A colecionadora de cicatrizes escrita por Triz Quintal Dos Anjos


Capítulo 27
O livro.


Notas iniciais do capítulo

Não, apesar de ter tirado outra fucking nota baixa e estar precisando oficialmente de um milagre, eu não morri! Então, aqui está o cap, pessoaaaaas!



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“Você mesmo sempre diz que os livros têm que ser pesados, porque o mundo inteiro está dentro deles.”  - Coração de tinta ( Cornelia Funke)

                                                      ❤  ❤ 

    Acordei com um pulo. Pela terceira vez naquela semana tinha tido o mesmo pesadelo, com páginas de livro mostrando coisas que eu preferia não ver e vozes me lembrando de tudo o que eu queria esquecer.

  E eu já estava cansada de repetir o mesmo ritual: tremer e chorar de medo até que, finalmente, percebia que tinha sido apenas um sonho. Mas nós não podemos controlar tudo e, ainda assim, chorei mais uma vez. Porque talvez as coisas estivessem muito confusas para mim.

  Aparentemente meu pai era filho da pior fada que já existiu, Regina estava dividindo a alma com alguma criança e havia a possibilidade – que eu definitivamente não queria aceitar – de eu possuir magia. E isso era péssimo para uma garota que por um momento pensou ter encontrado um pouco de paz.

  Após algum tempo – eu não saberia dizer quanto  – consegui erguer a cabeça  e olhar ao redor. Ainda estava escuro. Que diabos! Parecia que a manhã nunca a iria chegar.

   Angustiada e rezando para que Killian não acordasse, manquei até a biblioteca, usando as paredes para me apoiar. Lá eu poderia me distrair, ou pelo menos tentar. Quando cheguei ao local sentei em uma das poltronas próximas á janela. Tentava imaginar minha mãe ali, o cheiro dos livros sempre me fazia lembrar dela.

  Com os olhos fortemente fechados e os joelhos abraçados, cantarolei a música que ela costumava cantar para mim. Naquele momento eu desejava com todas as minhas forças que ela fosse mesmo mágica, como passara minha infância toda ouvindo.

  Só parei quando senti minhas costas queimarem e, ao abrir os olhos, vi o brilho do sol. Amanhecera, finalmente.

  Respirei fundo algumas vezes para me acalmar mas, quando estava prestes a me levantar, uma Tink apressada correu até mim.

—Emma, Emma! – Gritava, numa confusão de cachos e guizos – que enfeitavam seus vestido verde meio esquisito. – Que bom que te achei! Vim me despedir.

  Franzi o cenho, porque ainda não estava muito bem e a lerdeza me dominava.

—Despedir?

  Ela assentiu, colocando o cabelo atrás das orelhas e entortando a cabeça com um sorrisinho meigo.

—Vou atrás de mamãe. – Explicou. – Acredito que possa ajudar com Regina e no que mais for necessário. Tentei falar com ela, porém não tive resposta, então vou busca-la e lhe contar sobre tudo isso.

  Assenti.

—Hm...Tchau?

  Tinker riu, mas havia algo em sua risada que me fez pensar que despedidas a machucavam.

—Até logo, Emm. Não demoro mais que dois dias, juro. Há algo que precise agora? Posso ajudar, ou pelo menos tentar.

  Neguei.

—Está tudo bem, pode ir.

  Ela sorriu meio nervosa e me deu um abraço rápido, antes de sumir tão repentinamente como tinha surgido.

  Talvez com ela longe eu pudesse fugir de toda aquela história. Não havia problema em adiar um pouco o que precisava enfrentar, havia? Afinal tinha uma grande chance de aqueles dois dias serem minha oportunidade de reunir a força que iria precisar.

                                                           

 _Você não estava no quarto de novo hoje. – Observou Killian.

—Não consegui dormir.

—Estou começando a achar que está mentindo, Swan. Escute, se algo a estiver incomodando, pode conversar comigo.

  Assenti, caminhando rumo ao jardim. O dia estava bonito e Jones tinha me convidado para uma pequena caminhada pela propriedade. Agora estava começando a entender que o motivo não era exatamente o dia estar bonito.

—Estou bem, Killy. Fique tranquilo. – Menti. Porque não havia necessidade de lhe contar sobre meus pesadelos, não iria preocupa-lo por bobeira. – Hm... Algum plano para a tarde?

  Ele balançou a cabeça negativamente.

—Nenhum. E quanto a você, senhorita Swan? –Perguntou, com um sorriso encantador que me fez tropeçar em uma pedra que nem existia.

—Eu, ah,  também não tenho. É, isso, não planejei nada. – Retruquei, meio rápido demais.

  Jones riu.

—Podíamos combinar de fazer alguma coisa.

—Sim, podíamos.

—Então... Alguma ideia?

