inHUMAN - Rewrite escrita por Kevin Ávila


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Gostaria desde já de me desculpar pela demora e agradecer a todos vocês que acompanham a história. Também vou deixar um aviso: eu estou postando também no Wattpad, para aqueles de vocês que preferem ler por la.
Espero que gostem desse capítulo, porque dediquei bastante a minha imaginação a ele e a partir de agora estarei introduzindo uma parte importantíssima da história, boa leitura e divirtam-se!



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No caminho até os homens, pensei em usar meus poderes e acabar rapidamente com aquilo, mas não seria o certo, se eu fizesse isso, apenas assustaria ainda mais a garota e deixaria mais uma mancha de sangue na cidade baixa, além de provar para mim próprio que não era capaz de me virar sem eles. Eles não eram a resposta dessa vez assim como nunca foram uma vez sequer antes disso. Assim que os alcancei, usei o elemento da surpresa para socar com toda a força o que estava do lado esquerdo da garota – um homem de cabelos ruivos cacheados e cheio de sardas, branco feito papel –, aquilo deveria ter sido o bastante para deixar alguém grande nauseado, mas graças à minha bendita sorte, ele caiu desmaiado e os dois outros viraram-se para mim, facas em riste, agora conseguia ver mais ou menos seus olhos, já que o resto estava coberto tanto por panos quanto por bonés. Ambos vieram para cima de mim ao mesmo tempo.

Pelo menos agora não estavam mais prestando atenção na garota, que não mais choramingava e estava completamente calada, observando a briga imóvel. O primeiro tentou perfurar meu estômago, mas desviei por pouco pulando para o lado, que me fez cair direto nas garras do segundo, que enfiou a faca na lateral do meu abdome. Aposto que a dor, já excruciante, teria sido insuportável se não fosse pela adrenalina do momento. Quando ele retirou a lâmina, senti um espasmo percorrer minha coluna e tive que apertar os olhos por cerca de meio segundo para não berrar de dor, atacando logo em seguida o mesmo cara que tinha me ferido. Eu o puxei pela nuca e forcei sua cabeça a ir de encontro ao meu joelho, graças aos seus reflexos rápidos o desgraçado ainda teve tempo de pôr o braço na frente, mas não segurou a joelhada e o braço dele se bateu contra o rosto fazendo um ruído familiar: "crack", ele logo caiu no chão segurando o braço com a mão, gritando desesperado de dor e largando a faca ensanguentada que segurava. A cena me distraiu por um segundo e, por conta dessa distração, a próxima coisa que vi foi o cabo de um punhal se aproximando de meu rosto. Caí ao chão com um baque surdo e minha visão se tornou turva imediatamente. Logo em seguida, senti um peso sobre a minha barriga e, de dois em dois segundos, meu rosto sendo esmagado por mais e mais pancadas. Minha visão, já embaçada, se tornara também vermelha e era quase impossível distinguir qualquer coisa agora. Houve uma pausa naquilo que supus serem socos e ouvi agora o som de metal se arrastando contra pedra. Minha ferida logo abaixo das costelas em meu flanco direito ardia, queimava e eu estava tonto demais para qualquer retaliação física.

Me preparei para explodir o homem ali mesmo, para quem quisesse ver. Ia lhe dar uma morte rápida pela minha sobrevivência e agora já não me importava mais se eu dependesse ou não de meus poderes, não importava mais se eu assustaria a garota ou não. Só queria sobreviver e faria qualquer coisa para isso... Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, ouvi o som de metal se batendo contra algo duro junto de um grito feminino e a pressão sobre meu abdome se aliviou. Ninguém mais me batia agora, então levei a mão até os olhos e os esfreguei, limpando o sangue que cobria minha vista. Fiz uma tentativa falha de me sentar e então pisquei forte novamente, tentando deixar minha visão menos turva, quase inutilmente. Conseguia distinguir apenas a silhueta de alguém segurando um objeto aparentemente retilíneo.

— Consegue se levantar? – disse uma voz doce e suave que parecia vir da tal silhueta enquanto me estendia a mão – você está bem? – a voz tinha um tom evidente de preocupação.

