Adão e Eva, e os filhos de Agarta. Segunda parte escrita por Paloma Her


Capítulo 10
Guerra além da Terra


Notas iniciais do capítulo

Para encerrar, Adão explicou que ele e Eva reencarnariam no início da “Era de Aquário”, em meio do povo, como homens mortais. Se houvesse uma “guerra nuclear”, todas as cidades subterrâneas deveriam fechar, até que a radiação minguasse e o ar ficasse respirável. Dali em diante, a missão seria devolver ao planeta a sustentabilidade, purificar o chão, e cuidar dos sobreviventes.
Quando Adão terminou de falar, todos estavam gelados. Estátuas. Imaginar o mundo acabado numa guerra era algo que os pegou de surpresa. Mas, aceitaram o desafio.
Fernando Júnior foi o único que chorou que nem moleque. Nohiki se abraçou de Eva, olhos úmidos e falou com a voz de uma criança:
— Não morra, minha mãe... Volte para mim...



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Quando a visita a essa cidade subterrânea terminou, Moisés contou para Adão de sua vontade de ficar no Cuzco. Adão deu-lhe um abraço carinhoso, e deixou-o nessa cidade ao lado de Séfora, rodeado de índios curiosos. Em seguida, convidou Eva para conhecer a “Ilha de Páscoa”, em frente ao atual Chile, onde havia uma tribo fazendo esculturas gigantes de pedras.

E os amigos se separaram.

Quando estavam sobrevoando as ilhas maravilhosas, escolhendo onde descer primeiro, Adão recebeu uma mensagem telepática, que deviam viajar urgente para a Lua, pois havia um guerreiro intergaláctico, querendo-lhes falar com a máxima urgência. Eva fotografou as esculturas da Ilha de Páscoa desde longe, pois pareciam homens que os olhavam para as alturas. Como quem contempla os deuses descendo do céu.

A seguir Adão deu um giro em direção ao espaço.

Quando desembarcaram na Base Lunar, eles correram para o espelho, e a imagem de Amon-rá lhes chegou nítida. Eva o beijou no rosto, com lágrimas nos olhos, pois a miragem a pegou de surpresa. Depois ficou bem quietinha, para que o filho se comunicasse.

— Oi, pai, mãe, que bom vê-los... Estou com problemas graves... A guerra está na minha frente. Uma frota “de canibais espaciais” está a caminho da Via Láctea... Estão carregados de bombas atômicas... Vou precisar da mãe e do Peter.

— Vamos demorar em chegar, filho... Mas vamos sair em seguida... E seu tio?

— Está uma pilha de nervos... Não vou deixá-lo participar de nada... Ele está fraco, sequer consegue desintegrar uma mosca...

— Fique calmo, não entrem em pânico, que vamos já. Hoje mesmo...

— Obrigado, pai... Nossa, sabia que agora eu sou mais velho que vocês?

— Mas, não estará frouxo, ou está?

— Essa foi boa... Até estou querendo ter mais filhos...

— Se cuida, seu malandro...

E a imagem de Amon-rá desapareceu pouco a pouco.

Adão olhou para Eva assustado. E perguntou-lhe:

— Está com medo de enfrentar a morte, meu amor?

— Não... O que vai acontecer se você fica viúvo?

— Suicídio...  Voltaremos a reencarnar na terra, com amnésia. Vamos perder os gêmeos. Estamos encrencados...

— Não vou morrer. Não desta vez... Prometo...

Depois se abraçaram. Dali em diante, o destino lhes escapava das mãos. Depois, examinaram as naves dessa Base, em busca de uma que viajasse na velocidade máxima, selecionaram os robôs espertos em cruzeiros pelo espaço, e navegaram rumo a Agarta.

