Escutei uns passos vindo do corredor diretamente pra sala da Patterson. Era Kurt. Ele olhou pra mesa onde eu estava ainda só mas esperando a loira e veio em minha direção.
— Jane, eu… — Ele disse mas eu logo o interrompi.
— Você não precisa me explicar nada, Kurt. A vida é sua e nós somos amigos apenas. Você não tem nada do que me explicar.
Ele bufou abaixando a cabeça, passando lentamente a mão no pescoço e novamente me olhou, pousando a mão acima da mesa. Um barulho da porta abrindo e logo a agente Rose estava chamando-o.
— Kurt, Tasha está atrás de você, está precisando de você no bullpen.
Ele assentiu com a cabeça e me olhou.
— Apenas vá. — Eu disse sem muitos rodeios e ele se foi.
***

Patterson havia descoberto um dialeto diferente em umas letras de um de minhas tatuagens, mas mesmo repassando, as palavras não faziam o menor sentido. Tentamos por algum tempo modificá-las juntas, já que poderia ser um anagrama em alguma diferente língua, mas nada que tivesse ficado muito claro pra nós. Patterson estava nervosa por não estar conseguindo resolver nada, mas eu apenas estava concentrada em ver a hora passar para poder encerrar o turno. Eu estava cansada desses dias tão difíceis e havia decidido apenas ir pra casa e relaxar, sem ir pra Sandstorm ou ter que lidar com qualquer um dos meus problemas pelo menos por uma noite. Meu celular tocou. Era mensagem do Oliver.
Patterson me olhou estranha ao ver minha testa franzida.
— O que está acontecendo? — Ela disse me olhando.
— É Oliver. — Eu disse mostrando o celular. — Ele não sabe da amnésia então ele está me perguntando se eu lembro de qualquer bar no nosso bairro porque a irmã dele estava querendo sair. Ele disse que ela se mudou pro bairro recentemente.
Patterson sorriu pra mim.
— A gente podia sair, né? — Ela disse tomando meu celular. — Vamos combinar com ele de ir pra um bar hoje. Estamos precisando! — Ela finalizou com animação.
— Não. — Eu disse. — Ele só quer saber de um lugar legal, só me pediu uma sugestão, não me convidou.
— Ai meu Deus, Jane, ele poderia ter olhado no google maps. Se ele te perguntou é porque ele quer que você vá também.
Eu a olhei com dúvidas. Ela começou a digitar no meu celular.
— Posso? — Ela perguntou me mostrando a mensagem
“Há um bar muito legal dois quarteirões depois da minha casa. Eu irei pra lá hoje com uns amigos. Que tal vocês irem?”
— Ok. — Eu disse acenando com a cabeça e sorrimos.
“Nos vemos lá”
Ele respondeu depois de um tempo.
Depois de algumas horas, eu e Patterson estávamos no bar. Após alguns minutos, Oliver chegou com sua irmã que se apresentou. Ela se chamava Melissa. Ficamos conversando entre uma bebida e outra e logo começou um karaokê no bar. Estávamos conversando quando Patterson pegou o celular dela e logo depois me cutucou.
— Você se incomoda se Weller, Tasha e Reade vierem? — Ela disse ao pé do ouvido.
— Não. — Eu disse sorrindo de maneira falsa.
Conscientemente eu não saberia como Kurt iria reagir ao me ver aqui com Oliver, mesmo eu sabendo que éramos só amigos. Ainda assim, ele tinha Nas, não tinha nada com o que se importar. Vendo-me com Oliver talvez ele simplesmente pode desistir de tentar se realinhar depois de me machucar tanto, pensei.

Patterson se levantou para ir no banheiro e eu estava com Oliver e Melissa quando vejo aqueles olhos sob mim, ao lado de Tasha e Reade.
— Olá, Jane. — Ele disse chegando ao meu lado. Eu apenas acenei com a cabeça.
— Oliver Kind. — Ele disse estendendo a mão para Kurt que não acenou, mas Zapata o fez.
— Tasha. Esses dois são nossos amigos, Kurt e Reade. — Ela disse apontando pra cada um.
— Sou Melissa. — A irmã de Oliver disse, estendendo a mão para eles. Dessa vez Kurt acenou.
Todos se sentaram na mesa e logo começaram a beber, num clima de descontração regulado, mas era bom que não tivéssemos nem mesmo brigando por conta de tudo que aconteceu. Logo Patterson voltou e continuamos ali. O Karaokê começou e Melissa foi cantar. Eu aproveitei para ir ao banheiro e Tasha foi comigo.
— Seu novo namorado é bonito. — Ela disse enquanto lavávamos as mãos, me olhando no espelho.
