Killua não acreditava no que estava acontecendo.

Era Gon.

Ele estava lá, o abraçando, sorrindo, feliz...

Gon estava com saudade dele!

Killua sentiu uma alegria enorme, até perceber que ele ainda estava nos braços de Gon e vermelho de vergonha logo arranjou uma forma de se separar do moreno.

"Já está bom, Bakaaa. Me solta, você não sente vergonha não?"

"Claro que não. Eu jamais terei vergonha de abraçar você, Killua!"

Killua arregalou os olhos e logo em seguida desviou o olhar, falando baixinho

"Eutambémnãoligo, baka..."

"O que?"

"Nada..."

Killua voltou a fazer o que estava fazendo, pendurar roupas no varal, ignorando Gon, que ficou a olhar o albino realizar coisas tão mundanas.

Por um momento ele se lembrou de sua Tia Mito, em como ela acordava cedo todos os dias e arrumava a casa, lavava a louça, as roupas, fazia as compras.

Era isso que Killua estava fazendo da sua vida?

Bancando a dona de casa?

Gon sorriu ainda mais, em sua mente ele se imaginava voltando de uma missão, chegando em casa para ver Killua que estaria esperando por ele - somente por ele - com um sorriso no rosto, um abraço carinhoso e comida pronta.

Mas e as nossas aventuras juntos?

Era verdade que Gon preferia viajar o mundo com Killua ao seu lado, assim ele podia garantir que ninguém tiraria Killua dele, porém essa outra possibilidade era boa também, assim Killua estaria sempre seguro.

"Gon? Terra para Gon? Tem vida ai dentro?"

Killua disse dando dedadas na testas de Gon.

"Hahahaha, tem sim, me desculpa estava imaginando algumas coisas."

Killua sorriu de forma maliciosa, ele ficou ao lado de Gon e deu umas cotoveladas nele.

"Aaaah é mesmo? Sobre o que era, me diz!"

Meio sem graça, coçando a cabeça e um pouquinho vermelho, Gon disse em meio a pequenos risos.

"Você, uma casa que nem a tia Mito, me esperando voltar de uma missão Hunter!"

Os olhos de Killua pareciam que iam sair do seu rosto.

Umas três piscadas depois, ele deu um tapa na cabeça de Gon e voltou para dentro da casa.

"Baaakaa! Como se eu fosse ficar em casa esperando marmanjo!"

Rindo Gon acompanhou Killua e também entrou na casa.

Killua lhe ofereceu um suco e encostando-se à pia começou a falar.

“Gon...eu nem notei sua presença, era como se você não tivesse Nen! Como você aprendeu a fazer isso?!”

Gon ficou sem jeito, o rosto de Killua mostrava o quão empolgado ele estava com possibilidade de uma nova técnica, mas infelizmente não era nada daquilo.

Sabendo disso, Gon tomou um gole do suco e respirou fundo antes de responder.

“Eu perdi o meu Nen.”

“O que?!”

“Mas não se preocupe eu já arranjei uma forma-“

Os olhos arregalados de espanto, logo cerraram e uma expressão brava que Gon conhecia bem apareceu no angelical rosto de Killua – lá vinha sermão...

“Como assim não me preocupar?! Você está andando por ai, sem Nen?! E se você encontrasse o Hisoka?! Ou o meu irmão?! Tem noção do perigo?! Você pode ser forte, mas contra caras como eles ser forte não basta você precisa de Nen!”

Gon levantou as mãos tentando acalmar Killua.

“Eu não estou totalmente sem Nen, Killua. Eu só não consigo acessa-lo como eu quero. E se eu encontrasse o Hisoka é bem capaz dele me ajudar, só pra poder lutar comigo depois.”

“Não me interessa, você vai ficar aqui até eu puder lhe acompanhar de volta para a Ilha da Baleia.”

“Está tudo bem Killua, não se preocupe. Eu estou muito mais forte, e isso só com a força física por si só, sem Nen.”

Gon disse flexionando os músculos em um gesto de brincadeira.

Killua olhou a principio admirado e com um pouco de inveja, justo Gon tinha ficado tão másculo, enquanto ele puxou sua mãe e ficou tão esguio não importava quando peso pegasse simplesmente não ficava maior do que estava.

Mas quem ele estava enganando, ele viu o que Gon podia se tornar com muito treino...

Mas ainda assim, sem Nen...

“Você não ouviu o que eu disse?! Sem Nen, você – não – tem – a – menor – CHANCE!”

Killua não havia gostado nem um pouco de saber disso e ainda por cima saber tão tarde – a quanto tempo Gon estava sem Nen? Por que não lhe disse nada?

Mesmo que ele tenha obtido sucesso em conseguir fazer seu pai dar ordens para seu irmão lhe deixar em paz, Killua sabia dos riscos e se preocupava, pois não sabia se seria capaz de proteger Alluka e Gon.

Protege-los, ainda mais ele, que já havia falhado com os dois.

Ele deixou Alluka presa e sozinha...

Ele deixou Gon se perder em meio sua fúria e impotência...

Furia e impotência...

E foi então que Killua, olhando para figura de Gon se lembrou da transformação de Gon, em como ele havia mudado, se tornado um homem que ele não reconhecia.

O Gon na frente dele era forte, não era tão grande, nem tão alto, mas era possível visualizar aquele monstro no rapaz na frente dele.

