Murilo beija garotos escrita por roux


Capítulo 19
XIX




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MURILO

“Você está me dando um milhão de razões para desistir do show, você está me dando um milhão de razões, está me dando um milhão de razões, praticamente um milhão de razões. Se eu tivesse uma saída, eu correria para longe, se pudesse encontrar uma via seca, eu não me mexeria, mas você está me dando um milhão de razões. Está me dando um milhão de razões praticamente um milhão de razões. Eu me ajoelho para rezar e eu tento fazer o pior se tornar um pouco melhor. Deus me mostre o caminho para me libertar do couro gasto dele eu tenho cem milhões de razões para ir embora, porém querido, eu só preciso de uma boa razão para ficar. Minha mente presa num ciclo, eu olho para fora e encaro, é como se tivesse parado de respirar, mas ainda estivesse viva, pois você está me dando um milhão de razões. Está me dando um milhão de razões, praticamente um milhão de razões...”.

Murilo correu para o quarto, o coração pulando pela boca. Estava chorando, não conseguiu controlar todas as emoções que sentia. Era tudo de uma vez só. Havia acabado de acordar da noite mais maravilhosa de sua vida e tinha visto o seu castelo de cartas desmoronar de uma vez só. Ele entrou no quarto e correu para a sua mochila que estava no guarda roupa de Tomaz. “O que você achou? O que esperava que acontecesse agora?” Ele perguntou para si mesmo em pensamentos enquanto jogava todas as suas coisas na mochila. Não tinha tempo para dobrar, só queria suas coisas dentro daquela mala, queria sair dali imediatamente. Jogou tudo na mochila e saiu procurando pelo grande quarto se haviam outras coisas suas pelo chão ou espalhado nos outros lugares. Não havia.

Ele entrou no banheiro e trocou de roupa. “Você é um trouxa, mesmo!” As lágrimas desciam com força por seu rosto. Não podia acreditar. “Posso sim. Eu sempre soube que essa farsa acabaria. O que eu estava esperando? Que ele ficasse comigo para sempre? Que o outro não voltasse? Eu fui ingênuo em pensar nisso.”

— Que ingênuo seu idiota. Você é um idiota! — Ele disse para seu reflexo no espelho. O garoto secou então as lágrimas da face. — Aquela megera tinha razão. Ele não conseguiu tirar os olhos do Rafael. Ele não perdeu tempo em contar a verdade. Está agora mesmo lá embaixo tentando explicar porque fez isso, e o que você ganhou com isso? Nada!

Saiu do banheiro e pegou seu celular na cama. Viu a caixa do seu notebook em cima da escrivaninha. Não iria levar, deixaria para o verdadeiro namorado. Ele jogou a mochila nas costas e saiu do quarto.

— Onde você está indo? — Perguntou o pai de Tomaz bloqueando a passagem.

Murilo se encolheu. O que aquele homem faria? Ele respirou fundo e secou as lágrimas dos olhos.

— Eu lhe fiz uma pergunta, criança! Onde você está indo? — Perguntou o homem novamente.

Ele engoliu em seco.

— Embora! — A voz quase não saiu. O choro tomando conta e fazendo as palavras ficarem presas na garganta.

— Por quê? — O homem perguntou olhando Murilo nos olhos. Parecia mesmo estar triste por ele. — Eu não acredito que ele te mandou embora. Ele esteve mais feliz que em toda uma vida nos últimos dias, e isso é graças a você. Eu sempre tive um filho ausente nos negócios, porém desde que você entrou na vida dele... Ele mudou, ficou mais desligado, não queria fazer mais nada que não fosse com você. Ele te ama!

“Não. Você está enganado!” Murilo pensou. O garoto arrumou a mochila no ombro. Estava muito pesada. “Ele não tirou os olhos do outro. Ele não olhou para trás, não olhou pra mim. Não se lembrou de mim...”.

— Ele ama você... — O homem disse pensando. — Qual o seu nome mesmo?

— Murilo!