Adão reuniu todos os mestres de Agarta. Explicou o motivo da viagem inesperada, do perigo da morte e de suicídio que poderiam vir a acontecer com ele e com Eva. Em seguida, sugeriu que o destino do mundo ficasse em mãos de Abraão, Zaratustra e de Moisés. E, por último relatou o que estava desenhado nos planos do futuro da Terra:

 “Gautama teria que ser introduzido, em mais mil anos, na Índia”. De preferência num lar abastado. Os gêmeos, seus meninos, deveriam ser inseridos em duas senhoras, numa tribo dominada pelo império romano, em mais 1500 anos. Abraão teria que se congelar, para cuidar dessas três crianças, educá-los, e guiá-los na sua missão. Jesus e Paulo nasceriam para enfrentar o período das trevas. O pior momento da história na Terra. Um futuro que poderia chegar a destruir com sadismo todo o trabalho realizado pelos filhos de Agarta.

Para encerrar, Adão explicou que ele e Eva reencarnariam no início da “Era de Aquário”, em meio do povo, como homens mortais.  Se houvesse uma “guerra nuclear”, todas as cidades subterrâneas deveriam fechar, até que a radiação minguasse e o ar ficasse respirável. Dali em diante, a missão seria devolver ao planeta a sustentabilidade, purificar o chão, e cuidar dos sobreviventes.

Quando Adão terminou de falar, todos estavam gelados. Estátuas. Imaginar o mundo  acabado numa guerra era algo que os pegou de surpresa. Mas, aceitaram o desafio.

 Fernando Júnior foi o único que chorou que nem moleque. Nohiki se abraçou de Eva, olhos úmidos e falou com a voz de uma criança:

— Não morra, minha mãe... Volte para mim...

— Juro que vou sobreviver, meu anjo... Quando Zaratustra voltar para casa, conte tudo para Inês aos poucos. Mas, fale com delicadeza... Se cuidem, uma da outra.

Depois saíram às pressas, deixando para trás um grupo de gente que chorava de vez. Até Abraão estava arrasado. Sentia todo o peso que Adão lhe colocasse nos ombros. Salvar a Terra. A amada terra. Seus descendentes. E sentiu que ia ser um trabalho pesado. Quis chamar Moisés, mas deixou para depois. Moisés estava construindo um aeródromo. Mas, que ideia.

Para fazer a travessia rumo à guerra, Adão colocou 40 robôs nos comandos. Em seguida, pediu ao Peter relaxar e não pensar na futura batalha. Não por enquanto. Depois, lhe deu uma dieta especial para energizar o cérebro. Para se exercitar deu-lhe exercícios frente às janelas. Eva mostrou para o filho como desintegrar pedregulhos do espaço, em milésimos de segundo, pois com a velocidade eles apareciam como balas ao ar. Asteroides de todos os tamanhos desapareciam aos olhares de Eva, abrindo caminho na frente.  A poeira cósmica era composta desta vez por milhões de pedras gigantes. Rochas incandescentes, pedaços de gelo com caudas longas, pois havia de tudo no caminho cósmico.

E a viagem foi uma combinação de tudo isso.

Treinamentos de desintegração, dietas para o cérebro, e repouso nas suítes, que durava longo tempo. Após o isolamento, os robôs os chamavam para treinar. Os quatro saíam das suítes com cara de sonho, como quem dormiu pouco, tomavam o café, conversavam e Adão e Miriam assumiam as tarefas domésticas. Eva e Peter dispensavam os robôs demolidores, e tomavam seu lugar.

Desta maneira, o tempo passou depressa. Quando chegaram ao seu destino, mãe e filho estavam prontos para vestir o uniforme dos guerreiros de “V de BETA”.

Amon-rá chegou a abraçar o pai, sem falar nada. Só lágrimas. Nestor lacrimejava mais do que seu sobrinho. Tentava rir, mas desta vez choramingava. Ana e Eva se beijavam e se abraçavam examinando-se mutuamente, em busca de sinais de velhice. Depois caminharam juntos, abraçados, com Peter feliz de ver mais uma vez seu irmão, que era diferente dele em tudo. Amon-rá era moreno, e ria o tempo todo. Peter era loiro, parecido com o tio Nestor, sério, falava pouco, e não sabia contar piadas. Em redor da família, uma multidão os acompanhava, os observando, sorrindo, pois corria o boato de que Eva era capaz de desintegrar uma Galáxia completa.

