Escolha escrita por Satoji


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores.

Estou com mais uma oneshot original, espero que gostem :)



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Vinte e cinco anos. Linda em seu vestido de noiva. Pronta para o sim – ou pelo menos achou que estivesse – Você olha para o espelho e pensa em quanto você irá perder por se casar “cedo”.

 

— Vamos querida — Seu pai bate há porta e te chama. Você não tem mais certeza da escolha que fez.

— Só um minuto pai. — Suspira e pensa “O que devo fazer? ”.

 

 

— Então, você quer me dizer que jogou seu casamento com o bonitão do Traven para o alto por que, não se sentia preparada? — Sorri de maneira simples, mas verdadeira.

— Exato. — Continuei sorrindo. Porém, Thalia estava com o olhar mais bruto da face da terra — Desculpe, só não estava preparada...

— Sério, qual o seu problema?

— Eu ainda não sei — Peguei a taça de suco e tomei com meu canudinho. O calor estava imenso.

— Eu sempre achei que ele tivesse te traído. Por isso havia o largado no altar.

— Não — Devolvi o suco a mesa e continuei — Traven foi um amor e continua sendo... Ele até me agradeceu por não termos casado.

— Mas é claro que agradeceu.... Vocês são loucos — Thalia parecia incrivelmente irritada. Eu sabia que não deveria ter contado a ela, mas contei.

 

 

Semanas se passaram após o tempo que fiquei com Thalia. Ela é uma boa amiga, só não sabe disso. Eu estava ocupada demais com o emprego e a faculdade. Estudar e trabalhar é cansativo, porém, não é nenhum bicho de sete cabeças como todo mundo diz.

Mais algumas semanas e meu trabalho de termino e conclusão de curso estaria pronto, seria um alivio e eu não teria mais que me preocupar com esse tipo de coisas. Foi então que meu celular tocou.

 

— Alô?

— Ângela? — Suspirei. Era o Traven.

— Oi... Tudo bem? Aconteceu algo?

— Eu não consigo.... Eu não... — A voz do Traven me assustava. Parecia que algo estava acontecendo do outro lado. Eu ouvia carros e barulho de pessoas passando.

— Onde você está? — Perguntei sabendo que não era em casa — Eu vou ai, a gente conversa. Você desabafa e fica tudo bem...

— EU NÃO CONSIGO SER COMO VOCÊ! DROGA! EU NÃO SOU FORTE, EU QUERIA SER COMO VOCÊ... VOCÊ SABIA QUE EU ERA UM FRACASSADO POR ISSO VOCÊ ME DEIXOU, NÃO FOI?

— Traven, para de asneiras. — Comecei a ficar preocupada, levantei da cadeira da minha mesa de estudo e fui em direção a sala. Iria pegar minha chave e ir atrás do Traven, precisávamos conversar — Me diz onde você está, eu vou te buscar.

— Tarde demais...

 

                Eu não conseguia ouvir mais nada. Meu coração acelerou, senti que havia perdido o Traven. Dessa vez, para sempre.

 

 

— Como ele está? — Tanto a família do Traven, quanto eu, estávamos preocupados. Ele nunca havia demonstrado comportamento suicida antes.

— Ele vai se recuperar — A mãe do Traven me abraçou forte — Peço que não contem a ele sobre coisas que o levem a ficar nervoso, pelo menos, não por enquanto.

— Certo doutor.

 

                A mãe dele pediu que entrássemos juntas, nós nunca nos demos muito bem. Depois que o deixei no altar então.... Ela só faltou mandar me prender. Traven estava deitado, nunca havia visto tantos tubos como vi naquele dia. Sorri para ele e ele sorriu para mim.

 

— Olá — Falei baixinho me aproximando — Como está?

— Poderia estar melhor... O médico disse que eu me joguei de uma ponte — Ele riu — Mas não me lembro disso.

— Não se lembra, querido? — Senhora Losten sentou-se ao lado do filho e acariciou seus cabelos.

— Não... a última coisa que me lembro foi de ir alugar meu terno.

