Life After Red escrita por SorahKetsu


Capítulo 1
Capítulo unico




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 Jane se espreguiçou e só então abriu os olhos. A luz da manhã atravessava as cortinas e começava a esquentar o quarto. Livrou-se das cobertas e tateou o lado direito da cama, sem encontrar ninguém ali.

Suspirou irritado. Levantou o tronco e procurou pelo relógio de pulso, que estava sobre a mesinha de cabeceira. Era oito da manhã.

Levantou-se e esticou os braços, bocejando. Passou a mão pelos cabelos e precisou pensar no que iria fazer em seguida, apesar da rotina óbvia.

Foi até o banheiro e entrou no box. Girou a torneira e se deixou ser lavado pela água morna. Ficou cinco minutos no banho antes de sair e escovar os dentes, com uma toalha enrolada na cintura.

Vestiu um terno cinza por cima de uma camisa branca, mas logo tirou o paletó devido ao calor.

Desceu as escadas até o primeiro andar e foi até a cozinha. A casa estava completamente silenciosa. E ele não fazia lá muito barulho.

Notou a gaveta de remédios mal fechada e a abriu. Uma das cartelas estava pela metade. Fechou-a até o fim e andou até o armário de copos. Tirou de lá uma xícara. Notou que não havia chá pronto. Sorriu, misteriosamente, e procurou por café, mas também não encontrou nada além de pó para preparar.

Fez seu próprio chá e sentou-se à mesa para tomá-lo com um muffing de framboesa. Após dar-se por satisfeito, voltou ao banheiro para escovar os dentes novamente e pegou a chave do antigo citroen.

Dirigiu mais devagar do que de costume, porém ainda assim mais rápido do que Lisbon gostaria. Precisou pedir informação sobre onde era o novo prédio da CBI, já que o antigo havia sido explodido dois meses antes, e ele até então não fora visitar.

Parecia um prédio provisório, uma antiga repartição pública. Não era muito próprio para um escritório de investigação.

Não foi difícil passar pelo porteiro, que conhecia Jane e provavelmente não fora informado de que o consultor já não trabalhava lá.

Não fazia idéia de pra onde devia ir, mas Jane era bom em achar coisas. Olhando no rosto dos que ali estavam, a partir do modo de se comportarem, descobriu em que seção trabalhavam, e rapidamente chegou ao andar de Lisbon.

Saiu do elevador e procurou ao redor, dando um sorriso ao vê-la correndo de um lado pro outro.

Rigsby, no entanto, viu Patrick antes dela. Acenou alegremente e levantou-se para ir cumprimentar o antigo companheiro. Ao ver a movimentação, Lisbon olhou na direção dos dois e pareceu ficar completamente branca de repente.

Cho não tardaria a vir também, seguido por Van Pelt. Lisbon só veio bem depois, com expressão de desespero.

- Hey! Mas vejam se não é Patrick Jane! Esqueceu dos amigos, não é? – disse Rigsby. – Sumiu, heim?

Jane olhou para Lisbon, desconfiado.

- Sumi?

- É, há quanto tempo não dá notícias? – acrescentou Van Pelt.

- Praticamente evaporou. – completou Cho.

- Mas Teresa sabia exatamente onde eu estava. – ele afirmou, olhando para ela.

Os demais também olharam, apesar da nítida surpresa em ouvirem-no chamando-a de Teresa. Ela ficou perdida sem saber o que dizer.

- Ahn… acho que esqueci de mencionar… notícias do Jane. – ela murmurou, sem jeito. – Mas afinal o que está fazendo aqui?

- Você saiu sem avisar. Eu pedi pra que me acordasse, não pedi? Vim pedir meu beijo de bom dia.

Os demais tomaram expressão de estupefatos. Van Pelt corou.

- Há-há, muito engraçado, Jane. – encenou Lisbon. – Voltem ao trabalho, temos um criminoso pra prender.

