POV - Lua

As ruas de Phoenix estavam calmas. Passávamos por elas como quem rasga uma folha de papel. A noite estava escura. Pequenas estralas cintilavam no céu em contraste com a lua cheia. O ambiente havia se tornado mágico. Estava tudo perfeito. John estava ali ao meu lado, certamente me observando, olhar intensamente para o céu estrelado e admirar as ruas calmas, com o canto dos olhos.

Não demorou muito para chegarmos ao prédio. John estacionou o carro na porta e entrou cumprimentando o porteiro e lhe entregando as chaves do carro, certamente para ser colocado na garagem. Entrei logo atras sorri para o porteiro que logo perguntou quem eu era. Disse meu nome a ele e me despedi indo atras de John que já estava dentro do elevador. Subimos até o 8º andar, que era onde ficava seu apartamento. Ele abri a porta e me da passagem, entro após hesitar um pouco, ele entra logo atrás de mim. Era impossível não ficar encantada com aquele lugar. Não era tão grande, mas mesmo assim era lindo. Logo na sala tem uma janela de vidro que ocupa quase a parede toda, dando uma maravilhosa vista de quase toda cidade, perto da janela um pequeno balcão de mármore que divide a sala e a cozinha. Tudo muito organizado. Fiquei observando tudo por um longo curto tempo.

— Espero que goste de casa. - ele diz se virando para mim e sorrindo, o sorriso mais lindo do mundo. - Só não repare a bagunça. - fiquei indignada. Não havia nada bagunçado ali. Assenti com a cabeça e sorri concordando.

Me assentei numa das poltronas que ficavam na sala, era tão aconchegante. Acho que é a preferida de John, pois estava com seu leve cheiro amadeirado, sorri enquanto me aconchegava ainda mais na poltrona. Vejo John sumir pelo corredor, certamente levando as sacolas para um dos quartos. Ele não demorou muito. Logo estava ao meu lado novamente, perguntou se eu estava com fome, assenti mesmo sem sentir nenhuma fome aparente, então ele se levantou e disse que iria preparar o jantar. 

Era isso. Eu havia encontrado o amor da minha vida e teria de deixá-lo para ir até "minha família". Franzi o cenho. Eu não queria que isso acontecesse. Mas era preciso que sacrifícios fossem feitos. Senti uma pontada no peito e meus olhos começaram a se encher de água. Eu queria chorar, mas não o faria, pelo menos não perto de John. Ele certamente iria me perguntar o motivo e eu não iria dizer a ele que teria de ir embora. Eu não queria que ele sofresse. Eu não queria sofrer, mas não podia fazer nada a respeito. Alice precisava do pai, Peg precisava de Ian, eu precisava de todos eles mas...

... também precisava de John. Eu estava confusa, mas certa de minha decisão. Pensei em partir amanhã a noite. Eu não podia ficar por aqui por muito tempo. Quanto mais tempo eu ficasse mais eu me apegaria a John - como se eu já não fosse muito apegada - e John se apegaria ainda mais a mim. Era tudo tão confuso. Meu coração já começava a se despedaçar só de pensar na possibilidade de não vê-lo nunca mais. Mais lágrimas. Deixei que caíssem, mas logo já enxuguei meu rosto com as costas da mãos. Por que tem de ser tudo tão difícil? Por que não pode haver uma solução menos complexa? Por que ele tinha de ser meu grande e único amor? Como muitas das perguntas que eu fazia a mim mesmo, eu não sabia a resposta. Enrrubeci.

Lua, você não tem de fazer isso. Não precisa sofrer por minha causa. - Peg, doce como sempre, disse num tom meio triste. Eu sabia que ela estava feliz em voltar para casa, mas pelo visto, ela estava triste por mim e ... por John.

Sei que não preciso. Mas eu quero. - respondo tentando imitar o tom doce de sua voz, não consigo. Minha voz sai firme, decidida mas ainda assim suave. Não tanto quanto a dela, mas suave mesmo assim.

Peg se calou, talvez estivesse pensando em Ian, ela não estava escondendo seus pensamentos de mim, mas eu estava ocupada com meus próprios devaneios. Levo a mão a minha barriga e sussurro baixinho apenas para Alice: "Vou te levar de volta a seu pai e devolver-te sua mãe." Outra pontada. Eu havia me apegado muito a Alice. Era como se ela fosse minha própria filha. Sorri ao pensamento de formar uma família com John. Um pensamento impossível. Mas, eu não acreditava em coisas impossíveis, tudo é possível basta acreditar nisso. 

Um aroma me desperta de meus devaneios a respeito de meu futuro. Era um aroma delicioso. John cozinhava muito bem, ou pelo menos o cheiro estava muito bom. Logo ele me chamou para comer, era um prato simples: torta de frango com purê de batatas, mas ainda assim estava delicioso. Comemos em silêncio. Assim que terminamos elogiei o prato, disse que ele estava de parabéns, que estava muito gostoso e essas coisas. Ele perguntou se eu não gostaria de tomar um banho, assenti. John me guiou pelo corredor até o banheiro, me entregou ma toalha e sabonete cheiroso. Agradeci e entrei no banheiro. Ligo o chuveiro e deixo a água escorrer pelo meu corpo levando todas as minhas preocupações e anseios. Acho que demorei mais que o necessário. Sai de lá me sentindo completamente mais leve. Encontrei John na sala sentado na mesma poltrona que eu havia escolhido anteriormente. Ele se virou me olhou de cima a baixo. Nesse momento achei que o pijama de alcinha com estampa de bolinhas azuis que eu havia comprado mais cedo curto demais. Ele se levantou e  veio até mim, senti minhas mãos tremerem e começar a ficar quente demais ali dentro. Ele me abraçou e beijou o topo de minha cabeça. Sussurrou em meu ouvido: "Você tem de descansar." e então me levou até meu quarto ainda abraçados. Entrei e vi que era bastante espaçoso. Tinha uma cama de casal, um armário e uma escrivaninha. Minhas sacolas estavam em cima do banquinho que ficava perto da escrivaninha. Ainda tinha um enorme espelho com uma linda moldura. Todos os móveis em branco. Era lindo.

Ele se despediu e beijou novamente minha testa dizendo boa noite e que era pra eu dormisse bem. Disse as mesmas coisas a ele. Quando me vi sozinha me deitei na enorme cama e sem menos esperar adormeci.