Vai escrita por Eric Elgae


Capítulo 1
Capítulo único- Vai


Notas iniciais do capítulo

Hey 0/

Passando só pra deixar essa shot aê...

Sei lá, bateu um fells aí ouvindo Legião urbana- Quando você voltar, aí surgiu essa shot ^^

A classificação é 18, mas não tem nada de sexual na bagaça. To romântico, bobo, sei lá...

Deixarei o link nas notas finais. Vai lá, aperta o play e volta aqui hehe

Boa leitura ^^



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Vai, se você precisa ir
                   Não quero mais brigar esta noite

A taberna do vilarejo estava com as cadeiras para cima. Todos os clientes já haviam ido embora há algum tempo, com exceção do jovem de cabelos loiros e compridos que encarava sua quinta ou sexta dose de uísque.  O dono do local lhe lançou um olhar caridoso ao se aproximar.

—Eu te serviria mais vinte dessas se isso resolvesse alguma coisa, ou se fizesse te sentir melhor. Mas se afogar em bebida não vai resolver nada.

Já trôpego pela quantidade de álcool ingerida, o jovem falou com voz pastosa:

—Nada resolve nada... Então... Pelo menos isso aqui –E ergueu o copo, ingerindo seu conteúdo de uma vez- Isso aqui ajuda a escurecer a vista.

Quando Milo bateu com o copo no balcão, o homem que o servira durante a noite lhe deu um tapinha no ombro.

—E vai te dar uma imensa dor de cabeça amanhã.

—Não sou tão fraco quanto pareço. Aguento uma ressaca.

—Não vai ficar aguentando muito tempo se continuar nesse ritmo. Afinal, não quer me contar o motivo de se entregar tanto a isso?

—Isso?

—A bebida.

—Há...

Milo mirou o balcão que parecia se duplicar e piscou algumas vezes. Por mais bêbado que ficasse, a razão de sua dor estava ali.

Sempre presente, sempre constante.

—Camus...

—Desculpe?

O dono do bar pareceu não entender. Milo sacudiu a mão.

—Na... Nada. Quanto eu... Quanto eu devo?

—Por hoje não pense nisso. Amanhã, durante o dia ouviu bem? Durante o dia você me paga. Nem pense em voltar a beber aqui se não se resolver... Com o que quer que seja.

Milo encarou o homem, com o sangue fervendo nas veias. Será que aquele infeliz sabia quem ele era? Sabia que ele era um guerreiro e poderia com um estalar de dedos acabar com a vida dele e com aquele lugar todo? Oras, quanta presunção. Mas ele estava tão bêbado que achou melhor apenas acenar com a cabeça, e tropeçando a cada dois passos, ele se dirigiu a saída.

Caminhando lentamente, Milo mal notara que o vilarejo de Rodorio estava vazio. O local próximo ao Santuário era o único ponto próximo da morada sagrada dos cavaleiros de ouro, a elite dos guerreiros de Atena na terra, onde eles podiam ir fazer coisas consideradas comuns. Levando bem mais tempo que o habitual, o cavaleiro que vestia uma armadura de ouro que representava a constelação de Escorpião chegou a entrada do Santuário e ali tombou, irritado e semi consciente.

“A culpa é toda sua... Seu idiota!”

Mais um dia, mais uma vez, ele se desentendera com um dos outros guerreiros, o cavaleiro de Aquário. Camus era um rapaz magro e forte, ruivo e extremamente polido e reservado. O oposto de Milo, que era musculoso, sem exageros, moreno e muito mais falante e extrovertido. Até inconveniente as vezes.

Ninguém conseguia entender como aqueles dois conseguiam se relacionar. Eram os amigos mais ímpares possíveis. E mesmo assim percebia-se apenas com um olhar o quanto se gostavam.

Gostar seria menosprezar em demasia a situação.

Se amavam. Muito.

Mas Camus não parecia corresponder aos sentimentos de Milo. Mais uma vez, por isso, eles brigaram.