— Terno? — Perguntei de maneira inocente.

— Sim, o terno do casamento — Olhei para Vera e ela para mim, ele havia perdido a memória?

 

 

— NÃO! DE MANEIRA NENHUMA. — Gritava, esperneava e gemia como uma criança — VOCÊ NÃO VAI FAZER MEU FILHO SOFRER NOVAMENTE!

 — Calma senhora — O médico pediu — Podemos contar a ele, é o melhor jeito, não concordo em esconder essa informação, só peço que não falem de imediato pois, não sabemos como ele pode reagir.

— Não se preocupe, Vera — Levantei-me — Irei contar ao Traven.

 

                Sai do consultório do médico com esse propósito traçado. Caminhei pelo corredor sem olhar para os lados. Senti a espinha gelar assim que abri a porta do quarto e me deparei com aquele sorriso largo. Sorri de volta e me sentei ao seu lado.

 

— Demorou, aconteceu algo? — Traven pegava minha mão e a levava aos lábios, beijando-a em seguida.

— Não — Menti — O que pensa em fazer quando sair daqui?

— O que acha?... Casar-me com você — Mordi meu lábio e os abri em seguida, sendo interrompida por ele — Espera.... Que dia é hoje?

— Dez de novembro — Respondi sem entender.

— Então.... Nós já casamos — Sorriu — Como foi a festa?

— Ah.... Precisamos conversar sobre...

 

                Iria contar, mas, a enfermeira entrou e pediu que eu saísse um minuto. Ela precisava fazer check-ups no Traven. Fui até o corredor do quarto e soltei todo o ar preso dentro do meu peito. Seria mais difícil do que eu imaginava.

 

 

Os dias começaram a correr e logo Traven teria alta no hospital. Eu precisava contar, mas, só de ver o sorriso dele que era sincero, me doía o peito, era como se a vida tivesse me dado uma segunda chance e dito “Vá e diga sim” ao invés de fugir das responsabilidades.

 

— Traven... — Chamei enquanto ele se levantava e ia em direção ao banheiro que havia no quarto.

— Diga amor — Ele se virou para mim, enquanto eu andava em sua direção.

— Caso eu desistisse do casamento, o que você diria? — Precisava saber o que ele pensava sobre, antes de falar qualquer coisa.

 

                A reação foi esquisita. Ele primeiro começou a rir, olhou para mim e quando viu que eu não estava rindo ele parou para pensar. Pensou por muito tempo e depois continuou andando em direção ao banheiro, ele entrou e bateu a porta atrás de si. Droga, eu deveria ter falado de uma vez. Bufei.

 

— Ótimo — Sussurrei e caminhei devagar até o banheiro — Você está bem? — Abri a porta e ele estava jogado no chão — TRAVEN!

 

 

                Depois que ele acordou, conversamos. Ele chorou e pediu que eu desse um tempo com as visitas. Disse que quando estivesse acostumado com a ideia iria me ligar. O que claramente não aconteceu.

                Pensei sobre Traven se jogando da ponte e sobre o ataque que ele teve no banheiro. Eu realmente era tão importando? As coisas estavam saindo do meu controle. Eu havia entregue meu trabalho e apresentado meu TCC, o serviço continuava me sugar um tempo valioso, então, servia para que eu esquecesse um pouco o caso do Traven. Meu telefone começou a tocar. Decidi ir atender antes que os vizinhos do apartamento ao lado reclamassem de “barulho”.

 

— Alô — Esqueci de olhar a tela para saber de quem vinha a tal ligação aquele horário.

— Tenho uma proposta — A voz masculina me deixou sem reação.

— Traven? Mas o que...

— Quero passar umas duas semanas com você, se depois disso você realmente não sentir nada por mim, eu te deixo em paz e não vou tentar me matar.... Prometo — Ele soava desesperado. Sorri de maneira nervosa.

— Não posso fazer isso... E outra, sua mãe sabe disso? Você sabe o que ela pensa sobre...

— Minha mãe não manda nas minhas escolhas, ok? — Parecia irritado — Estou na sua porta, pode abrir?