Os três suspiraram entediados e voltaram cada um à sua posição. Logo em seguida, Lisbon olhou para Jane com um misto de culpa e raiva.

- Venha pra minha sala, Patrick.

Ele a seguiu, com um ligeiro sorriso no rosto. A nova sala era menor que a anterior, porém muito mais fechada. Dava privacidade, pois havia mesmo paredes, e não divisórias de plástico e vidro.

Ela não se sentou atrás da mesa, como sempre fazia. Ficou de pé, de frente para Jane.

- Eles ainda não sabem. – o ex-consultor afirmou.

- Não.

- Faz dois meses que estamos morando juntos e eles não sabem sequer de um envolvimento nosso?

- É difícil pra mim contar, ok? Vão achar que já tínhamos um caso antes, quando você ainda trabalhava. Não posso desconsiderar que levantariam suspeitas contra mim.

- Teresa, eu saí da CBI justamente pra que não precisássemos nos esconder. Mas é exatamente o que você está fazendo.

- Eu sei, eu sei, mas…

- Vamos ter que contar a eles.

Lisbon o encarou, um tanto quanto assustada. Não tinha em mente que isso era tão importante para Jane, nem que precisaria realmente contar. Não ao menos tão cedo.

- Não podemos… ao menos fingir que começamos recentemente? Pra que dê um tempo desde que você saiu e nosso começo.

- Você é quem sabe. Mas acho que, pela sua perspectiva em que tempo é algo tão importante, acho que começar hoje e estar grávida há um mês levantaria muito mais suspeitas. Contra mim, dessa vez.

Lisbon franziu as sobrancelhas. O encarou alguns instantes, completamente confusa.

- O que disse?

- Eu disse que começar hoje e estar grávida há um mês seria pior. Claro, a menos que leve a farsa a diante e diga que o bebê nasceu prematuro.

- Patrick, eu não estou grávida.

- Sim, você está.

Lisbon passou por um milhão de expressões, e nenhuma delas tendia a acreditar no que o consultor dizia.

- Patrick, não brinque assim, claro que não estou grávida.

- Bem, então não diga a eles, mas quando a barriga começar a crescer será tarde demais para contar. – disse Jane, virando-se para sair da sala.

- Ok. – rendeu-se Lisbon – Por que acha que estou grávida?

Ele girou nos tornozelos, de frente para ela novamente, animado em poder explicar e com um enorme sorriso no rosto.

- Já faz uma semana que têm tomado aquelas pílulas para enjôo, e nós temos comido quase a mesma coisa, logo não acho que essas náuseas sejam devido à comida.

- Então se uma mulher sente enjôo é porque está grávida?

- Não. Ontem você jantou banana com arroz.

- Minha mãe comia isso, ok?

- Mas você não. Por que esse desejo repentino? Sem contar que você tomou outra pílula logo em seguida.

- Não me convenceu ainda.

- Ontem eu quebrei um dos pratos e você sequer ergueu a voz. Aliás, você se ofereceu para juntar os cacos.

- E…?

- E você deveria estar na TPM essa semana. Eu devia ter morrido ontem por aquele prato. Mas você não está na TPM porque você não vai menstruar semana que vem. Nem em nove meses.

- E agora você sabe até meu ciclo?

- Eu moro com você. Eu faço sexo com você. Todo dia. Exceto em cinco dias do mês. Eu tenho que saber. Aliás, seus seios também estão maiores.

- Não estão não.

- Ora, Teresa, claro que estão. Acredite, um homem percebe. Ainda mais se os toca todo dia.

Ela corou.

- E se quer outra coisa – ele acrescentou -, você sempre faz meu chá de manhã. Hoje você não fez. E pode até dizer que esqueceu, mas também não tomou café. Tomou apenas uma daquelas suas pílulas pra enjôo. Isso pode ser ruim pro bebê, sabia? Já olhou a bula daquilo?

- É melhor isso não ser uma brincadeira, Patrick.