“Se você não fosse tão idiota... Camus seu...”

Milo tentou se levantar, mas não conseguiu. Flashes da lembrança de poucos dias antes espocavam diante dos seus olhos.

—- --

—Mas Camus...

—Milo, não insista com isso. Já disse que é impossível.

Impossível. Aquela palavra dilacerava seu coração com muito mais poder do que o aquariano imaginava. Milo teimou.

—Camus, por Atena. Eu já disse, é só uma saída simples. O que tem de mais?

O francês ruivo se impacientou.

—Tem que se eu te acompanhar, você vai ter esperanças. Esperanças que não são nem nunca serão reais. Quando vai entender, Milo?

Ele mirou o grego nos olhos.

—Nós não podemos ficar juntos. É simples.

Milo ficou vermelho.

—Eu já entendi isso. Estou chamando meu amigo para beber comigo. É demais pedir isso?

—Não se faça de bobo. Sabe que eu detesto ambientes como os que você frequenta. Se quer beber, chame os outros, oras.

Milo crispou as mãos, baixando os olhos. O escorpiano falou em voz baixa:

—Então nem meu amigo se considera mais?

—Há, basta Milo! Me deixe em paz.

Camus se virou e saiu dando as costas para Milo, que não conseguiu se conter:

—Vai então. Vai embora, seu maldito covarde. Mentiroso. Hipócrita.

—Não me chame de hipócrita Milo! –Camus vociferou demonstrando irritação na voz quando parou sem se virar.

—Hipócrita sim. Nega que se sente como eu. Nega que me ama. Nega que nasceu pra ser meu.

Camus se virou, os olhos faiscando de raiva. Aproximou-se com uma expressão tão feroz que Milo se assustou.

—Eu não sou um troféu pra ser seu. Eu sou uma pessoa. Não vou entrar pra sua coleção de conquistas pra ser mais um. E não estou negando nada. Quando vai entender que eu não quero NADA com você?

Milo sentiu a vista turva, mas se segurou para não derramar uma lágrima sequer, e teimosamente falou:

—Quer sim. Você me ama que eu sei.

—ARGH! QUE CASTIGO AMALDIÇOADO, POR ATENA!

Camus ergueu as mãos e se virou uma vez mais, se afastando do loiro.

—Camus, volta aqui.

—Vá pro inferno, Milo.

—Camus, se você não voltar aqui eu não falo mais com você.

—NÃO FALE! NÃO ENTENDEU AINDA QUE É EXATAMENTE ISSO QUE EU QUERO?

—Camus...

—Eu vou sair por aquela porta, por que eu estou CHEIO de brigar com você. Cheio por hoje. Cheio pro resto da vida. Faça um favor e suma. Por que, ouça bem...

Foi a última vez que eles se encararam em dias.

—Eu não quero mais brigar com você. Nem conversar. Nem te ver, se der. Céus, como sinto falta da Sibéria...

Camus saiu, deixando Milo irritado e magoado como nunca antes em toda a vida.


Nossas acusações infantis
E palavras mordazes que machucam tanto

—Isso não pode continuar assim Camus.

Camus encontrava-se na biblioteca do Santuário. Estava tentando se concentrar em algo quando foi interrompido por um de seus vizinhos.

—Desculpe?

—Essa situação entre você e Milo. Não pode continuar assim.

Franzindo o cenho, Camus virou-se e deu de cara com o cavaleiro protegido  pela constelação de Capricórnio. O rapaz de cabelos negros e curtos, olhos amendoados e expressão soturna e introspectiva o mirava com vivacidade.

—Do que está falando?

—Camus, por Atena... Me ouça bem pois não vou tornar a falar sobre isso. Principalmente por que é um assunto que não me diz respeito.

Camus empertigou-se. Sabia que eventualmente iriam vir falar com ele como se ele tivesse culpa de algo. Será que não entendiam que ele era a vítima?