— QUE?...

 

                Desliguei o telefone e abri a porta do apartamento. O porteiro.... Eu esqueci de avisar o porteiro que Traven e eu não estávamos mais juntos e que ele não poderia subir sem permissão. Dei espaço e ele entrou. Sorri de maneira mais nervosa ao ver o tamanho da mala que ele trazia com ele.

 

— Ótimo — Deixei meu corpo se mover até a sala — Olha, eu sei que está confuso pela falta de memória, mas, você até me agradeceu por ter desistido. Disse que também estava confuso sobre casar e...

— Não acredito que eu realmente estava certo disso — Colocou a mala no meu quarto e voltou a sala — Eu sei que não lembro de nada desde o dia que aluguei o terno. Deve ter um motivo para eu ter concordado com o que você fez e eu quero descobrir porque.

— Simples — Falei — Não nos amávamos como achávamos que amávamos.

— Que?

— Deixe-me explicar melhor — Bufei — Eu e você não nos amamos tanto a ponto de casar.

— Então, por que eu te liguei e me joguei da ponte? Já parou para pensar que talvez eu nunca tenha superado isso?

 

                Parei por um instante para refletir sobre o que ele me falava. Será que realmente ele me amava tanto ao ponto de se matar por não me ter? Mas, ficar com ele sabendo disso é errado. É como se eu estivesse sacrificando a minha felicidade por ele.

                Suspirei fundo. Iria mostrar a ele que estava certa. Custasse o que fosse custar.

 

 

                Eu acordei com mais sono do que de costume. Espreguicei-me e levantei num salto. Precisava tomar meu café e pegar minha câmera. O sol batia forte contra a janela da sala do apartamento, era um lindo dia para fotos.

                Caminhei até a cozinha e ao me deparar com o ser humano andando de cueca na cozinha fez com que eu soltasse um grito involuntário.

 

— MAS QUE DROGA, TRAVEN! — Bufei de raiva. Fechei meus olhos e pedi calmamente — Vá vestir uma calça, por favor.

— Hey! — Ele começou a rir — Você já viu mais do que isso.

— Traven, ou você veste a calça ou eu chamo a polícia.

— Exagerada — Traven caminhou até o quarto, pude ouvir seus passos, demorou alguns minutos e depois retornou — Pronto, satisfeita?

— Eu espero que não se repita — Abri meus olhos e encarei o corpo dele. A calça de moletom e o peito desnudo. Droga, ele continuava do mesmo jeito, ou seja, eu ainda me atraia pelo corpo dele.

— O que faremos hoje? — Sentou-se na bancada da cozinha, enquanto eu pegava a cafeteira e enxia minha xícara.

— Eu vou trabalhar, você eu não sei — Respondi. Voltando a cafeteira a seu suporte e levando a xícara aos lábios.

— Estou de férias do trabalho, Arnold achou melhor eu descansar esse mês — Começou a bater no balcão com uma das mãos e transformar os batuques em música. Arqueei a sobrancelha, aquela mania... Ele nunca a perderia.

— Concordo com Arnold. Por que não vai viajar? Sei lá, fazer um cruzeiro... Thalia está solteira — Pisquei, vendo ele se irritar.

— Mas que droga, Ângela — Suspirei. Ele estava tentando me conquistar e eu não queria isso.

— Ué — Fingi rir — Eu não consigo fingir que está tudo bem e que somos um casal, porque nós não somos.

— Posso ir com você? — Ele apontou a câmera. Olhei para ela e depois para ele, mordi o lábio e sorri.

— Ok, mas sem tentativas de reconciliação.... Eu só aceitei para te mostrar que não sou perfeita e tão amorosa quanto se lembra.

 

 

                Eu estava começando a me arrepender do que tinha feito. Traven é um amor, não posso negar, o cara é perfeito. Infelizmente, não sinto mais o mesmo por ele, pelo menos achei que não sentia.

 

— Agora levante um pouco a perna, querida — Dirigia a palavra a uma das modelos que posava no parque — Isso, agora um sorriso, tente ser natural, ok?