— Acho... – pausei para recuperar um pouco o fôlego – Acho que sim. – e então tentei novamente me levantar, dessa vez com sucesso pela ajuda das mãos suaves que davam apoio às minhas. Minha visão ia clareando aos poucos, sendo que de vez em quando eu era obrigado a limpar novamente o sangue do rosto para não enxergar vermelho. Agora que conseguia vê-la, notei o quão linda era a garota, com cabelos pretos entrecortado por mechas verdes, a pele pálida, lábios bem rosados e olhos verdes quase hipnotizantes. Ela trajava uma jaqueta de couro, jeans preto rasgado e botas de cano longo – muito obrigado por nocautear o cara... Você salvou minha vida... – senti queimação onde tinha sido apunhalado e pus a mão segurando novamente os gritos de dor para não chamar atenção de mais criminosos, era o tipo de cuidado necessário quando se está na cidade baixa.

— Você tem certeza que tá tudo bem, garoto? Essa ferida parece bem feia. Deixe-me vê-la... – ela levou a mão até a ferida e ia examiná-la, mas a interrompi.

— Temos que sair logo daqui, antes que chegue mais alguém ou que um deles acorde. – ela concordou com a cabeça, momentaneamente esquecendo-se da ferida. O cara que havia quebrado o braço ainda berrava e chamava mais e mais atenção.

— Consegue andar? – ela perguntou e eu assenti com a cabeça – então me siga, conheço esses becos.

Ela largou o cano de ferro e me puxou pela manga do casaco. Eu ainda estava tonto da surra e era um desafio me manter de pé, ainda mais com a garota acelerando o passo a cada instante e sempre parando repentinamente para tentar lembrar por onde deveríamos ir. Eu estava completamente perdido naquele emaranhado de becos, mas ela nos guiava, mesmo que com dificuldade, guiava. Saímos do aperto das vielas em frente à abandonada Praça das Lamentações, onde as pessoas da cidade baixa que não tinham dinheiro para pagar um enterro decente jogavam os corpos de seus entes queridos. Encostei-me na parede de uma casa qualquer, tentando recuperar meu fôlego. Minha visão havia voltado a se tornar turva e senti uma queimação no abdome, onde havia sido apunhalado, o sangue escorria quente por toda a lateral do meu corpo e começava a sentir frio enquanto isso acontecia. Olhei para a garota logo à frente, agora mais calma por termos ganhado bastante distância. Ela se virou novamente para mim e arregalou os olhos quando viu a poça de sangue que começava a se formar ao lado dos meus pés.

— PUTA QUE PARIU, GAROTO! VOCÊ TÁ MUITO MACHUCADO! – dito isto, ela veio imediatamente em minha direção e pôs meu braço sobre seus ombros – venha, vamos te levar a um hospital agora! É o mínimo que posso fazer por você.

— Não! Sem hospitais, por favor. – falei, lembrando que a polícia poderia estar atrás de mim pelos assassinatos.

— Você tá ficando maluco, garoto? Se você não receber tratamento, pela quantidade de sangue que você tá perdendo, vai acabar morto. – ela estranhou, se irritando bastante.

— Não, eu não posso ir a hospitais. – tossi sangue enquanto falava.

— Por que não?! Você tá morrendo, cara, não é uma boa hora para ter medo de hospitais. – ironizou

— Não é isso... – tossi novamente – eu fugi de casa – menti – e a meu pai deve estar me procurando agora – continuei desenvolvendo uma boa lorota enquanto falava – e qualquer coisa seria melhor que voltar para casa dele... Até morrer – já essa parte era completamente verdade.

— Argh! – ela rosnou com um leve pitada de impaciência, parando de andar por um instante e fez uma expressão de pensativa – vem comigo, eu sei de um lugar por aqui onde posso tentar fazer algo por você. – ela pareceu mais calma ao se lembrar disso.

Eu assenti com a cabeça e a segui calado, usando-a como muleta para não cair no chão, já que minhas pernas estavam bambas. Obviamente eu poderia usar meu poder para me curar, mas eu queria mantê-lo apenas como último recurso, além de não querer assustar a garota, porque isso poderia me trazer sérios problemas posteriormente.

Chegamos a um hospital abandonado e ela me disse que ficasse encostado nas grades enquanto ela as pulava e abria o portão por dentro. Enquanto esperava, observei a estrutura do hospital e como, pelo menos por fora, parecia muito decadente, sucateado. As poucas janelas ainda intactas tinham a madeira já apodrecida e a grama do lado de fora parecia não ter sido aparada fazia séculos. Aos poucos meus olhos iam se fechando contra minha vontade e pude ouvir o som do portão se abrindo antes de desmaiar completamente.

