Você, música, vinho e palavras escrita por Polaris


Capítulo 1
Você, música, vinho e palavras


Notas iniciais do capítulo

Meeeu jikook precioso. ~

Antes de começar a leitura sugiro que pegue um lencinho.

Boas lágrimas.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/712432/chapter/1

Você, música, vinho & palavras

 

 

Diga-me como é que eu vou viver sem você

Agora que eu te amo há tanto tempo

Como é que eu vou viver sem você

Como é que eu vou seguir em frente

Quando tudo pelo que estou vivendo se foi?

How Am I Supposed To Live Without You?

Michael Bolton

 

 

Hyung...

Se essa carta de caligráfica torta e confusa chegou à suas mãos significa que o mundo está mesmo perdido e que eu estive sentado num bar qualquer me afogando em álcool, tristeza e poesia. Tá, mentira, você sabe que eu não costumo andar em bares, tampouco é de meu feitio beber fora e passar vexame na rua. Prefiro o aconchego do meu quarto, um bom vinho e blues num volume médio ou baixo. Só comecei assim para chamar sua atenção, quem sabe lhe desprender um bonito sorriso, daqueles bem largos que costumava me exibir e que escondem seus olhos, deixando-os pequenos como dois riscos. Se você não jogou esta humilde carta no lixo depois disso, significa que consegui fazê-lo. Palmas para mim. 

Agora sinto vontade de rir. Rir e chorar ao mesmo tempo, acredita? É estranho isso, não? Na realidade eu estou realmente rindo e chorando enquanto escrevo.

Você deve estar me achando patético agora, imagino e não te culpo ou discordo disso, se quer saber eu também me acho patético... ah, depois dessa última observação estou rezando para que tenha rasgado esse papel ou apenas que o tenha descartado na primeira lata de lixo que cruzou o seu caminho, pois infelizmente estou escrevendo a caneta, o que significa que não posso apagar nada.

Não sei por que, mas tenho a leve impressão de que você não fez isso e continua a ler. Sim, continua. Eu te conheço muito bem Hyung.

Deve estar se perguntando agora aonde quero chegar com toda essa enrolação sem sentido e quer saber? Estou dando risada imaginando sua cara nesse momento, consigo ouvir sua voz rezingando que isso tudo é loucura e que tem mais o que fazer de sua vida em vez de perder tempo lendo tanta besteira. E isso é muito patético. Não você, eu. Eu sou patético por estar imaginando isso e escrevendo ao mesmo tempo.

Tão patético. Tão patético que enquanto rio, lágrimas escorrem pelas laterais do meu rosto e eu fico murmurando desolado admitindo que finalmente cheguei ao fundo do poço para estar escrevendo algo do tipo e que amanhã, quando acordar e me lembrar disso tudo vou querer me atirar na frente do primeiro caminhão que cruzar o meu caminho em alguma rua de Nova York, sim, pois planejo... planejo não, definitivamente irei entregar esta carta ao Yoongi-hyung para que ele leve ao correio pela manhã. Por quê? Porque eu jamais faria isso e você sabe bem. Você me conhece, sabe o quão orgulhoso sou.

Qual a finalidade de eu estar escrevendo esta carta? É o que me pergunto enquanto os dedos falam aquilo tudo que as palavras calam, mas tudo vem do meu coração. 

Coração... Palavra tão simples, mas que nem mesmo consigo pronunciar em voz alta. De nós dois, você sempre foi o mais emotivo, tinha facilidade de falar das coisas do... coração, falar de sentimentos, das emoções.  Ao contrário de mim que sempre fui mais fechado, mais reservado ou como você mesmo gostava de dizer melindroso. Mas não era bem assim. E infelizmente não tinha capacidade suficiente para te dizer que não era isso, que você estava enganado. Era difícil de falar, era difícil de expressar, era difícil de demonstrar, eu fui criado assim Hyung, num lar não muito afetivo. Não que meus pais não tenham me amado, eles me amavam. Disso eu não tenho dúvidas, só que demonstravam do jeito deles.

Mas deixa eu te contar, sonhei com aquele dia que nós dois fugimos no meio da noite com a sua velha bicicleta avenida a fora, eu na garupa, sentado no ferro, de pijama e você nos conduzido até a praia.

Aquela noite não acreditei quando vi você batendo na minha janela. Pensava que só estava tirando onda da minha cara, acreditei que era só mais uma de suas doces mentirinhas quando prometeu que ia me levar até a beira da praia no meio da noite para sentir a água salgada bater nos meus pés nus e o vento gelado na cara, pois mais mentiroso que você não existia. Foi tão mágico que não parecia real, parecia que estava sonhando. Nós dois sentados na areia fria, a bicicleta jogada ao lado, altas risadas e as suas teorias malucas sobre os óvnis como trilha sonora para o momento. Se lembra de nós tentando não fazer barulho na volta? Falhamos miseravelmente, meu pai acordou e o tempo escureceu para o meu lado. Mas a surra valeu a pena. Até dela sinto falta.

Sinto saudade de nós naquela época, até mesmo das nossas tolas e absurdas brigas. Sempre penso em você, todos os dias, todas as horas, minutos, segundos e em todos os lugares que costumo ir e os que conheci recentemente. Olho para eles e imagino como seriam suas feições se estivesse contemplando-os ao meu lado e quando paro de sonhar acordado, me dou conta que estou rindo feito bobo imaginando seu sorriso. Se você não fosse tão orgulhoso poderia mostrá-los a você, são lindos. Você se encantaria com todos eles. 

Eu sei! Eu sei o que vai dizer. Vai dizer que já sucumbiu muito as minhas vontades no passado, que me perdoou muitas vezes, que já me deu muitas chances, chances que desperdicei. Eu sei... Eu sei de tudo isso, por isso nem pense em me mandar uma carta como resposta me relembrando. 

