Pokémon - Onde os Laços São Mais Estreitos escrita por Mister Also


Capítulo 4
Cada vez mais


Notas iniciais do capítulo

FINALMENTE NÃO É MESMO
Fiz um capítulo mais longo dessa vez, mas isso a gente releva :v finge que é comemoração do ano novo e.e
Enfim, leiam e se deliciem com o capítulo 4 ♥



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 Eram sete e quarenta e cinco da manhã e o movimento dentro do Centro Pokémon já começava. O barulho baixo, porém contínuo acabou acordando Nathan, que pulou de sua beliche onde Alven dormia na parte de cima. Luna dormia na outra beliche, localizada de lado oposto, sozinha. Dew e Kend cochilavam em uma cama menor ao lado de Alven, com um pequeno cercadinho em volta e travesseiros no meio para que o pequeno aconchego ficasse confortável e sem riscos de uma queda.

 O quarto era particularmente grande e continha um criado para cada cama, as quais eram de madeira lisa, envernizada e pintada de azul. Ao fim do quarto uma grande janela fechada escondida por uma cortina também fechada.

 Nathan se levantou e se espreguiçou. Em seguida deu um bocejo forte e com isso acabou caindo na cama novamente, dessa vez sentado.

— Credo — disse. Sacudiu a cabeça, esfregou os olhos e foi em direção ao banheiro.  Vestia um pijama — conjunto de blusa e calça feitas com tecido macio —  azul-claro com uma grande lâmpada apagada estampada na blusa de mangas compridas.

 O banheiro ficava dentro do quarto, escondido no canto por uma porta branca acompanhada de uma maçaneta circular de mesma cor. O garoto girou a maçaneta e abriu, revelando o banheiro. Ao final do deslize feito pela porta, um rangido agudo espalhou-se pelo quarto. Nathan ouviu um instalo vindo de uma das camas, mas ignorou e entrou.

 Era um banheiro simples, porém bem feito: um pequeno vaso branco acolchoado, uma pia quadrada na parede em cima de um mármore azul-piscina, um espelho na parede superior á pia e um Box com chuveiro que podia ser alternado entre quente, morno e frio. O chão era em porcelanato branco antiderrapante assim como todo o estabelecimento, porém as paredes eram em cerâmica pastilha branca e azul.

— Bom dia, Nathan — disse o garoto a si mesmo no espelho dando um leve sorriso. Abaixou a cabeça olhando para a torneira e procurou o gatilho para liberar a água, mas não havia nada. Vasculhou por vários ângulos até perceber que a água só sairia se ele pusesse suas mãos abaixo da torneira, e foi o que aconteceu.

— Oh, nossa... — murmurou. Após o pequeno incidente, concentrou-se em lavar o rosto. Pegou um punhado de água e esfregou levemente no rosto inteiro. Em seguida enxugou tudo com a toalha e penteou despreocupadamente os volumosos cabelos negros. Depois se direcionou á porta novamente e voltou para o centro do quarto, onde ouviu um barulho da cama rangendo.

 Olhou pelo ambiente e avistou algo se jogando da parte de cima de um dos beliches. O silêncio predominou por alguns segundos. Logo surgiu um cobertor rastejando lentamente pelo chão. A coisa rastejou até bater de frente com os pés de Nathan, que recuou um passo e então o cobertor se levantou. Debaixo dele surgiu Alven, que se enrolou como um casulo omitindo todo o corpo da boca para baixo. Ele segurava roupas por baixo do cobertor. Seus olhos mal se abriam, parecia até uma mistura de Solrock e Swaddlon. Seus cabelos aparentavam folhas de Oddish, num emaranhado de fios paralisados pela pressão imposta pelo travesseiro durante longas horas de sono pesado.

— Ah, é só o Alven. Bom dia — cumprimentou, aliviado.

— Bom... dia... — disse o garoto, numa voz cansada e sonolenta. Dobrou ali mesmo o cobertor que usava e o colocou na cômoda ao lado da porta de entrada do quarto, e logo em seguida tomou posse do banheiro. A porta do Box foi ouvida, e consequentemente o chuveiro foi ligado.

— Tá, né... — Nathan virou-se para seu beliche e andou na direção do local para arrumar a cama. Rapidamente dobrou o lençol com o qual dormiu e colocou no criado, junto com o travesseiro. Foi até a cômoda e pegou uma fronha branca com listras e almofada vermelhas em uma das gavetas. Forrou a cama e deu o toque final centralizando a almofada perfeitamente na cabeceira como um confeiteiro centraliza a cereja em um bolo.

