Murilo beija garotos escrita por roux


Capítulo 21
XXI




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MURILO

“Eu te vi hoje, depois de tanto tempo, me senti como antes, falamos por horas sobre uma vida diferente. Nos cercamos de memórias, nós estávamos perto, nunca perto o suficiente. Onde estamos agora? Com este papo de que podemos reatar não exclui a hipótese”

Murilo se jogou na antiga poltrona na varanda nos fundos da casa. Os outros ainda estavam almoçando, todos sentados à mesa. Os pensamentos estavam no mesmo lugar. Ele só queria esquecer, mas tudo o fazia lembrar. Ouviu palmas na frente da casa. E se levantou.

— Não meu amor, pode deixar que eu vá. — A vó disse e levantou-se também. — Deve ser pra mim, algum cliente que acredita que vou trabalhar hoje para lhes informar como será o novo ano, não perca seu tempo com isso.

Ele riu e sentou-se de novo, assistiu à vozinha caminhar com certa dificuldade e pensou no quanto ela estava velhinha. Ficou sentado assistindo sua irmã lhe fazer caretas enquanto comia. Ele balançou a cabeça em negativa e mostrou a língua para a garota.

Viu a vó voltar sorrindo.

— É pra você! — Ela disse baixinho e então voltou para a mesa. Sentou-se e começou a cochichar baixinho com os outros familiares. Eles olharam todos para ele.

Murilo levantou-se e começou a caminhar com pressa para frente da casa. Não fazia ideia de quem pudesse ser. Não tinha amigos, e achou impossível que Samuel deixasse o conforto de sua casa para ir até ali aquele horário. Abriu a porta da sala e desceu os degraus. Avistou-o.

Estava lindo.

Ele sentiu o estômago dançar com força.

Respirou fundo.

Ficou olhando para Tomaz. O garoto estava mesmo ali em sua frente.

Bonito como sempre. Usando branco, os cabelos bagunçados e uma cara de cansaço. Ele se perguntou se o garoto tinha passado por um furacão antes de chegar ali. Sentiu vontade de rir, mas invés disso mordeu o lábio antes de falar.

— Tomaz? — Ele falou testando a palavra em sua boca. Era estranho dize-la depois desses dias. Dizer o nome de quem ele tinha jurado esquecer.

Então ele viu o outro levantar a cabeça, os olhos já tão conhecidos. A mesma chama ali. O mesmo olhar que ele estava sentindo falta, então engoliu em seco e respirou fundo. O outro segurou em seu portão como se quisesse arranca-lo com a força do corpo. Ele assistiu.

— Eu! E eu vim até aqui por que... Murilo, só diga que me ama, apenas por hoje, mesmo que seja só por hoje. Eu quero sentir as chamas queimando quando diz meu nome, quero sentir a paixão percorrendo meus ossos como o sangue em minhas veias. Eu preciso de você. Eu quero você, não consigo viver longe de você. — Escutou o outro dizer e mordeu os lábios. Ele não podia estar ali agora. Não quando ele tinha decidido o esquecer.

— O que você está fazendo aqui? — Ele perguntou olhando pra trás para ver se algum dos seus parentes tinha visto assistir a cena.

— Eu estou aqui por você. Eu simplesmente não posso ficar longe de você. Não mais. Essa semana foi um inferno pra mim. Eu não morri, mas fiquei ferido sentindo a agonia de não ter você comigo. E eu estou aqui agora. — O garoto pausou. — Você pediu para eu dizer que te amo. E eu travei, estava em choque. Ver você partindo, saber que o Rafael estava sentado no meu sofá, tudo aquilo me deixou querendo sumir. E então eu não disse e cometi o maior erro da minha vida. E eu te amo, eu o amo com todas as forças que eu tenho. E eu não ligo se você não me amar de volta porque eu não vou desistir de você se você não me mandar fazer isso, e eu fico assustado com a possibilidade de você querer isso.

Ele escutou tudo que o outro disse e sentiu vontade de chorar. “Não, Tomaz. Você não pode vir aqui agora e me dizer essas coisas. Não quando eu desisti de você...” Pensou sentindo os olhos vazarem. Estava chorando.

— Não, por favor, não chore quando tem essa droga de portão impedindo de que eu seque as suas lágrimas. — Falou Tomaz totalmente irritado e chutou o portão.

 Ele olhou o outro chutar o portão. Abraçou o próprio corpo.

— Você não deveria estar aqui... Você deveria ir embora. — Ele disse sério e viu o espanto nos olhos de Tomaz. Abraçou seu próprio corpo com mais força. Estava tomando a decisão certa.

— Está bem! — Disse o outro meio confuso e triste. Soltou o portão e olhou para o céu como se não estivesse acreditando. — Eu vou ficar longe se assim prefere, mas saiba que se você quiser se apaixonar... — Ele pigarrei. — Quer dizer, eu não vou esperar, não vou insistir por isso, mas eu estou disposto a voltar se você me ligar. Eu indo...

