Chains escrita por Passarinho


Capítulo 9
Fim da primeira semana


Notas iniciais do capítulo

Eu devia ter postado esse capítulo 4 dias atrás, e esse atraso é graças à minha linda professora de inglês.
Ah, mais uma vez sem imagem ç-ç Mas decidi que vou priorizar os capítulos e fazer a parte visual mais pra frente, nas férias do meio do ano quando tudo estiver menos corrido.
Se quiserem podem sempre deixar uma sugestão pra imagem em todos os capítulos a seguir ♥ E boa leitura.



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Nahu e Arani, empunhando uma espada de treino cada, deram as reverências antes de começar a luta que tinham prometido na noite anterior.

Escolheram a madrugada para tal, pois sabiam que todos além delas estariam dormindo. Deixaram um estabilizador a uma boa distância, e apontaram suas armas.

— Você tem certeza que quer continuar com isso? — A morena perguntava, ainda receosa, mas firme.

— Sim, eu quero. Dessa vez, eu vou te mostrar o quanto fiquei melhor, e você vai cumprir o que prometeu cinco anos atrás. — A ruiva apertou as mãos entorno da madeira. — E eu juro que, em troca, faço o mesmo por você.

— Então, como quiser. Está pronta?

— Sim. Desde a primeira vez em que te pedi.

Nahu saiu em disparada, e mirou um golpe em Arani, que foi desviado. Não satisfeita, a menor continuou os ataques, enquanto observava todos serem defendidos de um jeito tão natural que seria motivo para nada mais que admiração, não fosse a ânsia que estivesse sentindo pela vitória. Cansada de ser impedida, investiu para a esquerda de sua oponente o mais rápido que podia, mirando suas costelas. Mais uma vez, sua espada foi aparada pela de Arani. Contudo, Nahu conseguiu manter-se no mesmo lugar, agora colocando todo seu peso em sua espada. As lâminas cegas de madeira travavam uma luta de força, que alguns segundos depois, foi vencida pela morena, jogando a outra para trás.

Ainda não desanimada, Nahu correu, tentando o mesmo golpe, agora pela direita, e resultou no mesmo. Tentou distrair e surpreender por trás, tentou pular e ir por cima, tentou deslizar e atacar por baixo. Nada funcionou. Arani desviava facilmente de qualquer coisa que ela tentasse.

— Chega, Nahu. — Dizia a maior, enquanto bloqueava mais um avanço. — Já estamos fazendo isso a um bom tempo, eles vão acordar. Vamos parar com isso.

Porém, veio em resposta o silêncio e a insistência para mais um ataque.

— Pare, por favor, você sabe que isso... — O som das madeiras ecoou novamente sobre a voz dela. — ... é inútil.

— Não. Não é inútil. — A ruiva colocou mais força, mesmo que sempre acertasse somente o ar. — Você vai me ajudar, você prometeu que ia!

— Eu já estou te ajudando, eu estou fazendo tudo o que eu posso. — Defendeu-se mais uma vez, desequilibrando a outra.

— Me ajudando? Você pensa que é de alguma ajuda aceitar uma luta comigo, depois de tanto tempo, e ficar só esquivando sem nem tentar contra-atacar? Em toda minha vida, eu só tive um mísero sonho, Arani. E você continua ignorando ele como se não fosse nada. — Levantou-se do chão; sua voz quase tremulava do mesmo jeito que sua espada queria fazer, mas não fez. — Como se não fosse nada!

— Mas...

— E ainda diz que me ajuda! Por que você é tão egoísta, Arani? Ataque! Me deixe ver!

— Mas eu já te contei sobre isso, eu nunca me perdoaria se você acabasse como a minha...

— E quem liga se sua família morreu ou não?! — Nahu gritou, sem pensar duas vezes. Ao perceber o que tinha proferido, o peso de suas palavras somado ao rosto em sua frente em choque fez sua mão afrouxar um pouco na bainha da espada. Mas não hesitou, pois sua “lâmina” já estava perto o bastante de sua oponente para parar agora. Assim como sua boca, que já estava aberta, e já dizia a próxima frase. — Eu não tenho nada a ver com...