— Que perfeccionista — disse Luna, já acordada, vendo Nathan calcular o local da almofada.

— Estou apenas retribuindo a atenção do pessoal do Centro, achei muito legal da parte do pessoal daqui a estadia especial para treinadores — parou e focou na garota — você ficou lendo isso aí até que horas?

— Ah, isso? — Luna olhou para seu livro sobre insetos. Era um livro de uns dois centímetros de espessura, capa verde-musgo com uma imagem mostrando um Beautifly e um Dustox. O título era “Insetopédia” escrito em grandes letras amarelas e abaixo, com menos destaque, a frase “Versão Especial: De Kanto a Kalos + Kit de 6 Net Balls!” em médias letras brancas.

— Sim, você amanheceu com esse livro aberto provavelmente porque dormiu enquanto lia.

— Eu fiquei até uma e cinco da manhã, se não me engano. Inclusive parei na página... — Ela localizou o marcador de texto em forma de folha e foi até a página em destaque. — Parei na página 45.

 Luna fechou o livro e fez menção de se levantar. Nathan pegou em sua mochila um conjunto de roupas dobradas, um pente comprido e um desodorante roll-on. Sentou-se em uma cadeira ao lado do criado e ficou esperando Alven sair do banheiro.

— Ele deve estar tomando banho — Indagou Luna pulando de uma vez do beliche onde dormira sozinha. Ela vestia uma camisa branca com uma borboleta laranja estampada e um short leg verde que ia até o joelho. Seus cabelos castanhos estavam soltos e fios armados se destacavam por toda parte.

— Me deixa ler esse livro enquanto Alven não sai? — Nathan estendeu sua mão e recebeu o livro de Luna, que arrumava sua cama e dobrava os lençóis. O garoto abriu na primeira folha, endireitou-se na cadeira e começou a ler.

— Acha que eu devo acordar Kend e Dew agora? — Indagou a garota, olhando para os dois Pokémon que pareciam dormir profundamente na pequena cama cercada ao lado de um dos beliches. — Já são oito e meia.

— Deixe eles dormirem mais um pouco, depois Alven os acorda. Nem está tão tarde assim — respondeu o garoto sem desviar o olhar do livro.

— Ok, então — Luna voltou o olhar para sua mochila e pegou suas roupas.

— Esse livro tem algumas páginas para cada espécie de inseto de Kanto a Kalos sem faltar um detalhe sequer — disse Nathan surpreso ao folhear as páginas da enciclopédia.

— Legal, né? Ganhei dos meus pais de aniversário. Era algo que queria muito e estava pedindo a algum tempo.

— Onde estão as Net Balls que vieram com o livro?

— Ah, as cinco restantes estão dentro da minha mochila. Uma eu já usei — A garota apontou para o pequeno bolso transparente de sua mochila. Uma pokébola normal e uma Net Ball com um adesivo azul em seu botão descansavam ali. Esta última pokébola tinha azul no lugar de vermelho e estampa que imitava uma rede de pesca.

— Quais são os seus Pokémon? Ficamos tão distraídos que nem eu nem Alven tivemos curiosidade de perguntar.

— É surpresa. Hoje eu ainda mostro pra vocês.

— Que seja, então. — Nathan revirou os olhos e voltou a ler. Luna esticou os braços para despertar e abriu as janelas, porém deixou as cortinas fechadas.

 Foi então que a porta do banheiro se abriu e de lá saiu Alven com uma aparência completamente diferente da que tinha quando acordara: Usava uma camisa verde-claro com listras laranja e mangas curtas, além de um short bege com dois bolsos na frente e dois atrás, esses tendo velcro. Calçava um sapato sem cadarço azul-escuro e meias brancas curtas para mais conforto. Seus cabelos lisos e castanhos já penteados desciam até a nuca passando por cima das orelhas e formavam uma franja bagunçada na testa.

— Bom dia! — disse, animado. Um cheiro doce de flor de cerejeira invadiu o quarto.

— Finalmente! — Nathan levantou deixando o livro fechado em cima do criado. Deu um leve tapinha no ombro de Alven e foi para o banheiro se trocar.

— Depois sou eu, tá? — exclamou Luna na direção do banheiro, o mesmo já com a porta fechada. Depois se virou para Alven e abriu um sorriso. — Bom dia, Alven! Tenho um presente para você!

