POV Isaac Singer Schreave

— Celine, vamos deixar tudo isso para amanhã. - solto um longo suspiro ao me levantar.

Largo na pequena mesa de vidro da sala a amostra de tecidos em tons pastéis que tive que analisar durante toda essa loga hora que se passou, na qual tinha que debater com Celine, minha decoradora oficial da Seleção, qual cor é a 'perfeita' para as cortinas que estarão no Grande Salão para a chegada das garotas. O pior não chega nem ser escolher a cor do tecido, e sim ter que dizer o porque e o motivo para Celine de eu querer a tal cor para a cortina.

— Vossa Alteza, é de extrema importância que você esteja presente na escolha de cada detalhe para a chegada das Selecionadas. - ela se levanta e me olha com seus insistentes olhos claros, dando ênfase no "estrema".

Celine é uma decoradora jovem, tem seus 27 anos com longos cabelos castanhos e olhos claros iguais piscinas. Eu mesmo a escolhi a dedo na longa lista de candidatos, por conta de seu longo currículo com seus trabalhos. Me arrependi assim que seu "trabalho" comigo iniciou. Não que ela seja uma péssima decoradora, e sim por não me deixar em paz. Não vejo uma real importância de eu estar junto a ela para escolher cada mero detalhe.

— Celine, já estou esgotado por hoje. - lanço um olhar irritado à ela, que por sinal parece não entender já que me segue passo à passo pelo longo corredor que dá para o jardim.

— Vossa Alteza, ao menos escolha a cor da cortina do Grande Salão. - sua voz sai entrecortada, já que ela corre em seu salto alto tentando me alcançar.

Finjo não a ouvir, caminhando com passos fortes até a saída. Assim que avisto um dos guardas de plantão digo para mandar alguém arrumar meu cavalo, o que o mesmo faz com prontidão. Quando paro na entrada do jardim, ouço Celine parar ao meu lado.

— Vossa Alteza... - ela começa, mas a corto:

— Celine você já está passando dos limites comigo. - me viro para a mesma lançando um olhar misto de raiva e cansaço. - Eu a contratei porque achei que você teria a competência de arrumar tudo perfeitamente sozinha até minha Seleção, mas vejo que escolhi a pessoa errada já que você anda feito um cordeiro perdido atrás de mim com essas amostras de tecidos ridículas.

Deixo as palavras fluírem por minha boca sem filtrar nada, e assim que ela recua alguns passos paro de falar surpreso comigo mesmo. Seu rosto parece um pimentão de tão vermelho que está, e vejo por sua expressão que ela está tão atordoada quanto eu estou por deixar minha frustração sair tão facilmente assim.

— Aqui está seu cavalo, Vossa Alteza.

Um guarda quebra o silêncio que se formou entre mim e Celine, que está petrificada em seu lugar olhando para suas mãos, que apertam as amostras de tecidos em suas mãos finas e brancas. Nem preciso dizer que estou arrependido por dizer tais palavras a ela, pois não é de meu feitio falar assim com as pessoas, mas realmente ela me deixou no meu extremo essa semana. Minha mente grita em resposta: "Mas essa não é a maneira de tratar uma dama".

— Celine, me desculpe. - Seguro suas mãos nas minhas, de modo delicado, no qual ela tenta recuar no início, mas acaba por deixar.

Ela me olha e me sinto mal por ver seus olhos vermelhos, tenho quase certeza de que se eu não fosse o Príncipe ela teria me agredido por ser tão rude. Solto um longo suspiro e olho para o lado para nenhum lugar em específico.

— Eu realmente não quis dizer tais palavras para você, e sei que provavelmente você deve me achar um idiota nesse momento, por isso te peço minhas desculpas mais sinceras. - digo com um tom baixo, e só a olho quando termino.

Sua expressão é de surpresa e algo a mais que não compreendo. Solto suas mãos e me afasto indo em direção ao guarda que segura as rédeas de meu cavalo. Tiro meu paletó e o entrego ao guarda que o segura prontamente, seguro as rédeas, ponho meu pé no estribo e logo já estou montado em meu Friesian negro, que minha irmã sisma em fazer tranças em seus longos fios.

