Última Pena Negra escrita por Amiga Invisível


Capítulo 2
O reflexo do mistério


Notas iniciais do capítulo

Oi, anjos! Como estão? Espero que gostem do capitulo e boa leitura.



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O café descia quente pela garganta, o calor se enrolava em meus pensamentos por causa da dor de cabeça pelo sonho de ontem à noite. Alguém normal deixaria de lado e diria que é apenas a imaginação fazendo seu trabalho, sei que não é, entretanto ninguém acreditaria em um pesadelo de adolescente. Quando éramos pequenos diziam que poderíamos tirar uma espada da pedra e domar dragões, a onde foi parar a crença no impossível?

    Minha avó desceu as escadas do seu quarto chegando à cozinha da casa, onde decidimos que será o lugar para fazer as refeições juntas, beijou a minha testa e sentou-se na cadeira marrom do balcão.

    - Querida, passarei o dia na empresa. – Ela comprou a imobiliária que trabalhou aqui em Coldwater quando mais nova e agora a Senhora Grey está se matando para dar conta dos seus novos negócios e os da Inglaterra também – Mas você estará ocupada com o seu primeiro dia na escola! Tenha uma boa aula, se comporte e... – Ela olha para mim um tanto receosa - Ah! Você iria descobrir de qualquer jeito mesmo, a sua moto está na garagem.

    Dei um pulo me jogando para fora do assento indo abraça-la.

    - Não fique tão animada assim, ainda tem seus compromissos com os estudos, ou seja, sem atitudes irresponsáveis ou infantis, mocinha. – Ela apertou os olhos para mim em sinal de advertência.

   Dei um sorriso de lado, peguei a minha mochila e fui correndo pelo piso de madeira para o fundo da casa.  Um cachorro de pelo inteiramente preto dormia no tapete colorido, encostado na porta para a saída.

    - Sério? Nós mudamos de país e na nossa primeira noite você prefere dormir em um pedaço de pano a mim? - Basso, como sempre, nem se deu ao trabalho de soltar um latido ou se mexer, cão traidor. Abri a velha porta dando de cara com uma Harley Davidson me esperando.

     Uma moto sutil e negra para uma motoqueira de preto.

   

A brisa nos meus cabelos clareava as minhas ideias enquanto esperava os alunos já terem entrado para poder ir, melhor evitar multidões. Encontrava-me encostada nas grades enferrujadas ao lado do estacionamento, as portas de Coldwater High me encaravam num breve aviso de cuidado.

    Uma mão tocou suavemente o meu ombro, virei por reflexo e dei de cara com um garoto de cabelo loiros, longos e ondulados, com cuidados melhores que meu próprio cabelo, e que sorria abertamente para mim. Reconheci-o quase imediatamente, mas no lugar de uma habitual provocação de criança preferi pular em seu pescoço para um abraço de urso.

   - Eu jurava que ia me provocar logo que me visse! – Disse Ben com o rosto nos meus cabelos, meu melhor amigo de infância.

    - Eu ia, mas seu cabelo ofuscou os meus pensamentos. – Respondi com um sorriso largo, um pedaço se preenchendo em mim.

   Ele afastou o corpo do meu segurando-me pelos ombros, seu olhar era como uma música esquecida a qual aparece de surpresa.

    - Não conta pra Becca, mas senti falta da minha melhor amiga. – Disse Ben e dei risada.

    Fomos abraçados de lado para os portões, conversando sobre a mudança para cá envoltas de pessoas falando alto a nossa volta. Não acredito que ele esta aqui, um verdadeiro amigo desde as nossas primeiras bagunças, ele me acompanhava em minhas aventuras como colocar terra nos sucos dos colegas, ou cortar o cabelo das meninas mimadas e até mesmo no funeral dos meus pais... Nunca tinha visto sua aparência brincalhona tão inconsolável.

    - Minha primeira aula é de gramática, naquela sala ao lado dos armários cinza. Eu acho que você precisa ir à secretaria pegar o seu horário por ser aluna nova, alias lá deve estar lotado de novatos. – Ben caminhou até sua sala, mas quando chegou à porta se virou para mim – Ei! Voa alto, Becca!

    Voa alto.

    Era o nosso lema quando nossos colegas da pré-escola vinham zombar da minha cicatriz em forma de V invertido nas costas. Atualmente a fina linha preta não me incomoda tanto, mesmo assim tenho certa vergonha de mostra-la. Meus pensamentos voltaram para meu antigo parceiro... Ele cheirava a lealdade, doçura e gramado recém-cortado.

   

Depois de explicar para as senhoras da secretária que sou uma das alunas novas, algo normal para um começo letivo, ouvindo historias sobre os gatos delas me deram o meu horário. Apesar de todos os estudantes que se transferiam começarem hoje, eu consegui me atrasar para a minha primeira aula.  Segui as instruções pelos corredores brancos com quadros de avisos, armários e alguns alunos despistando os monitores. Cheguei à classe batendo três vezes na porta de madeira, abri-la e um senhor de cabelos brancos foi ao meu encontro com um sorriso em seu rosto.