 

                Tentava fazer o meu melhor, mas com Traven ali, eu achava difícil conseguir algo muito produtivo.

Traven estava distraído tirando foto de alguns pássaros — diferente de mim, ele fazia por hobbie — Percebi que a modelo não tirava os olhos dele, então, tive uma grande ideia.

 

— Se você se empenhar no ensaio, lhe dou o telefone dele, que tal? — Sorri. Vi o espanto crescer no rosto da modelo de uma vez e logo depois o interesse na minha proposta.

— Sério? — Perguntou interessada. Descarada, pensei.

— Claro, para que eu iria mentir? — Sorri — Além de querer que você se concentre e dê tudo de si?

— Ok — Ela sorriu — Mas quero o telefone.

— Combinado. — Pisquei, então, ela se concentrou.

 

A sessão de fotos fluiu como eu queria a partir daquele momento, fiquei aliviada e ao mesmo tempo surpresa, se eu soubesse que Traven poderia me ajudar desse modo com as modelos, eu teria o levado em mais sessões.

Assim que acabado, ele veio até mim mostrar-me o que havia conseguido com os pássaros. Sorri. Após um pouco de conversa sobre as fotos nos dirigimos a cafeteria, precisaria de muito café aquela noite, passaria em claro terminando as edições para a revista.

 

— Deu meu telefone para a modelo? — Enquanto eu estendi minha mão para pegar os cafés que a atendente havia me preparado eu respondi sua pergunta.

— Sim — Sorri — Quem sabe vocês não encontram algo em comum? — Dei as costas, caminhando em direção a saída da cafeteria e indo em direção ao meu carro. A noite seria longa.

 

 

Não imaginei que os dias ao lado de Traven seriam tão perturbadores, então, decidi chamar Thalia para passar um tempo conosco, o que claramente foi meu pior erro, já que ela decidiu vir e pra minha decepção ficar do lado de Traven.

Acreditei que com a Thalia aqui ele não andaria de cueca pela casa, o que foi claramente um erro, eles fizeram pior. O complô estava armado. Eles fizeram as mais incríveis armadilhas para que eu ficasse a sós com Traven.

Desde deixar a porta do banheiro destrancada para eu entrar e encontra-lo nu até, eu acordar e ver o corpo de Traven abraçando o meu enquanto eu dormia. Eu só poderia estar vivendo um pesadelo, ou, pagando meus pecados.

Estava distraída e quando passei pela sala, os dois estavam usando meu vídeo game para jogar Just Dance¹, estavam seminus na minha sala e pulando como dois macacos. Aquilo foi a gota d'água.

 

— É SÉRIO? — Perguntei os vendo se virar rindo para mim — Eu deixo vocês sozinhos durante algumas horas e quando vejo, estão seminus na minha sala... dançando?

— Ah pare — Thalia sorriu me puxando — Venha dançar conosco.

 

Thalia vestia um top e um short super curtos, já Traven usava um short de ginastica masculino bem curto, deixando suas pernas torneadas de fora, me fazendo as olhar involuntariamente. Acabei por resisti a pressão e quando vi, estávamos dançando a horas.

Eu adorava jogar Just Dance, infelizmente, Traven sabia muito bem disso e quando percebi, estávamos dançando uma musica sozinhos, quase nos agarrando na sala de casa. Eu podia sentir a respiração dele próxima ao meu rosto e então, acordei para a realidade.

Olhei em volta e nada da Thalia. Cretinos, fizeram de propósito. De modo rápido, empurrei Traven e corri para o meu quarto. Tranquei a porta, me encostando nela. Não demorou muito para ouvi-lo bater na mesma.

 

— Desculpe — Pediu Traven — Eu não queria forçar as coisas.

 

Eu não respondi. Somente sentei-me no chão e respirei pesadamente, estava cansada pelo exercício físico que havia feito enquanto jogávamos. Eu não iria ceder aos joguinhos deles.

O ouvi bater na porta com força e escutei seus passos recuando.