— Ele ama você, Murilo. E não sei quais são as coisas que você está pensando agora. Mas ele realmente ama você. Está mesmo apaixonado por você. Não acho que deveria ir embora sem falar com ele antes. Você também o ama, está nos seus olhos, nas suas ações. — O homem completa colocando a mão pesada no ombro do Murilo. — Eu poderia estar com raiva nesse momento, por vocês terem mentido e tudo, mas eu meio que simpatizei com você desde o primeiro dia. Eu sempre vi algo muito puro.

— Eu...

— Não me diga nada, criança. Guarde suas palavras pra ele! Você quer ir embora? Ou acha que precisa ir? — O homem perguntou.

Murilo balançou a cabeça em negativa. O choro veio mais forte. Ele queria mesmo ir? Sua cabeça estava uma confusão. Flashes da transa da noite passada se misturando com a cena de minutos atrás. Tomaz não tirou os olhos de Rafael. E ele sabia o porquê. Olhou novamente para o homem em sua frente.

— Eu tenho sim. Eu tenho que ir!

— Então eu vou chamar um táxi pra você!

O homem saiu deixando Murilo sozinho. O garoto ficou parado no corredor. Respirou fundo. Então começou a caminhar. Desceu as escadas. E lá estavam eles, sentados lado a lado se olhando. A conversa estava boa. Ele sentiu as lágrimas voltarem a descer. “Por que me sinto isso?” Ele tentou não fazer barulho, caminhou em passos rápidos e abriu a porta. O barulho foi forte. Ele olhou para trás. Tomaz o olhava assustado.

— Murilo? — Tomaz perguntou levantando.

Ele olhou para o outro. Sentiu que tudo estava quebrando dentro de si. Saiu pela porta e caminhou em passos rápidos pelo jardim. Sentiu uma mão segurar com força em seu braço. Respirou fundo e olhou para trás.

— Você não pode ir embora. — Falou o outro baixo. — Você não pode abandonar nós dois, Murilo.

— Eu já não sei se há nós dois. Eu vi o jeito que olhou para ele! — Ele falou chorando e abraçou o próprio corpo. — Eu não vou ficar no caminho. Eu não quero ficar no caminho.

— Você não está no caminho! — Falou o outro segurando em seu queixo e o forçando a olhar. — Olhe em meus olhos. Eu te amo.

— Eu não sei como te falar isso, mas eu estou no caminho, eu sei, e você o ama. Você sabe que o ama e você me ama! Talvez você ame, mas não adianta mais tentar, ele está aqui agora. Meus pais descobriram, os seus pais descobriam, a gente planeja a vida vem e o plano se desfaz, sabe? Eu nem sei o que te dizer, mas agora eu vou até o fim você vai ficar bem...

Ele viu que Tomaz ficou quieto. O garoto estava quieto, mudo. Não falou nada, não chorou, estava apenas quieto. Já ele, as lágrimas escorrendo pelo rosto como se o registro da torneira tivesse quebrado. Ele levou a mão até o rosto do amado e acariciou.

— Eu sei que você vai ficar bem. Eu cumpri meu papel até onde deu. — Ele chorou mais forte agora, as palavras já não queriam sair. — Eu fiz o que combinamos, não fiz? E nós dois sabíamos que isso iria acabar de uma forma ou de outra. Nunca esteve nos planos que iriamos sentir isso que sentimos agora. Eu estou indo embora para que você não precise escolher, eu acho que estou...

Ele sentiu que Tomaz puxou seu corpo e o envolveu num abraço. Ele apertou o rosto no peito do maior com força e depois sussurrou.

— Diga que me ama na minha cara, eu preciso disso, mais do que do seu abraço, só diga que me quer, isso é o bastante! Pois eu não quero me apaixonar se você não quiser tentar, mas tudo no que consigo pensar é na possibilidade de você querer. Querido, parece que estamos ficando sem palavras e o amor está flutuando para longe...

Não ouve resposta. Ele soltou-se do outro e limpou as lágrimas da face. Olhou nos olhos do outro, eles não diziam nada.

— Adeus, Tomaz!

Caminhou e dessa vez não foi barrado por ninguém. Saiu da grande casa no mesmo momento que o táxi estacionou. Ele não disse nada ao motorista apenas entrou.