  Neguei.

—Foi o que pensei. Bom, eu estava querendo ler alguma coisa, talvez você queira vir comigo.

  Ergui uma sobrancelha.

—Parece que o senhor esteve planejando algo, sim.

  Killian pareceu sem graça e em menos de um minuto vi que estava corando. Segurei a risada, mas ele percebeu e olhou para a grama.

—Do que está falando? Só passou pela minha cabeça que... de repente você quisesse vir comigo.

—Tudo bem, Jones, tudo bem. Acredito em você. – Menti. – Será que podemos voltar agora? Estou começando a achar que o verão chegou antes da hora, que sol quente!  

—Vamos adiantar um pouco nossos planos, então?

  Sorri comigo mesma, guardando os pensamentos bobos que tinha.

—Ok.

  Andar ainda não era muito fácil. Principalmente quando o inchaço e a dor resolviam atacar meu tornozelo, e eu realmente não gostava que as pessoas reparassem nisso. Mas quando entramos novamente e olhei para a escadaria que teria de enfrentar, fingir que estava tudo normal foi impossível.

—Você não parece muito feliz.

—É porque não estou. – Ri, olhando para Jones pelo canto dos olhos.

  Ele estalou a língua.

—Acho que devíamos procurar um lugar aqui embaixo, Swan.

—Não tem necessida...

—Olhe bem nos meus olhos e me diga que isso aí não está doendo. – Ele apontou meu tornozelo e ergueu a sobrancelha em desafio, porque tinha certeza de que ia ganhar.

  Olhei em seus olhos azuis e por alguns instantes me perdi. Eu não ia conseguir mentir.

—Eu quero subir.  – Atalhei.

  Killian apertou os lábios e desviou o olhar por alguns segundos.

—Quer ajuda?

—Acho que sim. – Admiti, com uma careta.

  Antes que eu tivesse a oportunidade de reclamar, Jones me carregou até nosso quarto e arrumou algumas almofadas para que eu pudesse suspender a perna por algum tempo.

—Eu poderia ter subido sozinha, só precisava de um pouco de ajuda. – Resmunguei.

—E perder o tempo extra que acabei de conseguir? Sem chance.

  Revirei os olhos.

—Pensei que fôssemos ler, senhor Jones. – Zombei, quando ele se sentou ao meu lado na cama.

—Mudança de planos! – Assobiou, batendo com o indicador na ponta do meu nariz. – Agora nós vamos nos beijar loucamente!

  Olhei para ele meio assustada e Killian obviamente riu da minha cara.

—Isso não tem graça!

—Ah, tem sim, minha cara esposa!

—Não sou sua esposa! – Guinchei. – E acho que devíamos dizer a verdade.

—Eu jamais faria isso. Essa foi a melhor mentira que já inventei!

  Semicerrei os olhos. Aquele pirata estava perdendo a noção do perigo.

—Tudo bem, tudo bem! Já parei, Emm.

  Revirei os olhos.

—Você é um ridículo.

—Eu sei. Mas você bem que gosta.

—Killian...

—Ok, prometo me controlar. – Ele ergueu as mãos em sinal de rendição. – Só acho que você fica uma gracinha com raiva.

—E você fica uma gracinha sem cabeça.

  Killian riu e, desta vez, não pude resistir e me juntei a ele.

—Ei, eu tenho uma novidade. – Ele deu um soquinho de leve em meu braço. – Anna vai dar um baile.

—E o senhor está querendo me levar? – Perguntei, sorrindo maliciosamente.

  Jones pareceu meio envergonhado e eu comecei a temer que aquilo fosse exatamente o que ele pretendia.

—Ahn, não,  eu só ia perguntar se está tudo bem para você ficar aqui.

—Hm, sim. Com essa desgraça  – Apontei a lesão que com o queixo. – eu não poderia fazer muito mais que olhar todo mundo.

—Bom, talvez eu vá. Mas não queria te deixar sozinha e...

—Eu posso ficar com Regina. – Dei de ombros.

—Na verdade, Robin e Regina irão comparecer.

  Deixei meu queixo cair.

—Robin e Regina?

—A, por favor! Está na cara que o Sr. Hood está doido por ela.

—Sim, isso eu sei. Me surpreende que Regina tenha aceitado o convite.

—Na verdade foi ela mesma que pediu.

—E como você sabe?

—Porque Roland é um ótimo informante, Swan. – Resmungou.

  Eu ri.

—Está de olho em alguma moça, capitão?

  Por um momento, enquanto nossos olhares se encontravam,  cheguei a pensar que a resposta poderia ser sim, contudo o homem desviou do assunto.

—Eu estava lendo aquele seu livro hoje mais cedo e uma coisa estranha aconteceu.

  Franzi o cenho.