Ouviu um som alto e bruto, enquanto sentia uma brisa quase cortante passar pelo seu rosto. Viu sua espada sendo jogada ao longe e o chão, que de repente parecia muito mais próximo. Entretanto, essa era a menor de suas preocupações. Com os joelhos amassando o solo cru e sem grama do jardim, apoiou-se nas mãos para tentar levantar a cabeça. Se bem que ela sentia, no fundo, que ficar com a cabeça abaixada para sempre ainda seria pouco para se redimir. O cheiro de terra penetrou seus pulmões.

E ela viu uma espada sendo apontada ao seu pescoço.

— Eu sei. Eu sei que você tem um sonho. Eu sei que você se sente injustiçada, eu sei que parece que eu nunca dou ouvido aos seus pedidos. — A voz de Arani fazia Nahu se arrepender de tudo o que tinha feito ou pensado em fazer. Era uma mistura tão desigual de tristeza e empatia que chegava a lhe doer. — Mas eu sempre escuto com atenção, eu sempre vou escutar. Mesmo que eu recuse; eu só faço pelo seu bem. Minha família antiga pode ter morrido, sim... Mas agora, minha família também é você. 

Arani segurava lágrimas nos olhos.

— Eu não quero falhar com essa família do mesmo jeito que eu fiz com a antiga. Por isso, eu não vou te ensinar nada, e não quero que você me ensine também. — Terminando a sentença, andou até a árvore sem folhas, dando um barulhento golpe em seu tronco, deixando uma marca visível. — Espero que, nessa terceira vez, você tenha compreendido. — E saiu do jardim.

A menor sentiu a última frase como um se fosse um tapa. Fitou as duas antigas marcas que a árvore detinha, e a nova que foi feita. As três representavam o quanto ela já tinha tentado seguir seu sonho em vão. Mas a última não era só de fracasso, agora era também de vergonha.

Afinal, tinha magoado uma das pouquíssimas pessoas que amava.

 

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— Pensei que ela fosse mais forte que isso. Não é ela que disse que sou fraco? — Dio tirava os olhos da janela que dava ao jardim.

— Sinceridade nunca é demais. — Veigas bocejou enquanto ouvia o outro murmurar alguma coisa. — Agora eu vou voltar pro quarto.

— Dormir de novo?

— Talvez seja porque eu não tenha conseguido dormir direito por noites e noites por culpa de alguém, e esse mesmo idiota me acordou no meio da madrugada justo nas únicas duas noites que eu consegui pegar no sono.

— Você precisava comer urgentemente, senão ficaria bem pior.

— Ah, vá cuidar da sua vida.

— É exatamente isso que eu estou fazendo. — Com isso, Dio já via o sorriso sarcástico subindo ao rosto em sua frente.

— Então quer dizer que eu sou sua vida?

— Não. Você entendeu. — Tentou não demonstrar misto de incômodo e irritação que sentiu com a provocação feita. — E aliás, você ainda estaria dormindo agora se não enchesse tanto o saco para vir ver a luta.

— Para de reclamar, chifrudo. Eu não te obriguei a vir. O quarto fica ali do lado, as correntes são longas o suficiente.

— Quantas vezes você tentou matar aquelas duas pelas costas enquanto lutavam e eu tive de te parar?

— Mas o problema não seria meu. Se eu matasse uma delas, a outra se incriminaria pela morte, ficaria abalada e eu conseguiria pedir informações de como chegar à Calnat mais cedo que o planejado. — Veigas se direcionou para a porta ao lado, indo para o quarto sem dizer mais nada, bocejando por uma última vez.

Não se lembravam em que parte da semana começaram a conseguir ter, de vez em quando, conversas descompromissadas sem terminar querendo arrancar as cabeças um do outro. Isso porque infelizmente para eles, conversarem entre si era um dos únicos passatempos que tinham dentro daquela casa, então, através dos dias, tentaram não acabarem quase se matando ao fazê-lo, mesmo que na maioria das vezes a tentativa tinha uma grande chance de falhar.

