Ela me viu. escrita por Malina


Capítulo 1
Capítulo Unico


Notas iniciais do capítulo

Olá! Mal me despedi de It's You, e aqui estou eu de volta com uma one shot que eu estava louca pra escrever, então espero que gostem.

Link da música: https://www.youtube.com/watch?v=qyTwC3CbcxU



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/712352/chapter/1

                Eu nunca soube o que tinha de tão especial naquela velha cafeteria que eu tanto adorava, até que ela passou por aquela porta, como passava todos os dias. Ela era o motivo do meu tempo excessivamente gasto, apenas a esperando aparecer com seus cabelos caindo perfeitamente em seus ombros. Hoje era um dia frio, ela trajava um sobretudo vermelho por cima do seu vestido preto simples, ela estava sempre impecável, com sua maquiagem perfeita, seu corpo perfeito, seus olhos que pareciam duas piscinas profundas. Essa mulher conseguia ficar linda de qualquer jeito. Me assusta o jeito que ela atrai minha atenção desse jeito com tanta luxuria, ninguém nunca foi a causa de tal efeito sob mim, e ela... ela me causava coisas que eu nem sabia descrever. Um frio na barriga persiste quando ouço sua voz fazendo seu pedido de sempre, um café que eu não sabia pronunciar o nome com 1% de leite. Essa desconhecida que mal conheço, mas já sei tanto. Ela sempre senta na mesma mesa ao lado da janela, vezes observa as pessoas na rua enquanto seu pedido não chega, outras vezes lia diversos artigos de medicina, uma mulher inteligente e segura de si mesma, vejo uma mulher que dá regras e as segue rigidamente, vejo uma mulher feminina e delicada por fora, mas que pode surpreender. Simpática ela sempre chega na cafeteria, um sorriso no rosto não importe o tempo que está fazendo na rua. Nos seus olhos verdes vejo uma mulher aventureira, do tipo que já visitou todos os lugares, mas sempre se impressiona pelas pequenas coisas, olhando nos seus olhos desejo querer fazer caminhos pelo mundo ao seu lado.

Eu apenas conversei com ela uma única vez, inclusive na primeira vez que a vi. Eu estava disfarçada para um caso que eu investigava. Trabalho no departamento de polícia de Boston, atuo na área de narcóticos, e em certo momento da minha carreira prostitutas estavam sendo assassinadas, sendo assim, tive que me disfarçar de prostituta para conseguir informações. Eu odiava aquele caso mais que tudo, mas ela fez com que aquilo tudo mudasse. Naquele dia eu não tinha dinheiro algum, lembro-me como se fosse ontem, eu tentava negociar com Stanley, o caixa, para que eu pudesse comprar um café e um donut, claramente não deu muito certo, mas então ela aparece. A loira interrompe a negociação e me oferece seu dinheiro para que eu pudesse comprar meu café da manhã. A princípio eu havia pensado que ela queria apenas furar a fila que comprar seu café, mas tudo foi explicado ao longo da conversa, eu tive que manter meu disfarce, e hipnotizada pelos seus olhos eu a respondi o mais rude que pude. Por sorte pude agir normalmente, ou eu poderia ter arruinado o disfarce. Mas lembro-me muito bem de quando a senti tocar meu braço brevemente para me chamar a atenção, das borboletas no estomago quando me virei e pude contemplar sua beleza. Tolice não? Uma paixão por alguém que eu nem conheço. Me sinto uma idiota só de pensar, mas eu acho que talvez, possivelmente eu esteja apaixonada por essa mulher que conheço apenas de vista, mulher essa que nem sabe que me conhece, não sabe que já trocamos farpas passageiras. É tolo, eu sei, mas o jeito que essa loira mudou minha vida, digo, eu estou quase que uma hora adiantada para o trabalho só para que eu possa vê-la, quando não a vejo é como um dia jogado fora, esses são dias nublados.

Dias, semanas, meses passam e passarão, continuo e continuarei aqui, em meu local de sempre, onde tenho a visão da bela mulher observando da janela as pessoas passando, é fácil ver que ela está perdida em pensamentos, que sua mente não está ali junto a ela nessa cafeteria, naquela mesma mesa de sempre, naquele mesmo lugar de sempre. Certo dia fui pega a admirando, ela sorriu delicadamente para mim e voltou sua atenção para o artigo que lia, naquele dia pensei que eu fosse golfar de emoção e embaraçamento. Ela sorriu e eu me vi brilhando junto ao brilho natural dos seus olhos. E desde aquele dia, quando ela me nota recebo um de seus iluminados e tímidos sorrisos, nesses dias não tenho estresse, são os dias raros, os bons dias, os dias iluminados.