— Para onde vamos senhor?

Ele não conseguia parar de pensar em tudo que viveu nos últimos dias.

— Então senhor?

As lágrimas voltaram a cair.

— Senhor? — O homem falou mais alto.

Murilo o olhou e limpou as lágrimas do rosto. O que o homem tinha dito?

— Perdão? — Ele falou baixo, a voz rouca do choro.

— Então para onde vai à corrida? — O taxista do uber perguntou.

— Para a rodoviária. — Ele disse baixo. O carro passou a se movimentar. Ele tirou o celular do bolso.

“— Estou indo para casa, conversamos quando eu chegar!” Ele enviou para a mãe.

 

 

Desde caminhar até em casa, e falar bobeira, até assistir a shows com roupas formais com você. Desde toques nervosos e se embebedar, até passar a noite em claro e acordar com você. Mas agora, estamos chegando ao limite, nos apegando a coisas de que não precisamos. Toda a desilusão em nossas mentes nos deixará de joelhos. Então vamos, se desapegue, só deixe acontecer por que você não fica sendo você mesmo e eu serei eu mesmo. Desde jogar roupas pelo chão a cerrar os dentes, levantar o punho, bater a porta na sua cara, se é por isto que estamos vivendo por que estamos fazendo isto ainda? Eu costumava me reconhecer e é engraçado como os reflexos mudam quando estamos nos tornando outra coisa, acho que está na hora de ir embora. Então vamos, se desapegue só deixe acontecer. Estou tentando encaixar sua mão dentro da minha, quando sabemos que ela não pertence a esse lugar. Não há força na Terra que possa me fazer sentir bem, não há. Tentando empurrar este problema pela colina acima, mas é pesado demais para aguentar. Acho que está na hora de deixar deslizar... Então vamos, se desapegue só deixe acontecer. Você fica sendo você mesmo e eu serei eu mesmo. (Let it go)

 

 

 Passou uma semana desde que chegou em casa. Murilo não saiu do quarto desde a conversa com seus familiares. Foi horrível ouvir todos dizerem que ele havia sido imprudente e totalmente maluco por tomar uma atitude tão maluca feito a que ele tinha tomado. Porém nada disso importa. Ele não ligou para nada disso. Seus pensamentos não saiam de Tomaz. Era isso que doía de verdade. As palavras jogadas fora. As emoções que tinha aprendido a sentir. O que realmente doía de verdade era estar longe dele. Era quase meia noite, nesse momento ele deveria estar se preparando para comemorar o ano novo com o namorado, enquanto ele estava ali naquela fossa. Ouviu a porta do quarto se abrir e acenderem a luz. Olhou para ver quem era.

— Oi, vovó. — Ele falou seco. Não queria ver ninguém.  — Eu não estou a fim de sair para ver os fogos e nem quero ouvir suas premonições e nem nada do tipo.

A mulher caminhou e sentou ao lado dele na cama.

— Eu não vi fazer nada dessas duas coisas. Eu apenas vim dizer que eu te amo e que você é muito importante pra mim. Não importa o que tenha acontecido lá em São Paulo, e eu sei que você não contou toda a verdade, eu vejo em seus olhos e eu vi nas cartas, porém saiba que isso não importa. Essas coisas irão passar e você vai ter um bom ano. Você vai ser feliz, mesmo que agora não acredite nisso, você irá.

Ele sentiu as lágrimas começarem a rolar pela face. Estava se sentindo patético. Os fogos começaram. Era meia noite. Um novo ano havia acabado de começar. Viu os outros familiares entrarem no quarto e sentarem na cama junto a ele. Estavam desejando feliz ano novo e dizendo o quanto o amavam. Eles todos realmente o amavam. Não iriam perguntar porque ele estava assim, iriam esperar ele contar e ele iria contar. Só não agora. Quis apenas aproveitar aquele momento. Ele tinha uma família maravilhosa. Ele estava pronto para começar um novo ano. “Adeus ano velho, adeus Tomaz...” Ele pensou e se abraçou ao pai.


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