- Brincadeira? Teresa, eu não brincaria com uma coisa dessas.

- Você já disse isso antes. – ela balbuciou.

- Você sabe que eu estou certo. Você notou tudo isso, apenas não ligou os fatos. Não sou eu quem está dizendo, é seu corpo.

Os olhos dela se encheram de lágrimas, e por um momento ela parecia uma criança assustada. Mas em seguida ela riu. Riu e começou a chorar de felicidade. Abraçou-o com força, e o beijo teve o gosto das lágrimas.

Após dois ou três minutos que eles passaram apenas naquele abraço e beijo, se separaram e se encararam.

- Agora vamos falar pra eles de uma vez? – pediu Jane.

Ela suspirou, e ficou inquieta imediatamente.

- Ok. Você fala.

 

Os dois saíram da sala de Lisbon e ela pediu que os três se reunissem para dar-lhes um aviso. Eles estranharam, mas logo estavam todos lado a lado, aguardando a tal noticia.

- Na verdade… - ela começou, gaguejando – Quem vai falar é o Jane.

Ele sorriu pela timidez dela.

- Tenho três notícias pra vocês, já que fiquei tanto tempo sem aparecer. A primeira: Lisbon será mamãe.

O queixo dos três caiu. Encararam Lisbon procurando qualquer sinal de mentira, mas a expressão de timidez e a falta de coragem em encará-los tornava tudo muito real.

- A segunda… - continuou, sem esperar que eles se recuperassem – Eu serei papai.

Van Pelt foi a primeira a passar da expressão de surpresa pra de riso e felicidade pelos dois. Cho foi o segundo. Rigsby, no entanto, não entendeu.

- Que coincidência! – disse ele.

Van Pelt lhe deu uma cotovelada.

- E a terceira, para aqueles que ainda não entenderam – e olhou para Rigsby – é que eu e Lisbon estamos juntos há pouco mais de dois meses.

- Quer dizer… juntos… tipo… juntos? – gaguejou Rigsby.

- Moramos na mesma casa e dormimos na mesma cama. E o bebê que ela tem na barriga agora nós fizemos juntos.  Então sim, estamos juntos tipo juntos.

- Wow. Isso é…

- Previsível.

Os cinco viraram a cabeça na mesma direção.  Minelli havia entrado de repente, e tinha um singelo sorriso no rosto. Lisbon corou no mesmo instante.

- Hey, olhem quem estava ouvindo atrás da porta. – brincou Jane.

- Ouvindo? Não. Eu vi de longe vocês dois – e apontou para Patrick e Teresa.

- E pelo nosso posicionamento, um ao lado do outro, enquanto os demais estavam de frente, deduziu que…

- Não, Jane, o mentalista aqui é você. Teresa me contou.

Jane soltou um “ah” longo, olhando para ela, que desviou o olhar.

- Por que ele sabia e a gente não? – questionou Rigsby.

- Porque Teresa costumar guardar certas coisas até que elas explodam. Normalmente só há uma testemunha por perto. – explicou Jane. – Mas estou curioso. O que Lisbon lhe disse?

- Ela disse – começou, olhando para ela com um sorriso – o que eu já sabia há algum tempo. Vocês dois eram próximos demais. Ela veio me pedir pra sair mais cedo, pois estava de mudança. Eu perguntei pra onde ia se mudar, e ela disse que era pra sua casa. Que iam morar juntos e que estavam tendo uma relação séria.

- Hm, ela não disse que está grávida, disse?

- Jane, eu descobri isso hoje. – balbuciou Lisbon.

- Grávida? – repetiu Minelli – Isso é sério, Teresa?

- Isso é o que o Jane diz.

- Ora, vamos. Vocês não notaram?

- Ela vomitou ontem. – lembrou Van Pelt. – Por causa do cheiro de café.

- E os seios estão maiores. – comentou Rigsby.

