A verdade sobre uma pequena mentira escrita por calivillas


Capítulo 8
As vantagens de ser uma mentirosa




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Estava morrendo de medo, desde que soube que minha primeira sessão de autógrafos havia sido marcada, achando que se ninguém fosse aparecer e eu ficaria ali naquela mesa, sozinha, em um canto da livraria, ou pior, somente, com os meus pais.

Enfim a grande noite da minha sessão de autógrafos, cheguei um pouco mais cedo no local, uma grande livraria bem de uma rede conhecida. Encontrei uma mesa, com alguns exemplares do meu livro, já montada para o evento, a solicita responsável pela coordenação veio me receber.

— Julia Carson, como vai? Meu nome é Adriana e serei a responsável pela coordenação de hoje à noite. Caso tenha qualquer dúvida, pode falar comigo – seu tom era profissional, demonstrando como estava acostumada com aquilo.

— É a minha primeira vez, não sei muito bem como funciona – Precisava de alguma ajuda.

— Não se preocupe, Julia. É bem simples, as pessoas compram o livro ou trazem o que já tem, vão até você na mesa. Aí, você pergunta o nome dela e escreve algo simpático, mas rápido, agradece e pronto – ela me acalmou, da maneira que falava parecia bem fácil mesmo.

— Mas se não vier ninguém?

— Você não convidou seus amigos?

— Alguns, mas não tenho muitos.

— Tudo bem, vamos esperar para ver – determinou Adriana, segura.

Meus pais foram os primeiros a chegar, trazendo-me flores.

— Obrigada – agradeci, quando meu pai me entregou o buquê de rosas cor-de-rosa.

— Estou morrendo de medo, que ninguém venha – segredei ao meu pai, enquanto minha mãe foi ao banheiro.

— Se depender da sua mãe, isso não vai acontecer – ele me confessou.

— Como assim?

— Sua mãe divulgou o seu livro no programa dela na rádio e, também, a sua sessão de autógrafos, além de convidar todo mundo que ela conhece. E você sabe que ela conhece muita gente! – Fiquei um pouco aborrecida, por ela ter se intrometido assim na minha vida, pelo menos, não ficaria constrangida por não aparecer ninguém por lá – Não se preocupe, Julia, ela não disse que era sua mãe.

Na hora marcada, o movimento da livraria aumentou, alguns dos meus amigos apareceram, empolgados, fizeram questão de comprar o livro, onde fiz uma dedicatória especial para eles. Aos poucos, uma pequena fila se formou, em frente à minha mesa, eu comecei a autografar os livros postos na minha frente, com o tempo, já estava pegando o jeito.

— Para quem eu dedico o livro? – perguntei, curiosa pelas mãos enrugadas e trêmulas, que colocou o livro na minha frente, erguei os olhos, para encontrar um homem idoso, muito magro, com o rosto encovado, cabelos grisalhos, cujas roupas eram muito grandes para ele.

— Antônio

— Só Antônio?

— Sim, só Antônio. Sua história é muito boa, mas o final ...

— Como assim?

— Poderia ser diferente – o homem respondeu de modo vago, dei de ombros, e ele foi embora, arrastando os pés.

— Para quem será a dedicatória? – perguntei, ao ver mais um livro colocado sobre a minha mesa.

— Por favor, para Dario Ferrer – Aquele nome me fez erguer os olhos, para encarar o homem à minha frente, que sorria com certo ar de deboche. Em volta, um burburinho surgiu em reação ao nome dele, alguns fãs do gênero se aproximaram, empolgados.

— Senhor Ferrer, poderia me dar seu autografo? — Um rapaz pediu, estendendo o meu livro para ele, aquilo foi demais para mim.

— Desculpe, mas hoje é a noite de Julia. Fica para o meu próximo livro – Dario se esquivou educadamente, sorrindo para mim.

— Ele é mais bonito pessoalmente!   — Ouvi duas moças sussurrarem do meu lado.

Pensei do porquê aquele cara metido estava fazendo ali, estragando minha sessão de autógrafos

— Não vim estragar sua sessão de autógrafo – ele respondeu como tivesse lido minha mente – Vim parabenizá-la e confessar que estava errado em subestimar você, Julia. Seu livro é realmente muito bom, seu trabalho de pesquisa foi incrível.

Meu queixo caiu, nunca esperaria uma atitude daquela de Dario. Mas espera aí! Que trabalho de pesquisa era esse?

— Meu trabalho de pesquisa?

— Sim, seu trabalho sobre o caso Tony Felix. Como conseguiu tantos detalhes? – Ele parecia, ao mesmo tempo, surpreso e animado.

— Ah! Sim! O meu trabalho de pesquisa! Obrigada. Usei muita imaginação para completa o que não sabia – improvisei, sem saber sobre nada do que ele estava falando.

A fila atrás dele começava a se agitar pela demora, ele agradeceu e já ia saindo, quando cheia de curiosidade, não me contive.