Abandono o local com um leve toque nele, que voa rapidamente pelo caminho que leva a trilha do bosque. Sinto a brisa quente da tarde bater em meu rosto, e toda a preocupação e estresse da semana parece evaporar de minha mente. Finalmente me sinto livre de todo esse peso que caiu sobre minhas costas. Devo admitir que cuidar dos assuntos reais parecem mais fáceis diante essas decisões que tenho que tomar para cada detalhe para a chegada das Selecionadas. Celine poderia bem cuidar de tudo sozinha, ela é uma ótima decoradora, e não entendo o porque de me segurar a cada instante ao seu lado para cada escolha.

Balanço a cabeça e tiro qualquer pensamento de Celine da mente, e presto mais atenção ao local onde estamos passando. Bob, como Venus o chama, se aproxima mais do lago, e avisto logo a frente Venus, que está sentada em uma pedra a beira do lago, com seus longos cabelos loiros soltos. Desço dele e o deixo solto, que trota até a beira do lago, e me aproximo de minha irmã.

— Até aqui você me segue. - ela ri e bate com a mão para eu sentar ao seu lado.

A olho com total desaprovação, pois ela está sozinha no bosque vestindo uma saia rodada de cintura alta com um top e nada mais. Sei que não estamos exatamente sozinhos, já que deve haver vários guardas à nosso redor escondidos nos vigiando, mas mesmo assim acho desapropiado muitas das roupas que ela veste.

— Queria saber o que nossa Mãe iria achar de vê-la com esse minúsculo top Vee.

Sento ao seu lado e vejo um papel que ela dobra em suas mãos. Olho para o outro lado do lago junto a ela sem olhar nada em específico, até que ela se remexe ao meu lado, chamando minha atenção.

— Isaac eu quero te contar algo. - sua voz é baixa e cheia de animação.

— O que você está aprontando? - a olho erguendo minhas sobrancelhas.

Ela se levanta e fica a minha frente, com o papel entre os dedos e me olha sorridente.

— Lembra que ano passado eu passei algumas semanas lá na França? - ela questiona, e apenas concordo com um aceno, lembrando bem como a Princesa Holland falou dela ser tão parecida comigo.

— Então, diga-mos que eu conheci de passagem o irmão da Holland, e meio que ele começou a me mandar cartas depois disso. - ela morde o lábio, e demoro cerca de 10 segundos para entender tudo.

Minha mente processa suas palavras, e assim que a ficha cai, tomo o papel dobrado em suas mãos e me levanto, com ela correndo atrás de mim na tentativa de tomar o mesmo de mim. Olho alguns trechos como "Já estou com saudades de você" e fico com um leve incomodo por não ter percebido nada disso antes, e principalmente por não ter sido avisado por ninguém pelas prováveis constantes cartas do tal príncipe Evan.

Eu o conheço desde pequeno, já que ele é o irmão mais novo de Holland, a futura rainha da França. Ele tem seus 19 anos, e sinceramente nunca o achei muito maduro já que sua irmã reclamava constantemente dele quando conversávamos. Não tenho muito o que falar sobre ele, já que quando tinha eventos nos quais todos estávamos unidos ele não era tão presente.

— Me devolve isso agora Isaac! - ela tenta pegar o papel, mas eu o coloco acima de minha cabeça, e ela faz bico por não conseguir toma-lo de mim.

— Quem mais sabe dessas cartas? - meu tom sai mais curioso do que o pretendido.

— Ninguém. - ela cruza os braços e me olha. - Pelos menos eu acho, já que não tentamos esconder que trocávamos cartas.

— E porque você não me contou nada? - devolvo a carta a ela, e ela a abraça com força, deixando escapar um sorriso.

— Eu tentei te contar, mas eu ia falar o que? " Olha Isaac, eu tô trocando cartas com o Príncipe Evan, e acho que tô gostando dele?". - ela imita uma voz engraçada e revira os olhos no final.

— Podia ter sido isso mesmo, eu teria entendido e teria bancado o irmão protetor. - cruzo os braços e sorrio de leve. - Não que eu tenha algo contra ele, mas eu poderia ter feito com que nosso pai o trouxe-se para cá para ver as reais intenções dele com você.

— Falando nisso, eu quero te pedir um favor, que é convida-los para vir no baile de chegada das Selecionadas. - ela morde o lábio. - Ele meio que falou que tem algo importante para falar comigo, mas precisa ser pessoalmente, e como já faz eras que eu não o vejo...

— Não precisa falar mais nada, eu convido eles. - á corto, e logo ela pula em mim me dando um abraço apertado. Sorrio e retribuo o ato.

Logo começamos a conversar sobre outros assuntos, e me sinto leve como antes de tudo isso, como se as coisas mais importantes fosse falar sobre coisas normais.