— Veigas? Dio? O que fazem acordados a essa hora? — Arani espreitou o corredor, depois andando em direção a eles. Ao olhar para a distância dos mesmos da janela, percebeu o que acontecia. — Vocês viram tudo aquilo?

— Vi. Bom golpe, o que você deu no final. Agora, se me dá licença, eu quero voltar a dormir.

— Você parece um pouco melhor, Veigas... Que ótimo, eu estava preocupada. — Ela sorriu, enquanto o via entrando no quarto antes mesmo de terminar de ouvi-la. — E Dio, pode tirar um cochilo também antes do café, você deve estar exausto de ficar vendo minha idiotice lá no jardim. Vocês têm o último treino de capacidade mágica hoje, e Serre costuma dar um teste quando uma etapa de treinamento acaba. — Arani se distanciou, indo para a cozinha. — Eu mesma aviso quando o café estiver pronto.

Dio entrou no quarto, quieto, fechando a porta. Sem vontade de deitar, colocou-se rente ao chão e começou a fazer flexões, abdominais ou o que fosse, só para aquecer um pouco os músculos. Sentiu-se diferente de quando fazia isso em Ernas, pois agora não conseguia de jeito nenhum invocar pressão para aumentar o peso sobre seu corpo, deixando todos os exercícios fáceis demais. Todavia, continuou fazendo-os.

Veigas, que tentava dormir até agora, parou um pouco para olhar o que o outro fazia. Os movimentos repetitivos foram o suficiente para conseguir pegar no sono. Duas leves batidas na porta o acordaram novamente, não muito mais que uma hora depois. Dio tomou café normalmente e Veigas recusou de novo, assim como fez com o almoço e faria no jantar.

Serre os chamou para o jardim.

— Hoje é o último dia dessa etapa de treino! Já se passou uma semana, e tenho certeza que, se fizeram como pedi, devem conseguir manter a esfera por duas horas. Porém — ele se virou para Veigas — andei observando você, e notei que estava tendo um pouco de dificuldades nestes últimos dias. Você acha que consegue, jovem?

O menor, em retorno, conjurou a esfera mais densa do que tinha feito em qualquer outro dia, chegando até a emitir um leve chiado. Tinha, mais do que aparentemente, se zangado.

— Muito bom! Então, vou ficar aqui observando, e aviso quando der o tempo. — O velho sentou-se sobre a grama e permaneceu parado, como uma estátua, com os olhos fixos nos dois pseudo-elfos.

Dio também comprimiu sua magia e fez a esfera. Pensou em tentar equipará-la à intensidade da de Veigas, mas deixou a ideia de lado, visando o fato de que não tinha um controle tão bom sobre a pressão que exercia e faria as correntes entrarem em pane.

As duas horas se passaram, ambos mantiveram suas esferas; Veigas com um pouco mais de trabalho, parte por ter feito forte demais e acabar usando mais magia, parte por ficar remexendo nas correntes para colocar mais um pouco de desafio naquele teste monótono, no qual desejou ao menos ter levado um livro. Chegou a se perguntar diversas vezes do porquê de estar aceitando fazer aquilo ao invés de simplesmente sair correndo da casa.

— Podem descansar, o tempo já passou. — Anunciava Serre, vendo os dois dissiparem energia e agradecendo aos deuses por, dessa vez, não tentarem brigar no meio do treino. — Estou realmente impressionado, vocês foram muito bem, até ultrapassaram minhas expectativas. A próxima etapa, eu lhes digo amanhã. Se quiserem, podem continuar treinando suas capacidades, porque o próximo teste vou cobrar de vocês o dobro. — E retirou-se do jardim, se despedindo.

— Quatro horas...  — Veigas revirou os olhos.