Quando chegaram à casa de Nestor, o passado os recebeu de súbito.

Retratos de João e Dina, fotografias de Eva e Ana bem pequeninas, das outras irmãs, dos amigos, estavam em todas as paredes dessa casa. Depois Adão e Nestor lembraram fatos da infância e contavam causos engraçados para Peter, que os escutava, gravava, pois algum dia os conheceria a todos, numa outra encarnação.

Durante toda essa noite, falou-se um pouco de tudo. Estendidos em almofadas, espalhadas no chão, beberam vinho, comeram um banquete delicioso, escutaram músicas, e na alvorada entraram na piscina a se refrescar, pois o amanhecer estava quente e brilhante.

Só ao entardecer do dia seguinte, Adão e Eva foram informados sobre os pormenores da guerra.

Em frente ao “espelho falante”, a família olhou para a imensidão, rastejando o inimigo. Uma frota de naves estranhas, dirigidas por um sistema primitivo de navegação, procurava por “homens”, para serem aprisionados. Dentro das naves, um açougue de carne humana congelada, estava quase vazio.  E eles haviam detectado duas civilizações cheias de carne de todos os tipos, animais enormes, com alguns seres humanos com os quais não teriam resistência. E confiantes, se dirigiam para a “Terra”, o planeta mais próximo. Depois visualizaram os navegadores espaciais. Homens fortes, barbas grossas, como os assírios,  cabelos longos, como os cretenses. Só havia homens. Nenhuma mulher os acompanhava. A falta de sexo nessa longa viagem os fazia ainda mais perigosos. Estuprariam as mulheres e depois as comeriam a mordidas.

Eva vestiu o uniforme, enfurecida.  Matar sua família estava fora de questão. E quando Amon-rá pediu a morte dos invasores, nem sentiu dó. Perdoar a vida era “código de honra” da frota de sua filha Areti, cujos guerreiros eram proibidos de matar. Só podiam destruir a matéria. Eva não entendia o delírio de “00” de perdoar todo mundo. Isso era coisa dele. Invento dele. Mas desta vez o patrão eram eles mesmos, pois a medalha de ouro estava com Adão e com Nestor. E um homem com essa celebridade toma suas próprias decisões.

Ao amanhecer do quinto dia da chegada, Peter tomou o comando dessa expedição. Vestiu um uniforme branco, da cabeça aos pés, deu um abraço em Miriam, no seu pai, seu irmão, e telepaticamente instruiu sua frota. Subiu na nave gigante, com 5.000 naves de combate no interior dela, e Eva foi a última a ascender, toda vestida de verde. Beijou Adão, com lágrimas nos olhos, pois ele estava apavorado pela primeira vez desde que nascera. Miriam abraçou Eva assoando o nariz, com o rosto molhado, ao lado de Ana que tentava acalmá-la em vão.

Nestor abraçou seu irmão, enquanto a nave subia lentamente para o céu, e falou baixinho:

— Algo me diz que todos vão voltar. Fica calmo...

— O que se faz sem mulher, cara?

— Além de chorar que nem criança, tu podes dormir. Congelo-te e te acordo quando voltarem...

— Eu sou masoquista, vamos viajar, quero ver como está teu mundo maravilhoso... E cadê Caim?

— Partiu faz uns 500 anos para “L de BETA”. Deve estar envelhecendo, rodeado de filhos, netos, bisnetos, na espera do chamado para morrer...

— E tu sabes algo de Abel, Fernando, todos aqueles que chegaram comigo na Terra?

— Mortos... Fernando vai reencarnar conosco em ALPHA por causa de Fernando Júnior e Noemi... Vamos ser uma família enorme, cara...

— Pena que isso só vai acontecer daqui a milhares de anos...

— O tempo não existe, meu caro irmão... Tudo é relativo. Estamos com 1.000 anos, Caim com 1.200, mas durante a morte o tempo desaparece...

— Será que vamos viver como almas errantes uns 100.000 anos, cara?