- Viu? – disse Jane – Hey! – disse, após uma pausa – Por que reparou nisso?

- É, por que reparou? – insistiu Van Pelt.

Rigsby limpou a garganta, constrangido e encurralado.

- Homens reparam. Não é, Cho?

- Não sei de nada.

- O importante é que Lisbon será mamãe! – desviou Rigsby.

- E isso é ótimo, Teresa. – parabenizou Minelli – Estou muito feliz por vocês.

- Ainda quero um teste de gravidez. – avisou Lisbon.

- Ora você sabe que é verdade. – disse Jane – E o que acham de sairmos todos pra comemorar?

- De jeito nenhum. – protestou Lisbon – Temos um assassino pra pegar.

- Podem ir. – disse Minelli – Eu cuido das coisas por aqui.

 

Os cinco então se encontraram num barzinho movimentado. Todos riam e pareciam extremamente felizes. Lisbon ainda mantinha um pouco da expressão de criança assustada, pois tudo aquilo era muito estranho para ela. Haviam passado numa farmácia pra comprar um desses testes, e ela se preparava pra ir ao banheiro fazê-lo. Adiara o tal momento durante uma hora, até que finalmente se levantou, sem falar nada com ninguém. Os demais se entreolharam, Jane explicou o que ela fora fazer, e, com um sorriso na face, pediu que prestassem atenção na expressão dela ao voltar.

Minutos depois, Lisbon saiu do banheiro, completamente branca. Sentou-se quieta na mesa e bebeu um gole de suco de laranja (apesar de todos os outros beberem cerveja).

- E então? – perguntou Jane, com um sorriso na face.

- Estou grávida.

 Nunca imaginou que ainda seria mãe. Imaginar que havia uma mini Lisbon ou um mini Jane em seu ventre naquele momento era absurdo. E que Jane pudesse ter percebido isso antes que ela, era ainda mais assustador.

- Será uma ótima mãe.

Ela o encarou, com os olhos vermelhos e o beijou. Os outros três sorriram.

A conversa correu animada, até que Jane, segurando a mão de Lisbon, disse:

- Cho, estávamos pensando, você e sua namorada não querem ser padrinho e madrinha do bebê?

- Claro, seria ótimo. – ele respondeu.

- Hey! – protestou Rigsby – E nós?

- Você e Van Pelt podem ser padrinhos do casamento. – respondeu Jane, e olhou para Lisbon – Não é?

Ela gaguejou, tentando entender o que estava acontecendo. Van Pelt sorriu, achava os dois realmente perfeitos um pro outro.

- Mas, nós… - gaguejou Lisbon – Nós… vamos?

- Ora, claro. – Jane ergueu a mão de Lisbon, exibindo o anel de noivado que havia posto nela sem que percebesse, minutos antes. – Vamos ter uma criança sem nos casarmos?

Os olhos de Lisbon se encheram de lágrimas. Ela sorriu de orelha a orelha e beijou o mais novo noivo.

- Acho que estamos tendo notícias demais por um dia. – disse Cho.

- É pra compensar o tempo em que estive “sumido”.

- Estou começando a achar que você estava bem presente. – Disse Rigsby.

- Por que?

- Porque a Lisbon aparecia todo dia com cara de quem teve uma ótima noite. – respondeu Rigsby.

E assim, Lisbon lhe deu uma bronca, mas nada naquele dia poderia irritá-la. Nem mesmo Jane, mesmo que se esforçasse muito, ainda não conseguiria apagar o sorriso que havia brotado e se instalado em seus lábios. Lisbon agora, mais do que nunca, sabia como era ter uma família de verdade. Sentada à mesa com seus padrinhos, seu noivo, e seu filho.

Uma mulher de família, então, da noite pro dia. Ontem Ms. Independent, Little miss Fierce, hoje Mrs. Jane.


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Notas finais do capítulo

Em Red John's Case, Red John é capturado e Jane e Lisbon vão morar juntos, resumidamente.