Não faça isso. Já me basta saber que existe outra pessoa ocupando o meu lugar ao seu lado.

Exagero e prepotência da minha parte dizer que o lugar ao seu lado me pertence? Talvez pra você, pra mim: verdade, sim pois esse lugarzinho aí ao seu lado, meu caro, me pertence sim senhor, sempre foi meu. E se depender de mim continuará sendo.

Essa semana que se passou foi tensa. A notícia de que existe um novo amor... Amor, outra palavra quase impossível de enunciar, mas foi assim que a notícia chegou aqui. Seu ex, Park Jimin tem um novo amor, me disseram. Não vou revelar quem foi, não sou fofoqueiro. Todavia, essa novidade de que surgiu um novo amor na sua vida caiu como uma bomba sobre os meus ombros. Se já estava sendo complicado viver sem você, depois que essa notícia chegou a meus ouvidos então... Só piorou.

Eu não queria falar dele nessa carta, desde o inicio eu não tinha intenção... Pois isso tudo não tem nada a ver com ele, nada aqui se trata dele. Mas eu não aceito! Sinceramente não dá pra engolir o fato de que quando me deito no alto da noite, ao meu lado em vez de você, quem deita é a saudade. E quando fecho meus olhos é o seu rosto que aparece nos meus sonhos em conjunto dos momentos que compartilhamos juntos no passado.

Esse vinho, esse vinho maldito tá fazendo efeito Jimin. Vou me arrepender de tudo o que escrevi aqui... Já estou até me vendo arrancando os cabelos da cabeça amanhã.

Tão injusto eu ficar aqui bebendo e rindochorando e escrevendo uma carta a punho, em vez de só te mandar um e-mail dos mais desaforados onde te mando plantar favas junto com esse... Ser humano que hoje dorme no lado da cama que eu costumava dormir. No meu e-mail eu te contaria a porcaria que tem sido a vida aqui. Acha que aqui é o paraíso, né? Ah, se você soubesse metade... Foi um tremendo choque de cultura, americanos só comem besteiras, os restaurantes coreanos são de uma qualidade terrível, uma vergonha.

A primeira vez que me deparei com as luzes de Nova York eu ri com os olhos vertidos em lágrimas e o coração... apertado. De novo coração, viu?! Deve ser o vinho, é a única explicação... A dor era terrivelmente forte. Eu finalmente estava realizando o meu sonho, era inacreditável, mas me perguntava por que aquele peso permanecia, porque a sensação de vazio não ia embora... Porque faltava algo maior e era você. Você não estava lá do meu lado como tinha que ser.    

Me senti tão desolado quando cheguei aqui, eu era como um bebê de um ano que estava aprendendo a andar, mas tive que aprender sozinho, sem mãos para me guiar.

 Você podia ter vindo comigo... Mas não, você preferiu ficar lá, bancando o namorado traído e abandonado na frente dos nossos amigos e de nossas famílias, enquanto o vilão da história era eu. Eu que te abandonei por puro egoísmo, eu que te fiz sofrer tanto, tudo eu e sempre eu. Pobre Jimin incompreendido. E depois vem me chamar de egoísta, mas quem é você para falar de mim? Simplesmente me deixou ir, nem mesmo deu as caras no aeroporto para se despedir ou me impedir de entrar naquele avião. Eu quase perdi o voo aquele dia te esperando, cheio de esperança que você aparecesse. Quase não embarquei, se não fosse por Taehyung, eu continuaria sendo apenas sua sombra insatisfeita com a vida acadêmica. Eu só queria estudar e ser alguém na vida, no entanto você não entendia isso. Mas sabe que no fundo no fundo, eu bem queria que você tivesse surgido no meio da multidão berrando feito um idiota emotivo, que nós sabemos que você é, me impedindo de ir embora.

Você me odeia por ter escolhido os estudos em vez de nós? Claro que odeia. Mas eu continuo sendo seu e mesmo que você não queira você também ainda é meu. Nem o tempo e a distância, nem nada é capaz de mudar isso. Mas machuca não te ter perto, é terrível, um grande e impiedoso castigo. Sei que mereço tudo isso, a gente colhe o que planta. 

Tem dias aqui que não sinto vontade de acordar, nem de levantar da cama. Meu corpo parece anestesiado e o café da manhã tem gosto de nada. Dá vontade de largar tudo e sair correndo, mas daí percebo que é injusto jogar fora todo o sacrifício e tudo aquilo que construí e alcancei com tanto afinco, por uma pessoa que não me compreende, então como um grande imbecil que sou e sei que sou, ignoro tudo, dou um jeito de sedar meu coração e vou pra universidade adquirir os conhecimentos desejados.

Não quero que se sensibilize por mim e nem nada do tipo só porque estou sozinho num apartamento grande e vazio, bebendo vinho e desejando ver seu rosto e o que é muito pior ouvindo Michael Bolton, por favor, não é isso que quero. Não gosto da ideia de ser um coitadinho aos olhos de outras pessoas. Meu objetivo (se é que existe um) é lhe transmitir meus sentimentos, não quero e nem espero nada em troca, apenas que leia esta carta de caligrafia imperfeita e desproporcional e entenda o que tenho guardado e sufocado dentro  de mim. 

E antes de finalizar quero deixar registrado nessa carta, já que não tenho forças e nem capacidade suficientes para dizer... Amo você, hyung. Amo mesmo.

Então, por favor não desista de mim assim. Não deixe de me amar também.

Atenciosamente, Jungkook.

21 de novembro, 2015.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

tempinho que não posto nada aqui~ sdds



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Você, música, vinho e palavras" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.