inHUMAN - Rewrite escrita por Kevin Ávila


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, estou de volta à ativa e repostando inHUMAN. Fico triste em dizer que eu estava um pouco insatisfeito com o rumo que a história anterior tomou e com alguns detalhes que ela tinha que eu achei fora de lugar, então resolvi reescrevê-la inteirinha. E sim, eu tenho paciência para isso. Espero que gostem do que verão aqui e de para onde vai esse novo rumo para a mesma história. Um beijo do magro e até o próximo capítulo.



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Era tarde e mais uma vez a felicidade contagiante da família de Mike inundava a sala de jantar e, mais uma vez eu me sentia um intruso naquele ambiente. Sentia que eu não merecia o afeto daquelas pessoas maravilhosas, sentia que não era o meu lugar, já tinham se passado seis anos e ainda assim essa sensação não ia embora. A Melissa, que eu carinhosamente chamava de Mel, havia preparado frango à caçarola a pedido de Mike, ele sabia que era meu prato favorito e sempre tentava me agradar, especialmente quando se tratava de meu aniversário. Ah, todo ano a Mel se superava com a minha janta de aniversário, o aroma estava maravilhoso, tanto que mesmo me sentindo um intruso na casa deles, não me controlei e comi tanto que levantar da cadeira se tornou difícil depois.

A atmosfera estava leve e tranquila em meio a piadas do George – que era o típico homem americano vivendo o sonho com sua barriguinha de cerveja, cabelo liso e ralo e pele branca avermelhada – e risadas da Mel, mas naquele recinto, o que mais tranquilizava minha alma era o bom humor de Mike, meu melhor amigo desde que entrei na escola e a pessoa que me acolheu em sua própria casa quando eu não tinha mais para onde ir, ele era um garoto magro e alto de cabelos loiros e olhos verdes da pele bronzeada que fazia muito sucesso com as garotas – e com os garotos – de todo lugar que ia. Seu carisma era algo quase incomparável, sendo os seus pais o únicos  a superarem.

Assim que terminamos de jantar, Mike me convidou a assistir um filme na sala – o que era estranho, já que ele preferia séries e animes – com um Blu-Ray de “Mad Max” em mãos. Eu fiz piadas de como o Max mal falava e quando abria a boca era apenas para grunhir durante o filme e, como se fosse engraçado, Mike ria intensamente dos meus comentários fora de hora. Enquanto assistíamos, ouvi um som metálico e, pouco depois, palmas. Eles estavam cantando parabéns para mim. Mike se levantou pausando o filme e acompanhando as palmas com um leve sorriso brincalhão que dizia nada mais, nada menos que “surpresa”. Mel segurava um bolo branco nas mãos, confeitado com glacê formando as palavras “Feliz Aniversário, Kyle”, e George ainda acendia algumas das muitas velas em cima do bolo com o isqueiro metálico que ele tem desde que o conheço. Após uma boa quantidade de brincadeiras com minha cara e risadas, George se retirou alegando que ia comprar uma coisa. Mel beijou sua bochecha e cochichou algo quem não pude ouvir para ele.

Continuamos assistindo o filme enquanto ele não chegava e, sem motivo aparente, me imaginei no lugar de Max, mal confiando em qualquer pessoa e sempre andando sozinho, sendo usado como bolsa de sangue, deveria estar sendo terrível, eu imaginava.

Afastei o pensamento sobre o filme assim que George chegou segurando numa mão o que parecia ser a caixa de um whisky fino e cutucando o bolso da camisa mal abotoada com a outra, de onde ele tirou um cigarro que parecia ter sido enrolado manualmente, não estranhei tanto quanto deveria, mas ele estava trazendo aquela velha e infame Cannabis consigo.

— É o seguinte, Ky, você não pode contar a ninguém fora dessa casa o que estamos fazendo, okay? – eu assenti, entendendo o que ele quis dizer, e George revirou o bolso outra vez e tirou mais dois cigarros e entregou um a mim e um a Mike. Não sabia bem o que fazer com aquilo agora. – guardem por ora. Agora vamos aproveitar esse Whisky maravilhoso! – e fez sinal com a mão em direção à cozinha, indo para lá em seguida, comigo e Mike em seu encalço.

