A verdade sobre uma pequena mentira escrita por calivillas


Capítulo 18
Medo da Mentira




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Estava completamente atordoada com aquela revelação de Alex, tanto que nem notei quando o elevador chegou ao meu andar, então, ouvi uma porta bater com força e passos apressados se afastando, pelo corredor. Pensei que seria algum vizinho atrasado para um compromisso, que preferiu usar a escada em vez do lento elevador no nosso prédio.

No entanto, ao encostar a chave na fechadura, a porta do apartamento abriu sem esforço, com um longo rangido. Azazel, o anjo protetor, me esperava em guarda, com seu olhar duro e acusador. Tentei lembrar, se tinha esquecido de trancar a porta, mas estava certa que não era esse o caso. Entrei, lentamente e com muita precaução, acendi as luzes, então levei um tremendo susto, quando Uriel saiu correndo de algum lugar e passou junto das minhas pernas, dando um miado estridente.

— O que deu em você, seu gato maluco? – ralhei com ele, com meu coração aos pulos.

E, no momento que levantei meus olhos, pude ver a razão do medo de Uriel. A casa foi completamente revirada, gavetas abertas, as almofadas do sofá e das poltronas fora do lugar, vários objetos esparramados pelo chão. Percebi que alguém invadiu meu apartamento e revirou tudo, a procura de algo, que eu sabia muito bem o que era. Assim, corri para o escritório, onde a mesma cena se repetiu. As gavetas abertas com seus conteúdos espalhados pelo chão, muitos livros largados e abertos sobre a mesa e no assoalho, mas, felizmente, a coleção de culinária, na última prateleira da estante, ainda estava intacta, no mesmo lugar.

O que faria agora? Um nome veio à minha cabeça: James. Sai correndo do meu apartamento, subi as escadas e fui até a casa dele, toquei a campainha insistentemente. Ele não atendeu, não devia ter voltado da tal viagem, que me avisou que faria.

Não sabia o que fazer, corri pelas escadas de volta para casa, entrei e tranquei a porta, como se isso importasse, pois quem invadiu a minha casa não precisou de chaves. Poderia me refugiar na casa dos meus pais, mas eles, também, ficariam em perigo. Talvez, devesse chamar a polícia, mesmo que nada tenha sido roubado. Meu computador, a televisão e até as joias, que herdei da minha avó, estava tudo lá, seria só uma simples invasão, entretanto, era melhor alguém saber disso.

Algum tempo depois, os policiais chegaram e, como eu previ, olharam tudo, perguntaram se algo foi roubado, se eu não esqueci a porta aberta, depois, fizeram uma ocorrência e foram embora, com a simples explicação que o ladrão devia a ter se assustado ou com o gato ou com algum vizinho e fugiu, sem conseguir levar nada. No final, eles mandaram eu trancar bem as portas e foram embora. Portanto, foi o que eu fiz, tranquei usando todas as correntes e ferrolhos da porta, e havia muitos nela, possivelmente, porque minha avó devia ter o mesmo medo que eu tinha agora. Ainda, não satisfeita, pensei em colocar algo pesado para bloquear a porta. Minha primeira opção foi a estátua do anjo, que era o objeto mais próximo, tentei empurrá-lo, e apesar de colocar toda minha força, ela não saiu um milímetro do lugar, parecia chumbada no chão, assim tive que me contentar com uma simples poltrona. Então, sentindo-me um pouco mais segura, corri para o meu quarto e tranquei a porta, após um banho, liguei para minha mãe.

— Mãe, tudo bem com vocês? – perguntei um tanto aflita, no entanto, sem querer transparecer o meu medo.

— Tudo, Júlia.

— Não aconteceu nada de diferente hoje?

— Não, mas porque estas perguntas, Júlia? Você está me preocupando!

— Por nada. E Aline, tem falado com ela, ultimamente? – Achei que minha irmã estaria segura em Nova York, onde trabalhava como modelo.

— Não muito. É a semana de moda por lá, ela está trabalhando bastante, mandou algumas fotos para mim dos desfiles dela. Deve ter mandando para você também.

— Não tive tempo hoje, sai com Alex.

— Uh, Alex! Então as coisas estão indo bem entre vocês! – Ela nem podia imaginar a verdade, que eu não era o tipo de Alex, ele era gay, mas a deixei acreditar que estávamos ficando.

— Mãe, por favor, não deixe ninguém estranho entrar aí, em casa. Tomem muito cuidado, você e papai! – repetir minha preleção, não queria contar a ela sobre a invasão do meu apartamento.

— Júlia, você está me assustando!

— Não é nada! É só porque eu ouvi no noticiário outro dia, que aumentou muito o número de roubo no bairro de vocês.

— Não se preocupe, minha filha. A casa é muito segura. Além do mais, depois de amanhã, estaremos viajando.

— Já! A semana passou rápido. Irei até aí, para me despedir de vocês. Boa noite, mãe.

— Boa noite, Júlia.

Demorei a dormir, mas meu sono foi pesado e agitado, com sonhos assustadores e Tony Felix, Heloisa, Arlete e todos os personagens reais do meu livro estavam neles, mais uma vez.

Acordei com o meu telefone tocando e Uriel arranhando a porta, sonolenta, olhei o nome na tela.

— Dario? – perguntei, sem entender o porquê ele me ligaria, principalmente, em um dia como aquele.

— Júlia, o que aconteceu ontem? – Sua voz demonstrava preocupação.

— O que aconteceu? Por que dessa pergunta?

Será que ele queria saber se eu dormir com Alex, ontem. Que enxerido!

Enquanto falávamos, eu abri a porta do quarto, segurei Uriel, que reclamava sua comida. Com o gato em uma das mãos e o telefone na outra, rumei para cozinha.

— Soube o que acontece na sua casa ontem.

— Como você soube disso? – Estava espantada.

— Muita gente da família na polícia. Meu irmão Claudio viu seu nome em um boletim de ocorrência na delegacia, onde trabalha, hoje de manhã, e me contou.

 — Pois é! Invadiram meu apartamento, fizeram a maior bagunça, mas não roubaram nada. – Coloquei o gato no chão e derramei a comida dele no pote, ele começou a comer avidamente.

— Eu vou aí ver você, agora!  Está com fome? Já tomou café da manhã? – Lembrei-me que não comia nada desde ontem cedo.

— Estou, acabei de acordar, mas...

— Eu também. Vou levar algo para nós comermos. Até breve.

— Até – respondi, sem argumentos e sem entender nada daquilo.


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