A Médica e o Monstro escrita por Ragnar


Capítulo 6
VI


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo contém um pouco de nudez, mas não aquele tipo de cena :v eu espero que gostem, de verdade. E avisando que esse é penúltimo cap.



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Sentir-se segura e quente, envolvida por um abraço e cercada da compreensão de alguém. Hanzo Shimada era um ser místico, um yokai antigo oriental, sábio com seus erros e que buscou a redenção que tanto alcançou, mas Angela era a milenar bruxa da floresta verde, lendária em seus feitos e maldições, das incontáveis vidas que salvou com as que não conseguiu salvar, algumas causadas por consequência de seu atos e outras que conheceu em seu caminho. 

O pressentimento dela não deixava de crescer, a consumia como a séculos passados quando viu seu antigo amor perder a vida, envelhecendo ao seu lado e a motivando a imortalidade do ser humano, mas ao ter falhado, buscar o renascimento para o eterno em vida. Foi assim que cresceu e acabou sozinha, mas não mais. 

Não apenas foi beijada ternamente, foi laçada pela cintura de encontro ao corpo do yokai, envolvida por aquele homem e cercando seus braços no pescoço desse, separando-se para buscar o ar necessário e sentir com mais intensidade as perguntas vindo a sua cabeça. Ela não podia, acabaria o colocando em risco com o seu passado e não gostaria que acontecesse algo, não depois daquilo. 

Um suspiro e os olhos ainda fechados, Angela queria que a sensação de algo ruim fosse embora, mas ela ainda persistia junto do crescente sentimento por Hanzo. 

Vacilante, suas mãos foram afastadas por ela mesma e ainda tocada pelo momento, se distanciou, tendo o olhar branco a fitando e a mão dele a toca com carinho seu rosto, a outra deixando a cintura de Angela. Ele pareceu ver a dor em seu olhar e se afastou também, não argumentou, apenas deixou Angela partir depois do beijo cálido.  

O amuleto ficava em suas mãos a cada noite, o usava quando presente em casa e o mantinha próximo ao fazer as poucas entregas de poções, mas a verdade era que Angela não poderia vê-lo, mesmo que o amuleto mostrasse que ela queria o contrário.  Ele não a procurou, Hanzo não se manteve por perto e por uma semana foi o suficiente para ela não aguentar, pois sempre lembrava da boca dele com a sua. 

Uma semana e ela o encontrou no vilarejo com Genji, e com a troca de olhares não a segurou e a ele também não, pois ela o esperou em um lugar menos movimentado, em um canto mais afastado e que conseguiram não serem julgados, ela por ser uma bruxa e ele um monstro. E ele a tocou novamente para dar a certeza de que ela não conseguia por tanto tempo manter uma linha tênue de bom senso e ela tinha de parar. 

Seu chapéu caiu de bruxa caiu no processo, sendo cercada pelo outro enquanto era beijada com paixão, mas não se tinha a malicia por estarem carentes um do outro, presos ao medo e mesmo assim, conseguiam se manter firmes, mas não resistiam quando voltavam a se encarar.  

— Isso é uma simples paixão... — Ela murmurou para ele, os olhos fechados e contendo um suspiro com a mão que a segurava na cintura e a outra que acariciava seu rosto — Não é certo... 

— Se for errado, não quero estar certo então... — Lhe respondeu roucamente, beijando a bochecha de Angela — Por favor, gostaria de entende-la, me diga o que a atormenta — Pediu e Angela suspirou em derrota. 

— Não é fácil como aparenta ser, não quero arriscar me envolver novamente, deixa-lo ficar tão perto e sofrer com o meu passado — Contou, olhando para qualquer canto escuro a sua volta, mas seu queixo sendo erguido para olhar para Hanzo. 

— Você me ajudou tanto que agora se recusa a ter ajuda... Angela, você deve perdoar a si mesma — Aconselhou — Mas estou aqui e você também — Argumentou e ela riu brevemente com aquilo — Por favor... Deixe-me ajuda-la — Pediu. 