    - Oh, a aluna nova! – Disse agitando as mãos – Pois bem... Ciano? Ah, Cipriano. Você foi a única que entrou na turma avançada, os demais foram dirigidos para a Literatura Básica. Eu sou o professor Carlos, fique a vontade para me procurar. Sente-se, por favor.

   Olhei para as carteiras antigas, apenas dois lugares estavam vagos: atrás de uma garota a qual me olhava de cima a baixo e do lado de um rapaz no fundo da sala. “Baby, por que eu tenho a impressão que você sempre escolhe ficar perto dos rapazes?”, a voz da minha madrinha soava na minha cabeça me fazendo abrir um sorriso bobo enquanto caminhava para o meu novo lugar no final da classe. Sentei e ele nem me olhou, acho que vamos nos dar bem.

         - Caríssimos! Ei! Como tempo é precioso vamos começar a matéria agora mesmo. – um coro de desaprovação invadiu o ambiente – Esperavam o que de uma escola? Ótimo, vou passar um vídeo antes da leitura da apostila. - O professor deu play em um arquivo com o nome “Romantismo: do começo ao fim” será um primeiro ano do médio bem agitado.

    Uma garota de cabelos castanhos claros, a qual sentava na segunda carteira, se reparei direito, trocou de lugar com o menino na minha frente com discrição. Querendo falar comigo? Parece promissor, continue.

    - Novata né? – Perguntou ela se virando para mim com uma voz baixa e melosa – Eu gostei de você, por isso te darei uma dica: Ele é encrenca.

    Apontou para o garoto que escolhi com uma risadinha, bateu algumas vezes no meu ombro numa falsa tentativa de consolo. Olhei em seus olhos e com um sorriso largo disse:

    - Anjo, eu sou a encrenca.

    Ele, que observava a cena discretamente, riu fazendo a patricinha voltar ao seu lugar fumegando. Olhei com humor para o lado, vendo-o mexer no seu anel e me encarando questionou:

   - Estragou os meus planos sabia? – Sua voz beirando ao humor, mas com uma paz profunda.

    Minha atenção voltou-se para ele naquele momento... Não vou dizer que era único no mundo inteiro ou o mais bonito, mas sua alma me hipnotizou como a mare e a lua. Cabelos castanhos escuros e olhos esverdeados com tons de âmbar. Em seu rosto via o reflexo da elegância, tranquilidade e mistério. A minha falta de entendimento deve ter sido visível, pois ele continuou.

    - Meus planos... Era eu quem deveria ser o mau caráter, te levar para sair de madrugada e fazer os seus dias nunca mais serem normais – Seu modo de falar era sereno, mas havia um sorriso malicioso nos seus lábios – Não você. E aqui estamos com meu mundo parado ao seu redor, Senhorita.

    - Seria um péssimo momento para anotar o meu número na sua mão?

    Ele gargalhou baixinho e disse:

    - Eu não seria louco de te impedir – Enquanto falava seu olhar me passava calma como ondas em um dia ensolarado de praia.

    Um sentimento estranho me dominou... Eu o conhecia e quanto mais pensava nisso mais a imagem de ser carregada nos ombros pelo gramado do celeiro quando mais nova vinha na minha mente. Conseguia construir a cena nos mínimos detalhes, nos ver juntos rindo, meus pais olhando de longe. Meus pais?! Antes que meus pensamentos não pudessem mais ser controlados me obriguei a continuar assistindo a aula.

    Depois de um longo vídeo e leituras em grupo o sinal bateu fazendo os alunos se levantarem com alvoroço. Virei de lado com a intenção de me despedir do meu colega, mas ele não estava mais lá. Eu não pude dizer tchau, nem perguntar o seu nome.

   

Procurava Ben na imensidão de estudantes para podermos almoçar juntos, as risadas e batidas dos armários iam contornando o caminho pelo qual passava. De algum modo a presença do meu melhor amigo as outras crianças sempre foi mais forte, sigo a minha intuição para acha-lo. Um curioso relógio contava as horas de trás para frente pendurado na parede branca.

    Ali! Não o vejo ainda, mas sei que esta perto do mural... Sua energia vibra mais poderosa, o que é estranho. Ando entre os adolescentes até o final do corredor, Ben está apoiado em seu armário conversando com um garoto de cabelos platinados. Aproximo-me deles até ficar na frente dos dois.

    - Anjos? – Chamo-os com uma voz curiosa.

    Eles se viraram com os olhos arregalados e as bocas abertas. Ia questionar a reação deles, mas não tive tempo. Um redemoinho em forma de bala me acertou na cabeça, cai no chão com um sangue invisível se esparrando. Ouvi a voz de Ben me chamando e fui engolida.

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam?? Alguma ideia do que são os meninos, hem? Obrigada por lerem, anjinhos... Beijos!



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