—Shura, entre eu e Milo...

—Entre você e Milo há algo mais do que mal resolvido. E isso está insustentável. Se apenas afetasse vocês, tudo bem, poderia ser algo a deixar de lado... Mas não. Todo o Santuário está envolvido, e honestamente, vocês já deveriam ter parado com isso há muito tempo.

Camus ficou vermelho. Quase da mesma cor de seus cabelos.

—Shu...

—Não me interrompa. Camus, você é mais racional. Eu te conheço bem meu amigo. Pense comigo: Milo é declarada e perdidamente apaixonado por você. Isso é algo que existe desde sempre, não adianta negar. E por mais que você não tenha percebido isso, você também o ama. Ainda que seu jeito seja e muito diferente do dele de expressar... Você o ama.

Camus sentiu o rosto esquentar.

—Eu...

—Ele está se destruindo. Sua recusa em abraçar o amor que ele te oferece mata um pouco dele a cada dia. O que falta para vocês ficarem juntos de uma vez, afinal?

O francês virou o rosto.

—Isso não lhe diz respeito.

Shura ignorou a grosseria. Estava acostumado com o jeito de Camus.

—Camus, enquanto não me der um bom motivo, não sairei daqui. Se você e Milo não se acertarem, seja ficando juntos ou não, todos os outros são prejudicados. Portanto basta, é hora de resolver isso.  Apenas me diga o que dificulta vocês de darem um ponto final nessa situação e...

—Ele não me ama, Shura. Mas que inferno, para Milo eu sou apenas um objeto de desejo. Um prêmio, uma recompensa. Um troféu a ser exibido para que ele se pavoneie por aí dizendo que conseguiu baixar até mesmo minha guarda. Acha mesmo que eu me submeteria a isso?

Shura piscou incrédulo com o que ouvia.

—Camus... É isso que pensa de Milo? Acha mesmo que ele quer apenas... Usar você?

—Mas isso é nítido. Todo mundo conhece a fama dele. Não, eu não serei mais um. E muito menos mais um de um homem.

—Camus... Estou desapontado.

Shura se levantou e Camus o encarou confuso e assustado.

—Desapontado?

—Se você, que conhece Milo... Ou acha que conhece, melhor do que ninguém, pensa isso dele... É tolice continuar essa conversa. É melhor tentar fazer Milo desistir de você de uma vez por todas.

—Co... Como assim?

—Se você não tem maturidade para reconhecer os sentimentos de Milo, mesmo estando ao lado dele... É besteira perder meu tempo tentando conversar com você. Olha, vou ser direto então: afaste-se definitivamente de Milo. Encerre essa amizade. Se algum dia você gostou dele, termine qualquer relacionamento que possam ter. Você faz mais mal a ele do que bem.

Shura virou-se e saiu, deixando um Camus perplexo para trás.

Não vão levar a nada, como sempre


             Foi depois daquela conversa com Shura que Camus e Milo discutiram e desde então se afastaram. Mas na realidade, a única coisa que aconteceu foi que eles mergulharam em um silêncio dolorido, mascarado por mentiras de estarem bem e uma sobrevivência vazia e sem graça.

Milo buscou refúgio em bebidas, farras, festas, leitos de pessoas estranhas: não importava se eram homens ou mulheres, contanto que por um segundo conseguissem tirar de sua cabeça a imagem que o perseguia e assombrava.

A imagem de um ruivo que sorria para ele com doçura e vergonha. Um ruivo de cabelos longos, pele alva e modos finos, que simplesmente o atraia como imã a geladeira.

Mas isso de nada valeu.

Quanto mais tentava se afastar, mais ele se sentia desesperadamente tomado de amor.

Camus por sua vez tentava distrair-se estudando, bolando táticas, distribuindo ideias sobre aplicação de golpes, métodos de treino... Mas em todos os lugares via Milo, enxergava Milo, pensava em Milo...

Tentara fugir. Tentara negar. Tentara esquecer.