* * *

Mais um dia feliz na residência Coppercup, Mike, Melissa e George jogavam videogames juntos e me convidavam, desafiavam, faziam qualquer coisa para que eu aproveitasse junto com eles... Mas não, eu, o antissocial, ficava só assistindo como de costume, não conseguia me dar o luxo de me sentir como parte da família. Mike por vezes ainda conseguia ganhar do George no Mortal Kombat, mas a Mel era imbatível. Sua habilidade com o controle era de se dar inveja. Eu ria de mais uma derrota do Mike quando senti um pouco de fome. Fui até a cozinha atrás de biscoitos e, sem que eu percebesse, Mike veio atrás, e dando um susto quando peguei meu lanche da tarde. Quase deixei-os cair.

— Droga, Mike! Já disse para não me assustar assim, quase perco meu lanche!

— Ah, relaxa, Ky, você precisa melhorar esse seu humor, tá muito carrancudo...

— Só para – falei em tom de brincadeira

— Escuta, por que você não vem jogar com a gente? Tá bem divertido lá, cara. – ele soou um pouco desanimado, talvez por eu não estar me juntando nas atividades de família.

— Não precisa, cara, de verdade. Eu me sentiria intruso.

— Kyle, para de besteira, irmão. Não tem porquê se sentir assim.

— Tem sim, cara, não é como se eu fosse da família, vocês sempre fizeram isso muito antes de eu chegar aqui e agora isso não deveria mudar.

— Kyle, deixa de ser idiota, você é parte da família e eu não quero nunca mais ouvir você sentindo o contrário – era emocionante ver como eles haviam me acolhido verdadeiramente de braços abertos. – agora vamos lál que eu sei que você adora jogar e precisamos de alguém para fazer páreo para a Mel.

Alegrei-me e segui meu melhor amigo até a sala de TV. De repente ele parou e se virou para mim novamente.

— Acorda! – ele dizia num tom de voz agora diferente, mais agudo. – acorda! – e chacoalhava meus ombros – ACORDA, GAROTO! – e deu um tapa em meu rosto que me fez fechar os olhos. E quando os abri novamente, nada mais estava lá;

* * *

Abri os olhos e enxerguei o rosto da garota que havia salvado perigosamente próximo ao meu, seus olhos verdes me encarando de perto. Com uma mão sobre o meu rosto e outra levantada, como quem se prepara para dar um belo tapa. Antes que ela o fizesse, viu que eu tinha acordado e cessou o movimento.

— Você acordou... – disse ela, soando aliviadíssima. – achei que tinha morrido, seu pulso parou por um instante. – apertei os dedos em um punho cerrado e os soltei para testar o movimento de minhas mãos e mexi os dedos dos pés... Parecia estar tudo em ordem.

— Eu acho que estou vivo... O que aconteceu? – perguntei enquanto olhava para os lados, tentando identificar onde eu estava, parecia uma sala de hospital, havia macas, remédios em cima de um balcão metálico num lado, de outro haviam seringas, um kit de primeiros socorros aberto, uma agulha de sutura e uma tesoura cirúrgica, além de gaze e álcool iodado, tudo em cima de uma mesa que parecia de alumínio.

— Você desmaiou na porta do hospital. Por sorte eu consegui te trazer para cá a tempo. – ela saiu de cima de mim e se sentou numa cadeira que um dia pode ter tido uma aparência confortável e que eu ainda não havia visto. – eu suturei sua ferida e te fiz companhia enquanto não acordava. Estava usando o álcool iodado para evitar infecção.

— Nossa, você sabe bastante sobre como cuidar de alguém. – movi a cabeça de modo a enxergar melhor o seu rosto. Agora que estava observando com calma, notei o quão finas eram as feições do seu rosto. Parecia até mesmo uma boneca, muito diferente do que geralmente se encontraria na cidade baixa.

— Eu vi meu pai fazer isso vezes o bastante antes de ele... – ela então pausou a fala como se tivesse se tocado que iria falar algo que preferia manter para si própria – bem, isso não importa mais agora. Quero saber de você, como está se sentindo? – a dor da ferida já não queimava nem latejava mais, agora que ela mencionou. – está melhor?

