A verdade sobre uma pequena mentira escrita por calivillas


Capítulo 23
Mentiras sinceras




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/712176/chapter/23

Depois de algum tempo, meu telefone recebeu uma mensagem de Dario dizendo que ele estava tentando entrar em contato comigo durante a tarde toda, e que me encontraria no meu apartamento à noite. Li aquilo preocupada.

— O que faço agora?

— Tente agir com naturalidade, eles não podem perceber que você já sabe de tudo.

— Mas, como eu posso agir com naturalidade nesse caso, James?

— Você vai ter que aprender. Agora, você faz parte de um mundo, onde saber mentir é essencial para a sobrevivência. Ouça, Júlia! Acho que os livros de contabilidade de Tony estão na sua casa, porque não acredito que sua avó se separaria deles. Tente achar alguma pista de um possível esconderijo. Será a nossa única salvação para podermos negociar com eles.

Fiquei pensando em mil possibilidades para os esconderijos dos tais livros, mas nenhuma delas parecia boa. Assim, chegamos na garage do nosso prédio, James parou o carro, desligou o motor, mas antes de sairmos, virou-se para mim, muito sério.

— Nós nos separaremos agora. O jovem Ferrer pode estar esperando por você. Então, lembre-se, mantenha a calma, minta o melhor que conseguir e faça tudo que precisar, pois sua vida depende disso – Em seguida, para minha surpresa, me deu um beijo no rosto – Cuide-se, querida. Lembre-se, Júlia, às vezes, mentir pode ser tão essencial como respirar para nos mantermos vivos.

— Pode deixar, eu vou me cuidar – dei-lhe um débil e hesitante sorriso e sai do carro, no entanto, não tinha a mínima noção de como conseguiria fazer isso.

Como James previu, Dario estava me esperando, sentado no chão do corredor, na frente da minha porta.

— Onde você se meteu, Júlia? Eu ligue para você a tarde inteira! – ele falou com um misto de irritação e preocupação.

— Ah! Desculpe! Estava na casa dos meus pais, ajudando arrumar as malas. Meu telefone deve estar descarregado. – Foi uma boa interpretação.

— Não importa agora, que você está aqui – respondeu, abraçando-me e beijando-me, queria empurrá-lo, confrontá-lo sobre a verdade, ainda não conseguia acreditar que ele estivesse metido em toda aquela tramoia, contudo, segurei firme e retribui o beijo, o que tenho que confessar que não foi tão difícil assim. Sabendo que não podia me deixar ser envolvida ou seduzida, pois tinha que manter minha mente bem alerta, assim desvencilhei-me dele, com delicadeza.

— Vamos entrar, Dario! – Convidei-o, abrindo a porta e entrando, colocando minha bolsa sobre a mesa, ele me seguiu, fechando a porta atrás dele.

— Quer beber alguma coisa? – Quis parecer o mais natural possível, mas ele me envolveu em um abraço.

— A única coisa que eu quero aqui é você, Júlia — Dando a desculpa que tinha que continuar com a mentira, deixei-me ser abraçada e beijada, cada vez mais e mais, as mãos deles atrevidas percorriam o meu corpo e eu perdia a toda a minha força de vontade, não tinha como escapar, quando fui salva pelo telefone.

— Deixe tocar – ele suplicou, sussurrando juntinho ao meu ouvido, eu quase atendi o seu pedido.

— Não posso, meus pais estão viajando agora, pode ter acontecido algum problema – improvisei, libertando-me das mãos dele e pegando o telefone na minha bolsa – É Alex – informei, olhando o visor.

— Olá, Alex! – atendi de modo jovial.

— Olá, Júlia! Estou meio deprimido hoje, precisando de companhia para conversar. Então, pensei se você gostaria de jantar comigo hoje – a voz do outro lado me convidou.

— Eu bem que gostaria, Alex. Mas, Dario está aqui em casa, então acho que hoje não vai dar.

— Dario está aí com você? – A voz de Alex tinha um tom estranho.

— Sim, estamos conversando.

— Ah! Então fica para próxima. Até mais, Júlia – finalizou, com um certo tom de irritação.

— Até a próxima, Alex

—O que ele queria? – Dario perguntou, assim que desligamos.

— Nada, só conversar e jantar, como duas velhas amigas – falei, sorrindo com ironia, mas ele continuou, sério, olhando para o telefone na minha mão.

— Júlia, você me disse que seu telefone estava descarregado – Ele havia me pego na mentira.

— Engraçado! Eu também pensei isso! — Joguei o telefone de novo dentro da bolsa, agora, tendo o cuidado de desliga-lo. O momento de tensão passou e ele sorriu, como um garotinho travesso para mim, era difícil pensar nele como um ardiloso criminoso, um terrível vilão. Ele era tão gato! No fundo, ainda não podia acreditar nisso.

— Onde foi que paramos, mesmo? – ele perguntou, aproximando-se de mim – Ah! Já me lembrei! – Abraçou-me e beijou-me, novamente.

Digamos que passar a noite, na cama, nos braços de Dario, não foi nenhum sacrifício para mim, muito pelo contrário foi muito, muito prazeroso. Naquele momento, eu dava a desculpa que precisa representar o meu papel e desejava bastante que ele não estivesse envolvido em toda aquela história, imaginando que, talvez, fosse inocente.