Mas era inútil. Não chegava ao lugar que queria e nem ao que não queria.

Os dois não chegavam a lugar nenhum.


Vai, clareia um pouco a cabeça
Já que você não quer conversar.

O Santuário dormia em paz. Não havia nenhum sinal de movimento, nenhum indício da menor atividade que fosse. Camus voltava da praia naquela hora. Desistira de ficar na biblioteca. O calor do dia o incomodava, e ele decidiu se refrescar em uma das praias próximas ao Santuário. Enquanto nadava, deixou-se perder nas lembranças dele com Milo.

Era fato que Milo chegara onde ninguém antes sequer imaginava ser possível. Ele descortinara o coração de Camus com sua simplicidade, teimosia e sinceridade. Milo questionava Camus diretamente como ninguém ousava fazer. E mesmo com todas as grosserias, com toda a frieza, com toda a indiferença que Camus lhe dispensava, Milo estava sempre ali, em volta dele, presente e insistente.

Quando tudo acontecera? Ele não saberia dizer. Mas em uma troca de olhares ele percebeu que o estrago estava feito.

Quando Milo o encarou, os olhos azuis cintilando, o sorriso largo e genuíno, Camus sentiu um calor se espalhando pelo peito. E a certeza que tentava evitar encarar a todo custo o abraçou com toda a força.

Ele amava Milo. E era amado por ele.

—Céus...

Voltou nadando para a praia. Sentou-se na areia e ali permaneceu até que a noite caísse. Apenas a lua refletia nas águas negras, apesar do céu estar pontilhado de estrelas.

Camus pela primeira vez encarou seus sentimentos.

E não gostou do que vira.

Confuso e irritado, ele voltou ao Santuário. E qual não foi sua surpresa ao sentir o cosmo de Milo por perto.

Imóvel e estranhamente oscilante.


Já brigamos tanto
Mas não vale a pena

Camus se esqueceu por um instante das brigas e do rompimento, e se encaminhou apressadamente até onde sentira o cosmo de Milo, instável e perturbado. Na entrada do Santuário se deparou com o corpo moreno do cavaleiro, pateticamente caído no chão. Algo dentro de si se agitou.

Caminhando com pressa, ele se aproximou e se abaixou ao lado do escorpiano.

Parecia que ele não trocava de roupas há dias. Estava com o rosto belo marcado por olheiras fundas que Camus nunca presenciara antes. Parecia mais magro, e o cabelo estava sem brilho, embaraçado e desgrenhado.

—Milo...

Ao ouvir seu nome sendo chamado, Milo abriu os olhos devagar e achou que estava tendo uma alucinação.

—Ca... Camus?

—Milo... O que houve? Por que está desse jeito?

Com raiva, julgando ser um sonho, o grego respondeu com voz irritada:

—Por que me olha assim? Como se eu fosse um miserável? Saiba que eu não sou viu? E se fosse...

Milo tentou se levantar, mas o mais longe que conseguiu ir foi se colocando de quatro. Camus o observava com um aperto no peito.

—Se fosse, seria culpa sua. Só uma pessoa no universo pode me ferir. E você sabe que é você, seu filho da puta.

Milo esforçava-se para se colocar em pé, mas dias seguidos de bebedeira, má alimentação, sono ruim e curto cobraram sua conta. Camus percebeu que teria que ajudá-lo.

—Milo... Deixa eu te ajudar...

O escorpiano deu um tapa fraco na mão de Camus.

—Sai. Me deixa, não quero ajuda de alguém que não acredita em mim. Me deixa, se for pra morrer, me deixa morrer, ouviu bem?

—Mi... Milo, pare de falar besteiras. Você está bêbado e precisa de cuidados. Venha, eu vou cuidar de você.

—Não... Eu não quero...

Camus ignorou as lamúrias de Milo. Passando um braço pelas costas do grego, ele o forçou a se levantar. Milo não se sustentava em pé.