Ela não recusou, mas também não respondeu em concordância, apenas o puxou novamente para beija-la, sentindo a língua desse tocar a sua e chupar seu lábio inferior. Suas mãos tocaram o ombros do outro, não se incomodando com a diferença  de tamanho de ambos. 

— Eu gostaria de leva-la a um lugar... — Falou, o rosto próximo do pescoço de Angela e num sussurro rouco, ela estremeceu, sentindo um arrepio subir seu corpo — Viria comigo?  

Ela queria mais do que tudo deixar aquela sensação de algo ruim para trás, mas não gostaria de deixar-se envolver mais do que estava. Por todos os deuses, ela o beijou e não se envergonhava de admitir em bom tom, faria novamente se caso tivesse retardado sua resposta. 

Concordando, Angela o seguiu até a saída do vilarejo, encontrando com Genji no caminho que não poupou um sorriso para ambos, apenas pediu para que não se perdessem e que não fizessem nada do que ele faria. Angela precisou de meio segundo para entender as palavras do shinigami e sentir seu rosto esquentar por conta disso. 

Aquela noite Angela nunca poderia esquecer, lembraria com dor e um aperto no coração, mas com a sensação de que fez algo certo, de que nunca se arrependeria. De tudo que viveu e viveria ainda mais, ela não esperava por aquilo e que aquela noite a marcaria, que a faria seguir em frente. 

O campo florido de Vergesslichkeit, o campo do esquecimento e abandonado pelo homem. Para os antigos aldeões das vilas vizinhas, aquele lugar de tão tranquilo que aparentava guardar almas de pessoas atormentadas pelo esquecimento, pelo abandono e por não terem paz e seguir a luz, era um campo onde cada flor que desabrochava e mostrava suas cores, era uma flor que soltava as dores de alguém que estava atormentado, mas não se lembrava o porque. 

Hanzo já mostrou sua confiança para ela quando cedeu em contar seu passado, sua origem como yokai e como se tornou um, lhe deu o amuleto e se desculpou pelo estado desse sendo que não era necessário, mas por quê? Essa pergunta rondou a cabeça dela por um tempo, se indagava pela atração dele por ela, se não seria apenas uma maneira de retribuir o que fez por ele e o irmão, mas todas as teorias caíram por ladeira a baixo naquela noite.  

Abraçada a ele e com a luz da lua sobre ambos, parecia que o silêncio não os incomodava, o campo a frente deles era tão calmo e apenas o barulho noturno perpetuava. O som da respiração de Hanzo enquanto Angela tinha sua cabeça apoiada em seu peito, era suave enquanto ele falava, seu peito subia quando falava com ela, suas mãos a envolviam e a voz era rouca num murmuro para apenas ela ouvir.  

Beijava sua têmpora com ternura, acariciando o braço nu dela e repetindo uma frase em japonês que ela não conseguiu entender, mas buscaria um dia perguntar, teria tempo para isso, pois ele não era seu inimigo, não mais. 

A semana que mais se passou parecia longa, Hanzo era mais presente e estava ao lado dela quando o chamava, seu conhecimento foi tão útil para o pedido de poções dela que o mesmo riu quando ela lhe contou, a beijando em seguida e ignorando com um sorriso o resmungo dela por tê-la beijado enquanto poderia explodir sem querer a cozinha.  

Esses dias se passaram para então lembra-la o pior do seu passado, como o recado do rei Reinhardt em um corvo durante a noite e no momento em que constrangedoramente foi apenas corvo que viu, ambos deitados sobre a cama e com o ralhar do pássaro os dois pararam o que faziam, o cabelo loiro bagunçado e parte de sua roupa expondo seus seios, resmungando quando ele parou de toca-la e a chamou num sussurro em sua orelha, dando a atenção ao corvo com o recado do rei. 