 O garoto inclinou a cabeça para o lado, curioso.

— Toma! — Num piscar de olhos Luna pegou o Insetopédia, abriu numa página qualquer e o entregou para Alven.

— O que é... — O garoto focou em uma imagem da página e se deparou com a foto de um Scyther tirada bem de perto. — Credo, tá amarrado! — gritou nervoso, jogando o livro em Luna. A garota pegou rapidamente a enciclopédia para que a mesma não caísse no chão.

— Ah, qual é, pare com esse medo dos insetos! Eles não fizeram nada pra você!

— Foca nesse exoesqueleto todo verde e estranho, e essas asas inquietas, e esses olhos, ai! — O garoto recuava para trás com as mãos nos ombros formando um “x”.

— Aparência não define força nem caráter, sabia? — Luna cruzou os braços em protesto.

— Você me entendeu!

— O que tá acontecendo? — Disse Nathan ao abrir a porta. Vestia uma camiseta laranja com um sol amarelo estampado e por cima da mesma uma camisa fina de algodão azul-claro aberta. Usava também um short jeans e um sapato de couro azul-claro com cadarço cinza.

— Essa ditadora quer me obrigar a gostar dos insetos dela!

— Esse opressor tá desmerecendo meus insetos pela aparência!

— Parem com essa discussão — resmungou Nathan com um olhar patético, julgando aquilo como desnecessário —precisamos comer.

 Alven se encheu de uma mistura de alívio e superioridade por ser defendido, enquanto Luna suspirou e foi para o banheiro se trocar. Alven foi em direção á pequena cama onde dormiam seus Pokémon e cutucou Kend e Dew até os dois acordarem. Pequenos movimentos preguiçosos surgiram, e Alven os pegou no colo assim que percebeu que despertaram. Os dois garotos trocaram algumas palavras sobre o que iriam fazer durante o dia enquanto esperavam Luna.

 Instantes depois a garota saiu com o cabelo novamente arrumado em um rabo de cavalo longo. Pequenos tufos de cabelo deslizavam do centro superior da testa até as orelhas. Ela vestia um casaco amarelo com bolinhas rosas cujas mangas estavam arregaçadas até os cotovelos. Duas cordinhas desciam de seu pescoço para fechar o capuz que descansava em suas costas. Usava um short jeans rosa até os joelhos e um sapato all-star preto.

— Vamos comer! — disse ela, numa expressão determinada.

(...)

 Os três saíram do quarto um a um, cada qual carregando sua mochila e passando por mais uma parte do ambiente refrigerado e limpo que era o Centro Pokémon. Atravessaram um corredor cheio de portas brancas iguais ás do quarto onde dormiram. O porcenalato limpo reluzia a claridade recebida pela área de sol central ligada a vários corredores do local. As laterais brancas do ambiente abrigavam papéis de parede elegantes e abstratos das mais variadas cores claras.

 Quando chegaram á lanchonete, se depararam com o que já esperavam encontrar: várias mesas para seis pessoas espalhadas lateralmente pelo lugar enquanto no centro do salão retangular residia uma longa mesa de metal com uns cinco metros de comprimento. Nessa mesma mesa coberta por algo que parecia ser um comprido guarda-chuva de metal, grandes recipientes repousavam cada um em seu compartimento contendo comidas das mais variadas possíveis: Frutos do campo, pães, leite e derivados, achocolatados, frutas, geleias, pastas e tudo que se podia imaginar para um café da manhã em um restaurante.

— Então, como vai ser? — disse Nathan, acordando Luna e Alven que sonhavam com a comida. Os três estômagos roncavam em ritmos variados.

— Como vai ser o quê? — perguntou Alven, que tentava espiar os queijos enquanto olhava para Nathan.

— Fazemos um trenzinho e vamos pegando a comida ou cada um faz seu prato enquanto os outros guardam a mesa? — retrucou o garoto.

— Pra mim tanto faz, eu só quero comer — disse Luna, saindo de seus devaneios.

— Francamente... — respondeu Nathan — Está bem, vão e façam seus pratos, eu tenho algo pra fazer antes.

— Tá — concordaram os famintos, indo em direção ao balcão principal vigiado por um homem vestindo camisa, calça e boina brancas. No centro de sua camisa, uma pokébola estampada com “Centro Pokémon” escrito na parte cinza da mesma o identificava como funcionário.