 Ele já se preparava ansiosamente para sair da vista enjoativa de grama verde que teve de aguentar por toda a duração do teste, mas assim que começou a andar, parou, antes que sua algema fizesse isso por ele. Objetivou-se a dar um simples repuxe nelas, mas ao não ser correspondido, olhou para trás, tentando descobrir qual o motivo da resistência quando era consciente de que o tédio por ficar ali era mútuo.

Encontrou a figura de Dio, alongando as costas, que tinham ficado durante as duas horas, travadas para manter a postura. Não era exatamente a imagem que costumava lhe agradar, mas o menor se viu vidrado em cada pequeno estalo emitido pelo corpo do outro. Logo que percebeu que não demoraria para ser observado de volta, desviou sua atenção para longe dali.

E nesse ato, acabou por perceber duas coisas. A primeira, era que um projétil de luz em alta velocidade estava indo em direção à Dio, e a segunda, era que a posição em que ele estava não o daria tempo para desviar.

Dio, notando tarde demais, reflexivamente invocou uma de suas asas e aparou o projétil, que explodiu ao contato e causou uma ferida ainda maior do que causaria, mas escondeu a dor eficientemente bem no momento, para somente demonstrá-la através de um quase imperceptível movimento em sua boca. Desinvocou a asa para ajeitar sua posição e ver o que tinha o acertado, mas não encontrou nada na direção que o projétil tinha vindo.

Ao invés disso, encontrou Veigas ao seu lado por ter desviado com sucesso do que parecia mais um projétil explosivo que deixou uma pequena cratera no chão. Ele olhava até com certa indiferença para o homem moreno de longos cabelos loiros que se prostrava diante deles com uma balestra à mão e um cetro na cintura. Vestia-se de um traje de combate feito majoritariamente por malha, com uma aljava repleta de flechas nas costas que já estavam prestes a serem usadas em mais um ataque, este que foi desviado por ambos, mas que, na verdade, focava somente em Veigas. E o homem, aparentando nada satisfeito, tentou mais uma vez.

Já um pouco irritado, Veigas determinou que iria acabar com aquilo por ali para não fazer mais barulho e chamar a atenção de certas pessoas que não queria aturar, porém, para sua surpresa, a balestra já estava jogada no chão, assim como o dono dela.

— Verme. — Dio, atrás do corpo caído, murmurou após dar-lhe um golpe na nuca.

— Acaba logo com ele. — Disse o asmodiano de olhos dourados, impaciente.

— Não tem necessidade pra isso.

— Necessidade? É a obrigação dele morrer depois de tentar me atacar. Se você não fizer isso, eu faço. — Aglomerou energia em uma das mãos, mas foi parado por Dio.

— Eu já disse, não.

— Por que? Não tem sentido deixar ele viver!

— Ora, porque...

Assim, começaram uma discussão ávida sobre matar o homem ou não, ambos quase se desviando do assunto para xingar um ao outro, elevando sempre a voz. Após um tempo nisso, o som metálico assolou o ouvido dos dois mais uma vez.

— Paz, garotos! Paz! — Arani vinha com a mesma panela e a concha deformada, batendo-as como se fosse um gongo, cessando imediatamente a gritaria e irritando mais ainda Veigas que já estava bastante alterado.

— Mulher, vê se enfia essa panela no seu...

— Ei. — Dio o interrompia, num tom que não parecia gritar como antes e nem mostrar irritação, o que conseguiu fazer com que o outro o atendesse.

— O que... — Olhou para onde os olhos dele se direcionavam, e acabou por franzir um pouco a testa.

O homem loiro desaparecera sem que eles notassem quando, sem deixar nenhuma pegada na grama, sem fazer qualquer barulho. Veigas, lutando para manter a indiferença no rosto, murmurou o primeiro pensamento que teve.

— Ele viu as suas asas.

Arani, confusa, decidiu não perguntar nada.

 

—-------------------

 

— Agora, eles já devem estar mandando um exército inteiro de dragões cinza pra nos atacar. — Dio sentou na cama após fechar a porta, um pouco cansado.