Recolocando a roupa, mas não arrumando seu cabelo, ela selou um beijo rápido no lábios de Hanzo antes de se afastar e pegar o papel e sentir não raiva e sim medo, ela estava sendo ameaçada a da a pedra azul, coisa que ela não faria. Amassou o papel e xingou o rei em alemão, mas deixando de resmungar quando sentiu as mãos do outro repousarem em seus ombros, como se o medo se esvaísse devagar, mas deixasse a preocupação em si. 

Era clara a ameaça, mandaria pessoas invadir a casa da sua amiga e ele a referiu como possuída, que destruiria a casa e chamaria até mesmo o fantasma do Dr. Junkenstein, chamaria até mesmo o Pumpkin Reaper se necessário, mas Angela sabia que seu antigo parceiro não o faria por conta do Imortal Soldier, o marido provavelmente nem o faria pensar na possibilidade. 

Mas qual era o fascínio dele com a pedra? O artefato apenas trazia os mortos de volta e os deixava imortais, não livrava ninguém de maldições ou muito menos de enfermarias. Deveria ser algo muito grave ou ele não confiava o poder da pedra em Angela, mas ela não se deixaria enganar novamente, não com aquele rei amargurado e frio, literalmente.  

Então o corvo voltou a voar sem ao menos levar uma resposta, provavelmente aquilo poderia atrair a atenção do rei, Angela sempre o respondia com alguma ofensa que soava semelhante a uma maldição, mas não iria terminar sua noite. 

— Esqueça ele... — Hanzo lhe falou, beijando o ombro dela delicadamente — Ele não vai ousar encostar em você, é poderosa demais para ser ameaçada — Comentou, num sussurro que a fez arrepiar. 

— Não é apenas por mim que temo, tenho vários a minha volta que ele pode ameaçar, mas sendo que ele não tem nenhum seguidor, ninguém seguiria um rei louco — Comentou com a voz baixa — Deveria se afastar de mim enquanto tem tempo — Sugeriu, rindo com o franzir de cenho de Hanzo. 

— É um risco que terei que correr, mas não me importo, não vou conseguir esquecer a poucos minutos atrás o que fizemos — Falou e Angela sorriu fracamente, mas envergonhada — É tão linda quanto pensei que fosse... — Sussurrou, beijando o pescoço dela para então subir e lhe beijar os lábios. 

No raiar do dia seguinte ela decidiu então conversar de forma pacifica com o rei, mesmo que fosse um armadilha, não iria dar o gostinho para ele de se divertir com o medo alheio dos outros, além do mais, ela não estaria sozinha, soube ainda cedo por Imortal Soldier o recado do corvo voltado ao Pumpkin Reaper e quase o deixou novamente pela nona vez aquele século. 

Eles a acompanharam pelo caminho e não falaram nada, ela os conhecia bastante para saber que não valeria a pena falar algo, tanto que Hanzo a acompanhou e a aconselhou antes de sair de casa e tentar até mesmo fazer Pharah de dialogar com Angela, mas as únicas palavras dela foram. 

— Ele que tente me matar, pois serei eu a ser uma alma atormentada e ferrar com a maldição dele. 

Pelas palavras dela, Hanzo não se colocou em seu caminho, mas a acompanhou. Abrindo as portas do enorme castelo, quase não haviam guardas ali e sua entrada não foi precisa para ser anunciada, o rei Reinhardt já a esperava, mas não aos outros ao seu lado. 

— Vejo que tem coragem de me desafiar novamente, bruxa — O rei falou com escárnio, o seu antigo martelo carregado e apoiado em seu ombro, talvez para intimida-la — Diga-me, você é corajosa? — Perguntou, zombando dela e Hanzo se colocou a frente, mas Angela o impediu de continuar. 

— Não — Respondeu, séria — Mas eu continuo viva — Ergueu o queixo, o olhando com desprezo. 

— Não vai mesmo me dar a pedra? — Perguntou uma última vez — Que seja assim! — Declarou antes de partir para cima dela. 

