Cartas Para Jack escrita por Duuh Campos


Capítulo 1
De volta




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  Era o quinto posto que eu via passar pela janela do carro, minha mãe não parou em nenhum deles, ela continuava a dirigir sem ao menos falar comigo. Estamos nos mudando para nossa antiga cidade no interior de são paulo, era estranho estar voltando, a dez anos atrás quando fomos morar na cidade grande eu estava chorando muito, tinha treze anos naquela época, eu chorava por deixar meus amigos, minha escola e principalmente por deixar Mike que foi o responsável pela nossa partida. 

  Mike era o meu melhor amigo, ele tinha um ano a mais do que eu, todos os dias ele ia na minha casa, pois eu morava perto de uma floresta e nós adorávamos correr e nos esconder em cimadas árvores. Eu sentia que minha ligação a Mike era mais do que amizade, não entendia muito bem na época mas acabamos nos envolvendo mais do que deveríamos. Nossos pais nos pegaram um dia nos beijando, teve uma briga feia, eu e Mike fomos parar no psicólogo e depois de uma conversa com meus pais ele aconselhou que eu nunca mais visse Mike. Foi então que nos mudamos para a cidade grande, antes de partir eu deixei uma carta a Mike, não sei se ele leu, nunca recebi nenhuma dele, realmente nunca mais tive contato com ele.

  O Tempo passou, eu me formei, me tornei um executivo, tenho vinte e tres anos agora. Meu pai morreu a dois anos atrás, e a alguns meses eu sofri um acidente onde minha namorada Tifany acabou falecendo, os pais da menina não aceitam e colocam a culpa em mim. Foi quando minha mãe decidiu voltar ao interior, então aqui estou eu, sentado no banco do carona com o fone de ouvido ouvindo uma música enquanto o carro corre na pista molhada pela chuva. 

  Chegamos - Disse minha mãe batendo de leve no meu braço

  Ao olhar pela janela mal podia acreditar que estava de volta, era tão estranho, eu deveria reconhecer o lugar mas pelo contrário, era como se eu nunca tivesse morado ali. Minha mãe dirigiu até a nossa casa, ela ainda ficava no mesmo lugar, mas a floresta não existia mais, no lugar haviam outras casas. Assim que ela estacionou o carro eu desci, quase escorreguei no chão molhado, tinha grama ali na calçada. 

— Me ajuda a pegar as malas Jack - Gritou minha mãe, ela estava na parte traseira do carro com o porta malas aberto

  Eu ainda estava atordoado admirando aquela casa enorme, a casa que eu não via a dez anos. Ainda me lembrava de quanto corria por aqui nesse jardim que fica de frente para a casa, o velho balanço ainda estava na varanda. Depois de alguns minutos fui ajudar minha mãe, ela já havia gritado outra vez, eu ajudei a carregar as malas para dentro de casa. Lá tudo estava como antes, ainda os mesmos móveis. Apenas as cores das paredes estavam diferentes, pois minha mãe mandou que reformassem a casa antes de virmos pra cá.

— Seu quarto agora é lá em cima, sou velha demais pra ficar subindo escadas - Disse minha mãe apontando a escada no final da sala.

— Você não é velha mãe, para de fazer drama - Falei revirando os olhos

  Em seguida subi as escadas, cheguei no quarto realmente estava tudo arrumado. Apenas guardei minhas roupas no grande guarda roupas que estava na parede ao lado da porta. A cama de casal estava toda arrumada, com muitas almofadas e travesseiros, eu não perdi a oportunidade de pular e ficar ali olhando para o teto. Eu estava cansado da viajem.

  Acabei tirando um cochilo, quando desci vi um bilhete de minha mãe dizendo que iria visitar alguns amigos e depois iria no mercado fazer algumas comprinhas. Eu Deixei o bilhete ali em cima do sofá e sai na varanda de casa. Eu me sentei no balanço, senti uma brisa passando pelo meu rosto, isso me fez lembrar imediatamente do passado. Era como se Mike estivesse ali me empurrando como ele sempre fazia. Eu fechei os olhos e dei um sorriso, nesse instante senti que o balanço se quebrou e levei um maior tombo. 