Ao se lembrar disso, o rosto de Killua ficou tão triste que Gon parou de fazer o que estava fazendo, se aproximou de Killua de segurou os seus ombros, preocupado com a reação do amigo.

“Killua? Está tudo bem?”

Killua olhou para Gon, mas tudo o que ele via era aquele monstro que socou a cabeça de Pitou até não sobrar nada.

Seus olhos de arregalaram e encheram de lagrimas, ele sacudiu a cabeça em negação sabendo que aquilo era fruto de sua mente, mas mesmo assim tentou se afastar, Gon por sua vez o segurou com mais força.

“Killua?!”

Sem perceber Gon apertou os ombros de Killua com mais força do que o necessário e ao ouvir o gemido de incomodo, ele olhou para Killua, desta vez mais de perto de si e viu algo que o perturbou.

Havia hematomas naquela na sua pele branca, não eram hematomas de combate, mas como se algo houvesse chupado a área.

Mas o quê...?

Seu rosto mudou imediatamente, Gon aos poucos não pensava logicamente, ele lentamente começava a ser levado pelo emocional e não pensava no que Killua estava passando, no que ele estava lembrando e em como a sua atitude trazia memórias que Killua queria esquecer.

“O que é isso!?”

Killua suava frio, era como se ele estivesse revivendo um pesadelo, ele sentia uma aura obscura oprimir o ambiente, aumentando a pressão daquele lugar, ele engolia seco olhando para Gon tentando entender o que estava acontecendo – ele não havia perdido o Nen? O que é isso então?

Gon desceu suas mãos, agora nos braços de Killua passeando sobre a pele e vistoriando cada pedaço com uma ausência de emoção que Killua por um breve momento se sentia como se fosse um objeto.

Killua era forte o suficiente para se livrar daquela situação, mas ele parecia em choque e sua falta de resposta só deixava Gon mais e mais bravo.

“EU PERGUNTEI O QUE É ISSO?”

A dor em seus braços junto com o olhar vazio de Gon trouxeram Killua de volta, ele olhou para o que Gon estava vendo e notou suaves hematomas, quase sumindo e ele mesmo se perguntou o que eram e de onde vieram.

“Gon...isso não é nada de-“

“QUEM FOI?”

“E-eu só estava ajudando o-“

“QUEM?”

“ME DEIXE TERMINAR DE FALAR!”

Gon ficou quieto, mas não o soltou, Killua por sua vez estufou o peito e respondeu com firmeza – ele não fez nada, não devia explicação de nada, ele não teria medo nem seria colocado contra parede.

“Deve ter sido os tentáculos do Ikalgo, eles foram feito para grudar nas superfícies, eles devem ter feito isso na minha pele só porque eu sou muito branco.”

Aquilo não pareceu o suficiente.

“Por que os tentáculos de Ikalgo estavam em você?”

“Gon? Gon que merda é essa?”

Killua empurrou Gon para longe de si, Gon por sua vez rapidamente de recuperou do empurrão e começou a avançar quanto eles ouviram ao longe.

“Irmão! Irmão cheguei!”

Killua olhou para Gon e olhou para a porta, havia algo estranho ali, algo de errado com o seu amigo, porém Killua optou por ignorar no momento, sua irmã não precisava se preocupar com isso.

Sem pensar mais no assuntou, ele tirou o lenço da cabeça, ajeitou a roupa, e saiu pela porta sem olhar para Gon. Ao olhar para o portão e ver sua irmã se aproximando ele viu um outro rapaz junto, ele o conhecia, era o filho do dono do mercado, um rapaz gentil que o ajudava e muito – mas ele sentia que o que ele menos precisava naquele momento era um estranho amigável ali.

Killua não viu, mas o punho de Gon começava a brilhar segundos antes de ele sair pela porta.

Gon ainda cego ao mundo com exceção do seu único objetivo foi até a porta e olhou para Killua, Alluka e um homem que ele nunca viu antes, mas que estava sendo amigável demais com Killua.

Killua havia dito que não tinha amigos além dele.

Killua estava mentindo para ele?

Não Killua não faria isso.

Mas Killua não contou sobre Ikalgo até Gon força-lo a falar.

E se Killua estiver escondendo algo?

Killua sentia o olhar de Gon em suas costas, mas continuou a agir como se nada estivesse acontecendo, ele não sabia, mas só estava tornando a situação dos presentes ainda pior.

“Irmão!”

Ele olhou sorrindo para Alluka, lhe dando um abraço e agradecendo o rapaz por trazê-la sã e salva para casa.

O rapaz se despediu dele e de Alluka, e Alluka então notou algo nos braços do irmão.

“Irmão, o que é isso? Você se machucou?”

Killua olhou para os braços e viu as marcas de dedos se formando, sem saber o que fazer com os seus braços ele colocou as mãos nos bolsos do shorts dando um sorriso forçado.

“Foi nada não. Aaah... Gon veio nos visitar.”

“Ah?! Eba! Gooon!”

Alluka saiu correndo em direção a porta onde Gon estava, Killua por um instante virou assustado, pronto para defender sua irmã quando ele olhou para Gon, que sorria carinhosamente e brincava de pegar e jogar sua irmã para o alto.

A risada dos dois era contagiante, mas não impediu Killua de notar que aquele Gon parecia uma pessoa totalmente diferente do Gon que ele estava confrontando segundos atrás.

O que está acontecendo aqui?