— A culpa é sua, ninguém mandou invocar as asas naquela hora. Podia muito bem ter parado de se alongar alguns segundos antes, e teria tempo o suficiente pra desviar. — O outro deitou-se na própria cama e pegou um livro que estava pousado sobre o criado mudo. — Na distância que o projétil estava quando o percebi, até um humano desviaria sem esforço.

— Se você viu aquilo vindo, por que porras não me avisou!?

— E que graça teria se eu avisasse?

— Você acha que tem graça ser perseguido por uma horda de dragões!? Se aquele humano souber identificar um asmodiano e espalhar que eu sou um, a chance de sobreviver nessa dimensão diminui na metade!

— Do que você tá reclamando? Não foi você que ficou defendendo aquele humano? Agora arque com a sua própria burrice. — Disse, virando a página do livro. Enquanto lia, começou a pensar em algo e acabou por esquecer o que tinha acabado de ler. — Aliás, por que você fez isso?

— Porque... — Ele começou a ponderar em alguma desculpa para sua ação, mas nada parecia algo convincente. “Porque é errado matar sem motivo”? Não. Ele, além de nunca agir pelo certo e errado, tinha todos os motivos do mundo para degolar aquele homem. “A Grand Chase me influenciou” também não era válido, pois nunca tinha deixado de matar quem julgasse necessário, sendo ou não aliado deles. Estava sem resposta. E antes que demorasse demais, se decidiu por, de novo... — Não sei. — Murmurou.

— Eu também não sei. Existem certos graus de estupidez alheia que eu não consigo entender. — Veigas tentou reler a página que tinha esquecido. — É como eu disse, você nem parece asmodiano. Primeiro que nunca respeitou a própria raça e se juntou àquele bando de humanos de Ernas, e agora — acabou desviando os olhos para espiar o que fazia o outro ouvir tudo tão quieto — fica mostrando piedade a qualquer um que te apareça.

Dio tinha invocado as asas, examinando a machucada. Um ferimento relativamente grande tinha se formado, cobrindo dois terços da extensão do membro. Tentava movimentá-la lentamente, concentrado para não se precipitar e acabar por rompê-la.

— Se você não quis matar por ter de esconder o cadáver, poderia muito bem cavar um buraco naquele jardim e enterrar, já que deve ser um especialista nas técnicas que envolvem ser um animal... — Veigas comentava, aproveitando-se do silêncio que começava a incomodá-lo bastante. — Ei, não é a filha dos Von Crimson ali na porta?

— O quê!? — Dio espantou-se, acabando por se mexer bruscamente demais ao susto e soltar um gemido esganiçado de dor.

— Foi só pra ver se estava me ouvindo. — Conteve a vontade de rir, mantendo a expressão indiferente. Através das várias reuniões de Elyos, já tinha visto a citada Von Crimson, que nunca escondia a ninguém o desagrado que sentia da ausência de Dio. — Agora, voltando ao... — E parou assim que percebeu que começaria a falar com as paredes novamente.

Permaneceu em silêncio por um tempo, e concluindo que de nada adiantaria tentar se comunicar, revirou os olhos em um suspiro de desistência, fechando o livro que também não tinha conseguido absorver nada do conteúdo.

Levantou-se um pouco irritado, e colocou-se diante do outro, recebendo um olhar confuso em troca. Passando-lhe pela cabeça a memória do que tinha acontecido da última vez que ele tinha se aproximado tanto, Dio recuou um pouco.

Mas, diferentemente de antes, Veigas não tinha o olhar distante e tampouco parecia incerto do que queria fazer. Ao invés disso, sua mão esquerda estava brilhando em violeta, envolta em magia, o que fez Dio começar a tentar falar.

— O que você...  

— Mostra. — Esperou, contudo viu que Dio permanecia confuso. — Mostra a... Ah, esquece. — Pegou, ele mesmo, a asa ferida e a estendeu com um pouco de esforço. Um exale audível e um leve tremor confirmou a dor do outro, que não conseguia recuar mais ou se mexer, sem ter o risco de danificar-se consideravelmente.

