I still walk escrita por Claymore


Capítulo 16
Capitulo 16


Notas iniciais do capítulo

Esse é o final. Espero que vocês gostem. Desculpe a demora para finalizar. Muito obrigada a todos que acompanharam, aos elogios e as críticas construtivas sempre feitas de forma gentil e preocupados com meu progresso. Beijos.



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Quando a noite veio, o chão já estava coberto por neve e as casas pareciam casas de doce com açúcar polvilhado. Realmente era um belo lugar para se morar. Desci para jantar com minha irmã e seu marido na casa dela e conversamos por algumas horas. A sensação que eu tinha era que já era de madrugada, mas sem relógio era difícil dizer, não que o tempo importasse.

— Ainda acho tão estranho comer na mesa aqui.

— Para mim foi bem fácil me acostumar- Maggie estava do lado oposto da mesa de 4 cadeiras de marfim clara. Era uma visão reconfortante, porque me lembrava de antes. Glenn estava entre nos duas concentrado em seu prato. – Esta manhã eu acordei e por um momento me esqueci de tudo o que está acontecendo lá fora.

— Ainda não cheguei nesse ponto- Respondi sorrindo.

— Nem eu. – Glenn finalmente estava olhando para alguém, então eu percebi que sua comida já havia acabado. – Mas eu não costumava comer na mesa mesmo.

— Você morava com seus pais? – Eu não sabia muito sobre o meu cunhado. Acho que eu teria de descobrir.

—Não, morava no campus da faculdade e entregava pizza meio período.

— É engraçado pensar na faculdade agora. Ou em qualquer coisa de antes. Cada dia mais.

— Falando em lembrança eu lembrei de algo. Glenn e eu queremos te falar uma coisa.

— O que é? – Agora eu estava curiosa e com medo. Surpresas me deixam assustadas agora.

— Decidimos os nomes.

— Do neném?

— Sim.

— Quais são? – Devo admitir que estava meio com um pé atrás. Não acredito que não participei do processo. Ainda mais porque Meggie sempre escolhia nomes estranhos para suas bonecas.

— Se for menina Valent – Glenn Disse.

— E se for menino Hunter.

— O meu Deus. É perfeito. Eu adorei.

— Serio? Você acha que nossos pais iriam gostar?

— Eles iriam adorar. Sabe o que mamãe falava. A palavra tem poder.

Eles se olharam e eu vi muito amor. Muito amis do que o de costume. Mesmo que fosse totalmente loucura ter um filho nesse mundo e ainda mais ter um parto sem nenhum médico por perto, eles estavam felizes. Dava para ver.

— Já deve ser tarde! Eu vou indo.

— Tem certeza? Pode ficar aqui, acho que vocês n]ao devem sair procurando mantimentos. Pelo menos não nessa neve! – Meggie era sempre tão feliz. Eu tinha inveja dela. Levantamos da mesa e caminhei ate a cozinha com meu prato e coloquei na pia.

— Eu sei. Mas prefiro dormir no meu quarto. – Caminhei em direção a porta dosa fundos. – Tchau Glenn- Eu gritei. Glenn apareceu na batente da porta da cozinha com o reto da louça e começou a lavar na pia.

—Tchau Beth.

— Seu quarto? – Minha irmã chamou minha atenção.  Sorri para ela sem graça, percebendo o que eu tinha acabado de dizer.

— É, meu quarto.

Nos abraçamos e foi aconchegante sentir o abraço quente da minha irmã gravida.

— Você esta bem? – Seus olhos verdes intensos eram difíceis de driblar. Assim como a mamãe ela tinha esse poder sobre as pessoas.

— Porque esta perguntando?

— Porque eu posso ver que seu coração está quebrado.

Não conseguia desviar, acho que não podia desviar mais de ninguém. Todos já devem saber a essa altura.

— Eu...Eu...

— Tudo bem Beth, eu sei.

— O que você sabe exatamente?