— Bom dia, jovens — disse cordialmente o homem.

— Bom dia — responderam os adolescentes em coro.

 Os dois pegaram pratos brancos com uma pokébola no centro e dois kits compostos de uma faca e um garfo com cabos vermelhos embalados em plástico fino.

— Provavelmente teremos que pesar os pratos quando voltarmos aqui e então pagar ao final.

— Tá — Alven concordou fingindo que havia prestado atenção. — O que você vai comer?

— Pão, geleia e café, coisa simples. E você? — A garota observava todo o ambiente enquanto falava.

— Acho que vou fazer um sanduíche, e comer com café também. Ah, tem Watmel?

— Ah, aquela berry gigante? Quando a gente estiver passando você pega, acho que lá na frente é onde ficam as frutas — Luna apontou com o queixo para a parte mais distante da mesa, onde repousavam várias frutas.

— Watmels são deliciosas, deveria comer também.

(...)

 Nathan andava pelos corredores apressadamente procurando o quarto onde descansava o Poochyena o qual foi salvo por ele, Alven e Luna no dia anterior. De repente avistou uma silhueta rosa com grandes orelhas pontudas: Era Fabe, balançando os bracinhos para chamar a atenção do garoto.

— Oi, carinha. Desculpe por ser tão desatento — disse Nathan, acariciando a cabeça do Clefable. O Pokémon revirou os olhos e foi para junto do enfermeiro Fábio, que aguardava sorridente pelo garoto.

— Nathan, como vai? Seu amigo já se recuperou! — Fábio apontou para o pequeno Poochyena na cama ao seu lado. Não estava abatido nem fraco, mas latia e abanava o rabo por Nathan estar ali.

— Fico feliz de você estar bem — disse o garoto numa expressão alegre. Pegou o Poochyena no colo e deixou o pequeno lobo lamber seu rosto.

— Só deve tomar cuidado com sua ferida. Claro que melhorou, mas ainda não cicatrizou por completo — O homem apontou para um band-aid rosa na perna do Pokémon.

— Tomarei cuidado — disse Nathan, sério. Saiu logo depois com o Poochyena no colo.

— Sabe — completou o enfermeiro olhando para seu Clefable — este Nathan pode ser meio escuro ás vezes, se é que você me entende, mas é um ótimo garoto.

 O Pokémon deu de ombros e saiu da sala.

(...)

 — Ah, olha quem está aqui! — exclamou Luna ao avistar Nathan indo em direção á mesa onde ela e Alven comiam.

— Desculpem pela demora, fui buscar o Poochyena de ontem — Nathan sentou-se em uma cadeira ao lado de Alven.

— Ele está tão lindo agora! Não que não fosse antes, mas agora está bem mais vívido — apontou Alven, comendo um pedaço de Watmel cortado em forma de triângulo enquanto acariciava a cabeça do Poochyena com a outra mão.

— Né? Resolvi apelidá-lo de Winer.

— Ao menos não é Poochy ou Ena — observou Luna — achei legal.

— Falou a avaliadora de nomes — retrucou Alven.

— Eu mesma, Luna Mello — e passou a mão pelos longos cabelos castanhos.

 No prato de Luna havia uma xícara de café, torradas e um pequeno pote de geleia ao lado do prato. Já o de Alven continha um pão de milho macio com uma fatia de queijo e presunto dentro. Ao lado do pão, duas fatias triangulares de Watmel restantes. Ambos estavam na metade da refeição.

— Aqui está a comida de Pokémon que vocês pediram — disse um garçom com o uniforme do estabelecimento. Ele carregava uma bandeja com ração, frutas variadas e um grande copo fechado com canudo. — Recomendamos que os Pokémon que carregam comam no espaço reservado para eles.

— E aonde é isso? — questionou Nathan enquanto o homem equilibrava a bandeja com uma das mãos e deixava a outra atrás das costas.

— Ao lado da mesa de vocês — retirou a mão das costas e apontou para uma imensa área de grama a dois metros da mesa onde estavam os adolescentes. Estava bloqueada por duas grandes portas deslizantes de vidro.

— Então podemos soltar eles para comerem e de brinde eles socializam! Achei promissor — disse Luna, retirando as pokébolas de sua mochila embaixo da mesa.

— Também vou soltar os meus, então — Nathan pegou sua mochila que repousava atrás da cadeira e retirou suas duas pokébolas de lá.