 

 

— A modelo me ligou — Ele parecia triste. Tentei fingir não ter me incomodado e por fim, abri meus lábios e falei.

— Isso é ótimo, quando irão sair? — Tinha certeza que ele diria a palavra nunca, me debrucei sobre o balcão ficando a encarrar os olhos dele, por fim, abriu seus lábios e me respondeu.

— Hoje a noite — Choque, foi o que senti. Deixei meu sorriso na face, para que ele entendesse que eu estava feliz, mas por dentro, eu sentia algo diferente.

— Ah — Levantei meu corpo e fui em direção a garrafa de café — Isso é ótimo.

— É — Saiu da cadeira e foi em direção ao quarto de hospedes, que era onde estava dormindo já que Thalia havia desistido do plano mirabolante deles.

 

 

Não conseguia pensar em nada, nem mesmo o filme que eu estava assistindo estava me ajudando a tirar o pensamento com o nome de Traven da minha mente. Suspirei, mudei de canal várias vezes, mas nada me agradava.

Eles devem estar se divertindo agora, ela o agarrando e se esfregando, enquanto ele toma vários goles de uma bebida qualquer para depois leva-la para um motel...

Joguei a vasilha com pipocas no chão. Bufei e soltei um urro. Que droga estava acontecendo comigo? Levantei-me e fui em direção a cozinha com a intenção de pegar a vassoura. Olhei o relógio, já eram mais de três da manha. Ele não voltaria.

 

— Chega Ângela, foi você quem quis assim, não foi? Agora volte lá, limpe a sala e vá dormir — Falei em voz alta enquanto me dirigia a sala e limpava as pipocas caídas no tapete.

 

Quando terminei, peguei a vasilha e a joguei na pia, apagando as luzes. Ele não voltaria e eu iria dormir.

 

 

No dia seguinte, nada de Traven, nem no próximo e nem no outro... Nada de ligações, nada de passar buscar suas coisas. Ele havia sumido da minha vida. Parecia que eu nem era mais tão importante.

Dei de ombros, era o que eu realmente queria — Bem, eu pensava que queria isso — Não iria morrer de preocupações, Traven é adulto e sabe o que faz. Peguei minha garrafa de café e fui em direção ao meu escritório, eu iria terminar as edições.

 

 

Estava mais uma vez tirando fotos, dessa vez dentro do estúdio, porém, com a mesma modelo do parque, estava me segurando para perguntar a ela sobre Traven, mas não o fiz, se ela tivesse algo para comentar ela mesma entraria no assunto.

 

— Ângela — Me chamou, como imaginei.

— Sim — Virei-me para ela, enquanto descansava minha câmera sobre a mesinha.

— Seu amigo me deu um bolo — Ela entortou o lábio e eu ergui a sobrancelha.

— Como assim?

— É, eu marquei com ele a uma semana atrás de nos encontrarmos e... até hoje estou esperando para saber o porque dele não ter aparecido — Bufou.

 

Arregalei os olhos. Então ele não voltou a meu apartamento por outro motivo, olhei para o lado e procurei por alguém para me substituir, algo poderia ter acontecido com Traven e eu não poderia deixar que ele se machucasse novamente.

 

— CAMILA — Minha colega de trabalho me olhou assustada — TERMINE A SESSÃO PARA MIM, EU PRECISO RESOLVER UM ASSUNTO URGENTE — Olhei para a modelo que não entendia nada, a abracei e por fim falei — Obrigada.

 

Sai correndo em direção ao elevador e entrei nele. Na minha cabeça o tempo dentro dele passava devagar, assim que as portas se abriram me dando acesso ao estacionamento, eu corri empurrando quem quer fosse, ouvi alguns xingamentos, mas não olhei para trás.

Em meio a isso eu tentava ligar para Traven, o telefone dele só chamava, ele não atendia minhas ligações. Entrei em meu carro desesperada e sai do estacionamento cantando pneu, eu precisava acha-lo.

Na minha cabeça só passava a cena do Traven pulando da ponte. Eu só conseguia pensar no pior, ele poderia estar no apartamento dele jogado no chão e embriagado, como poderia estar na casa dos pais, como poderia estar em algum hospital sem saber quem é...