—Eu vou ter que te carregar pelo visto.

—Camus... Você nunca vai me ouvir? Não adianta eu falar, você nunca me ouve... Me deixa em paz... Uma vez na vida, me deixa... Me deixa viver sem você...

Camus ficou quieto e jogou Milo nas costas. Não adiantava falar com ele naquele estado. E Milo ficou quieto, decidiu que não adiantava falar com Camus, eles sempre faria o contrário do que ele pedia.

Na cabeça de Milo, aquilo era um maldito sonho. Estava sendo carregado por Camus, o rosto enfiado em seu ombro, o nariz enterrado na cabeleira vermelha. As mãos do francês cruzadas sustentavam suas nádegas, e ele podia sentir o calor dele... O cheiro suave e fresco que só Camus tinha...

—Por que... Por que eu fui amar você...  
 

Vou ficar aqui, com um bom livro ou com a TV
     Sei que existe alguma coisa incomodando você

Camus seguiu até a casa de Escorpião, com Milo desfalecido as suas costas. A subida não foi fácil, não tanto pelo esforço, mas muito mais pelas palavras de Milo.

Questionando o mesmo que ele.

Por que foram se amar?

Ao chegar na oitava mansão zodiacal, Camus vasculhou o local, mas não havia ninguém para ajudá-los ou servi-los. Teria que fazer tudo sozinho.

Pousou Milo em uma poltrona e foi até o banheiro. Com alívio verificou que havia ali um chuveiro, evitando assim que ele precisasse esquentar água. Mais uma vez, pegou Milo nos braços e o levou ao banheiro. Sem encontrar resistência, o despiu, forçando-se a ignorar o estado deplorável em que o rapaz se encontrava.

—Milo...

Abriu o chuveiro e meteu o rapaz ali. Milo não se mantinha em pé, ele não viu outra saída a não ser banhá-lo.

Tirando a própria roupa e ficando completamente nu, o francês entrou no espaço pequeno da banheira e pegou o sabonete que ali havia. Com cuidado, massageou toda a extensão do corpo do escorpiano, fazendo questão de esfregá-lo bem. Milo resmungava vez ou outra, mas não acordou. Valendo-se disso, Camus fez a higiene total do amigo, ainda que sentisse o rosto esquentar fortemente ao ter que tocar a intimidade do escorpiano. Mas o sentimento de angústia falou mais alto, pois Milo estava realmente mais magro, a pele e o cabelo sem brilho, maltratados...

Camus não queria aceitar que a culpa de Milo se encontrar daquele jeito era dele, mas não havia jeito. Era nítido.

Os cabelos ainda encontravam-se em verdadeiro caos. Com muita paciência, Camus lavou e depois desembaraçou as madeixas cacheadas do loiro. Milo resmungou durante o processo, se debateu, mas logo se aquietou, exausto. Camus após se dar por satisfeito, pegou uma toalha e o secou com calma e gentileza. Carregando-o mais uma vez, ele o pousou na cama grande, coberta com um jogo de cama completo na cor marrom. Observou-o por alguns minutos e decidiu que não podia deixá-lo sozinho.

—Não é apenas poder deixá-lo. Eu não quero deixar você sozinho...

Milo nada disse, e dessa vez parecera cair em profundo sono. Camus pegou uma calça e uma camiseta no armário e vestiu-se. Iria velar o sono de Milo, e quando ele acordasse...

Resolveria aquilo de uma vez por todas. Ficou mirando o sono agitado do escorpiano até o momento em que ele se acalmou, e Camus permitiu-se descansar um pouco.


Meu amor, cuidado na estrada
E quando você voltar

Milo teve um sonho confuso e estranho. A pior parte foi sonhar que Camus cuidava dele. Camus o carregara, Camus o despira e Camus o banhara...

Só poderia ser sonho mesmo.

Camus, a razão do seu afeto. Camus, seu melhor amigo e amor de toda a vida. Camus, seu amor platônico...