— Mais ou menos. Já pensaste? Só sexo e mais nada. Será que a gente aguenta?

— Eu aguento...

— Então eu também... Estou tentando convencer meus amigos de “A de BETA” para ir juntos... O que achas?

— Bárbaro... Nossa... Reencontrar “a gangue selvagem” seria bom demais....

E abraçados, se perderam num roteiro internacional, começando uma visita à cidade do deserto, que Caim levantara com um estilo de construção diferente. Ela era um edifício só, como um escorpião, cujas patas eram ruas aéreas e cuja cabeça era um edifício redondo com 500 andares. Embaixo dela, os jardins se multiplicavam, as árvores cresciam junto às lavouras, pois a cidade lhes dava sombra, ventos, para que o calor do deserto não as matasse de sede. Essa cidade era tão fantástica, tão bela, que doía o peito só de olhar para ela. Desceram lentamente na cauda do escorpião e subiram num carro para percorrer as ruas, olhando-as de perto.

Depois, Nestor levou-o a conhecer a cidade em forma de centopeia, levantada por cima de um rio. Ela era toda transparente, e o verde se espalhava na beira do rio para os dois lados, como um tapete encantado. Edifícios de 100 andares se alinhavam um ao lado do outro, formando os pés, e o corpo era um conjunto de passos níveis, que uniam a todos, em quadras  encobertas onde ficava o comércio da cidade.

Como nesse mundo jamais fora inventado o dinheiro, o comércio era autoatendimento. Adão entrou numa loja com roupas masculinas, experimentou um terno, gravata, sapatos bico fino, olharam para o espelho e caíram nas risadas.

— Me lembra o dia de meu casamento, cara, quanto tu e a Ana se vestiram com estas roupas...

— Já lembrei. O Adônis me lançou uma laranja voadora no fecho e minhas calças caíram ao chão...

— E o rock? Eu não escutei ainda música de rock, cara...

— Sei lá... Esta geração pós-guerra é calma demais... Nada de loucuras... Estou construindo o museu da música. Já pedi para o pai me enviar do Museu de Atalanta tudo que existe deste mundo, de antes da guerra,...

— Tens falado com ele?

— Bastante... Ele está pronto para morrer, e acho que vamos perdê-lo. Vai ser promovido para “Anjo”...

 - Mas tu vais ser “Anjo”... Bem antes do que eu... Eu vou ficar rodopiando, sei lá, para onde...

— Troglodita... Mas um troglodita evoluído...

Enquanto Adão e Nestor percorriam o mundo, em meio do espaço infinito, Peter chamou os tenentes para uma reunião para planejar a estratégia de guerra. O inimigo viajava numa formação triangular. Uma nave na ponta, três mais atrás, depois cinco, e assim sucessivamente, como a ponta de uma flecha, numa velocidade lenta. Eles entrariam na “Constelação do galo”, e ficariam ofuscados pelo brilho do conjunto estelar. Teriam que desintegrá-los, naquele lugar, antes de perceber que possuíam inimigos.

Depois de horas de análise e de troca de ideias, se concluiu que metade dos guerreiros enfrentava o inimigo, e metade ficava atrás, de olhos nas bombas.  Na verdade, essas bombas teriam que desaparecer antes de serem ativadas e lançadas ao espaço. Se acontecesse o fato de uma arma atômica ser lançada ao espaço, essa bomba teria que ser perseguida até a desintegração.

Para ter uma visão mais aguçada colocaram lentes especiais para detectar objetos pequenos, pois o tamanho dos mísseis era mínimo. Só o estrago é que era horrível.

No dia em que a frota de guerreiros chegaram na “Constelação do Galo”, Peter deteve a marcha. Instalou-se nos telescópios para ver as espaçonaves inimigas, e deu a ordem de ataque.

Eva subiu na sua nave, colocou os óculos, o cinto, tomou o comando, e saiu para o espaço como uma bala. Atrás dela, os melhores telepáticos enfileiraram, e pouco a pouco formaram uma meia-lua, indo direto ao grupo das naves hostis. Assim que a ponta da lança ficou na frente, Eva dilatou as pupilas, e a primeira nave “desapareceu”. E continuou a tarefa de desmantelamento, uma a uma, enquanto o inimigo se dispersava, e começava a atirar contra eles.