Então, depois do sexo, quando estávamos deitados e abraçados, sutilmente, comecei a fazer algumas perguntas, em um tom casual.

— Aquela casa onde seu avô morava é muito bonita?

— Sim, é mesmo, ele comprou há muitos anos.

— Mas o dinheiro que ele ganhava na polícia, não dava para comprar uma casa como aquela? – indaguei, de um modo inocente.

— Não, depois de um tempo, quando meu avô se aposentou e saiu da polícia, começou um negócio próprio de exportação e importação com o avô de Alex, que se chamava Ruy, como o filho, então ficou conhecido como o Velho – eu me lembrei que aquele era o nome que Carlos/James o havia chamado.

— As suas famílias têm negócios juntos até hoje?

— Sim.  O pai de Alex, Ruy, controla as empresas e minha tia Thereza representa a minha família.

— Sua tia Thereza? Aquela senhora? Nunca pensaria nela como uma mulher de negócios.

— Pois ela é ferrenha, ninguém fica no caminho dela quando se trata de negócios. Mas, ela disse que está cansada, quer se aposentar, passar o comando para os mais jovens – Nunca imaginaria aquela senhora tão distinta como chefe do crime organizado, como, também, nunca imaginaria que meu avô fosse um criminoso e minha avó, amante de outro criminoso, mas não podemos escolher as nossas famílias.

— Para quem? Seu pai?

— Não, meu pai. Ele é o advogado, que presta serviços em ONGs ajudando família de desaparecidos, nunca se interessou pelos negócios de família. Acho que por causa do que aconteceu com ele, na infância.

— Então, seria para você?

— Meus negócios são os livros. O sucessor natural seria o meu irmão Claudio e, claro, Alex. Agora é a sua vez, qual foi a sua verdadeira fonte para escrever aquele livro?

— O quê? – Fui pega de surpresa, ainda atordoada por tudo, que ele havia me contado antes.

— Vamos lá, Júlia, me fale de uma vez. Qual é a sua fonte?

— Eu já falei um milhão de vezes, Dario. Eu não tenho nenhuma fonte! – insisti, mas em um movimento muito rápido, ele subiu em cima de mim, usando seu peso para me imobilizar, segurou meus braços no alto da minha cabeça e prendeu a minhas pernas com as dele. Contorcia, tentando me libertar, mas ele era muito mais forte e pesado do que eu, pressionava meu tórax, por isso tinha dificuldade de respirar

— Pare com isso, Dario! Você está me machucando! – Tentei falar o mais alto que conseguia, pois estava quase sem ar.

— Vamos lá, Júlia! Estamos aqui nós dois, nus, na sua cama. Você está aí debaixo de mim, completamente indefesa, esse é um bom momento para revelarmos segredos. Nessa situação, até pode até parecer que eu quero machucá-la, mas só quero ajudá-la a sair dessa confusão em que se meteu. Você não sabe do que eles são capazes. Por isso, preciso encontrar sua fonte para proteger você – ele me encarava com aqueles olhos castanhos cálidos, enquanto falava com segurança, por pouco não acreditei nele.

— Está bem, eu digo para você. Só me deixe sair daqui. Não consigo respirar – pedi, o mais calmamente que consegui, ele me libertou, respirei fundo, aliviada. – Vou colocar o meu roupão e pegar para você – expliquei meus passos, fazendo movimentos suaves, me vesti. Ele também se levantou e colocou a calça, talvez, não querendo deixar suas partes mais sensíveis desprotegidas. Em seguida, fui até o escritório, rezando para que meu plano desse certo. Quando entrei no escritório, vi meu gato Uriel que dormia, calmamente, em cima da mesa, como de costume.

— Está aqui, na gaveta – avisei e aproximei-me da mesa.

— Por favor, Júlia. Não tente nada idiota – ele solicitou, aproximando-se de mim e quando Dario está bem próximo, eu disse, baixinho:

— Desculpe-me — segurei Uriel, joguei-o em cima de Dario, bem na direção do rosto dele. O gato assustado começou a arranhá-lo, violentamente, ele se protegeu com os braços, dando-me tempo suficiente para correr em direção à porta da sala, que graças a minha distração, só estava trancada com a chave, em vez de todas as correntes e ferrolhos. Sai pelo corredor, ainda correndo, em direção a escada de incêndio, subi para o andar de James, parei em frente da sua porta e soquei-a com toda a minha força. Porém, Dario já havia se livrado do gato e corria atrás de mim pela escada, alcançando-me.

— Por favor, Júlia! Você entendeu tudo errado! – Ele se aproximou, falando, suavemente, tentando me acalmar.

Nesse momento, a porta se abriu atrás de mim e James apareceu com sua bengala na mão, olhando aquela cena intrigado. Sabia que James não seria páreo para Dario, mas a bengala poderia ajudar.

— O que está acontecendo aqui? – James gritou, irritado.

— Fique fora disso, velho! – Dario respondeu, aos berros, furioso. Entretanto, para minha surpresa e de Dario, em uma fração de segundos, James puxou o punho de prata da bengala e uma fina e comprida lâmina de aço, surgiu de dentro dela, em uma manobra veloz, encostou no pescoço do homem mais jovem, o encurralando contra a parede.

— Você não sabe com quem se meteu, garoto Ferrer – James falou, entredentes, cheio de ódio.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A verdade sobre uma pequena mentira" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.