Sinto todo o sangue do meu corpo simplesmente congelar. Peeta pega em minha mão e tenta me passar alguma confiança que eu acho que nem ele mesmo possui. Olho para Rye brincando no chão e tento manter minha mente fixa em “O que eu vou fazer agora?”, sinto meus olhos arderem e sei que se não sair daqui vou acabar chorando na frente de todos. Respiro fundo me levantando rapidamente e saindo, eu preciso sair daqui. Ouço vozes chamando meu nome, mas simplesmente não consigo parar, eu quero fugir daqui, fugir de tudo isso o que está acontecendo.

Sinto meu braço ser puxado para trás e alguém abraça meu corpo fortemente, como eu fazia com Prim todas as vezes que ela acordava à noite depois de ter tido um sonho ruim. Minha mente passa em um borrão, e o desespero não me faz ver ou pensar direito, mas sei que esses braços não são os de Peeta. A pessoa me solta e eu vejo que é Gale.

— Eu não vou deixar que nada aconteça com vocês. – Ele promete em um sussurro. Mas tudo que eu faço é negar com a cabeça. — Você é como minha irmã Katniss, você, Peeta e Rye, são minha família também. Não vou deixar machucarem vocês.

Ele volta a me abraçar, e desta vez eu retribuo, Gale é assim, na maioria das vezes, tão parecido comigo que eu penso que poderíamos mesmo ser irmãos. Então eu me deixo acreditar em suas palavras, mas as coisas não são bem assim.

— Katniss. – Meu coração se aperta e a vontade de chorar volta com força quando escuto a voz rouca de Peeta chamando meu nome. Solto-me de Gale e meus olhos param nos seus. Sempre tão azuis e serenos, mas agora escuros como um céu que se fecha para a tempestade. Corro até ele abraçando-o fortemente, até alguns segundos atrás, eu precisava de consolo, mas agora, eu preciso de mais do que isso. Eu preciso de alguém que diga que me ama, e que me diga que vai ficar tudo bem, que diga que vai cuidar de mim e me proteger. E ninguém pode fazer isso melhor do que Peeta.

— Eu te amo. – Ele sussurra em meu ouvido. — E nós vamos ficar bem. – Afasto-me dele apenas para olhar em seus olhos. E Deus! Eles não estão inseguros e amedrontados como eu imaginei que estariam. É como se Peeta estivesse preparado para lutar contra quem fosse agora mesmo. E eu só reconheço ver esse olhar algumas vezes, e essas foram na arena. Mais precisamente, quando eu estava correndo perigo.

— Ninguém toca na nossa família. – Digo, e não é só palavras, é uma promessa. Estou fazendo uma promessa silenciosa que não deixarei ninguém tocar em Peeta ou Rye.

— Ninguém. – E de repente, todos falam juntos, Effie, Haymitch, Gale, Johanna e até Annie e minha mãe. Por que aqui não somos só eu e Peeta, todos nós somos família. E iremos proteger uns aos outros custe o que custar.

*-*

Dias depois...

— Desencana Katniss, não vai acontecer nada com vocês. – Johanna fala andando de um lado para outro dentro da sala de estar de sua casa.

— Eu não sei Joh. – Digo, sentindo a velha dor de cabeça começar. — Depois que descobrimos que a explosão na padaria foi mesmo planejada por alguém, tudo está tão estranho. – Falo.

— Eu sei disso, mas, sei lá. Peeta já voltou a trabalhar na padaria, você ficar se trancando em casa com Rye não vai adiantar nada. – Ela se coloca na minha frente. — E é meu casamento. Não custa nada fazer um esforço.

— Você sabe que eu vou ao seu casamento. – Falo. — Mas isso de despedida de solteira, eu não acho que estou no clima.

— Então entre no clima, por que amanhã vamos nos divertir muito. – Ela fala e eu abro a boca para responder, mas ela não deixa. — Cala boca e fora da minha casa.

Eu tento um sorriso enquanto pego Rye que brincava no chão com Hunter e saio com ele da casa de Johanna e Gale.

— Esteja pronta. – Ela grita. Entro em casa, e vejo Peeta sentado na poltrona escrevendo algo em um papel.