Peter no telescópio, horrorizado, viu o estalo de uma bomba atômica contra um combatente. Ela explodiu formando um clarão tão grande, que deixou os demais guerreiros cegos, e os empurrou para longe. A onda da explosão era forte. A “metalponita” das naves resistia bem ao calor, mas não conseguiam impedir o impacto. Quem era atingido, morria imediatamente. E quem estava perto, era lançado para longe. E como a missão de Peter era comandar, avisava do perigo para quem lutava frente a frente e depois enviava guerreiros atrás de bombas perdidas.  Também ele descrevia o nome dos mortos, para seu gravador.

Peter só parou seu trabalho no telescópio quando as naves do invasor decidiram fugir. Eva foi atrás, com os demolidores mais eficientes, e os perseguiram até não sobrar nenhum sobrevivente  para contar a história dessa batalha. Depois, deu meia volta e regressou feliz com a vitória.

O derrame cerebral de Eva aconteceu assim que ela desceu no hangar da nave mãe. Sentiu uma tontura estranha, e caiu dura no chão. Junto com ela, mais duas mulheres passaram pelo mesmo triste fim, e quatro tenentes caíram no chão com parada cardíaca fulminante. O esforço deles havia ultrapassado a capacidade de homens comuns, que não eram preparados para um combate como aquele. Peter, desesperado, colocou todos numa cabine de hibernação, e regressou para casa. Em frente ao “Espelho falante” chamou pelo tio Nestor, para dar a triste notícia dos falecidos em combate, e dos cadáveres congelados.

Nestor recebeu essa notícia, sozinho dentro do templo.

Antes de dar socos no espelho, conectou com o mundo “M de BETA”, onde havia a melhor equipe médica de ressurreição. Explicou que possuía 7 guerreiros que necessitavam serem ressuscitados. Deu detalhes da morte, e esperou pela resposta. Os médicos desse outro mundo responderam que os mortos de parada cardíaca podiam ser ressuscitados ali mesmo, em “V de BETA” com intervenção assistida através de “Espelho falante”, pois a cirurgia era simples. Agora, os atingidos de derrame cerebral podiam ser enviados para eles, mas os devolveriam em mil anos. Caberia perguntar se alguém os esperaria vivos depois de transcorrido todo esse tempo.

Nestor sorriu para ele mesmo.

Adão aguardaria. Aliás, esperaria a eternidade se fosse necessário. Agradeceu essa entrevista, e deu meia-volta para contar tudo a seu irmão. Ainda não sabia como faria isso, pois Adão ia chorar que nem guri. Ia partir seu coração. Mas encontraria o jeito.

Peter depositou o corpo de sua mãe congelada numa cápsula espacial, chorando que nem garotinho. Beijou-a, escreveu-lhe uma carta que depositou junto, e em seguida lançou-a ao espaço rumo a “M de BETA”. Como a família das outras duas guerreiras preferiu não ressuscitá-las, ele mesmo as desintegrou.

No dia que chegou de regresso ao planeta “V de BETA”, muita gente estava chorando a morte de alguém.  E Adão já estava congelado numa cabine de hibernação. Peter deu um abraço triste em seu tio Nestor, em seu irmão Amon-rá, que chorava como bebezinho, e caminhou abraçado neles, um tentando consolar o outro. Mas, a Terra e eles mesmos estavam salvos. Pelo menos isso.

Peter ficou nesse mundo por pouco tempo.

Preferiu voltar para Terra com sua mulher, seu pai hibernando, para cuidar dele no hospital da Lua. Amon-rá chorava como nunca. Tinha certeza de que era a última vez que se encontravam.  Antes de subir nessa nave Peter lhe disse rindo:

— Estaremos juntos, na próxima reencarnação. E desta vez a gente vai brincar de irmão durante uns 20.000 anos... Podes crer...