— Ai.... caraca - Resmunguei comigo mesmo, foi quando ouvi alguém rindo, era uma voz feminina que parecia vir de perto

  Eu me levantei e olhei para os lados um pouco assustado, mas não via ninguém

— Quem está ai? - Perguntei 

— Não precisa ter vergonha, o balanço já estava velho por isso se quebrou - Falou a garota, agora eu podia vê-la, ela estava em cima do muro ao lado de minha casa.

— O que você faz ai menina - Perguntei, era estranho ver uma garota como ela em cima de um muro. Ela parecia ser tão delicada, era uma garota muito linda, seus cabelos castanhos chegavam na cintura, ela usava uma calça jeans e uma blusinha que deixava sua barriga a mostra.

— Eu fiquei sabendo que os donos dessa casa se mudariam pra cá novamente, estava curiosa para saber quem eram essas pessoas. Quando construimos nossa casa a sua já existia, e eu sempre morei aqui e nunca vi ninguém nessa casa, me bateu a curiosidade - Ela falou sorrindo, ela tinha um lindo sorriso

  Não eu não estou gostando da vizinha, eu mal a conheço, ela pareceu um pouco interessada, eu conheço aquele olhar, é o mesmo que o olhar da Jéssica, uma menina que costumava me paquerar na faculdade. As garotas me consideravam um garoto muito bonito, eu não sei dizer. Tenho olhos castanhos, cabelo curto bem penteado, sou um pouco malhado, pele bronzeada de sol, algumas sardas no nariz a qual as meninas achavam sexy. Minha boca era bem vermelha e eu tinha o sorriso branco me orgulhava disso. 

— Bom, eu sai daqui com treze anos de idade, fazem dez anos que nos mudamos - Falei para a garota que continuava me encarando

— Nossa... faz muito tempo, bom seja bem vindo de volta espero que tenha voltado pra ficar - Ela disse outra vez sorrindo

— Obrigado.. essa é a intenção - Respondi

  A garota pulou do muro de volta a sua casa, o muro não era tão alto ainda dava pra ver enquanto ela pegava a direção de sua casa. Antes que eu entrasse também ouvi que alguém gritou meu nome.

— Jack.... aqui - Gritou outra vez

  Eu olhei na rua e estava um carro estacionado e ao lado dele uma mulher balançava a mão para mim. Eu caminhei até lá, eu sabia que já tinha visto aquele rosto, mas estava diferente, era uma senhora de uns 50 anos, ela estava com os cabelos presos, usava um roupa bem comportada e uma maquiagem leve. 

— Lembra de mim? - Ela disse quando eu me aproximei

— Seu rosto não é estranho, mas não sei de onde te conheço - Falei com o dedo na frente da boca

— Você foi meu aluno, claro isso faz alguns anos, eu estou mais velha, mas você ainda é o mesmo garoto lindo e educado que eu conheci

— Que gentil, me desculpa não lembrar de você. Que bom rever alguém do meu passado que ainda se lembra de mim - Falei abraçando a mulher

— Não, eu não sou a única que se lembra de você

— Como assim?

— Tem alguém que te procura a muitos anos, hoje eu perdi o contato dele, não sei onde ele está. Mas durante anos eu tentei ajudá-lo a te encontrar, mas eu não sabia onde você estava. Seus pais quando sairam da cidade, não deixou contato com ninguém, vocês simplismente sumiram.

— E quem é essa pessoa que queria me encontrar? - Perguntei mesmo já imaginando quem era. Meu coração começou a bater mais rápido, sentia que ele estava prestes a sair pela boca

— Vou deixar isso com você... é uma carta que eu fiquei de te entregar a muitos anos atrás. Uma pena eu poder entregar só agora, mas espero que vocês ainda se encontrem. Sinto que era uma amizade verdadeira - Ela disse me entregando uma carta.

PARA JACK

Era o que estava escrito em caneta preta com as letras bem grande em um envelope que estava um pouco amassado.

 


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