Liguei para ele novamente, e mais uma vez sem retorno.

 

— Anda, me atende Traven — Estava presa no transito para variar e o telefone dele continuava dando caixa postal — DROGA! — Bati a mão com força na buzina no carro, bufei e senti os olhos encherem de lágrimas — POR QUE NÃO ATENDE O MALDITO TELEFONE?

 

Tentei ligar para os pais dele, ninguém me atendeu — claro, minha ex-sogra não iria querer ouvir minha voz tão cedo.  Passei no apartamento de Traven, mas o segurança da portaria não me deixou subir, disse que tinha ordens para não deixar ninguém entrar sem permissão.

Diferente de mim, ele havia avisado a portaria. Bufei de raiva, entrei em meu carro novamente e fui em direção a ponte, a mesma ponte onde ele havia se jogado a primeira vez.

Não conseguia acreditar no quão preocupada estava com Traven, eu não imaginei que estava sentindo tantos sentimentos diferentes por ele, infelizmente, eu havia me apaixonado por ele novamente, sem perceber, de maneira mansa, ele havia me conquistado novamente.

Encostei o carro próximo a ponte e decidi ligar para Thalia, claro, ela iria saber do paradeiro de seu cumplice. Demorou cerca de dez minutos para me atender mas ela o fez.

 

— Diga — Sua voz passava tranquilidade.

— Sabe do Traven? Faz mais de uma semana que não tenho noticias e...

— Claro que tenho — Gargalhou — Estamos morando juntos.

 

Senti meu chão sumir, era verdade? Ela estava falando sério? Não era possível. Minha melhor amiga, estava mesmo pegando meu ex-noivo o qual, eu havia largado no altar e agora estava caída por ele novamente?

Minha ficha caiu. Eu estava na beira da ponte, pronta para me jogar, quando dei um passo para trás, eu não poderia fazer isso, não podia me jogar da ponte para me livrar dos meus problemas.

 

— Ângela?... onde você está?

 

A voz preocupada da Thalia do outro lado da linha não me tirou do transe. Eu estava pensando no passado. Porque diabos eu deixei Traven no altar? Eu realmente estava com medo do compromisso? Eu estava cansada da vida que tínhamos juntos? Mas porque então toda vez que eu o via na minha casa, o via no meu banheiro, na minha cozinha... eu sentia que eu queria pular nele e sentir seu corpo?

Lágrimas no meu rosto, eu comecei a rir.

 

— Parabéns Thalia, vocês se merecem.

— Que?

— Estou falando sério, faça ele feliz — Desliguei o telefone e voltei para meu carro.

 

 

Deixei que os dias passassem, eu não queria falar com Thalia, muito menos com Traven. Meu telefone havia tocado repetidas vezes durante a semana, todas de Traven e Thalia. Eu estava concentrada no meu projeto, seria melhor me aprofundar nele e esquecer esses dois.

Avisei a portaria para que ninguém, nem mesmo o PAPA, pudesse subir sem que fosse avisado por mim e também pedi para que não me incomodasse interfonando, eu não iria atender.

E durante duas semanas eu fiquei nesse mesmo empasse. As ligações eram recusadas, eu ia trabalhar e voltada com uma expressão mórbida. Eu havia perdido o que eu tinha em mim, que era a felicidade, e só agora eu havia percebido.

 

 

Decidi começar a fazer caminhadas todas as manhãs, o que foi meu erro, pois acabei encontrar um dos membros do casal que eu evitava, e para meu azar, era o Traven.

 

— HEI — Eu continuava andando, sem dar importância ao que ele falava ou gritava — ÂGELA! — Correu até mim e me puxou.

— Que foi? — Puxei meu braço o tirando do dele.

— O que está acontecendo?

— Nada — Respondi, continuando minha caminhada, Traven bufou e continuou caminhando ao meu lado.

— Não se faça de desentendida — Eu fingi não saber do que ele estava falando — Por que não me atende?