— Ei, George, você trouxe para mim e para o Mike, mas e a Mel? – fiquei curioso de repente e não pude evitar a pergunta.

— Eu decidi que ia cuidar de vocês, zés droguinhas, para ver se não fazem nada que vão se arrepender depois. Pode relaxar, Ky, o dia é teu. – ela respondeu com sua doce voz enquanto eu admirava seu tom de pele amendoado, sorriso terno e cabelos castanhos que se combinavam perfeitamente numa mulher ideal, George era um cara de sorte, não conseguia passar um dia sem pensar nisto.

Fomos até a cozinha onde eu peguei nossos copos e brindamos alegres ao meu aniversário, ao ver os sorrisos de todos ali, pela primeira vez desde que fui acolhido, me senti em casa... Talvez pela primeira vez na vida tivesse sentido que tinha uma família. Vertemos o líquido cor-de-bronze em um gole todos juntos após alguns “vivas”. Melissa, por estar tomando conta de nós, só tomou o primeiro copo, enquanto repetíamos várias doses como se não fosse nada em meio a risadas e brincadeiras e assim foi até que a garrafa chegasse ao fim.

Estava feliz e a festa tinha apenas começado, então tive a brilhante ideia de chamar todos para a piscina, mas quando tentei me levantar, descobri que a bebida tinha me pegado de jeito, cai no chão sem conseguir alcançar equilíbrio e Mel, junto com os garotos, irromperam em gargalhada. Devia ter sido uma cena hilária, de fato, e assim que conseguiu parar de rir, Mike me ajudou a sair do chão e consegui convidá-los em alto e bom tom. Os dois comemoraram a boa ideia enquanto Melissa ria disfarçadamente da minha voz de quem está MUITO bêbado. Então fomos à beira da piscina onde eu me sentei numa cadeira de praia para admirar a lua cheia que estava excepcional nessa noite maravilhosa.

Enquanto admirava a paisagem, algo que havia esquecido me veio à mente e remexi os bolsos da bermuda, pegando o cigarro. Acenei para George com ele na mão, pedindo que o acendesse e ele se apresentou prontamente com isqueiro de família em mãos. Dei um trago fundo e senti minha garganta esquentar com a fumaça... Era uma sensação diferente, mas nada ruim... Estava tudo correndo bem e depois de alguns minutos e mais outras puxadas no baseado, estava alto. As coisas ao meu redor faziam cada vez menos sentido e isso começava a me dar dores de cabeça.

Droga, estava enjoado agora, como se quisesse vomitar... Na verdade, essa era a minha maior vontade agora. Corri até o banheiro em desespero e pus tudo que conseguia para fora... Nossa, parecia que não ia acabar nunca, mas quando esse momento veio, já me sentia bem melhor. Eu, que estava de joelhos, agora me levantava devagar e dava descarga para me livrar dos restos dos meus órgãos internos que eu julgava ter cuspido na privada e depois abri a porta do banheiro... Só realmente não esperava ver quem se encontrava do outro lado, nem me sentia feliz com isso. Cambaleei para trás e cai sentado e continuei tentando me afastar, mesmo que fosse rastejando.

— O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI, SEU DESGRAÇADO?! – gritei para o homem que dizia ser meu pai, mas nunca considerei minha família. – EU ESTOU MUITO BEM SEM VOCÊ!

— Kyle, você está bem? O que aconteceu? – ele aproximou sua mão com os três dedos ausentes do dia em que fugi de casa enquanto perguntava num tom tão preocupado que o fazia até parecer um ser humano de valor. – você quer ajuda? Precisa de alguma coisa? – sua mão se aproximava mais e mais enquanto eu me afastava até que me encostei a uma parede e ela me alcançou, tocando-me o rosto. Foi o bastante para me fazer surtar.

— SAIA DAQUI! – gritei, enquanto sua mão, de acordo com minha vontade, se desfazia em nada mais que ossos, carne e sangue.

— O que está acontecendo com você, Kyle? Por que parece tão triste? – ele tornava a dizer, sem alterar seu tom de voz ou demonstrar sinais de dor ou choque, como se sua mão sendo desfeita não fosse nada.

