Ela escrita por G Rodrigues


Capítulo 1
Capítulo único




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Às vezes eu me pergunto como podemos ser amigos, ela é totalmente diferente de mim, somos como água e óleo. As nossas diferenças não são do tipo que somam, na verdade, é mais do tipo que separa mesmo.

Desde a primeira vez que nos vimos a diferença entre nós dois foi gritante, eu o cara que queria bancar o rebelde sem causa, que pagava de fumante, mas que, na verdade, engasgava com a fumaça todas às vezes, o péssimo aluno, apenas em educação física e matemática e ela, bom… ela era apenas ela, como o uniforme muito grande, cabelo que não era penteado a dias e a cara de sono. Não percebi em que momento nos tornamos amigos, mas um belo dia eu estava dizendo a cor da minha cueca e isso foi muito estranho, não tão estranho quando a vez que tive que sair pra comprar absorventes pra ela ou quando o sutiã dela abriu e ela me pediu pra fechar.

Em pouco tempo ela se tornou minha melhor amiga, e se me perguntarem eu nem sei dizer como isso aconteceu, um belo dia simplesmente me dei conta que ela estava ali o tempo todo e em todo lugar, um belo dia percebi os abraços cheio de afeto, as gargalhas que podia ser ouvidas a metros de distâncias, as conversas que me deixavam constrangido e as conversas que me traziam paz… E cara, paz era o tudo que eu precisava, e eu encontrei no colo dela e nos dedos que deslizavam suavemente pelo meu cabelo enquanto eu chorava.

Ela é o tipo de pessoa que chega correndo e pula em você quase te derrubando, te enche de beijos e lambe seu rosto apenas pra te irritar, ela tem a mania insuportável de pegar minhas coisas sem pedir e de bater na minha bunda sempre que fico distraído. Ela é o tipo de pessoa que fala o que pensa e se você se magoar será um problema seu e não dela.

Algumas vezes eu me pego odiando-a, principalmente quando ela perde o foco e começa a falar de outro assunto sem terminar o primeiro, infelizmente ela desse jeito e eu descobri que é mais fácil entender a cronologia dos filmes do X-MEN do que ter uma conversa linear com ela. Terá dias que ela dirá que te ama, terá diz que ela dirá que te odeia, terá dias que ela chorará e outros ela nem dirá “bom dia”, mas, neles todos ela vai te abraçar o mais forte que pode.

Ela é o tipo de pessoa que você diz “eu te amo” e ela responde “obrigada”, “valeu”, “também me amo”, “me passa o sal” e algumas vezes ela nem vai responder, mas se você prestar bastante atenção notará como os olhos dela brilham e o sorriso adorável que deixa a mostra os furinhos nas bochechas. Já perdi as contas de quantas vezes me irritei com essas respostas, e de quantas vezes eu sorri igual um idiota ao ouvir um "também te amo”.

Não temos nada em comum, nem sei como ainda somos amigos, mas um belo dia notei que ela já tinha a chave da minha casa, que ela havia mudado meus móveis de lugar e que meu cachorro já não me obedecia. Tem dias que ela deixa a calcinha pendurada no chuveiro, tem dias que ela deita na minha cama pra assistir televisão, tem dias que ela deixa a panela de brigadeiro na sala, tem dias que ela não aparece.

Ela chega em casa parecendo um furacão deixando as coisas pelo caminho, ela tem mania de dançar com o cachorro enquanto a comida fica pronta, dá pra ver na expressão dele que ele não faz ideia do que está acontecendo, mas o rabo abana feliz. Ela conversa sozinha e gesticula enquanto arruma o guarda-roupa e às vezes muda o tom de voz ao ponto de me fazer pensar que tem outra pessoa.

Ela me faz rir com o jeito estabanado, e com a facilidade que ela tem de quebrar as coisas, e nesses acidentes já perdi quase todos os copos do bar, duas televisões e um celular. Ela tem a mania estranha de ficar sentada no escuro me esperando chegar e um dia ainda vai me matar do coração.

Realmente somos tão diferentes que me pergunto em que momento me apaixonei por ela, talvez tenha sido desde do primeiro dia que peguei ela sentada no balcão da cozinha tomando café usando apenas uma calcinha, ou talvez tenha sido no primeiro bom dia há anos.

Mas, uma coisa posso afirmar com toda certeza dessa vida é que ela fez dos meus dias muitos mais felizes e únicos e que provavelmente eu não saberia mais como viver sem ela.


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Notas finais do capítulo

Obrigada quem leu, espero ter agradado.