Querido Sr. Han escrita por Mel Yule


Capítulo 7
6


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente: minha gente, MIL PERDÕES! Não foi por desleixo que deixei a fanfic abandonada nesses últimos dois, quase três, meses. Minha vida anda uma correria, mas não posso reclamar. Graças a Deus, muitos jobs, mas isso toma muito do meu tempo também, o que é a parte ruim. Talvez eu não poste com a frequência que postava no início da fic, porém prometo a vocês que não farei mais a desfeita de passar tanto tempo longe (até porque, estamos chegando ao fim da rota do Jumin!).
Quem jogou a rota do Jumin vai perceber que esse capítulo se refere ao dia 8, que é um dos mais difíceis. Precisei dividi-lo em duas partes porque era necessário mostrar esse POV da Greta para vocês entenderem o que estou pensando daqui para frente. Digamos que, ao contrário do que o jogo nos direciona, a Greta vai colocar ordem no Jumin... Vocês entenderão :)
No mais, música do capítulo ♥: https://www.youtube.com/watch?v=XXCHil7Og1M



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Acordei quando os primeiros raios de sol despontaram no céu. Deus, quando foi a última vez em que dormi tão confortavelmente? Eu praticamente afundava naquele colchão macio que...

Demorei alguns segundos para perceber que aquela cama era diferente daquela onde estive dormindo pelos últimos doze dias. Ao olhar o quarto ao meu redor, as imagens da noite anterior foram voltando à minha cabeça. Imediatamente, me sentei na cama, atrás do meu anfitrião. Jumin não estava em local algum, e pensar em procurá-lo pela casa não me parecia uma ideia atrativa.

Não foi preciso muito desespero, porém. Em pouco tempo, ele surgiu no quarto, carregando consigo alguns pratos de comida. Àquela hora, já estava vestido como um homem de negócios pronto para mais um dia cheio de burocracias.

— Panquecas? – o cheiro agradável retorceu o meu estômago.

— Vi em algum lugar que essa era uma forma romântica de amanhecer – ele sentou-se ao meu lado na cama, depositando os pratos no colchão. O perfume caro que usava parecia ainda mais inebriante do que o aroma de comida recém-feita. — Eu mesmo que preparei.

Ignorei o furor que a palavra “romântica” me causou e me concentrei no sabor das panquecas.

— Tão prendado... – comentei, sorrindo para ele.

— Tenho que te dizer uma coisa – disse, desviando a atenção de mim. Percebi o seu olhar contrariado. — Preciso voltar ao trabalho hoje. Não posso deixar os rumores crescerem no meu escritório.

— Tudo bem. Faça o que precisa ser feito.

— Se você cuidar da Elizabeth Terceira e ficar a salvo... Você ficará ok? Mesmo se eu estiver longe?

Era uma preocupação exagerada, mas tentei relevar. Aqueles últimos dias não estavam sendo fáceis para Jumin – e nem para nenhum membro da R.F.A.

— Juro solenemente que continuarei com dois braços, duas pernas e o nariz quando você voltar para casa, Sr. Han – afirmei, roubando novamente um sorriso dele.

— Se tudo correr bem nesta manhã, por que não vamos ao shopping à tarde? Uma princesa deve vestir roupas para princesa.

Ele falou aquilo com tanta convicção que, repentinamente, fiquei assustada.

— Falei algo errado? – perguntou, espantado com a minha reação.

— Desculpa – afastei uma mecha do seu cabelo que caía insistentemente sobre seu olho. Percebi que Jumin se retesou com o meu toque. — Olha, sei que não estou vestida nos meus melhores dias, mas acho que estou um pouco longe de ser princesa. Sou livreira, lembra? Nada de nobreza no meu sangue.

— Bem... – percebi um rubor surgir na sua face sempre séria, como se ele tivesse dito algo verdadeiramente ridículo. — Isso foi o que meu pai me ensinou quando eu era um garotinho...

— O mundo se modernizou um pouco. Mas não se preocupe que eu te atualizo nas últimas novidades, meu bem.

Jumin sorriu.

Meu bem? – ele repetiu cada palavra minha demoradamente, como se para gravar na memória a maneira como eu havia o chamado sem perceber. Por minha parte, não consegui dizer nada para me defender ou mesmo para me explicar. De qualquer forma, Jumin não me deu abertura para aquilo, emendando outro assunto como que para me salvar do desconforto: — Se qualquer coisa acontecer, por favor me ligue – reafirmou, temeroso e preocupado, segurando meus braços com delicadeza. Numa casa como aquela, eu não fazia a menor ideia do que poderia me acontecer de ruim. — E quanto a Elizabeth, você só precisa alimentá-la. Creio que isso não será trabalhoso, não é?