— Dario, podemos conversar depois, de escritor para escritor – pedi, com a intenção de tirar mais alguma informação dele.

Ele ergueu as sobrancelhas em interrogação.

— Claro, espero você acabar aí – respondeu, dando os ombros.

Depois disso não conseguir mais me concentrar, como minha avó podia ter escrito toda a história sobre um famoso criminoso. Talvez, ela tivesse feito um trabalho de pesquisa nos jornais da época. Continuei assinando, quase automaticamente, os livros que colocavam na minha frente, quando outro nome me chamou a atenção.

— Para quem eu dedico esse livro?

— Para Alex Rian, por favor.

Levantei os olhos para o dono daquela voz, um homem alto, ombros largos, um belo sorriso, louros, o empresário, dono de uma cadeia de lojas de material esportivo, que antes de lançar a sua própria marcada de sucesso, era um nadador excepcional, há pouco tempo trás, ele foi medalhista olímpico e, agora, havia um boato que começaria uma carreira na política. Só um pequeno detalhe para esclarecer com sabia de tudo isso, eu sempre achei Alex um gato, era apaixonada por ele na minha adolescência. Por isso, levantei, eufórica, para cumprimentá-lo, sem acreditar que aquilo estivesse acontecendo comigo. Era demais!

— É um prazer tê-lo aqui, Alex!

— O prazer é todo meu, Julia – ele me deu um sorriso encantador. — Aliás, você é mais bonita pessoalmente do que na foto da contracapa – ele me elogiou e eu me derreti.

— Obrigada. Você também! – falei, sem pensar, depois morri de vergonha. Minhas bochechas queimaram, eu devia ter ficado corada, ele deu um sorrisinho como se achasse aquilo divertido.

— Gostei muito do seu livro.

—Você leu!

— Sim. Sou fã dos livros policiais. Por falar em romances policiais, aquele que estava aqui, não era Dario Ferrer?

— Sim, era ele.

— Ele ainda está por aí? Gostaria de cumprimentá-lo. Gosto dos livros deles, apesar de achar o seu muito melhor. Realmente surpreendente!

— Obrigada! – Naquele momento, eu estava nas nuvens. – Sim, Dario deve estar por aí.

— Se não se importar eu gostaria de conversar com você, depois que terminar. A fila já está se agitando atrás de mim.

— Claro, Alex, será muito legal mesmo!

— Vou esperar por você – ele sorriu e se afastou.

Daí para frente, fiquei ansiosa, louca para terminar logo com aquilo, pois Alex Ryan estava me esperando e, infelizmente, Dario Ferrer também. E, finalmente, acabou, apesar de cansada, estava animada, meus pais se despediram e foram embora, fui falar com Alex quando Dario se aproximou.

Os dois homens se cumprimentaram amistosamente, quase de forma familiar, como já se conhecessem. Alex elogiou os livros de Dario. Dario elogiou o passado olímpico de Alex, fiquei ali parada esperando os dois acabarem a troca de gentilezas e elogios.

— Alex, poderia roubar Dario por um minuto? – Pedi, Alex assentiu com a cabeça e puxei Dario para um canto.

— Dario, como você sabe que minha história foi baseada em Tony Felix? – perguntei, baixinho, quando tive certeza que não podíamos ser ouvidos.

— Porque eu estava fazendo uma pesquisa sobre o caso, pensava em escrever um livro sobre ele.

— Pensava?

— Sim, sempre achei essa história muito empolgante. Como Tony Felix, um famoso e galante magnata e milionário muito conhecido da sua época, que circulava nas altas rodas da sociedade da época, mas, na verdade, era um chefe do crime organizado da pesada, acabou matou a esposa e foi condenado por isso. Seu braço direito lhe passou a perna e sumiu com a sua amante e com um monte de dinheiro dele. Mas, essa história de livros de contabilidade não aparecia em lugar nenhum, foi genial da sua parte. E o fato da amante está grávida de Carlos. O envolvimento do chefe da polícia foi seu toque pessoal.

— Quem é Carlos?

— Lembra! Carlos era o braço direito de Tony, você mudou os nomes, mas usou as iniciais deles. Tony virou Tomaso, Carlos virou Clayton, Arlete é Anita e Heloisa é Helena no seu livro – minhas mãos começaram a tremer e minha respiração ofegante, tentei disfarçar, não podia acreditar que toda aquela história era real.

— Tudo bem com você, Julia? – Dario notou minha mudança.

— Sim, tudo bem, só estou muito cansada. O dia foi muito agitado.

— Então, já vou. O príncipe da água está esperando por você. Até mais, Julia.

— Obrigada, Dario. Até mais.

— Desculpe-me, Alex, mas precisava conversar sobre algo importante com Dario – Falei assim que retornei para junto de Alex.

— Não faz mal, esperaria o tempo que precisasse por você.  Gostaria de jantar comigo? – Eu podia estar ansiosa, mas não maluca, não dava para recusar um convite daquele.

— Seria ótimo, Alex.


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