 Colocando o Poochyena no chão, o garoto fez um pequeno balanço com as mãos e libertou Mudie e Loty em raios de luz.

— Agora é minha vez — exclamou a garota, jogando as esferas para cima sem muita força.

 De uma delas saiu um Torchic: pequeno pintinho laranja com um tufo de penas amarelas no pescoço como um cachecol. Tinha pequenos pés amarelos e um bico pequeno de mesma cor, além de penas que imitavam uma chama em sua cabeça.

 Da Net Ball escaparam bolhas que logo estouraram e deram espaço para um besouro coberto por um exoesqueleto azul: um Heracross. Tinha um chifre longo e pontiagudo em sua testa. O chifre terminava em um “x” e em ambos os lados da testa havia antenas curtas com pontas esféricas. Tinha também olhos ovais e amarelos, e seus antebraços tinham um par de pontas perto dos pulsos, enquanto suas coxas tinham uma única ponta cada. Tinha duas garras em suas mãos, e uma única garra longa em cada pé. Repousavam em suas costas um único par de asas cobertas por uma carapaça.

— Cross e Flame, comam e se divirtam — disse Luna, animada.

— Vocês também — disse Nathan, olhando para Mudie, Loty e Winer.

 Alven estava paralisado de medo do Heracross.

— Dew j-já comeu, então ela n-não precisa ir até porque é um bebê — disse Alven nervoso desviando o olhar para o botão de flor. O Pokémon mastigava um pedaço de Watmel.

— Mas o Kend pode, ele nem comeu ainda — apontou Nathan.

— É mesmo. Kend, o que você acha de... — porém o Ralts corou e se enterrou na camisa do garoto. Dew quase caiu e deu um grunhido de reclamação. Kend grunhiu de volta se desculpando, ainda com o rosto escondido.

— Parece que ele é tímido, vá lá com ele — disse Luna, encorajando o garoto. Flame deu alguns pulinhos e foi para o gramado, mas Cross percebeu a timidez do Ralts e se aproximou para oferecer companhia. Alven gelou e rapidamente se afastou, esbarrando em Nathan.

— Não me diga que você está com medo do besourão aí — Nathan fixou o olhar no garoto, que assentiu e virou o rosto.

— Pois pare com isso, o Cross é super legal, tá? — Luna pareceu irritada.

— Eu não estou dizendo que ele não é, mas ele me assusta! — O besouro sacudiu levemente as asas enquanto coçava a testa, fazendo um barulho típico de insetos. Alven tremeu.

— Se é assim — Nathan virou-se para o garoto e colocou as mãos em suas bochechas, virando o rosto de Alven e fixando o olhar do menino no grande besouro azul em sua frente — Ele não está fazendo mal algum.

— Tá, eu vou com eles então. Preciso levar o Kend de qualquer forma — concordou Alven, se rendendo.

 O garoto passou rapidamente pelo besouro enquanto segurava o Ralts no colo. Ao lado do Heracross, se dirigiu ao espaço verde onde o Mudkip, o Poochyena, o Lotad e o Torchic já saboreavam ração e frutas. O garçom segurava a grande bandeja enquanto colocava o último prato de comida em um pedaço de madeira perfeitamente arrumado no chão.

— Vou indo agora, com licença — disse o garçom em um sorriso cordial, se dirigindo novamente para a área interna do restaurante.

— Passar um tempinho com os outros Pokémon da turma vai ser legal, não se preocupe — Alven deu um abraço amoroso no Ralts e o colocou no chão. Depois acariciou sua cabeça, levantou e voltou para a mesa.

— Ele é mesmo tímido, né? — indagou Luna logo quando o garoto sentou.

— Sim, mas acho que isso não é defeito dependendo da situação — respondeu Alven, olhando para Kend enquanto ele sentava junto dos outros mostrinhos. Havia tranquilidade em seu rosto.

— O ar de repente ficou mais feliz, não acham? — disse Nathan, observando os Pokémon e depois suspirando em satisfação. De repente recebeu olhares confusos dos adolescentes ao seu lado. — O que foi?

— Você ainda não foi comer? — responderam em coro.

(...)

 Sete Pokémon, cada qual comendo o alimento desejado. O pequeno Poochyena saboreava o pote de ração com muito gosto enquanto um desanimado Mudkip cutucava uma Oran na sua frente.

“Por que não está comendo?” disse Loty ao amigo. O Lotad comia uma Chesto e encarava calmamente Mudie.

