aparições cada vez mais frequentes e cercadas por detalhes intrigantes.

Sim, eu devia evitar o assunto, mas tentando vencer a fobia, leio a reportagem inteira. Em uma coletânea de depoimentos, pessoas de diferentes lugares relatam suas experiências. Elas se resumem a palhaços saindo de arbustos e assustando suas vítimas de repente, palhaços agredindo pessoas aleatoriamente e fugindo, palhaços solitários, vagando sem rumo certo em diversas estradas e florestas pelo mundo.

O depoimento que realmente me intriga é o de um rapaz de vinte e poucos anos, morador de Maryland, que ao ser surpreendido por um desses palhaços, partiu para cima dele num gesto impulsivo.

Ao arrancar sua máscara, no entanto, ficou abismado quando o desconhecido por trás dela assegurou que não se lembrava de absolutamente nada do que fez depois de vestir a fantasia, parecendo realmente assustado e confuso com o ocorrido.

Embora uma parte de mim desconfie que tudo não passa de oportunismo, pego-me refletindo sobre minha teoria envolvendo esses... personagens da cultura popular.

E se algo inexplicável e talvez sobrenatural acontece com as pessoas que se fantasiam assim? Pelo menos com uma parcela delas? E se essa onda de aparições pelo mundo, que ao que tudo indica começou como marketing e brincadeira, esteja começando a sair do controle?

— Paranoica... — Abaixo a tela do notebook e rio de mim mesma por deixar o medo alimentar minha imaginação a tal ponto.

Ligo a televisão, a fim de me distrair, mas a primeira coisa que vejo é o palhaço Pennywise dentro de um bueiro, prestes a puxar um indefeso garotinho para as profundezas da galeria subterrânea.

Com o coração apertado e os olhos arregalados, desligo a TV antes do final da cena e amaldiçoo Stephen King por ter criado um personagem tão bizarro e medonho. Não bastou aterrorizar minha infância, o palhaço It me dá arrepios até hoje.

Mal me recuperei desse susto, e sou surpreendida por algo se movimentando no reflexo da tela. Apesar do medo angustiante, levanto-me depressa e cravo o olhar na janela. Em pânico, observo uma verdadeira procissão de palhaços coloridos e mascarados seguindo pela minha rua.

Por um momento, esqueço que é Halloween e só consigo imaginar o mundo acabando com uma horda deles dominando tudo e todos. Mas logo entendo que o enorme grupo só está indo para suas respectivas festas na região.

Quando um deles me nota, para diante da minha calçada e acena lentamente com a mão no ar, volto a ficar angustiada, obrigo meu corpo a se movimentar até a janela e fecho a cortina às pressas.

Como o tecido não é tão espesso, consigo ver o tal palhaço abaixar a mão devagar e inclinar a cabeça ligeiramente, parecendo desapontado com a minha falta de educação.

Ele ainda demora alguns instantes ali, a poucos metros da minha casa, imóvel e intimidante, antes de finalmente se juntar ao grupo e ir embora, caminhando num ritmo mais lento que os demais.

Sou despertada desta cena pela máquina de lavar que desliga de repente, indicando que o ciclo terminou. Respiro fundo, tentando me acalmar de vez, e só então sigo para o andar inferior.

Enquanto coloco as roupas na secadora, a luz do porão oscila algumas vezes, deixando-me inevitavelmente tensa. Meu lado racional diz que deve ser um disjuntor ou uma pequena instabilidade na rede elétrica. Todavia, meu lado que tende a ficar impressionado com a própria sombra me faz pensar em demônios, fantasmas, entidades malignas e, claro, em palhaços.

Resisto bravamente, agarrando-me à razão e logo estou subindo os degraus de novo. De cabeça baixa e batucando os dedos no corrimão um tanto distraída, só vejo o par de sapatos branco quando estou no topo da escada... já diante da pessoa que os usa.

Pega de surpresa, ergo o olhar aos poucos e me vejo na frente de alguém fantasiado de palhaço. Embora o medo tenha me impedido de gravar detalhes, a roupa e a máscara se assemelham muito com a daquele que vi pela janela, há alguns minutos.

É tudo o que consigo raciocinar antes de ser tomada por uma onda de pavor que me desequilibra. Meu grito se perde em minha garganta quando caio para trás, rolando escada abaixo violentamente.

Gemo de dor e, com dificuldade, levo a mão à minha cabeça subitamente dolorida. Zonza e com a visão embaçada, noto algo se mover pelo canto do olhar e ouço o ranger pesado dos degraus.

Sentindo um medo sufocante e aterrador, luto para reagir, porém mal consigo me mexer. Meu corpo inteiro dói e tenho certeza que devo ter torcido o pé em virtude da queda.

Arrasto-me tentando alcançar a porta que leva aos fundos do quintal, porém algo me alcança antes. Grito quando o palhaço puxa minhas pernas e me vira em sua direção. Apavorada, vejo algo metálico reluzir no ar. Algo que ele segura com uma das mãos. Algo que me atinge em cheio.

A dor no abdômen é excruciante e me arranca um grito animalesco. Mais um golpe me atinge. E mais outro. Logo, não tenho mais forças para gritar. Algo quente e viscoso encharca minhas roupas e se espalha pelo chão.

