Midnight Secrets

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O brilho da lua permeava em meio à escuridão, conforme as aberturas das janelas permitiam. O silêncio tamanho, que sua própria respiração poderia provocar ecos pelo corredor – embora inaudível. A hesitação que jamais experimentara, tomara forma, interferindo no bom senso de que tanto se orgulhava. As horas teriam se tornado eternas caso não tivesse cedido e saído em busca da causa de seu tormento.

O caminho parecia longo demais pela primeira vez, uma distância facilmente transponível, mas que ele preferia lidar com calma, consciente, apesar da necessidade que sentia de acelerar os próprios passos. O farfalhar de suas vestes sessou ao encontrar a porta, austera, a qual abriu-se ao seu leve comando, permitindo que adentrasse ao cômodo. Imediatamente a urgência que lhe perscrutava o âmago se dissipou.

Ela estava totalmente entregue ao sono, as pálpebras tão unidas que se o mundo viesse a desabar, tal fato passaria despercebido. Aquele era o único momento em que ela podia fugir da realidade – Fugir dele. Os olhos castanhos brilharam com interesse, deleitando-se com a visão da humana que ganhara o direito de ocupar parte de seus valiosos pensamentos.

Poucas coisas chamavam-lhe atenção no mundo, mas poder era uma delas. A ruiva era um diamante bruto a ser moldado, com potencial para tornar-se algo belo, valioso e desejado. Tão poderosa a ponto de adentrar no território de Deus, e não permitiria que ninguém além dele a possuísse. Porém, inesperadamente e gradativamente, ela passou a lhe provocar aquela sensação um tanto natural, mesmo que considerasse irracional. A necessidade de mantê-la sob seu olhar, em sua companhia – Algo novo e desconhecido.

Um sorriso doce se instalou nos lábios de seu objeto de admiração, e por um efêmero período, sentiu inveja do que quer que houvesse trazido tal reação à ruiva adormecida, pois ele sabia, que ainda que pudesse mantê-la consigo por toda eternidade, dificilmente seria agraciado com a simplicidade e beleza da curvatura da boca dela.

Ela não o odiava, ele bem sabia. Era uma existência pura, desprovida da capacidade de sustentar esta espécie de sentimento, mas ainda assim, esta jamais lhe ofereceria a satisfação de ser alvo de sua estima. Perdera este direito no exato momento em que a cobiçara, e desfez-se de cada empecilho que se apresentara em seu trajeto, sem se importar com os meios necessários, até que atingisse sua meta.

Mas apesar de tudo, não importava. Ela poderia fugir dele por algumas horas, pois era irrefutável, o primeiro suspiro de sua consciência seria a afirmação da existência dele, e esta realidade, lhe ocuparia a mente por todos os minutos conseguintes. Independente da forma, ou dos motivos, ele estava presente. Ele era uma constante na vida dela.

Um leve suspiro deixou o interior da garota, fazendo com que ele detivesse a mão que de alguma forma acabara por se estender em direção ao rosto de pele aveludada, que tão discretamente o convidava a experimentar sua textura. Com desconforto, percebeu quão imerso estava, e principalmente, o quão fraco fora, ansiando pela presença daquela forma de vida inferior. Pensamentos desnecessários... Fora isso do qual se se trataram as diversas cogitações e reflexões que transbordaram de sua mente.

Senhor de seus atos, se afastou, antes que decaísse ainda mais. Ele era um ser elevado, destinado a controlar, não o contrário, e estes não se rendem, resistem fortemente aos desejos da alma e caprichos do coração.