— E só vamos brincar. Nada de trabalhos.

— Isso ali, eu gostaria mesmo é ser bailarino...

E riram com gosto. E se abraçaram como o fazem os homens que amam a família de verdade. Com a dor no coração ocasionada pela separação. Pelo adeus.

Muito longe dali, e após longos anos de viagem pelo espaço, e de uma cirurgia perigosa, Eva abriu os olhos, no gigantesco mundo  “M de BETA”.

 Esticou os braços, sorriu, e percebeu que havia algo diferente. Homens gigantes a cercaram e perguntaram se estava com fome. Na verdade, ela estava faminta, com leve dor de cabeça. Sentou na cama, com dificuldades, pegou uma colher, com mais dificuldade ainda, e abriu a boca onde uma língua pesada se mexeu lentamente. Engoliu a papa de verduras, bebeu sucos com canudinho, e perguntou por Adão.

— Você está sendo ressuscitada, depois de uma intervenção cirúrgica no cérebro. Seu marido está a milhões de horas de voo daqui, dormindo congelado, num mundo longínquo. E você só vai retornar quando estiver totalmente reconstruída.

— Eu morri? Mas de que maneira?

— Vamos mostrar-lhe uma história de sua vida. Mas, antes disso, do que é que você lembra?

— Gautama! Os gêmeos! Está na hora deles encarnarem...

— Você está falando do futuro... Queremos saber do seu passado...

— Adão é meu marido. E temos muitos filhos... Inês, Amon-rá, Peter, Areti, Marta, Nohiki, Caim,  Diana, e os gêmeos Paulo e Jesus. Meus pais são João e Dina, minhas irmãs Ana, e não me lembro o nome das outras... Hum... Joana? ... Esqueci o nome de minhas irmãs?

— Isso é normal. Você inundou seu cérebro com sangue e destruiu metade dele. Agora a parte boa está fazendo trabalho duplo, assumindo as funções na totalidade. Vamos ter que ensinar-lhe muitas coisas, para que essa metade funcione na perfeição. Leia todos os dias, estude novamente, se especialize nas ciências, e nos faça uma lista do que você gostaria de ser.

— Será que consigo aprender a pintar?

— Acho que sim... Você já é artista plástica. Vai ver-se a si mesma, pintando e tecendo, numa película de sua vida. Seu cunhado Nestor nos enviou filmes de seu mundo Atalanta, onde nasceu a última vez, do planeta onde viveu nos últimos tempos,  e do satélite onde seu marido repousa como um príncipe adormecido... O que gostaria de ver primeiro?

— Meu marido... Quero vê-lo imediatamente...

Enquanto Eva renascia, Adão dormia na base Lunar da Terra, numa redoma de cristal. Ao seu lado, Abraão e Sara faziam o mesmo, Peter e Miriam também, esperando pelo futuro,  para acordar junto com eles.

Desta forma então,  Moisés e Zaratustra tomaram para si a direção da escola, e a vida de todos os homens de Agarta. Todos os anos organizavam as viagens pelo mundo, para o recrutamento de novos alunos, as férias escolares nas ilhas do Pacifico, pois a rotina dessa cidade continuava por enquanto como sempre fora.

E um longo milênio alastrou-se lentamente, com uma vida pacata em Agarta, e com  mudanças vagarosas na superfície. Nas entranhas da terra, outras culturas construíram novas cidades ocultas.  Os “celtas” e os “cretenses” , com o auxílio dos mestres de Agarta, ergueram duas cidades nas profundezas do Mediterrâneo. Cidades encravadas embaixo da crosta marinha a mais de 10.000 metros de profundidade.

Enquanto as civilizações mais avançadas se escondiam, sobraram os povos mais cruéis para governar a terra, junto às desgraças naturais que abalavam o planeta de tempos em tempos.