“Eu não estou com fome.” respondeu a salamandra.

“Melhor comer enquanto ainda tem.” retrucou.

 Loty parou de encarar o Mudkip e voltou-se para o resto dos Pokémon na mesa: Cross bebia um grande copo de suco bem doce pelo canudo, fazendo pequenas pausas para trocar algumas palavras com Flame. Enquanto o pintinho se deliciava com um pote cheio de ração, Kend saboreava, mordida por mordida, uma Sitrus.

“Ei, fale alguma coisa.” sussurrou o besouro para o pequeno Ralts azul, que se virou de repente e voltou a encarar a berry em suas mãos.

“Eu estou bem.” sussurrou de volta.

“Eu sei, mas ainda não socializou com ninguém...” o besouro retirou a tampa do copo e deu um último gole em seu suco. Após isso afastou o mesmo e voltou-se para o Ralts.

“Vamos, não seja tão tímido.” insistiu.

“Como você é persistente.” indagou Kend. “Sobre o que você quer conversar, enfim?” O Ralts comeu o último pedaço de Sitrus que tinha na mão e virou-se para o besouro.

“Ei, Cross, deixe ele em paz!” exclamou o Torchic atrás do Heracross. Parecia irritado com a insistência do besouro.

“Não tem problema” Kend se levantou, saiu de perto dos outros Pokémon e foi em direção a um arbusto grande cheio de pequenas flores azuis em um canto. O sol brilhava em cima das folhas e intensificava o brilho das flores.

“Desisto.” Cross suspirou e cruzou os braços “Que tipo de fada psíquica gostaria de um besouro lutador por perto?”

“Ele precisa de tempo pra se acostumar com gente nova, né?” Flame ergueu o bico para confirmar sua postura de razão.

“Não, eu insisto!” exclamou o inseto, assustando o pintinho ao seu lado.  “Não vou parar de tentar até conseguir fazer amizade com ele!”

 O besouro recebeu um olhar desapontado de Flame, mas ignorou e foi para perto dos arbustos de flores. O pintinho se aproximou de Winer e o chamou para brincar.

“Do que você gosta de brincar?” indagou o Poochyena que já havia terminado de comer.

“Bem, qualquer coisa, exceto brincadeiras onde eu tenha que correr.”

 O lobo pensou um pouco enquanto se espreguiçava no chão.

“Eu não sei. O que você sugere?” Winer se levantou e começou a explorar o ambiente. Flame foi atrás.

“Por que não brincamos de pegar a bolinha, coisas que vocês, cães, gostam de fazer?” sugeriu o pintinho. Havia um pouco de desdém em sua fala.

“Não ligo muito para essa brincadeira, mas é bem melhor do que ciscar o chão o dia todo.” revidou o lobo. “Não tem nenhuma bola para brincar nesse lugar...”

“Eu posso fazer uma!”

“De que está falando?” o Poochyena ficou curioso.

“Observe” ordenou Flame. O pintinho inspirou e cuspiu uma esfera de fogo do tamanho de uma bola de tênis na direção de uma fonte azul e branca em formato de cogumelo que havia no centro do gramado, onde a água jorrava de cima e caía como uma cortina das bordas do cogumelo para a pequena e rasa piscina circular azul abaixo. A esfera flamejante avançou para frente mas se apagou assim que entrou em contato com a cortina de água.

“Acho” indagou o lobo “Que não é esse tipo de coisa que podemos usar para brincar. É perigoso e eu posso me queimar...”

“É, você tem razão.”

 Flame e Winer caminhavam pelo gramado atrás de uma ideia enquanto Mudie e Loty dormiam debaixo da água da fonte. Mais próximo da entrada, Kend passeava por entre as flores enquanto uma brisa fluía pelo ambiente. De repente percebeu algo se mexendo nos arbustos e abriu uma pequena fresta dentre as folhas para espiar. Assim que tocou na grama Cross pulou e pousou no chão atrás do Ralts, fechando suas asas dentro de sua carapaça.

“Oi, de novo!” disse amigavelmente a Kend.

“Oi.”

“O que você está fazendo aqui, sozinho?” perguntou enquanto analisava os arbustos floridos.

“Só passeando.”

“Ah, ok.” respondeu, enquanto sentava na grama.

“E você?” Kend devolveu a pergunta.

“Também estou passeando pelos arbustos.”

“Também gosta de flores?” Um sorriso implícito tomou conta do Ralts.