— Tenho PhD em gatos, Jumin Han, fique tranquilo – levantei a manga da camisa que ele me emprestara e lhe mostrei meu braço. — Cicatrizes, tá vendo? Para comprovar que sou expert.

Ele assentiu, desviando rapidamente o olhar para a jaula no canto do seu quarto. A gata branca passeava de um lado para o outro dentro da sua clausura, nitidamente enfadada com o cárcere.

— Ela parece cansada. Tem certeza de que não podemos deixá-la livre? – perguntei assim que Jumin abriu a gaiola para encher a tigela de ração.

— Não posso arriscar – ele deu um suspiro cansado. — Não quando aquelas duas mulheres... – balançou a cabeça, interrompendo o pensamento. — Espere um minuto, vou te apresentar o chefe da segurança. Se você precisar de qualquer coisa, pode contar com a ajuda dele.

Em questão de segundos, o chefe da segurança de Jumin entrou no seu quarto para ordens, orientações e rápidas apresentações. A conversa, no entanto, não se alongou. Enquanto discutíamos trivialidades, Elizabeth aproveitou a oportunidade da gaiola aberta.

E eu acreditei que as coisas não poderiam piorar ainda mais.

*

Não havia muito o que eu pudesse fazer para ajudar na busca por Elizabeth 3ª; pelo menos não estando em um local totalmente desconhecido e sem saber falar absolutamente nada de coreano. Assim, sentada na cama de Jumin, eu esperava aflita por qualquer novidade sobre a gata. Eu entendia a dor do seu dono porque conseguia me pôr em seu lugar – só de imaginar algum dos meus gatos fugindo de casa já me dava um aperto no peito.

Jumin retornou para casa um pouco depois da hora do almoço. Sua expressão estava abatida, por mais que ele tentasse sustentar a postura comedida que lhe parecia tão comum. Pelo olhar que me lançou quando entrou no quarto, soube que não trazia qualquer novidade de Elizabeth 3ª consigo.

— Eu não entendo – lamentou, largando o paletó sobre o colchão e se jogando pesadamente na cama. — Dediquei todo o meu amor e cuidado para Elizabeth 3ª. Por que ela precisou fugir de mim?

— Ela é o seu primeiro animal de estimação?

— Meu pai não me permitia criar bichos quando eu era criança – disse, voltando seus tristes olhos para mim. — Ele nunca foi a favor da ideia. Só quando ganhei minha independência, V e Rika me deram a Elizabeth 3ª. Disseram que era para eu não me sentir tão sozinho e...

Ele se retesou, abaixando a cabeça, derrotado. Naqueles poucos dias convivendo com Jumin Han, consegui perceber a insegurança quase juvenil que ele tentava esconder por debaixo do seu discurso de racionalidade. Era visível o medo que tinha de se entregar àquele lado tão frágil, de deixar-se sentir.

— Nós vamos encontrá-la – afirmei, ponto carinhosamente a mão sobre o seu ombro. — Logo, logo. Não fique tão triste.

— Todo o amor que dei para ela... – repetiu, ainda mais melancólico. Esfregou os cabelos negros, bagunçando-os. — Não consigo entender por que estou assim. Esse não sou eu.

— Jumin, é o seu bichinho de estimação – falei, abaixando-me e apoiando os meus cotovelos sobre os seus joelhos para encará-lo. — Permita-se sentir essa perda. É completamente normal. Só mantenha a fé, sim? Nós vamos achá-la.

Quando enfim Jumin conseguiu olhar para meus olhos, senti seus dedos passearem pelo contorno do meu rosto, demorando-se para colocar uma mecha de cabelo por detrás da minha orelha.

— Você poderia... ficar comigo por mais uma noite? – pediu, inseguro. — Só fique mais um pouco comigo...

— Por que não? – sorri com confiança e, em troca, recebi outro sorriso. — Fico aqui até você me expulsar.

— Não acho que isso vá acontecer.

— Posso ser bem irritante quando quero.

Consegui roubar um riso sem muita vida, que logo desapareceu quando um dos seus homens anunciou a chegada da tal Sarah. Jumin deu um suspiro cansado antes de se levantar.

— A pior mulher e no pior tempo – exclamou.

— O que houve? – leiga como eu era com coreano, consegui apenas entender o nome da visitante.

— Ela veio falar algo sobre a Elizabeth 3ª – Jumin suspirou outra vez. — Eu só gostaria que ela me dissesse “tenho a sua gata. Me dê dinheiro em troca”. Acha que devo recebê-la?

— Qualquer pista é válida, Jumin.

