O Vale das Joias escrita por My Dark Side


Capítulo 1
Psicofagos


Notas iniciais do capítulo

Sejam bem vindos!
Creio que estejam ansiosos para ouvir a história, peço que façam silêncio e prestem muita atenção, minhas palavras não há de serem repetidas. Logo a orquestra começará e iniciarei minha narrativa.


(Música "True Despair" - Croocked Man OST:
https://www.youtube.com/watch?v=kfM8VmLJB18 )



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Conhece a lenda dos psicofagos?

Não? Então permita-me lhe contar.

São criaturas miúdas que há muito habitam esta terra, são fontes da magia que reis gananciavam e causas dos milagres. Não se engane, não são tão bons quanto a introdução sugere.

Das cinzas cristalizadas eles nasceram e até hoje as habitam: nossos tão amados diamantes. Cada pedra carrega o peso, afinal, é uma dádiva para poucos, somente aqueles de extremo poder espiritual conseguem conquistar tal artefato. Magos de superioridade vendam-se ao pensar que podem enganar estas criaturas, esses não passam de um bando de tolos.

Por isso estão mortos.

Isso mesmo. A Floresta dos Corpos uma vez foi conhecida como "Vale das Joias", a trilha de preciosas ainda está lá, gasta e fétida já que muitos são os quais cobiçam talentos. É possível ouvir os grunhidos dos vivos que estrangulam em suas vidas sem memórias, sofrendo pelos pecados esquecidos de suas almas extintas. Dizem que os mortos não têm culpa, e quanto aos corpos? Eles têm?

Creio que sim, mesmo aqueles que se esquecem de suas falhas têm uma parcela da culpa.

São severos os castigos de uma criatura mística, principalmente os psicofagos; se enfurecer o guardião deles então, não existe possibilidade de sair com vida. Dentre todos os seres terrenos, Diaman é o mais rancoroso e vingativo de todos — não há piedade nem compaixão se tocarem indevidamente em seus protegidos. Sua ira é superior à dos deuses. Se não acredita em mim pode testá-la. Não diga que não foi avisado.

....

Hum? Gostaria de um exemplo?

O último grande que me foi contado ocorreu faz duas décadas.

O diamante negro foi roubado, as autoridades suspeitaram de que algo estivesse errado. Depois de anos o culpado foi encontrado e teve seu diamante apreendido e retornado ao guardião, como castigo foi jogado na Floresta dos Corpos — local onde visitara para realizar o assalto. Em sua caminhada para recuperar a pedra encontrou o psicofago que nela morara e hipnotizou-o a ponto de fazê-lo acreditar que era seu aliado. Incrivelmente planejado.

Diaman ficou irritado como nunca antes, tanto que assumiu sua forma não etérea: humanizada, tocável e colorida. Seus olhos estavam brancos, com isso me refiro às escleras, suas írises continham o verde noturno divino ainda. Em todos os momentos que vi seu sorriso naquele dia, senti uma faca sendo pressionada em meu pescoço. É simplesmente horrível, agradeço a Natura por ter enfiado um pouco de bom senso nos terrestres falantes desde então.

Voltando ao ponto principal desse memorando: o culpado morreu. Não de forma rápida e direta como deve imaginar, arrecadar o desprezo de uma espécie é um fardo. Primeiro vieram as charadas dos noviços, então os labirintos dos jovens e, por fim, a caçada dos primordiais. Entre paredes úmidas e rochas instáveis o vilão foi encurralado com ferimentos na cabeça e nas pernas, tendo que se arrastar. Quebrado e exaurido, seu coração batera tão intensamente que implorava por descanso, mas como eu disse anteriormente, Diaman não se sensibiliza por tais atos quando transtornado. Eu apenas observei o julgamento.

O primeiro a perder-se foi a noção da realidade, seu desespero atingiu um ponto em que firmemente acreditava que tudo se tratava de um horrível pesadelo, não importava quantas vezes tentássemos dissuadi-lo do contrário, o ladrão se recusa a ver por trás de suas falácias — as quais falharam em protegê-lo. Logo, seu olhar racional, tornou-se uma besta agonizante. Pouco a pouco sua alma se perdia nas tortuosas entranhas de seu ser, o jogo do sério abusava do coração frágil e torturava a mente em frangalhos, Diaman tergiversava todas as vezes que ouvia o lamento à morte. Quando o desertor atingiu o abismo, o guardião finalmente decidiu que seria o perfeito momento para deixá-lo escapar, com o físico em melhor estado, foi possível correr e sofrer somente algumas quedas, entretanto, os psicofagos estavam à espreita, a espera. Para a mente lunática eram inúmeras fadas flutuando por entre as árvores, fogos fátuos, pequenas gotas luminosas que dançavam em êxtase. Requebrando e confundindo os caminhos para a luz, mostrando o significado de desejar um diamante de sangue. Os sibilos de alegria amplificaram ao ver o monstro cair, então se aproximaram aos poucos, tocando levemente a pele exposta, extinguindo a alma que lá havia. Eram bicadas, grão a grão, as almas de má índole possuem um gosto deveras apreciado, por isso são economizadas. A boa refeição é prazerosa, devagar e contida, degustando de todos os sabores existentes em um único pedaço, apreciando o trabalho feito para que todos eles se sobressaíssem conflagrando uns contra os outros em busca da recepção mais afetiva.

Pense nos psicofagos como aquela sensação de ser observado no escuro, a sensação de ter o coração falhando ao enfrentar um desafio e nos momentos de alegria que explodem em seu peito. Eles podem escolher-te e você nunca terá consciência do poder que possui. Sempre observam, sempre terá um ao seu lado, podem ter dezenas atrás de você neste mesmo instante, respirando, suspirando, causando os arrepios sem motivo e a constante sensação de estar acompanhado mesmo quando aparentemente está sozinho. Pense neles sendo a causa do aperto no peito que vem subitamente, na vontade de chorar. Bem ou mal, estarão sempre por aí.

Esqueci de avisar sobre algo.

Pssiu

O som de silêncio.

Shiu

É aquele que eles fazem.

Psssss

Tem alguns atrás de você agora.

E estão famintos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado dos psicofagos tanto quanto eu.