 Enquanto os anos desse milênio se passavam, os homens da Terra subiram 30 pontos na inteligência média. A cada 100 anos, o QI dos terráqueos aumentava. E com essas novas gerações de gênios, o estudo se modificava acompanhando essas mudanças. Os professores de Agarta conseguiam encontrar homens com QI de 90 com facilidade. E para felicidade geral, estavam apontando gênios natos. Crianças com QI de 110, suficientes para receber ensinamentos mais sofisticados, como a Filosofia. Principalmente das ilhas gregas, estavam brotando grandes pensadores, que chegavam a Agarta com ideias próprias, iniciando uma nova era de sabedoria.

Da China, meninos inteligentíssimos escreviam suas próprias fórmulas para mudar o mundo, deixando os mestres de Agarta surpresos. E da Índia, aportaram gênios que se perdiam em horas de diálogos, onde sempre se chegava ao mesmo consenso. Tinham que ensinar o povo, mas, não como guias espirituais, pois a religião estava sendo o pior dos males do planeta. Havia que ensinar aos homens boas maneiras, formas de conduta honesta, convivência entre vizinhos, coisas simples, mas que evitassem guerras, assassinatos, e desgraças em geral.

Um dia, Zaratustra decidiu se congelar, para driblar a morte e presenciar a ressurreição de seus sogros, deixando os destinos do mundo nos ombros de Moisés.

E foram durante esses longos anos, mais de 500 ao todo, que Moisés vivenciou as lutas que se espalharam pelo mundo como dinamite, pois teve início o reinado dos “ignorantes”. À medida que a inteligência dos homens aumentava, as guerras se sofisticaram, e os assassinos encontraram soluções mais sádicas para torturar o próximo, roubar seus bens e dominar todas as civilizações onde houvesse riquezas e sabedoria.

 A China, berço de homens inteligentíssimos, não era mais um conglomerado de cidades independentes, pois a China unificou-se como uma grande nação. Um grande império.  Infelizmente, foi durante esse milênio que passou por mudanças climáticas sérias, que abateu suas construções, pois os ventos enlouqueceram, provocando as piores enchentes naquele lugar do mundo. Moisés teve que resgatar os sobreviventes e buscar-lhe novos lares. Um grande contingente foi deslocado para distintas ilhas da Polinésia, em cujos lugares novas  províncias começaram a ser construídas. Mas, além de ser derrubava pela mãe natureza, a China fora dominada por guerras terríveis nos anos que se seguiram após dessa devastação. O exército chinês tornara-se o melhor do mundo, com armas perfeitas que matavam o inimigo com maestria. Mas, um império que não governava para felicidade do povo. Governava para dominar o mundo, com a matança de gente inocente, que olhava os soldados chegar, roubar, sem motivos além da ganância e da ambição.

Além das chacinas na China, Moisés viu a ascensão das civilizações de Micenas, Esparta e Atenas, o declínio do Egito e a magnificência do grande Império Persa, com Dario como conquistador do mundo.

Assistiu às guerras terríveis entre as cidades-estados gregas, e a união dessas mesmas culturas para se defender contra o exército persa. Testemunhou as lutas dos gregos contra os troianos, que se agrediram uns aos outros com requinte de crueldade, cujo único motivo era a ambição de posse. Os gregos ficaram obcecados por se expandir além de suas fronteiras e massacraram os troianos, incluindo até crianças de berço.

Mas o mais terrível era a ausência de poder e de influência dos verdadeiros gênios da terra. Daqueles que Agarta ensinava, educava, e levava de volta para suas origens.

Os filósofos que tentavam iluminar cabeças burras de governantes impiedosos morriam pela ousadia. E para fechar o círculo de horrores desses anos vividos, os semitas se dividiram em dois povos, hebreus e árabes. Os árabes seguiram o caminho da inteligência, e os hebreus o caminho do fanatismo religioso.