— FIQUE LONGE DE MIM! SAI! SAI! – a cada grito meu, um pedaço de seu rosto era penetrado por seu próprio sangue cristalizado que eu fazia de cada gota do sangue dele que escorria pela nova ferida. – SAI DA MINHA VIDA AGORA, SEU DEGRAÇADO! – e, sem aguentar mais, explodi ele de dentro para fora fazendo seu sangue jorrar por todo o banheiro. O que antes era meu pai agora havia se tornado uma mancha nas paredes de um banheiro.

Rastejei chorando para fora do banheiro e, ouvi passos rápidos vindo do andar de baixo, provavelmente Mel e George preocupados com meu bem-estar. Os passos pesados se aproximavam rapidamente e, finalmente, chegaram até mim, era George com seu rosto preocupado que tinha quando sabia que eu tinha me metido em encrenca... Não... Não era esse tipo de preocupação... George não me olhava nos olhos, mas tentava olhar para o que estava atrás de mim, e, mesmo sabendo o que era, virei para confirmar... Confirmar apenas que algo estava muito errado. O corpo que jazia no banheiro não era de meu pai, mas de Melissa. Olhei de volta para George que parecia estar em estado de choque e de volta para o corpo, esperando que fosse apenas uma alucinação provinda das drogas ou da bebida, me desapontei e cai sentado ao chão com o rosto enterrado nas mãos. O que eu tinha feito? O que havia acontecido? Eu não sabia...

Levantei o rosto numa fútil tentativa de encarar George, mas sem que eu percebesse, ele havia sumido e eu estava sozinho, sentado no chão, lágrimas correndo feito rios pelo rosto. O que eu tinha feito? Estava me culpando e reafirmando minha culpa quando senti uma mão gelada sobre meu ombro, pouco antes de ouvir a mesma voz no mesmo tom frio e tranquilo, mas aparentemente preocupado.

— Viu o que você fez, garoto? Você deveria ter me deixado ajudar... Toda vez que você faz alguma coisa, sempre resulta em morte. – olhei para trás e não vi nada além do corpo de Melissa e quando me virei para frente, lá estava meu pai novamente, me olhando com reprovação, logo à minha frente. – Deixe-me te ajudar, Kyle, posso te livrar de todo esse sofrimento. – ele disse enquanto estendia-me a mão ausente de três dedos...

Cogitei por um segundo aceitar a sua proposta, mas em resposta explodi seu estômago com tanta força que ele fora lançado contra a parede, já imóvel. Enterrei novamente o rosto nas mãos e chorei loucamente, em gritos desta vez. Quando abri os olhos, outra vez o inesperado... Meu pai novamente não estava ali, e enxergava apenas o corpo de George ensanguentado com um enorme buraco da parte de cima do abdome até o peito na altura do coração e a parede podia ser vista através dele. Olhei para trás novamente, esperando que tudo aquilo fosse um pesadelo, mas o corpo de Melissa ainda estava lá, com a cabeça partida em duas, o rosto deformado por buracos e um braço decepado. Estava realmente acontecendo... Comecei a perder a consciência e a ultima coisa que ouvi antes de tudo se tornar escuro foi a voz de Mike.

* * *

Acordei ao som de sirenes da polícia e ao olhar para o lado, vi o corpo de Mike ao meu lado, completamente desfigurado, todos os ossos quebrados, vísceras do lado de fora do corpo, fraturas externas. Apenas seu rosto permanecia intacto. Olhei novamente para os corpos de Mel e George e, chorando em desespero, fugi mais uma vez, e mais uma vez objetivando apenas o meu próprio bem... Agora não havia o que fazer por eles, e por mais que eu soubesse que a culpa era toda minha, não queria ser punido por isso... Não queria tomar a responsabilidade, então sai da casa pulando a janela do primeiro andar e seguindo de pé pelas ruas sem olhar para trás, tentando não pensar no tamanho da merda que eu havia feito e nem em como isso me afetaria, agora a prioridade era escapar das autoridades e era isso que eu faria.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por acompanhar o cap, pessoal, até o próximo e fiquem com meu abraço. Agradeço qualquer review na história, e como aqueles que me conhecem sabem, adoro críticas que sejam construtivas.