Contrariado, Jumin deu permissão para que Sarah entrasse. Até então, eu não fazia ideia de como ela seria, mas me surpreendi com a mulher que atravessou a porta. Sarah era de uma beleza que não dava para descrever e, não sem um pouco de vergonha, me percebi boquiaberta com sua aparição.

Ela não me percebeu de primeira, entretida como estava com Jumin, que em nada correspondia à sua animação. Mais uma vez sério, Jumin mais escutava do que falava, dando respostas curtas aos miados agudos de Sarah. Quieta, eu me limitava apenas a escutar o diálogo dos dois sem nada compreender sobre o que falavam. Só consegui me envolver quando Sarah me apontou o dedo acusatoriamente, me encarando como quem se depara com algo realmente digno de revolta.

— Sou só amiga do Jumin – me defendi em inglês, sem saber se o que eu dizia fazia algum sentido naquele contexto. De qualquer forma, não serviu em nada para apaziguar os ânimos. Sarah continuou a gritar.

Mesmo sem entender o sentido do que os dois discutiam, percebi quando Jumin iniciou um jogo com sua (im)provável futura noiva. A voz de Sarah imediatamente ficou calma, assumindo um tom normal para uma conversa de negócios. Percebi sua postura ficando mansa, os músculos relaxando, um sorriso vitorioso surgindo em seus lábios – para, logo depois, ruir tudo e ela voltar a ser a mulher descontrolada de minutos atrás. Foi meio ridículo vê-la bater o pé no chão feito uma criança birrenta.

Jumin se aproximou de mim, dando as costas à Sarah. Pegou meus braços com firmeza, de uma maneira totalmente nova e inesperada.

— Me desculpe, Greta – disse. Não consegui interpretar o seu olhar, o que me deixou relativamente intimidada. — Não há como expulsar essa mulher daqui se não for por essa maneira. E, de qualquer forma, eu faria isso em breve.

Continuei sem entender onde ele queria chegar até percebê-lo vir em direção ao meu rosto. Durou coisa de segundos até sentir seus lábios entreabertos para receber os meus. Seu aperto ficou mais firme e ele me trouxe para ainda mais perto do seu corpo, impedindo qualquer chance de fuga pela minha parte.

— Jumin... – tentei balbuciar, meio abobalhada, meio sem entender o que estava acontecendo. Sarah gritava palavras ininteligíveis às nossas costas, enquanto minha cabeça girava e minhas pernas tremiam. Um instinto mais irracional, por outro lado, me incentivava a baixar a guarda e me entregar.

— Sh... – pediu, entre um beijo e outro. — Você está corando. Feche os seus olhos e se concentre em seus sentimentos. Se concentre em mim. Seus lábios, Greta... – e ele sugou o meu lábio inferior. — Tão quentes, tão macios...

A porta batendo com força foi o indicativo de que Jumin alcançara o seu objetivo. Mesmo assim, ele ainda demorou para me soltar. Quando enfim parou com seus beijos, deu um passo para trás, nitidamente envergonhado. Eu o encarei sem saber o que dizer ou o que estava sentindo. Se as emoções de Jumin eram um redemoinho, minha cabeça era um tornado.

— Honestamente – começou, baixando os olhos e ajeitando o punho da sua manga, — eu quis te beijar desde o primeiro momento em que te vi. Me desculpe por ter feito isso tão repentinamente. Eu não queria que tivesse acontecido dessa forma.

Continuei calada, com as mãos sobre os lábios ainda quentes.

— Foram... os meus sentimentos – se justificou, lançando um olhar culpado para mim. — Eu não consigo mais resistir a você, Greta. E agora que Elizabeth 3ª está desaparecida...

—... Nós vamos nos preocupar em encontrá-la – afirmei, categórica. — Ela é a nossa prioridade, certo?

Jumin piscou algumas vezes, sem entender muito bem o que eu queria dizer com aquilo.

— Certo, Jumin? – reforcei, puxando-o do transe.

— De acordo – respondeu automaticamente. — Eu vou... Sair agora. Para buscá-la.

Ele apanhou o paletó da cama, vestindo-se em seguida. Não consegui observá-lo, deixando meu olhar correr despretensiosamente por qualquer parte do quarto.

— Tentarei voltar o mais cedo possível – disse, abaixando a cabeça quando enfim saiu.

*

Os três primeiros meses ao lado de Rupert jamais me prepararam para o que veio logo a seguir.

