Lá fora, próximo dali, uma sirene pedia passagem, alguém gritava um nome e um avião deixava um rastro ruidoso, enquanto a noite terminava e a manhã estava prestes a iniciar sua jornada.

Naquele quarto, jogado em um canto, havia uma bolsa, as chaves de um carro e um par de sapatos. Um fecho de luz vinha do banheiro deixando um caminho esbranquiçado no chão encarpetado, enquanto a luz azulada do anoitecer cobria parte da cama.

A escuridão fora um pedido dela que ele respeitou, embora não poder vê-la nitidamente o deixasse ainda mais ansioso.

Aquele lugar fora uma escolha dele que ela aceitou, embora preferisse um lugar ainda menor, onde pudesse se sentir menos insegura.

Para os dois, aquilo era uma insanidade, mas também era uma certeza em meio a tantas dúvidas.

Parados no meio do quarto, os dois buscavam, nos olhos um do outro, motivos para parar antes que fosse tarde e para seguir em frente considerando todos os transtornos que aquela decisão lhes causaria.

O primeiro toque foi dela, no rosto dele. Então, ele se aproximou com mais um passo e a segurou pelos braços, da forma mais gentil que conseguia. Ela deixou escapar um suspiro sufocado e pousou as mãos nos ombros dele.

De repente, o pequeno quarto de hotel pareceu mergulhar no mais profundo silêncio e tudo que se ouvia eram suas respirações, que iam formando vapor no ar gelado. Não havia mais como fugir daquilo e eles sabiam que a decisão havia sido tomada e que seria irreversível. Beijaram-se lentamente, deixando que todos aqueles sentimentos intricados lhes tomassem em cada célula de seus corpos.