Mas hoje é um dia diferente, hoje ela se atrasou, hoje ela reclamou para o caixa sobre neve que caía, hoje não era um bom dia, ela me olhou, não me viu, não me enxergou, ela me olhou e não vi aquele brilho de sempre, me preocupei imediatamente com essa desconhecida que não saía da minha mente, perdi o raciocínio, eu queria levantar e abraça-la, perguntar o porquê do mal humor, da chateação, o que lhe incomodava, queria poder ser seu porto seguro do jeito que essa cafeteria é o meu, queria ser o café que ela prova, queria ser a xicara que ela toca, queria ser vista. No seu jeito desengonçado adorável pude ver que ela não tinha raiva, ela tinha tristeza. Hoje definitivamente não era um dia iluminado.

Eu nunca fui uma pessoa boa para iniciar uma conversa, mas eu sentia essa necessidade, precisava sentar naquela mesa ao lado da janela, segurar sua mão e dizer que iria ficar tudo bem. Eu nunca fui também a pessoa mais romântica, mas ela... Ela é diferente, ela é apaixonante, não precisei conhece-la para saber que a achava interessante, esperta, gentil, cuidadosa e todas outras características que eu havia descoberto através de gestos e olhares. Afinal nunca tivemos uma conversa apropriada, nos comunicávamos por breves lances de olhares.

Levanto meu olhar para o relógio pendurado na parede, estava na hora do meu expediente, pude sentir um olhar encima de mim e era o dela, a mulher que clareava meus sonhos, nossos olhares ficaram pendurados um ao outro por alguns segundos, não muito, mas o suficiente para entender o que dizia, eu sorri pacificamente para ela quando entendi seu olhar como um “obrigada”. Posso estar errada, mas era como se ela tivesse dito, como se tivesse soletrado as palavras pelo olhar. Ela me viu.

Ela sai antes de mim, e percebo um livro encima da mesa ao lado da janela. Eu ia chama-la para devolvê-lo, mas era tarde demais, ela já havia saído. Me aproximo um pouco intimidada pelo local que pertencia àquela mulher. O livro tinha sua capa verde escrito no centro “Medicina Legal” em letras prateadas. Ela era mais esperta do que eu imaginava. Curiosa eu o abro e logo na primeira página estava escrito em uma caligrafia refinada:

Te vejo amanhã”

Ela me viu.

No outro dia faço questão de chegar mais cedo que o normal, precisava saber se o recado era para mim ou apenas um bilhete antigo que não fora apagado. Pego minha xicara de café e me sento no lugar de sempre, tomo meu café observando a porta, qualquer movimento pode ser ela se aproximando. A porta se abre e a loira dona do livro e olhos verdes, entra na cafeteria. Observo cada passo, o som único dos seus saltos fazendo caminho para o balcão e logo em seguida para a mesa ao lado da janela, ela retira um de seus artigos de medicina e começa sua leitura enquanto aproveita seu café. Hesitando levemente me levanto com o livro em mãos e me aproximo do seu lugar em passos lentos que passaram muito rápido. Quando notei já estava parada em frente à mesa e sem nenhuma ideia do que dizer.

— Posso ajudar? – ela perguntou notando minha presença.

Ela me viu.

— Seu livro... V-você esqueceu ele – gaguejo e sinto o rubor no meu rosto aparecer.

— Ah, obrigada – ela sorri pegando o livro que eu estendo.

Aceno com a cabeça esperando que mencionasse o bilhete, mas como sua atenção voltou ao livro, dei as costas e me preparei para voltar ao meu lugar. Não sei dizer se esse seria um dia iluminado, se seria um bom dia. Eu sabia que ela me viu, e ouvir aquela doce voz direcionada a mim fez meu coração palpitar ansioso.

— Quer sentar aqui? – ouço aquela voz como se fosse a mais linda música.

Me viro novamente não sabendo se ela estava realmente falando comigo, mas seu sorriso e seu olhar estavam direcionados a mim, e por um segundo eu me afoguei nas piscinas profundas que eram seus olhos.

— Claro – respondo mais calma dessa vez.

Me sento em sua frente tentando parecer natural. Eu estava ali, na mesa ao lado da janela, eu estava em frente à mulher dos meus sonhos que eu mal conhecia.

— Sou Maura – ela disse sorrindo e esticando sua mão.

Aceitei prontamente o cumprimento e senti uma corrente elétrica passar pelo meu corpo à partir do toque.

— Jane – digo me apresentando.

Ela me viu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ela me viu." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.