— Ah é? — Virei-me para ele — Por que saiu do meu apartamento sem avisar? Por que sumiu uma semana e meia e não me disse para onde foi? Por que começou a sair com Thalia e não me avisou?

— Como é?

— QUE DROGA, TRAVEN! — Gritei, eu estava inteiramente irritada — EU SEI QUE ESTÃO JUNTOS, ELA ME CONTOU.

— Espera, calma...

— Não, calma você — Ele tentou me abraçar mas o empurrei — Escute o que tenho que falar antes de qualquer coisa. Você vem a minha casa, fica duas semanas, faz com que me apaixone por você novamente, depois diz que vai sair com a modelo. Some. Não me atende, então, uma bela semana, vou trabalhar e a modelo me conta que o senhor a deu um bolo... Eu novamente o ligo desesperada, não me atende — O espanto em sua cara me deixou mais raivosa — Fui a casa dos seus pais, que claro não me atenderam, fui até sua casa e você deu ordens que ninguém subisse. Ok, sem problemas, liguei para minha melhor amiga e... olhe só, ela me disse que estão juntos. Então, sejam felizes e me deixe em paz.

 

Ele começou a rir, o que me irritou mais ainda, senti meus olhos arderem mais uma vez, então voltei a andar.

 

— Espera — Puxou meu braço mais uma vez — É mentira.

— QUE?

— Thalia falou brincando, não estamos juntos — Minha cara estava no chão.

— Eu... eu não deveria ter falado tudo de uma vez.

— Não e... Eu não perdi a memória.

 

Minha vontade no momento era arrancar a face do Traven na unha, como ele pode mentir para mim todo esse tempo?

 

— POR QUE VOCÊ FOI TÃO BAIXO? — Meus olhos já estavam transbordando lágrimas, eu não conseguia mais raciocinar, ele havia feito de má fé.

— Porque eu amo você — Fechou os olhos e continuou — E eu não faço ideia do porque concordei com você sobre não nos casarmos... você é a única que me importa, eu tentei sim me matar, mas, quando ouvi sua voz de novo na minha cabeça, preocupada por eu estar onde você não fazia ideia... me arrependi por ter pulado.

— Não precisava ter mentido...

— Precisava sim — Segurou meu rosto e limpou minhas lágrimas — Caso contrário, nunca admitiria que está apaixonada por mim e sempre esteve, só estava confusa. O doutor sabia que eu não havia perdido a memória, mas o impedi de contar a verdade.

— Droga Traven ... — Minha visão estava embaçada pelas lágrimas, bati em seu peito várias vezes e então ele me abraçou com força, trazendo meu corpo próximo ao dele, eu estava chorando mais do que imaginei que estaria.

 

 

— Não vai assinar? — Encarou minha face, eu sorri pegando a caneta e assinando o papel.

— Prontinho — O juiz pegou os papeis e então falou algumas palavras e nos entregou nossa certidão de casamento.

— Agora estou contente — Traven brincou — Promete não me deixar?

— Palavra de escoteira.

— Você nem foi escoteira — Arqueei a sobrancelha e ri, realmente, nunca havia sido.

 

Thalia sorria, enquanto abraçava o namorado atual. Olhei para Traven e nos beijamos, não havia necessidade de uma festa enorme e muito menos de várias pessoas presenciando aquilo, o que eu mais queria eu já tinha.

 

— Que tal férias na... — Levei meus dedos aos seus lábios.

— Vão ter que esperar, a revista precisa de mim, estou terminando o tema de primavera — Saímos do cartório. Caminhamos calmamente até meu carro. Entramos no carro e ele já colocou suas ideias mirabolantes para fora.

— Poderia pedir para Camila te cobrir — Ele pegava o volante — Ela não iria se importar.

— De jeito nenhum — Sorri, levando meus lábios ao encontro dos dele mais uma vez.

 

E finalmente eu fiz a escolha certa, na hora certa.


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Notas finais do capítulo

Just Dance¹ - jogo de dança para computador e vídeo game que utiliza um sensor de movimentos.

É isso, digam o que acharam, espero que gostem o



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