“Uma ex-aluna de Agarta escrevera cinco livros de ficção maravilhosos, onde a narrativa se iniciava com a criação do mundo, surgida pelas mãos dos “Deuses”. A seguir, narrava que Adão e Eva eram os primeiros homens da terra, nascidos num paraíso terreno, e que seus corpos haviam sido modelados de argila”. Uma ficção literária que caiu nas mãos de sacerdotes hebreus e que transformaram tudo isso em verdades verdadeiras. Para cúmulo a autoria desses livros foi dada a Moisés. Toda a “fantasia da criação” passara a ser lei para o povo hebreu, junto aos mandamentos de Moisés. A diferença era que, desta vez, os mandamentos eram 10. E os mandamentos principais pregavam adorar e amar os “Deuses criadores”. Quem não rezasse para esses Deuses eram perseguidos por heresia e mortos sem piedade por sacerdotes fanáticos, que mandavam mais que os governantes.

 Aliás, o poder dos sacerdotes continuava mais forte do que nunca. Em nome dos ”Deuses”, qualquer fossem seus nomes, qualquer fosse o povo, os homens se matavam sem piedade.

Quando Moisés escutou “o chamado para morrer”, ele estava arrasado e recebeu o pedido com felicidade. Desde o Espelho os anjos lhe falaram que no futuro nasceria em “Atalanta”, o mundo de Adão, onde todos os homens já nasciam Deuses e podiam viver mais ou menos uns 10.000 anos conforme o calendário da Terra. Só corria o perigo de receber uma honra. Viajar para outro Inferno igual à Terra, mas desta vez com poderes sobrenaturais. Ele sorriu, pensando que era piada de anjos. Beijou sua mulher ao seu lado, e nos dias seguintes fez uma festa com a família. Mais ou menos uns 500 descendentes entre filhos, netos, bisnetos e tataranetos, espalhados pelo mundo, tentando ajudá-lo no sonho de salvar os homens deles mesmos.

Quando Abraão saiu de sua hibernação, e retomou seu lugar como líder da Terra, Moisés o abraçou pela última vez, subiu numa nave espacial com Séfora, para morrer como faziam os homens de Agarta. Um robô piloto, um jardineiro e um cozinheiro, que lhes preparariam a “dieta da morte”, os cumprimentaram com educação. Abraçaram seus 30 filhos pela última vez, e subiram as escadas. A nave se perdeu na escuridão como uma estrela candente. Ficou de Moisés apenas a lembrança. Uma recordação que seria o suficientemente forte para cruzar os milênios.

Enquanto transpunham as estrelas, Moisés e sua esposa faziam amor, bebiam sucos, água, e banquetes deliciosos. Pouco a pouco, emagreceram, e um dia, eles ficaram presos no “orgasmo cósmico”, como por arte da magia. Uma nuvem de prazer os rodeou, tomados por uma febre estranha, que os fez transar até morrer. Em meio de um orgasmo muito forte, o cérebro deles entrou em colapso. Seus espíritos saíram do corpo como uma bala em direção ao espaço, enquanto a nave explodia em milhares de cacos candentes. Continuaram fazendo sexo na vida espiritual, enquanto um túnel azul os sugava com força. Dentro do túnel, viajaram em direção ao novo lar, um lugar onde nasciam os homens santos.

 

 


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Notas finais do capítulo

Eva subiu na sua nave, colocou os óculos, o cinto, tomou o comando, e saiu para o espaço como uma bala. Atrás dela, os melhores telepáticos enfileiraram, e pouco a pouco formaram uma meia-lua, indo direto ao grupo das naves hostis. Assim que a ponta da lança ficou na frente, Eva dilatou as pupilas, e a primeira nave “desapareceu”. E continuou a tarefa de desmantelamento, uma a uma, enquanto o inimigo se dispersava, e começava a atirar contra eles.
Peter no telescópio, horrorizado, viu o estalo de uma bomba atômica contra um combatente. Ela explodiu formando um clarão tão grande, que deixou os demais guerreiros cegos, e os empurrou para longe. A onda da explosão era forte. A “metalponita” das naves resistia bem ao calor, mas não conseguiam impedir o impacto. Quem era atingido, morria imediatamente. E quem estava perto, era lançado para longe. E como a missão de Peter era comandar, avisava do perigo para quem lutava frente a frente e depois enviava guerreiros atrás de bombas perdidas. Também ele descrevia o nome dos mortos, para seu gravador.



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