— O que você está fazendo? – Coloco Rye no chão e me aproximo dele, sentando-me no seu colo, e ele sorri,

— A receita do bolo de casamento da Johanna. – Ele responde enlaçando minha cintura com seus braços.

— Hmm, receita especial? – Pergunto olhando em seus olhos.

— Ela quer mudar alguns ingredientes e mudar a cobertura. – Ele responde descendo seus olhos para minha boca.

— Ela está querendo me obrigar a ir na despedida de solteira dela. – Digo pegando um bocado de cabelo loiro de sua nuca.

— Eu acho que você devia ir mesmo. – Ele responde. — Katniss, não podemos parar nossas vidas pelo que aconteceu, precisamos continuar vivendo. – Ele aperta minha cintura com mais força.

— Voltar para a padaria é uma coisa, sair por aí assim, é outra. – Respondo.

— É a despedida de solteira da sua melhor amiga. – Ele fala. — Não é algo desnecessário.

— Vamos ver. – Respondo olhando para Rye que brinca com Buttercup no chão. — Alguma notícia de Delly?

— Não, nenhuma. – Ele responde e voltamos para aquele clima de novo, depois que descobrimos que a explosão foi mesmo planejada, ninguém ouviu mais falar sobre Delly. O que me deixa fixada na ideia de que foi ela a autora da desgraça que poderia ter custado a vida de Peeta. Mas ele e toda sua bondade, ainda se põe a acreditar que talvez tenha acontecido algo com ela, e por isso ela “sumiu”. Ingênuo.

— Acha mesmo que eu devia ir? – Pergunto.

— Sim, eu acho. Vai ser bom para você se distrair um pouco. E de qualquer forma, Gale também vai fazer uma despedida. – Ele sorri e dá de ombros.

— E quem vai cuidar de Rye? – Pergunto.

— A mãe de Gale se ofereceu. – Ele responde.

— Hazelle vai cuidar de todas as crianças sozinha? – Pergunto me aconchegando mais em seu colo.

— Não amor, ainda tem os irmãos de Gale que podem ajudar. – Ele fala e eu sorrio ao ouvir a palavra “amor” sair de sua boca.

— Está bem, vamos ver. – Digo beijando seu pescoço, vendo sua pele se arrepiar.

Levanto-me de seu colo e pego Rye nos braços.

— Vamos dormir. – Digo, Peeta se levanta pegando em minha mão e subimos juntos para o quarto de Rye. — Durma bem, meu anjinho. – Digo, colocando ele no berço e beijando o topo de sua cabeça.

— Bua note mama. – Ele responde sorrindo. — Bua note papa.

— Boa noite campeão. – Peeta beija a testa de nosso filho e o cobre. Vejo Butercupp entrar pelas frestas do berço e se ajeitar aos pés de Rye.

Apago a luz do quarto e entro com Peeta no nosso. Vou até o closet e pego meu pijama, me despindo na frente de Peeta mesmo, já passamos dessa fase.

— Acho que pode se passar anos, décadas e séculos e eu ainda vou ficar admirado ao ver você se trocando na minha frente. – Ele fala me abraçando por trás.

— Era pra você ter ficado de costas. – Respondo sorrindo e sentindo sua mão passear por minha barriga desnuda.

— Você não pediu. – Ele respirou em meu pescoço me causando um arrepio gostoso.

— Você não teria virado, mesmo se eu pedisse. – Respondo tombando minha cabeça para trás, dando caminho livre para ele beijar meu pescoço, e assim ele o faz.

— Ainda bem que você sabe. – Ele responde, enquanto beija e morde meu pescoço.

— Precisamos conversar. – Digo tentando me afastar dele, que segura minha cintura.

— Agora? – Ele pergunta.

— Sim, agora. – Digo.

Ele me encara por alguns segundos e balança a cabeça positivamente tomando uma postura seria.

— O que o exército disse? – Falo.

— Estamos fora de perigo. – Ele murmura.

— Por enquanto. – Digo, Peeta me olha profundamente por alguns segundos antes de afirmar com a cabeça.

“Fora de perigo”, a questão é: Até quando?