Ele assistiu Tomaz começar a se afastar e sentiu o coração afundar. Não estava pronto para ver o outro ir embora. Virou-se de costas e respirou fundo. “O que você está fazendo?” Se perguntou e olhou para frente de novo. Assistiu Tomaz caminhar devagar, relutante. Ele correu pelo pequeno jardim e abriu o portão. Abriu o mesmo desesperado.

Tomaz! — Ele gritou ofegante. Os olhos presos naqueles olhos que ele tanto queria ver. Ele sentiu a brisa do vento tocar seu rosto e passou as mãos na face secando as lágrimas.

O outro o olhou. Ele encarou.

— Eu não posso deixar você ir. Eu não quero deixar você ir. Partir foi fácil perto do que estou sentindo ao lhe ver partir. Eu preciso de você perto de mim. E eu não vou deixar meu orgulho afastar você de mim. Eu quero que se foda tudo que passou. Eu só quero ter você aqui. — Ele falou testando as palavras em sua boca e notou o sorriso nos lábios de Tomaz.

Ele mesmo sorriu.

Os dois se encararam. E ele correu. Correu para o único lugar que queria estar. Os braços dele.

O beijou selou aquele recomeço.

 

 

As férias estão acabando e eu estou indo para a faculdade. Essas férias foram as melhores férias que eu poderia sonhar. Eu aprendi tanto com elas. Estou pronto para isso. Estou pronto para encarar a minha nova vida. A minha vida de adulto. E eu sei quem eu sou. Eu sei por que estou aqui. Murilo escreveu e clicou em enviar. Ele sorriu consigo mesmo. Largou o notebook de lado e caminhou para fora da casa de praia. Ele estava sentado na areia. O sol já estava começando a se pôr.

— Eu venderia balas no sinal para descobrir o que você está pensando. — Ele disse baixo e sentou-se ao lado do namorado.

— Oi amor, já acabou?

Ele balançou a cabeça em afirmativa e sorriu. O namorado estava lindo bronzeado.

— E então? — Ele perguntou.

— Eu estive pensando em como essas férias foram loucas. Eu nunca imaginei que algo tão surreal pudesse acontecer. Aquele dia na rodoviária, eu achei que algo tinha quebrado dentro de mim, porém pelo contrário. Eu aprendi a amar... — Falou Tomaz e tocou o rosto de Murilo.

Murilo sorriu e piscou devagar.

— Eu ainda não acredito em destino. Porém se foi mesmo ele. Eu agradeço todos os dias por ter me levado até você. Minha avó sempre previu que eu teria a maior desilusão da minha vida ainda na adolescência, e mesmo não acreditado nisso, eu temia. — Ele riu.

Os dois riram. E se encararam.

— Hoje eu agradeço por essa desilusão. Ela me tornou que eu quero ser, quem eu estou sendo. Ela me levou ao cara com quem eu quero passar o resto da minha vida. — Ele falou sorrindo.

— Que bom que você tocou nisso. Porque eu aluguei um apartamento lá em São Paulo. E eu pensei que poderíamos morar os dois juntos. — Tomaz disse sorrindo.

Murilo assustou-se com a proposta e sorriu.

— Eu acho que não sei, preciso pensar. Mas espera... Você me trouxe até aqui para ser nossa lua de mel? Eu sonhava com uma lua de mel na Europa, viajando por todos aqueles países, e não em Santos. — Ele falou rindo e mostrou a língua para o outro.

— Eu espero que você pense com carinho. Na nossa próxima lua de mel nós iremos a Europa então.

— Eu acho maravilhoso.

Os dois riram, e então ficaram em silêncio por um tempo.

Murilo sentiu a brisa nos cabelos e usou a ponta do dedo para escrever na areia úmida.

“MURILO BEIJA GAROTOS.”

Ele escreveu sorrindo. Aquele apelido sempre o incomodou, e ele nunca soube o real motivo. Hoje em dia talvez tivesse uma ideia, sabia que o que incomodava era ele ter medo de quem ele mesmo era. Esteve sempre num namoro à distância, esteve sempre sendo quem ele realmente era dentro de casa. Saber que estava vulnerável lá fora, o assustava, antes, não mais. Hoje ele sabia o que queria, sabia que realmente beijava garotos.

— Então quer dizer que o mocinho beija vários garotos? — Tomaz perguntou sacana, e Murilo riu, adorava as brincadeiras do namorado.

Ele apagou e reescreveu.

“MURILO BEIJA UM GAROTO!”

Então apagou de novo. E escreveu outra vez.

“MURILO BEIJA TOMAZ!”

— Agora sim! — Falou Tomaz rindo e derrubou Murilo na areia e passou o corpo por cima do corpo magro. Encarou o outro. — Meu bebezinho...

Murilo sorriu e os dois se beijaram.

“Eu sei agora...” Ele pensou. Sorriu quando o beijo acabou.

— Tomaz...

— Oi amor!

Ele respirou fundo e sorriu.

— Eu te amo...  


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