— Bem melhor... – respondi, estranhando – não estou sentindo mais dor.,,

— Isso é porque apliquei um anestésico local, mas o efeito não deve durar mais muito tempo.

— Uma pergunta: por quanto tempo eu fiquei desacordado? – perguntei notando só agora que já estava de noite.

— Umas doze horas, talvez. Talvez mais. – ela aparentava cansaço e só agora eu havia notado. – ei, garoto... Eu só tenho te chamado assim, mas isso é porque eu não sei teu nome. Você me faria a gentileza de dizer?

— Kyle. Meu nome é Kyle Morgan. – falei sem hesitar – e você seria?

— Meu nome é Luciana, mas meus amigos me chamam de Lucy. Sinta-se à vontade para se considerar um deles.

— Prazer, Lucy. – levantei aos poucos da maca em que estava deitado, ficando agora sentado nela. – Luciana é um nome bem diferente. De onde sua família era antes da Grande Crise?

— Brasil, na América Latina. Foi um dos lugares mais afetados, minha família teve que fugir para cá por conta disso. Mas parece que os problemas não demoraram muito de chegar por aqui também e acabou ocorrendo a mesma divisão social das cidades. Acho engraçado que meus antepassados fugiram do Brasil justamente por causa disso, ouvindo os rumores de que aqui no refúgio seria um paraíso, uma utopia. Mal sabiam eles.

— É... Realmente, mal sabiam eles. – olhei para ela perplexo por um pouco de tempo. – está tudo bem com você? – ela riu alto, foi uma risada gostosa, doce e sincera.

— Ai, Kyle, nesse estado e você ainda se preocupa comigo? Você é mesmo muito altruísta, em? – ela se esforçou um pouco para parar de rir e falar de maneira mais séria – Eu estou ótima, graças a você. Muito obrigada, eu te devo essa.

— Agora, escuta... O que aqueles caras queriam contigo? Não era como se eles fossem amigáveis nem nada do tipo.

— Bem... Eu sou uma garota na cidade baixa... Por senso comum você deveria poder dizer que estavam tentando me roubar ou... O que eles realmente queriam, sexo grátis, mesmo forçado. Você me salvou de uma bela cilada, acho que eu estaria em estado de choque ou numa vala agora se não fosse você e a estupidez de brigar com três caras ao mesmo tempo. – dei uma risada, seguido de uma dolosa e inevitável tosse.

— Mas me diga uma coisa: esse hospital é abandonado, por que as ferramentas dele estão em boa condição?

— Os Ratos-Correio trazem equipamentos roubados para cá para tratar as pessoas que precisam e não têm condição de ir a um hospital funcional, é o jeito que eles têm de fazer bem para a cidade baixa. Eu as vezes ajudo eles a cuidar de pessoas aqui também, pelo menos é um jeito que tenho de contribuir para diminuir a injustiça por aqui.

— Nossa. Você parece uma pessoa excepcional. Mas, me diga, quem são esses "Ratos-Correio"?

— Primeiro, obrigada pelo elogio gratuito. E segundo, eles são uma organização ativista. Algo como Robin Hoods modernos.

— Parece uma iniciativa bem justa... Mas agora voltando: como se sente tendo sido salva pela minha estupidez?

— Na verdade, estou bem feliz com isso – ela levantou da cadeira e começou a vir em minha direção e pôs a mão em meu rosto. – e para retribuir o favor, vou cuidar de você enquanto você não tiver melhorado. Mais uma vez, é o mínimo que posso fazer por você. – eu sorri e começamos a conversar novamente, quando ela se sentou ao meu lado na maca. Passamos a noite em claro conversando um com o outro, nos conhecendo melhor. Nossa conversa ia ficando cada vez mais natural e descontraída, até que começamos a agir mais amistosamente e, sem perceber, perdemos a consciência e dormimos lado a lado na maca em que estávamos sentados.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e, se for o caso, deixem seu comentário, digam o que pode ser melhorado e o que mais gostaram, porque ajuda demais o autor (vulgo eu). Se possível, também favoritem e recomendem, porque isso ajuda mais ainda a divulgação. Desde já, tem o meu obrigado. E para meus queridos leitores, vão sempre:
AO INFINITO E ALÉM!!!



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