“Você é a fada aqui, cara.” retrucou o besouro. A animação pareceu se esvair do pequeno. “Eu também gosto de plantas, mas não do jeito que você parece gostar.”

“Como eu pareço gostar?” respondeu Kend.

“Como você é uma fada, provavelmente gosta de brincar com flores e plantas, esse tipo de coisa.”

“E qual o jeito que você gosta?”

“Eu gosto muito do néctar delicioso que as plantas têm!” O Heracross olhou para cima, imaginando o doce e melado néctar das árvores da floresta onde viveu.

“Você come as plantas?” Kend pareceu decepcionado.

“Eu e mais um monte de seres vivos.”

“Você quer dizer insetos.” retrucou o pequeno Ralts azul, enquanto cheirava uma das flores.

“Talvez.”

“Bem, prazer em conhecê-lo. Meu nome é Kend.” O pequeno estendeu a mão num cumprimento gentil, o qual foi devolvido pelo besouro num forte e animado aperto de mão. Kend soltou um pequeno gemido de dor.

“Me chamo Cross, prazer em conhecer você também.”

“Você é muito forte. Quase machucou minhas mãos” disse o Ralts, massageando o local dolorido com a outra mão. Cross riu.

“Vou pegar mais leve com você na próxima, não se preocupe.”

“Sem problemas. Eu me acostumo com isso, eu acho.”

 Trocaram algumas palavras quando ouviram a voz de seus treinadores chamando por eles na entrada da área de grama.

— Pessoal, estamos indo! — gritou Nathan, acordando Mudie e Loty na fonte.

“Parece que é hora de irmos.” disse o Lotad.

“Está tão relaxante aqui...” murmurou Mudie. Loty revirou os olhos e arrastou seu amigo até a grama. O mesmo deu um suspiro de preguiça e foi andando com o Lotad ao encontro de Nathan.

— Onde estão os outros? — perguntou Luna, olhando para todos os lados.

 Aos poucos todos foram aparecendo: Flame e Winer chegaram logo depois correndo, porém o pintinho estava ofegante. Luna o pegou no colo e ofereceu uma pequena Oran, a qual foi aceita sem demora. O lobo se sentou ao lado de Nathan enquanto Cross e Kend vinham lentamente dos arbustos para o restaurante. Pareciam conversar enquanto caminhavam.

“Fico feliz que tenha finalmente saído da toca invisível!” provocou o Heracross.

“Eu só sou na minha, não estou dentro de uma bolha.” respondeu Kend, brincalhão.

— E então, como foi? — Alven pegou o Ralts no colo, colocando o pequeno ao lado de Dew, que grunhiu feliz — Pelo visto você fez um amigo — olhou para o Heracross.

— Tá vendo? Falei que ele é legal — Luna surgiu com uma expressão determinada — você quer entrar ou quer ficar aqui fora, Cross?

 O besouro apontou para o chão. Alven tremeu.

— I-isso significa que ele vai andar com a gente, né? — disse o garoto, apreensivo.

— Claro. Se você não tiver algum problema com isso — provocou a garota, com um sorriso estranho.

— Se ele é legal, então não tem problema... — O garoto aceitou e virou-se para Nathan. Este devolvia seus Pokémon para as pokébolas, exceto Winer que se recusava a entrar em uma.

— Você quer ficar do lado de fora, é? — perguntou o garoto, nervoso. O lobo latiu e abanou o rabo — Tá, pode ficar então.

— Esse é o espírito — indagou Alven. Agora vamos explorar e ver o que essa cidade tem a oferecer!

 Luna colocou Flame dentro de sua pokébola. Cada um pagou a sua refeição e a dos seus respectivos Pokémon, depois vestiram suas mochilas e saíram do restaurante. Ao passar pelos corredores, se encontraram com Fábio e o cumprimentaram, e Nathan avisou que iriam sair e só voltariam mais tarde. O enfermeiro assentiu e saíram pela porta da frente ás nove e quarenta e cinco.

 O sol forte incomodou os três treinadores, que esfregaram os olhos numa tentativa de amenizar o choque causado pela luz. Uma energética e demorada manhã continuava em mais um alvo da jornada dos adolescentes: Rustboro.


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Notas finais do capítulo

Leu? Gostou? Tá legal? Comenta! Agora! Quer dizer, na hora que você quiser! AAAAAAA!

Ah, e feliz ano novo, pessoal ♥
Que 2017 seja cheio de felicidade! o/



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