Scott abriu os olhos, a respiração tranquila, no entanto a sua mente estava confusa. Ele não sabia como havia ido dormir, e muito menos como podia ter acordado se ele não sabia que estava dormindo. Ele apenas sabia que o carinho que estava sendo feito em seus cabelos o fazia querer ficar ali para sempre. Scott não queria abrir os olhos, queria apenas sentir.

Ele não sabia se estava adormecido, se estava acordado ou se estava em um meio termo disso.

Finalmente, depois de muito relutar, Scott abriu os olhos, a claridade o cegou por um tempo, estava um dia realmente muito bonito em Beacon Hills, ele pensou que o carinho fosse feito pela sua mãe, como ela sempre fazia nos domingos de manhã, no entanto quando Scott direcionou o olhar para o lado seu mundo parou.

Ver aqueles olhos ainda fazia Scott parar de respirar e sentir aquele famoso calafrio em seu estômago. Ele se sentia como um bobo apaixonado, no entanto, isso era o que ele realmente era.

Scott não se lembrava de nada da noite anterior, apenas sabia que Allison estava ao seu lado, e isso era tudo que ele queria, desde o inicio conturbado daquele ano.

—Por que tanto me olha Scott? – ela pergunta com um sorriso, se afastando um pouco para ver o moreno por inteiro.

—Apenas você – ele diz com certa dor na voz, uma dor que ele desconhecia, no entanto que estava ali, bem no fundo.

Allison sorri um sorriso que fazia todo o brilho daquele amanhecer ficar mais fraco, como se nada daquilo importasse realmente, enquanto Allison estivesse ali, tudo faria sentido. Allison se aproxima de Scott, estranhando a atitude do rapaz, ele parecia sentir algo, como dor, e ela não gostavam disso.

—O que tanto te preocupa? – ela pergunta olhando para os lábios do rapaz que a atraiam como um imã.

Eles estavam entrelaçados, como galhos de uma árvore ou ramos presos em uma videira. Os corpos colados, as respirações em um compasso lento, enquanto um apenas encarava o outro, Scott parecia buscar por respostas em sua mente, porém nenhuma lhe vinha à mente, ele apenas pensava nela.

—Nada – ele diz – Pareço preocupado?

Ela não responde, apenas o toma com seus lábios, enquanto tudo nela se tornava vivo e ardente, um efeito que Scott causava em seu corpo todo, um efeito que deixava Allison viva. Enquanto Scott se sentia nas nuvens, sem os pés no chão, Allison era como um calmante para ele, algo viciante.

Allison era tudo que faltava em Scott, enquanto Scott era tudo que faltava na Allison.

Eles eram uma combinação perfeita em um mundo imperfeito. Algo que é difícil dar certo, algo que é difícil sobreviver em um mundo onde nada bonito floresce por muito tempo. No entanto, os dois floresciam sempre que estavam juntos.

Scott foi tomado por um sentimento, o medo era uma de suas maiores fraquezas, e ele estava com medo. Medo de algo que ele nem mesmo sabia, algo que estava dentro dele, tomando-o por completo. No entanto, naquela manhã esquisita, ele apenas queria a tê-la.

E Scott a teve, de corpo e alma, e Allison o teve de ambos os jeitos também. Eles eram um só naquele momento, naquela cama, naquele lugar.

Scott não sabia ser romântico, e Allison nunca cobrou isso dele, porém, ele sabia que faltava isso, que Allison sentia falta de um gesto romântico. Mas Scott não sabia o que deveria fazer, se deveria colocar café com alguma rosa em uma bandeja e levar-lhe até a cama dela, ou acordá-la com todas as palavras que ele ainda não disse ou tocar seu corpo suavemente apenas para mostrar o que ele sente, ou deveria agir de forma legal como se não fosse grande coisa esse sentimento que rasga e ao mesmo tempo preenche seu peito de uma forma estranha.

Scott olhou Allison, deitada em seus braços, apenas controlando a respiração enquanto sentia o toque de Scott em suas costas, um toque não tão sutil, mas que Allison amava. Cada vez que ele tocava o seu corpo era uma faísca nova, algo novo que se revirava dentro de si. Ela se apaixonava por Scott todos os dias, cada vez mais e mais.

O moreno olhou para o teto e desejou que o tempo congelasse neste momento, em uma moldura e ficasse assim, como uma foto. Ele queria botá-lo no replay e ficar revivendo-o, e por desejar isso vem à tragédia. A vida nunca aceita seus pedidos sem antes te dar uma rasteira.

E Scott sabia que estava destinado a sofrem da mesma forma que ama. E se fosse verdade está maldição, ele tinha medo do que havia por vir.

—Allison – Scott sussurra tomando coragem, não deixaria Allison sem uma resposta para uma pergunta que mesmo sem ser feita Scott sabia que existia. Eles já haviam falado que se amavam Scott mesmo sabia disso. Ele a amava, no entanto, não estava demonstrando isso nos últimos tempos.

—Sim – Allison fala sonolenta se apoiando em seus cotovelos, o sol fazia um contraste com os cabelos negros e os olhos âmbar enquanto iluminavam sua pele branca a deixando ainda mais angelical.

—Você é tão linda – Scott se distrai, passando seus dedos pelos cabelos de Allison a fazendo ficar vermelha, ela sorri mordendo os lábios tocando a mão de Scott e a beijando levemente. Scott sorri e então olha Allison. –Eu te amo – ele murmura – E... E mesmo que eu não diga, eu estou verdadeiramente, loucamente e profundamente apaixonado por você.