Após examinar, viu que o machucado não era tão superficial quanto pensava, e para a surpresa do que estava ao seu lado, murmurou, baixinho:

“Escudo Negro”.

Dio tentou fugir por um instante ou até contra-atacar, mas acabou por notar que o pequeno cubo transponível de magia que fora invocado não estava o machucando, mas sim aliviando a dor que sentia. Antes de abrir a boca para questionar, ouviu:

— Originalmente, eu não criei a técnica pra esse fim. Por isso, a cura não é potente, mas deve bastar.

Ao fim de mais ou menos dez ou quinze segundos, Veigas desfez a magia, soltando a asa da mão para que o dono dela pudesse ver o que tinha lhe acontecido.

O ferimento, agora menor e mais tolerável, o permitia se mexer sem que tivesse que se preocupar com o risco de rasgá-la. Após o súbito alívio, desinvocou as asas que não mais o incomodavam tanto, mas ao sentir uma pequena oscilação nas correntes, se deu conta do que tinha acontecido e logo se perguntou do porquê de Veigas, de repente, ter decidido ajudá-lo. E como se soubesse o que estava pensando, o ouviu responder:

— Foi uma vingança pelo que você fez na floresta. Nada mais que isso. Eu não quero ficar devendo nada a ninguém.

Dio suspirou.

— Pensei que você fosse desintegrar as minhas asas só porque eu não estava interessado te ouvir me xingando.

— Então, da próxima vez, eu desintegro a sua cara pra ver se você para de ser tão imbecil.

Dio não tentou dizer nada contra o insulto. Já não estava mais com tanta vontade de brigar, pois sabia que, de certa forma, curá-lo foi o que Veigas encontrou para “agradecê-lo”, mesmo que não fosse exatamente essa a palavra que tivera atribuído ao ato, e isso acabou por extrair quase toda a raiva que tinha acumulado durante as discussões do dia.

Por alguns instantes, sentiu que não lhe faltava muito para esboçar um sorriso, mas conseguiu manter com sucesso a cara fechada de sempre. E um dos fatores que o ajudou a esconder esse sorriso, foi a súbita pontada de dor que atravessou sua cabeça, repentinamente. Latejava quase mais dolorosamente que a sua asa. Fechou os olhos por alguns instantes, mas acabou só por ver seus nervos e algumas imagens confusas, que não deu a menor atenção em meio a vertigem e ao chiado que sabia que só ouvia em sua mente.

 “É igual ao da última vez... mas...”

— O que você... — Veigas observava a expressão agonizada do maior, que logo se tornou nula e ausente. Entretanto, antes que conseguisse terminar sua frase, sentiu algo pesar sobre si mesmo. Mas não precisou sequer olhar para saber o que era. Ou melhor, quem era. — Ah! Sai de perto, maldito! — Distanciou-se de Dio, que estava apoiado sobre si e acabou por cair na cama sem nem mesmo tentar aparar a queda.

Estranhando a reação, ou falta a de reação, aproximou-se novamente e acabou por perceber o motivo.

“Ele, do nada, acabou de...?” pensava, enquanto fazia um teste rápido para comprovar se não era só fingimento, ao condensar o quanto de energia conseguia em sua mão e aproximá-la do rosto do outro, que não mostrou nenhuma oposição à ameaça. Quando fez esvair a energia em sua palma, já tinha a confirmação que precisava. 

Dio estava inconsciente.


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Notas finais do capítulo

Bem vindo de volta! Dessa vez, não tenho tanta coisa pra falar aqui, então, até a próxima o/
PS: Se serve de consolo (de novo), eu fiz outro desenho sem relação com a fic, mas dessa vez, foi desenho tradicional e não o habitual digital: http://blackfoxu.deviantart.com/art/Say-Grand-Cheese-676143622
(ignorem a piadinha por favor)



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