Rupert se mostrou um companheiro atencioso, de humor tranquilo e atitudes carinhosas no início. Para ele, não existia criatura mais especial no mundo do que eu e, por isso, fazia tudo o que estava ao seu alcance para me agradar. Encantada como estava por aquele simpático rapaz ruivo, encontrava qualquer razão que me fizesse adorá-lo ainda mais - fosse o barulho da sua respiração enquanto dormia, a forma como ele costumava acariciar o meu cabelo quando estávamos na cama, os trejeitos que fazia enquanto tocava em suas apresentações, o som da sua risada, a forma como escovava os dentes. Seu jeito de fazer amor.

No começo foi flor, primavera, verão. Eu tinha mais um motivo para sorrir quando amanhecia e me deparava com o seu rosto adormecido ao meu lado. Dizer que não fui feliz no início era uma mentira. Só que, cega de amor como estava, não reparei nos pequenos sinais de que, talvez, eu estivesse cavando uma cova. Era um batom que não era adequado para sair, uma roupa não tão bonita, uma forma de prender o cabelo. Pequenas privações travestidas de cuidado.

Não demorou para que as coisas ficassem um pouco mais esquisitas. Rupert sabia como conseguir o que queria de mim de uma maneira doce e manipuladora, que não me fazia desconfiar do quão errado aquele relacionamento era. Sua voz mansa tinha o dom de manipular o meu psicológico quase maquiavelicamente, me fazendo duvidar das minhas memórias, dos meus amigos e, principalmente, de mim mesmas. As pequenas sugestões viraram proibições, e meu guarda-roupa se moldou ao que Rupert achava adequado. Não consigo nem contar a quantidade de roupas que doei para a caridade.

Em seis meses, o setor amizade foi atingido. Nunca fui uma pessoa de muitos amigos, mas ainda assim os meus poucos vínculos conseguiram ser afetados. Por que eu precisava sair para encontrar aquela amiga que estava fora da cidade há tanto tempo? Qual a necessidade de noites do pijama com minha irmã, minha cunhada e suas amigas? Por que ir para um pub com o pessoal da faculdade quando nossos laços já nem eram mais tão fortes? E, principalmente, por que ir para qualquer lugar sem Rupert? Seus shows não eram o divertimento que eu precisava?

Ele não me bastava?

As brigas não tardaram a acontecer, assim como nosso relacionamento ser compartilhado com mais algumas pessoas. Pelo lado dele, nunca pelo meu – afinal, com tão poucos laços afetivos, eu não tinha nem possibilidade de conhecer alguém com quem pudesse pelo menos imaginar alguma traição. Mas a banda de Rupert o permitia ter contato com outras pessoas, bem mais interessantes do que eu. Garotas jovens, londrinas, que apreciavam o circuito alternativo da música inglesa e pareciam modelos fotográficas do Tumblr, coisa que eu jamais seria. Garotas que tinham autoestima e confiança, que eram interessantes e não pareciam bonecas de porcelana prestes a se quebrar.

Mesmo passando noites ao lado de pessoas tão mais incríveis, conhecendo corpos e pensamentos tão mais atrativos, Rupert não abria mão de mim. Era como se eu fosse um travesseiro velho e gasto, mas que continuava sendo o favorito. Nenhum travesseiro novo poderia exercer a função do antigo. Nenhum travesseiro novo poderia ser tão maltratado.

Rupert me fez acreditar que eu não era alguém que valesse a pena e que somente ele conseguia ver o pouco de bom que existia em mim. Rupert conseguiu, inclusive, me distanciar de Jane, me prendendo numa gaiola e me isolando cada vez mais do mundo. Ele era um passarinho livre; eu não. E presa naquela teia, passei a aceitar o meu destino amargo. Passei a me odiar.

Eu só queria ser como uma daquelas garotas. Descolada. Liberta.

Em dois anos, meu avô que morava no interior da Inglaterra faleceu. Meu avô, a quem eu tanto amava e a quem não pude visitar por causa da teia de Rupert, partiu sem me dar qualquer adeus. Sem me dar um abraço apertado. Foi preciso que ele me deixasse para que eu visse que, talvez, eu estivesse atrasada para abrir a portinha da minha gaiola.

Não foi como um pássaro que, impedido de cantar por tanto tempo, conseguisse recuperar magicamente a sua voz. Era como se um espinho entrasse em meu peito a cada vez que eu tentasse cantar, que nem o pequeno rouxinol da história. Mas, mesmo com um buraco dentro de mim que jamais sararia, consegui recuperar minha autonomia e partir da minha prisão.

Eu simplesmente peguei minhas coisas, rumei para o interior e abracei de corpo e alma a livraria que meu avô sabiamente deixara para mim. Intocada entre livros velhos e tortas gostosas dos meus vizinhos idosos, longe de Rupert e de toda a dor que ele me causou, encontrei minha liberdade mais uma vez.


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