Uma menininha acordava confusa em um local, onde tudo o que se podia ouvir era o mais profundo silêncio e a neutralidade do preto. Que lugar era aquele? Um novo mundo ou tudo estava finalmente acabado? A menininha não se importou muito com essas perguntas tolas, apenas se levantou limpando o seu vestido de seda, macio e confortante quanto o azul e apenas foi... Foi mais avante naquele novo mundo desolado.
     Perdida e confusa, não sabendo por onde ia, ela ouviu uma voz melodiosa a chamando. Era tudo tão familiar, era como se já conhecesse aquela voz que fazia ela achar que sabia onde que estava e que lugar era aquele. Ela seguiu aquela voz, esperançosa de que ela sairia daquele local que tudo o que restava era o negro profundo e o vazio. Assim que chegou ao local, sentiu uma brisa, uma brisa calmamente junto a uma sensação de explosão de várias cores, cores das mais diversas do jeito que eram.  Era como um jardim lindo, vasto e cheio de flores diferentes que davam "bom dia" a menininha. Cada uma tinha o seu jeitinho, umas eram engraças, outras calmas, algumas estressadas e assim por diante. Era como se cada uma tinha sua própria personalidade, mas apesar de todas serem únicas, a menininha viu nenhuma que tinha coração pesado e gélido.
     Aquilo era um paraíso? Com certeza que não era. Afinal de contas, a garotinha não sentia morta, e sim, muito viva com tudo aquilo em sua volta. Assim que a garota do vestidinho de seda estava brincando com suas novas amigas que só podiam falar, ela ouviu de novo a mesma voz, dessa vez mais alegre, alegre de que a menina havia conseguido novos amigos mesmo com as dificuldade e a chamando para um local novamente. Porém, dessa vez, o local não aparentava ser um jardim de cores e sim, uma cozinha de cheiros. Aquilo fazia com que a pequena salivasse com só com o sentir do querido chocolate, mas logo que sentia o cheiro de vegetais, torcia seu nariz. A voz calma deu uma leve risada e disse que estava tudo bem apenas dessa vez pular o almoço e partir logo para sobremesas. Isso fez com que as "cores" da pequena ficassem mais intensas ao ouvir que poderia evitar aqueles cheiros ruins e partisse para os cheiros bons.
     Como uma esfomeada comeu tudo aquilo, era uma explosão de gostos diferentes. Tudo simplesmente combinava, por mais louca seja a combinação. Era tudo tão bom e delicioso e sem gosto algum de vegetais a se misturar por causa do almoço. Mas, como nem tudo é para sempre, aquelas sobremesas haviam terminado rapidamente e a garota estava cheia como nunca. Enfim, após daquilo a voz acolhedora deixou a menina voltar ao seus amigos. A pequena correu como nunca para voltar para seus amigos, mas... Quando havia finalmente chegado ao local tão esperado... Tudo o que havia era o mesmo preto... O mesmo preto vazio... Como aquilo havia acontecido? Nem mesmo a garota sabia. Ela ficou de novo perdida. Havia voltado ao ponto inicial.  Apesar disso, algo estava diferente... A menininha sentia um branco, um branco preenchido por todas as outras cores, se apagando naquela escuridão. A garota não podia deixar aquilo daquele jeito. Então, ela botou suas perninhas para correr até a cor para finalmente salva-la, porém... A garota não conseguiu... Tudo que ouviu antes de ser engolida pela escuridão junto ao branco, era a voz gritando desesperada para que a garota voltasse... Já era tarde demais.
     Uma jovem havia acabado de acordar de um sonho maravilhoso junto a um pesadelo horrendo de suas lembranças antigas. A jovem chorava por causa daquele sonho, ela queria novamente ouvir os sons graciosos e sentir os gostos daquelas guloseimas deliciosas que havia experimentado naquele dia. Mesmo tivesse nascido cega, aquilo preenchia o seu dia, as outras sensações. Mas, agora tudo que havia sobrado era a sensação de uma cama gélida, a qual nunca mais poderia sair.