Não sei se estou morrendo devido aos ferimentos ou devido ao medo que a imagem bizarra do assassino causa em mim. Talvez os dois.

Numa última demonstração de força, alcanço seu rosto e afasto a máscara. Ela cai no chão enquanto o olhar de Betty encontra o meu. A frieza assassina e a fúria violenta logo dão lugar ao espanto e à incredulidade. Ela solta a faca no chão enquanto minha cabeça gira.

— Monica! Ai meu Deus! O que... o que foi que eu fiz? Eu não... eu não queria...

Sua voz soa distante, embora eu tenha certeza que ela está gritando, desesperada e sem entender por que me feriu mortalmente repetidas vezes.

— Por favor, me desculpe... Eu não lembro... eu não quis fazer isso... Ai meu Deus! Não morra!

Acho que ela tenta estancar meus ferimentos antes de se afastar aos prantos.

— Eu vou chamar uma ambulância!

Ao longe, ouço seus passos apressados subindo a escada e sinto uma ligeira vibração no chão.

Com muito frio e um gosto ferroso na boca, mexo um pouco a cabeça e acabo olhando para a porta que leva ao quintal. Mais precisamente para a pequena abertura de vidro na parte superior.

Não consigo gritar, mas engulo em seco e arregalo os olhos quando vejo que tenho companhia. Assim como fez antes, o palhaço, com uma máscara idêntica a de Betty, acena para mim lentamente.

Em seguida, e para meu desespero, vejo a maçaneta se mover. Girar. Ser forçada. A porta é então aberta.

Não sei como consigo, mas grito o mais alto que posso, com um desespero latente, fechando os olhos com força, temendo por mim e também por Betty.

Por falar nela, ouço sua voz me chamando e abro os olhos subitamente. Atordoada, levanto meu tronco do sofá ainda aos gritos. E só paro de berrar quando Betty segura em meus ombros e tenta me tranquilizar:

— Monica, está tudo bem. Foi só um pesadelo.

Suas palavras ecoam em minha mente por algum tempo até finalmente fazerem sentido. Passo as mãos por minha barriga, certificando-me que estou mesmo intacta.

Observo a sala e o sofá onde, em algum momento da noite, eu peguei no sono. Com a respiração descompassada, olho para minha amiga com uma clássica fantasia de bruxa e, por fim, me acalmo.

— Eu sinto muito. Você está bem? — ela diz, sentando-se ao meu lado e segurando minhas mãos trêmulas em seu colo. — Acho que te assustei ainda mais, entrando assim, mas você estava gritando tanto, eu fiquei preocupada. Com o que você sonhou?

Sua pergunta perde a importância quando outra escapa da minha garganta:

— Como exatamente você entrou aqui?

Betty sorri, aperta meu nariz e responde em tom de bronca:

— Sua maluca, você esqueceu de trancar a porta dos fundos.

— O quê...? — balbucio zonza, enquanto uma nova onda de medo e apreensão desperta dentro de mim e faz meu coração bater pesado.

Tentando descobrir em qual momento exato peguei no sono, olho para trás, na direção da janela, e percebo que a cortina está fechada. Como eu a fechei... pouco tempo depois de ver aqueles palhaços lá fora e um deles se destacar na multidão.

Só posso concluir que eu dormi depois que ele ficou me encarando e acenou para mim. Devo ter voltado para o sofá e aguardado o fim do ciclo de lavagem das roupas.

Sei que pode ter sido só algum engraçadinho querendo me assustar — afinal, é Halloween —, porém é impossível não ficar impressionada ao lembrar daquele palhaço estancado na minha calçada daquele jeito bizarro, me olhando, me analisando. É impossível não ficar receosa e tensa. Com medo.

Principalmente, por ele ter deixado meu pesadelo ainda mais assustador. Parece que de uma forma ou de outra, ele está me perseguindo. É loucura, mas sinto que, também de alguma forma, ele continua à espreita.

— Monica? O que foi? — Betty pergunta, talvez por notar algo estranho em meu semblante.

Observo sua fantasia rapidamente. Ela não é como a do meu pesadelo — ainda bem —, porém o outro palhaço ainda existe.

Torcendo por uma resposta positiva, pergunto aos sussurros:

— Betty, quando você entrou, lembrou de fechar a porta?

Seus olhos negros e curiosos me encaram de volta, enquanto ela tenta entender o motivo de tal pergunta.

— Eu... eu estava preocupada com você — diz meio aos gaguejos.

Não era a resposta que eu queria. Sinto um frio no estômago, um arrepio na nuca e uma tensão crescente no ar. O suspense e o medo estão me matando.

— Você trancou a porta? Sim ou não? — insisto, perguntando mais alto.

Betty não precisa responder. Além do não estampado em seu olhar confuso, as luzes a nossa volta se apagam de repente, embora eu veja pela janela que há energia na vizinhança.

Devagar e ainda mais tensa, olho para Betty em meio a escuridão.

É nesse momento que ouço os degraus do porão rangerem sob o peso de alguém que se aproxima.

Ou algo...


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Notas finais do capítulo

Já falei que adoro finais em aberto? Eu adoro!

Reviews?

PS: Sam Winchester, definitivamente, não curtiria isso.