Imagina que te sussurro estas palavras. Falamos sempre baixo quando queremos que acreditem em nós e é por isso que te digo que tudo isto é verdade, porque neste momento não tenho forças nem para gritar. Escrevo-te porque já não me podes ouvir e se ao menos estivesses aqui ao meu lado poderia gritar contigo até não ter mais forças, gritar para que todos ouvissem que tu foste irresponsável, que não pediste ajuda mesmo sabendo que tudo poderia terminar da maneira como terminou.

Eu queria puder esperar por ti, poder voltar a ouvir as tuas piadas idiotas. Mas eu sei que tu não vais voltar nunca mais, agora restam-me apenas as lembranças de outros tempos, de quando estávamos na mesma equipa, das nossas missões juntos e acima de tudo do teu sorriso. Nunca te dei o devido valor porque aparentavas ser demasiado imaturo, mas no fundo do meu coração eu sabia que isso não era verdade.

Quando te vi partir uma última vez senti um medo avassalador, uma força misteriosa que me roubou a alegria. E no final, nunca mais poderei voltar a ser feliz, apenas posso sorrir quando recordar todos os momentos em que estivemos juntos. Juntos? Será que alguma vez eu te dei essa oportunidade? Não, claro que não. Nunca te deixei aproximar demasiado, sempre te tentei manter afastado do meu coração mas lá no fundo tu estiveste e estarás sempre presente.

Agora penso que nunca te abri o meu coração. Mas de que me serve escrever-te se não o abrir agora de forma incondicional? Somos o nosso passado e ignora-lo ou esconde-lo é uma grande forma de cobardia e eu nunca me senti uma cobarde, a não ser nos momentos em que não te conseguia revelar os meus sentimentos, mesmo naquelas ocasiões em que tu o fazias de forma tão solta, tão natural.

Agora voltei a habituar-me há tua presença constante e no momento em que partiste, saindo da minha realidade de forma irreversível, foi como se me prendessem as pernas e os braços, senti-me paralisada, perdida, sem saber o que fazer. E agora que não estás mais aqui a minha imaginação reconstrói vezes sem conta a tua imagem, que me serve de consolo naqueles dias em que a dor da tua ausência se torna mais pesada no meu coração e quase impossível de suportar. Mas a dor parece ter vida própria e apenas o tempo a pode apagar.

Eu tentei de tudo para que não fosses embora mas tu, teimoso como sempre, nem sequer me ouviste. E eu fiquei sem saber o que mais dizer. Mas depois quando Naruto me disse aquelas palavras eu vi que ele tinha razão, se tu fosses o Hokage nunca permitirias que eu fosse, farias de tudo para me impedir. E eu? O que foi que fiz para te impedir? Nada, um grande e redondo nada.

No final desse dia não consegui mais segurar as lágrimas que prendida dentro de mim, a dor estava demasiado forte para conseguir suportar e as lembranças atingiram-me como raios devastadores. O teu sorriso, as tuas manias, os teus elogios e até as formas patéticas com que te declaravas a mim, todas as lembranças em que tu estavas presente me assolaram a alma desfazendo-a em mil pedaços.

Antes de partires, para nunca mais voltares, fizemos uma aposta. Tu dizias que voltarias vivo e eu, bem eu não disse nada mas tu disseste-o por mim, e a minha parte da aposta era que tu nunca mais irias voltar. Irónico não é? Afinal a perdedora sempre fui eu e desta vez por uma estúpida ironia do destino eu ganhei a aposta que mais desejei perder.

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Tsunade subiu até ao alto do edifício do Hokage. Era pôr-do-sol, momento nostálgico, já que a última vez que viu Jiraiya tinha sido nessa mesma situação. Ela dobrou a pequena folha onde momentos antes estivera a escrever atirando-a ao ar para que o vento levasse as suas palavras para um qualquer lugar do mundo como se ele realmente as pudesse ler.