Desde o aniversário de Denise algumas coisas mudaram na turma. Denise e Xaveco começaram a ficar sem compromisso, às vezes, escondidos dos amigos. Eles escondiam bem, mas mesmo assim aqueles que descobriram os dois se pegando na festa desconfiavam de qualquer desculpa que dessem pra não ver a turma. Magali e Cascão estavam bem diferentes um com o outro, mais nervosos, muitas vezes ficavam vermelhos. Denise e Mônica perceberam e chegaram a perguntar pra Magali, mas ela jurava não saber. Ficava vermelha e as amigas desconfiavam, mas não falava nada. Na verdade, o que quer que fosse que Magali sentia por Cascão, preferia manter em silêncio até pra si mesma. Se forçava a pensar em qualquer outra coisa quando seus pensamentos ou olhares repousavam nele. Nem sempre era fácil.

Depois do campeonato de skate Cascão começou a receber convites pra aparecer em alguns eventos e ficar andando pelas pistas. Lamentou não poder continuar no campeonato quando deslocou o braço, pois suas notas o havia levado à final com mais dois competidores. Teria ficado mais chateado, mas Magali parecia ter motivos mais relevantes pra ficar triste no dia e ele não quis chamar a atenção dos amigos.

Cascão treinou de novo e de novo as manobras que o levaram à final, assim como as manobras do vencedor do campeonato, e já se considerava bom nelas. Algumas sempre acertava de primeira quando treinava na pista de skate do limoeiro, que já tinha o sangue dos seus joelhos gravado no cimento grafitado, do tanto que praticou e praticou manobras ali. Aos finais de tarde ele e alguns garotos sempre iam até lá treinar. Seus amigos apareciam às vezes. Magali e Denise sempre estavam por perto, e comemoravam quando ele fazia com sucesso uma manobra mais difícil.

Cascuda, lembrava, nunca se preocupou em ir até a praça vê-lo praticar qualquer esporte. Ele não podia evitar a comparação com Magali desde o aniversário de Denise. E Cascuda também parecia dispersa, desinteressada. Agora dificilmente saíam só eles de final de semana, pois já se viam na escola durante a semana. Ela parecia ter assuntos muito mais importantes pra conversar com as amigas do que pra falar com ele. Brigavam muito, discutiam, ficavam chateados um com o outro; por mil motivos, um mais irrelevante que o outro. Era difícil, complicado. Estressante.

Terminaram. Foi um consenso, embora Cascão tenha puxado o assunto. Foi sofrido também. Ficaram chateados, choraram. Mas sempre que colocavam na balança, viver juntos não lhes trazia a felicidade de antigamente. Poucos de seus amigos de infância continuavam namorados, só Marina e Franjinha. E novos casais se formavam entre eles mesmos, sem grandes ressentimentos entre os ex namorados. Chegaram à conclusão que poderiam frequentar o mesmo grupo e ainda serem amigos, sem problemas. Se Aninha e Titi haviam conseguido e Magali não passou nem um mês na fossa pela partida de Quinzinho, em breve as lembranças os deixariam em paz.

E deixaram mesmo. Cascuda viajava muito a outras cidades, na casa de parentes, e facilmente arranjava paqueras por lá, o que ajudava a esquecer o ex. Magali se tornou uma presença constante, aparecendo na maioria dos treinos de Cascão e em todos os eventos e competições. Mesmo com o abraço dela, ele não passou das semifinais do segundo campeonato que participou, mas todos os seus amigos comemoraram como se fosse o primeiro lugar, com direito a mais abraços. Foi bom demais.

As notícias sobre Magali e seus ficantes foram diminuindo aos poucos. Ela já sabia o que sentia por Cascão, e sentia um frio na barriga sempre que o abraçava. Sempre que ele passava por ela com cheiro de perfume masculino, sentia vontade de o abraçar. Suspeitava que ele tomava mais banhos ultimamente só pra que ela sentisse vontade de cheirar, abraçar, sentir a sua respiração no seu pescoço.