Ele diz e Allison suspira, antes tarde do que nunca, a morena pensa sorrindo.

Scott a amava tanto, de alguma forma Allison conseguiu destruir todas as suas barreiras, e então no fim, Allison sempre teria Scott.

Allison se deita novamente e Scott se sente sonolento, ele apenas esperava não ser uma vítima. Ele esperava que ela não se levantasse e fosse embora, podia não significar nada para ela, mas para ele era tudo, ver Allison partindo o destruiria.

No entanto, como se fosse uma pegadinha, Allison suspira e se apoia nos cotovelos novamente.

—Eu preciso ir Scott – ela diz sorrindo.

—Fique – ele pede – Fique mais um pouco.

—Já passou muito tempo, você não concorda? – ela diz – Eu preciso ir, e você precisa deixar.

—Eu não quero.

—Mas você precisa Scott – ela diz sorrindo para ele – Me deixe ir – ela sussurra enquanto passa a mão pelo rosto do amor de sua vida, ela sorri e Scott começa a se sentir ainda mais sonolento, sua visão ficou embaçada, a respiração lenta – Scott – ele ouviu Allison sussurrar.

—Scott— ele acorda em um súbito, seu coração batendo forte, sua respiração ofegante, ele olha para o lado e vê sua mãe.  O dia não estava bonito, estava nublado, feio, diferente do seu dia com Allison. Era tudo um sonho?

No instante em que Scott viu as roupas pretas de sua mãe, e as suas roupas pretas, ele lembrou. Do corpo de Allison colidindo com o seu, com a pele fria em contato com a dele, da sua declaração, de como ele não conseguiu dizer o “eu te amo também”, o quanto ele se sentiu culpado, destruído, tudo veio de uma vez só, deixando Scott sem ar.

Allison estava morta.

Ele se senta enquanto sua mãe bota a mão em seu ombro. Há uma hora havia acontecido o enterro de Allison, ele fez um discurso, ele ainda se lembrava, tudo parecia mais claro naquele momento.

—Eu estou bem – disse Scott – Está tudo bem.

—Tire essa roupa filho – diz Melissa preocupada. – Stiles te ligou.

—E-Eu preciso fazer algo – diz Scott atordoado.

—Filho – Melissa pede, porém Scott não escuta.

—Não irei demorar.

E então Scott vai até a porta.

—Filho, acabamos de voltar do enterro dela – ela diz – É melhor descansar. Allison não gostaria de vê-lo assim.

E Scott nunca pensou que algo poderia doer tanto quando ouvir dela no passado. Seu coração se partiu ainda mais ao ouvir o seu nome.

—Está tudo bem – ele diz as mesmas palavras que Allison disse antes de morrer.

Scott deixa a sua casa, andando pelas ruas de Beacon Hills ainda com um terno, com a expressão vazia, e a visão embaçada. Ele vai direto para o cemitério de Beacon Hills, mesmo tendo estado ali há uma hora, ele sabia que precisava fazer algo.

Ele passa pelas lápides, até que chegar a dela.

Allison Argent

1997-2014

Daughter.

Friend.

Warrior.

Hero.

As palavras estavam escritas na pedra polida, enquanto Scott as lia novamente.

“Because I love you”

Havia um bilhete, o mesmo que ele entregou a ela no primeiro ano, colado por ele próprio. Scott agachou e encarou o tumulo, as flores ainda estavam vivas e bonitas, o clima estava mais leve, no entanto, dentro de Scott era um turbilhão de emoções.

Scott suspirou.

—Você esqueceu a sua caneta – ele sussurra sentindo o famoso nó em sua garganta junto com as lágrimas em seus olhos que já escorriam livres em seu rosto, o céu pareceu protestar, ele queria protestar, Scott deixou a caneta em baixo do bilhete.

Eles haviam começado a história deles com uma caneta, e Scott estava pronto para terminar essa história com uma também.

—Eu te amo tanto Allison – ele sussurra – E... E mesmo que eu não diga, eu estou verdadeiramente, loucamente e profundamente apaixonado por você. – ele repete as palavras de seu sonho cada vez que ele falava era uma dor nova, algo diferente em seu interior. –E eu concordo.

Ele murmura.

—Eu concordo com tudo que disse para mim Allison – Scott diz olhando para a foto dela na lápide – Mas é difícil te deixar, é difícil admitir que uma parte sua esteja indo embora. Por que é isso que somos, Allison. Duas partes de um mesmo coração, duas metades. Mas... – Scott diz fazendo uma pausa para recuperar o folego. –Não se prenda por mim Allison, por favor. – ele diz – Você é a pessoa que eu amo, mas eu estou dizendo adeus.

Ele fala lutando para continuar ali, lutando com sua vontade de fazê-la ficar. Apenas tentando seguir.

—E eu estou fazendo isso porque eu te amo – ele profere as palavras que fizeram o romance deles florescer, agora ele via tudo murchando, tudo se tornando cinzas, as mais belas cinza que já viu – E eu deixo você ir...

"Está tudo bem... Está perfeito, eu estou nos braços do meu primeiro amor. A primeira pessoa que amei. Que sempre irei amar. Eu te amo, Scott. Scott McCall."