Jamais faria aquilo.

Abrindo os olhos, ele mirou o teto do seu quarto. Estranhou, sua última lembrança era do balcão de um bar. Ou do chão de paralelepípedo do Santuário? Ou do céu escuro?

—Bebi demais mesmo...

Súbito, assustou-se quando uma voz grave e indiferente chamou sua atenção:

—Acordou? Como se sente?

Sentindo o coração disparar, Milo virou-se e deu de cara com Camus, vestindo uma camiseta branca sua.

—Camus?

—Sim?

—O que... Por que...

Camus sorriu, e isso preocupou Milo mais ainda.

—Acho que precisamos conversar, mas antes de tudo você precisa comer alguma coisa. Daqui pra frente vou ter que vigiar você, pelo jeito.

Ok, definitivamente Milo estava delirando. Pelo menos era isso que achava naquele momento.

—Vista uma roupa, vou buscar algo. E fique na cama, ainda está muito fraco.

Achando que era uma ilusão, ou um ataque inimigo, Milo resolveu concordar para avaliar a situação. Quando Camus saiu do quarto, ele se vestiu, sentindo-se tonto. Ficou aguardando, e por volta de vinte minutos depois, Camus retornou com uma bandeja nas mãos.

—Pronto. Agora coma. E não deixe nada sobrar, está bem?

Milo mirou desconfiado a bandeja.

—O que...

—Café da manhã. Se bem que pelo horário deveria ser almoço já. Coma.

Sem saber como agir, Milo começou a mastigar um pedaço de pão. Encarava Camus, que mordia uma maça pequena.

—Tudo bem?

—Tudo. É... O que...

—Você exagerou na bebida. Te encontrei ontem e resolvi cuidar de você.

—Há... Sim...

Da desconfiança Milo passou a tristeza. Irritava-o profundamente ter ficado tão vulnerável a ponto de ter que ser carregado por Camus. Pior ainda, saber que o outro que claramente o desprezara nos últimos dias fora quem cuidara de si.

—Então você... Me carregou mesmo?

—Sim.

—E... Me deu... Banho?

—E vigiei seu sono.

Milo sentia o rosto em brasa. Não conseguiu refrear a língua. Como Camus esperava que fizesse.

—Por quê?

—Por que não poderia deixar você naquele estado. Por que eu finalmente entendi uma coisa e por mais que seja difícil pra mim... Oras Milo.

Camus o encarou. Parecia travar uma batalha interna e quando proferiu as palavras seguintes, foi com mais emoção do que o planejado.

—Milo, eu amo você. Não posso mais fingir que consigo lidar com isso te ignorando ou afastando. Eu só não disse nada antes por medo.

Tranque o portão

—Medo?

—Medo. Eu tenho medo de ser apenas uma conquista. Eu...

Camus se calou, rubro e nervoso, mirando a bandeja. Milo sentiu que o ar lhe faltava.

No momento mais inoportuno Camus realizara seu maior sonho. Ele ainda ouvia o “Eu amo você”. Só ouvia isso na verdade.

—Camus...

—Olha, eu... Se você ainda quiser... Eu quero... Sabe...

Milo sentiu a vista ficar embaçada.

—Milo? O que... O que foi?

O escorpiano se levantou de súbito e jogou os braços em volta do pescoço de Camus. Não conseguiu refrear a emoção.

—Não sabe como eu esperei por isso...

—Mi... Milo... Então você...

Milo se afastou e encarou os olhos de Camus com alegria e doçura.

—Podemos... Esquecer tudo que falamos nos últimos tempos? Deixar isso no passado, trancar essa porta e jogar a chave fora?
 

Feche as janelas

—Você... Me perdoa?

—Perdoar? Por que eu teria que te perdoar?

—Por ter... Demorado tanto pra aceitar essa realidade.

Camus estava se esforçando além do impossível para falar aquelas palavras. Milo sentiu-se estranhamente aquecido.