— Ele não é meu namorado. Somos apenas amigos. — Eu a respondi.
— Ele é interessado em você. — Ela disse tentando continuar o assunto.
— Ele entende que não é mútuo. — Eu disse e saímos do banheiro.
Ao chegarmos na mesa, Kurt estava conversando com Melissa e eles riram de algo, mas logo que sentamos, pararam. Oliver virou-se pra mim.
— Nós já vamos. Está relativamente tarde e amanhã temos trabalho. — Ele disse pegando na minha mão. Observei Kurt olhando para nós. — Foi uma ótima noite.
— Sim. Fiquei feliz por você ter vindo. — Eu respondi acenando com a cabeça e ele se levantou. Melissa levantou-se com ele.
— Boa noite, pessoal. Adorei conhecer vocês. — Ele disse pra todos.
Todos se despediram e ele virou-se pra mim, dando um beijo em minha testa.
— Boa noite, Jane. — Ele disse e eu retribui com um sorriso.
Ficamos apenas bebendo até que Tasha cutucou Kurt, que estava mais calado que o habitual naquela noite.
— Eu posso falar com você? — Ela disse se levantando e apontando pro lado de fora. A porta era de vidro e a sacada aberta, não os dando muita privacidade mas ele foi. Os vi cochichar algo e ele me olhou, mas logo entraram.
A madrugada estava chegando, mas todos estavam em um clima amistoso e não queriam sair disso.
— Vamos cantar! — Patterson disse cutucando Reade e Tasha.
— Vamos. — Reade disse puxando a Tasha e os três foram para perto do pequeno palco que havia no local.
Meu olhar encontrou o olhar do Kurt no minuto em que ficamos a sós.
Havia tanta bagagem entre nós naquele momento, mas no fundo eu sabia que havia sentimento.
— Fico feliz em te ver aqui assim. — Ele disse enquanto bebia, sem tirar o olhar de mim.
— Às vezes é bom esquecer o inferno que é a minha vida. — Eu disse depois de um tempo.
— Em breve tudo vai se resolver na sua vida. — Ele disse olhando pro copo e logo depois olhou novamente pra mim. — Ou pelo menos uma parte.
— Eu espero que sim. — Disse acenando com a cabeça.
Continuamos em silêncio até que ele continuou.
— Eu não estou mais com a Nas. — Ele disse me olhando. — Nós terminamos ontem. Eu não estava com ela mais quando você nos viu no elevador.
Uma raiva subiu a minha cabeça com aquelas palavras. Não porque eu não acreditava nele, mas porque ele havia dito que eu devia resolver minha vida e ao invés de simplesmente se colocar em uma zona de conforto, ele estava tentando entrar nessa confusão. Eu o olhei furiosa.
— Você não tem que me contar isso, Kurt. — Eu disse olhando-o. — Você não tem que me explicar nada porque esse inferno não faz parte de você. Só faz parte da minha vida
Ele me olhou descrente e se pôs de coluna reta a minha frente.
— Jane. — Ele disse e eu o olhei novamente. — Eu quero fazer parte da sua vida novamente.
Eu respirei fundo.
— É melhor ficarmos como está agora.
— É? — Ele disse pulando uma cadeira e ficando ao meu lado. — Com você magoada? Comigo magoado? Com nós dois sabemos de toda a bagagem ruim que há entre nós e não nos resolvermos?
Eu balancei a cabeça e fechei meus olhos e ele continuou, dessa vez tocando no meu ombro.
— Eu tentei e gostaria de não ter que lidar com todas as consequências de todas as mentiras que cultivamos entre nós, mas não dá, Jane. Nós dois sabemos da bagagem que temos entre nós e sabemos que não dá simplesmente pra varrer pra debaixo do tapete. — Ele disse mas quando ia continuar Patterson, Reade e Zapata chegaram na mesa.
Eu olhei pra ele e depois olhei pra Patterson.
— Eu preciso ir. — Eu disse com um falso sorriso. — Está ficando tarde e não quero amanhecer cansada amanhã.
— Boa noite. — Todos disseram juntos, menos Kurt, até que eu me levantei e ele foi junto comigo.
Eu estava na calçada esperando o taxi chegar quando ele chegou mais perto
— Podemos não resolver isso agora? — Eu disse olhando pra ele.
— Jane… — Ele disse me encarando. — Nós não sabemos o dia de amanhã. Deixe-me tentar hoje. — Ele disse se aproximando ainda mais.
Sua mão pousou em meus ombros e eu fiquei tensa, mas ele se aproximou de mim e eu fechei os olhos.
— Eu ainda quero você. — Ele disse sussurando e colou seus lábios no meu.
Pela terceira vez nos beijamos.