—Qual livro? Once upon a time?

  Ele assentiu.

—Uma das histórias mostra direitinho a noite em que chegamos a Arendelle.

—O que? Isso é sério?

—Sim e eu posso provar.

  Então ele caminhou até o armário e de lá tirou o livro, colocando-o aberto em meu colo exatamente na página desejada. Não precisei nem mesmo ler o que estava escrito, pois na página seguinte havia a figura de uma moça usando um vestido vermelho que era claramente eu.

—Nós temos que falar com Elsa. – Decidi.

—Acha que pode ser alguma coisa?

 Meneei a cabeça e tornei a olhar para ele.

—Tenho certeza.  Já reconheci muitas histórias, mas isso? Isso é coincidência demais, Killian!

  Ele passou a mão pelos cabelos.

—Vamos lá mais tarde. Assim que você estiver um pouco melhor.

                                                    

—Estão me dizendo que esse livro é mágico? – Elsa perguntou, nos olhando como se fôssemos duas crianças.

  Regina fazia o mesmo e já havia discutido com Killian na frente de todos – inclusive do pequeno Roland – acusando-o de estar alimentando meus devaneios.

  Estávamos todos no quarto que se tornara de Regina, afinal eu não quisera esperar como Jones pedira.  Todas as cartas já tinham sido jogadas sobre a mesa de forma clara, de modo que Elsa e Anna já sabiam de toda a minha história, principalmente que eu não era casada com ninguém.

—Se não acredita, então leia. – Falei, aborrecida.

  Anna olhou para a irmã tão chateada quanto eu e tomou os livros de sua mão, abrindo-o sobre a mesa. “A rainha da neve” era o título do conto e eu tive a impressão de que as irmãs estavam ainda mais brancas que de costume.

  Elsa fechou o livro com um baque, tão repentinamente que todos se assustaram.

—Tudo bem, vocês tem razão.

—Majestade, isso é malu...

—Em primeiro lugar – a rainha dirigiu-se calmamente a Regina. – todos vocês sabem que devem me chamar pelo meu primeiro nome. E em segundo, eles tem razão, Regina. Não temos certeza de nada, claro. – ela olhou para mim, como se pedisse para que eu não criasse expectativas. – Contudo conheço alguém que pode nos dar certeza.

—Quem? – Robin perguntou, colocando a mão carinhosamente no ombro de Regina, que permanecia sentada em sua cama.

  Apesar de ter melhorado consideravelmente com a ajuda de Tinker, a Srta. Mills ainda não estava totalmente curada e, depois da tal história de alma compartilhada, todos concordamos que ela devia evitar qualquer desgaste. Todos menos a própria Regina.

—Um velho amigo, que me ajudou quando precisei. Não se preocupem, resolverei tudo para partirmos amanhã bem cedo.

—Tem certeza disso, Elsa? – Anna perguntou, preocupada.

  A rainha riu.

—Os Trolls nunca fizeram mal a ninguém, Anna. Estou certa de que se darão muito bem.

  A mais nova assentiu, aparentemente receosa.

—Vamos falar com, hm, meio que o líder deles. – A loira explicou.

  Diante do silêncio que se seguiu, Elsa se retirou e levou Roland consigo. Porque, pelo que eu tinha percebido nos últimos momentos, ela tinha se apegado ao garoto.

  Eu não a culpava, Roland era uma criança adorável.

—Acho tudo isso uma loucura. – Afirmou Robin.

—Acho que devíamos confiar em Emma, ela teve excelentes argumentos e provas. Esse livro pode significar alguma coisa. – Disse Anna. – Aliás, quando a Srta. Bell retornar eu quero muito ver essa tal bola de cristal! Pareceu meio assustador como você contou, mas eu achei empolgante! E, ahn, eu acho que você devia mudar de quarto, sabe? Talvez não seja legal ficar com Killian se vocês não são casados.

—Está tudo bem, nada vai acontecer. Além do mais, já dividimos o quarto por bastante tempo, eu me acostumei. – Respondi, recebendo um sorriso malicioso de Regina.

  Jones se engasgou com o nada e, em seguida disse:

—Swan, será que agora você poderia, pelo amor de tudo, cuidar desse tornozelo?

—Vou buscar gelo! – Anna cantarolou, saltitando porta afora.

  E lá íamos nós, rumo ao que poderia ser nada, ou o maior problema de nossas vidas.

                                                          


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Notas finais do capítulo

Killian e Emma pra mim já são casados e ninguém tira isso da minha cabeça. Beijão KKKK
E, outra, Regina e Robin aaaaaaaaaaaa
Sou louca por shippar meus casais e sofrer por eles???
Gente, vou ficar por aqui, peço desculpas qualquer erro, pq não revisei essa lindeza. Tia Triz ama vocês ♥



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