—Camus... O que me importa é que você me ama. E eu te amo, céus, como eu te amo.

Os dois se encaravam, esquecidos por um momento do tempo, da vida ao redor, de tudo que havia. Encostaram as testas e sorriram, Camus segurando nos braços de Milo.

—Então...

—Eu te perdoo. Se você me perdoar também por forçar tanta coisa, por ser tão...

—Não faça isso. Não se culpe, por nada. Você só foi uma vítima. E eu sei que a maior culpa, se há algum culpado nessa história, é minha.

—Podemos só esquecer isso?

—Se você me ajudar...

Desfazendo o enlace, Camus tirou a bandeja da cama e voltou a encarar Milo. Levou a mão ao cabelo loiro do amante e com os dedos começou a brincar com seus cachos.

—O que está fazendo?

—Algo que sempre tive vontade, mas nunca tive coragem. E bem, não sei bem o que fazer agora, sabe...

Milo sorriu maliciosamente.

—Não sabe?

—Não...

Milo se levantou, trancou a porta do quarto, puxou as cortinas após fechar as janelas, deixando o quarto na penumbra. O sol ainda brilhava lá fora, mas não iria testemunhar o que os dois iriam fazer.

Não naquela tarde.
 

Apague a luz
 

—Milo... O que pretende...

—Fazer algo que sempre tive vontade mas nunca tive chance.

—Mi... Não sei se...

O escorpiano sorriu e se deitou. Fez um sinal para que Camus se aproximasse. Nervoso, o ruivo deitou-se ao lado de Milo, cruzou as mãos no peito e mirou o teto.

—Então...

Milo surpreendeu o francês ao se colocar em cima dele. Camus arregalou os olhos.

—Milo, o que... Não quero...

—Confia em mim, Camus?

—Eu...

Aqueles olhos azuis eram curiosos. Ansiosos.

Mas expressavam claramente o que se passava na cabeça do grego.

Sentindo o peso do corpo de Milo em cima de si, Camus relaxou e respondeu, sentindo-se em paz pela primeira vez em muito tempo:

—Confio em você Milo.

—Então fecha os olhos.

Engolindo em seco, Camus fechou os olhos. Aguardou por alguns segundos e então sentiu um toque em seu rosto.

Milo acarinhava sua face com gentileza. Seus dedos percorriam sua testa, seu nariz, seus lábios, o contorno do maxilar... Parecia que Milo queria sentir cada pedaço do rosto de Camus com as mãos.

Quando as duas mãos se colocaram ao lado do seu rosto, Camus suspirou. Sentia o calor de Milo, a proximidade diminuindo cada vez mais e quando deu por si...

E saiba que te amo

O beijo tinha gosto de paraíso. De lar. De porto seguro.

A boca de Milo tocava a sua de maneira gentil e carinhosa, ainda que seu desejo fosse de invadir a boca (e o corpo) do aquariano em um arroubo intenso e voraz. Milo gentilmente experimentou os lábios de Camus, e com infinito prazer teve a certeza de que valera a pena toda a espera. Quando ia se afastar, sentiu que Camus erguera o rosto e procurara sua boca, retribuindo o toque e indo um pouco além ao entreabrir os lábios, lhe permitindo a passagem da língua.

Perdidos no delírio do primeiro beijo, eles permaneceram ali por minutos sem fim, horas, dias, meses, anos, vidas.

Por que se perder na pessoa que você ama é se encontrar.

—Milo...

—Hum?

Roçavam delicadamente o rosto um no outro.

—Eu te amo.

—Eu também te amo. Sabe disso, não sabe Camus?

Não havia necessidade de resposta.


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Notas finais do capítulo


https://www.youtube.com/watch?v=m8VUrrHidEw

Aí o link.

Espero que tenham gostado, quem puder opinar faz um autor feliz haha. Posso demorar, mas respondo sempre viu?

Beijão e obrigado pela paciência e companhia. Até uma próxima



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