Um rugido familiar soou pelo lugar e Angela congelou depois de desviar do ataque e pular sobre sua vassoura, voando sobre o salão inteiro e vendo o mesmo monstro verde de antes do antigo vilarejo, mas com raizes vermelhas e uma protuberância em seu ombro, a mesma praga que deu falta e que se preocupou. 

— V-você... — A criatura tentou falar, atacando cegamente para se defender dos ataques de Pumpkin Reaper e Imortal Soldier — Você ri como Deus! — Berrou, apontando com um gancho para Angela e   atirou a corrente de gancho, conseguindo puxar Angela para o baixo. 

A queda a deixou atordoada e sentindo a dor em seu corpo, mas aquilo não importava, o que a preocupava é que ela já tinha ouvido aquilo e sentiu o pânico, agora a ameaça fazia sentido, ele nem precisou chamar, ele já o fez e ali estava o Dr. Junkenstein, com a ajuda da praga tinha possuído o corpo da própria criação, não era normal, não era parecido com a Pharah que controlou a forma possuída e estava viva, possuir algo morto ou que nunca foi vivo era algo contra tudo que ela estudou. 

A criatura possuída até tentou avançar em sua direção e Angela cansada daquilo usou sua magia para levitar seu relicário e sentir seu poder lhe rodar, sua aura pesando para então lançar um dos feitiços de magia negra do relicário sobre a criatura, essa sendo presa dos braços e também nos pés, não conseguindo se soltar, mas se debatendo e causando um esforço maior para Angela, fazendo o nariz dela sangrar e proferir cada palavra do relicário para prende-lo. 

Aquele não era o feitiço, a criatura foi consumida por um fogo verde, o queimando e destruindo parcialmente a praga, essa que caiu e se contorceu no chão, levando tiros da arma do Imortal Soldier. Não teve tempo dela comemorar ao sentir sua magia esvaecer pelo feitiço, foi jogada ao chão e puxada para se levantar ao ver que agora o rei Reinhardt tentava ataca-la, mas novamente seus amigos tentavam atordoa-lo como fizeram a criatura. 

Angela se sentia tonta, fraca pela magia usada, sendo sustentada por Hanzo e o afastando, usando sua magia para retardar o rei, mas parecia não surtir efeito, nem mesmo no martelo o que a frustrou. 

Mesmo que ele não fosse derrotado por eles, o povo da aldeia o tiraria do poder ou faria outra vila longe dali, mas era arriscado demais deixar alguém que se aliou a um louco amaldiçoado andando entre todos, por isso Angela viu em seu próprio olhar a busca de redenção por todos os seus erros, não bastando apenas as palavras de Hanzo, a sensação ruim ficou mais forte ao repetir o que faria, precisando apenas de um pequeno recipiente que o tempo não iria quebrar ou destruir. 

A magia negra mais poderosa, a do aprisionamento. Ela olhou novamente para Hanzo e viu o olhar preocupado dele se tornar confuso, foram poucos segundos para Angela tirar um de seus brincos de proteção e aperta-los na mão, concentrando sua magia e gritando para Pumpkin e Imortal saírem de perto. 

A magia do aprisionamento prendia o alvo por décadas, anos se necessário, mas o único defeito era que o portador do feitiço ficaria preso junto. Um sacrifício preciso. Um vórtice sumiu com o rei e outro surgia para Angela, mas nem mesmo isso aconteceu a ela. 

O brinco foi tomado de sua mão e ela foi empurrada com força para longe, podendo apenas levantar a cabeça para ver uma última vez Hanzo antes dele sumir. 

— Não... NÃO!  

Levantando com todo o corpo doendo, Angela pegou o a pedra que antes era seu brinco, lágrimas se derramaram em seu rosto enquanto apertava a pedra com seu peito, sussurrando tentativa do seu relicário para trazer novamente a confusão, mas a magia negra não era desfeita com facilidade como a branca ou a magia primordial, não tinha como tira-lo. 

A culpa a dominou mais do que tudo. 


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Notas finais do capítulo

:v e então?



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