— Eu sei que quando eu cheguei no hospital e Daryl estava com você em seus braços eu nunca vi ninguém tão perdido. Por muito tempo foi como se ele nem estivesse ali. Eu sei que todas as vezes que alguém falava de antes ou tocava seu nome, ele olhava para mim e seu olhar era como um espelho do meu. Nós compartilhamos essa dor, e eu sabia que não era porque ele tinha salvado você. Eu sei que quando você voltou a primeira pessoa que você perguntou foi ele e quando você estava desacordada você sussurrava o nome dele.  E se nada disso tivesse me falado alguma coisa era só observar vocês dois juntos. São como imãs. Um atrai o outro.

Eu não sabia o que dizer, sabia que não adiantaria mentir e muito menos tentar desconversar. Me restava ser realista e quem sabe pedir o colo de minha irmã.

— Esse mundo. Esse apocalipse. Eu consigo lidar. Mas meu coração? Meu quebrado e desajustado coração? Eu não consigo. Eu disse para ele tudo o que eu sinto. E ele fugiu.

— O Beth ... Sinto muito... Ele sente alguma coisa Beth. Dá para ver.

— Ele sente. Mas o que? – Ela me olhou com compaixão e um pouco de pena eu pude notar. Mas isso não me deu raiva. Eu também tinha dó de mim.

—Isso só ele vai poder responder.

Deu meu último abraço e prometi que a veria na manhã seguinte antes de fazer qualquer tarefa. Caminhando para casa a neve era escorregadia e me veio à mente que talvez precisemos de uma equipe para tirar a neve da rua. Mas alguns passos e minha mente flutuava como as gotículas de gelo que percorriam em volta do meu cabelo.  As luzes das casas cheias de pessoas fugindo do frio em minha volta deixava a rua com uma sensação de solidão, vazia. Quase chegando em casa...

— Você vai ficar resfriada.

A voz grave e baixa percorreu o silencio e me atingiu como uma bala de gelo. Levantei o rosto e olhei para traz.  Ali estava ele. Os cabelos molhados pela neve eu imagino. Mas dessa vez ele estava de jaqueta de couro. Encostado em sua moto próximo a entrada de carros da casa de Rick.  Como eu havia passado por ele e não notado?

— Eu...- Antes que eu pudesse pensar em algo inteligente para falar ele caminhou até mim. Tirou sua jaqueta e jogou sobre meus ombros. Ela estava húmida e fria. Acho que o frio venceu seu calor corporal.  Cheirava a cigarros, terra molhada e mais alguma coisa. Esse mais alguma coisa era o Daryl. Seu cheiro tão particular.

— Beth... Eu tenho 40. Bem.. eu acho que tenho 40 agora. São muitos números de diferença. Muitos anos. Mas esses dias não importam mais. São dias desperdiçados que eu não estava com você. Eu era um vendedor de metanfetamina e mal terminei a escola. Mas eu tenho certeza que se eu tivesse te conhecido naquele mundo. Teria feito de tudo para ter me ajeitado para você. Eu sei que seu pai nunca teria aceitado e sua irmã e Rick provavelmente não vão gostar. Mas aqui estou eu, completamente, drasticamente e loucamente apaixonado por você. Eu sinto como se cada fibra do meu corpo te amasse. Por algum motivo louco, eu amo essa pequena garota loira sulista que toca piano, e isso é a ironia mais cruel que o mundo poderia fazer depois desse mundo fudido. Porque não tem como eu ser digno de você, mas aqui estou. Lutando contra tudo que eu sei, porque eu não consigo passar mais nem um dia sem te dizer o que eu sinto. E se você me permitir tentar ser digno eu prometo te proteger e te amar todos os dias, mesmo eu sendo essa bagunça por dentro. Você juntou todos os meus pedaços e me fez uma pessoa melhor. Uma pessoa que acredita em um amanhã. E eu quero ver esse amanhã com você.  Como você sabe eu não entendo muito disso de amor, mas se isso não é amor , é o melhor que eu tenho.

Ele me olhava como se eu fosse a coisa mais incrível do mundo e pela primeira vez em todos os 18 anos da minha vida eu sabia onde era o meu lugar. Não sei se foi ele quem me puxou ou se foi eu que me joguei contra ele mas em alguns segundo estávamos nos beijando. A neve caia em nossa volta e mesmo que o mundo acabasse em gelo naquele momento eu não me importaria. Ressuscitar dos mortos valeu a pena naquele momento.


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