Por onde eu começo…

Tudo começou na noite do baile de formatura da minha escola. Eu e meus amigos tentamos fazer uma festa de boicote ao baile, mas como era de se esperar ninguém foi. Fizemos isso porque acabamos não indo.

Meu amigo Jeff não foi porque a namorada dele dispensou ele uns 3 dias antes e ao que parecia ela já tinha ficado com metade do time de futebol sem ele saber. O Robb não foi, bem, porque ele foi proibido de entrar no colégio as últimas semanas por causa de uma pegadinha que ele fez com o professor de química, que apesar de genial não foi muito bem vista pelos professores. Pra demonstrar a potência da reação de decomposição da Azida de sódio (2NaN3->2Na+3N2) (que era um dos trabalhos que ele devia pra aula de química) ele colocou um airbag na cadeira do professor pouco antes da aula começar, e a reação realmente foi bastante potente, tanto que o professor foi arremessado para frente e acabou quebrando um dente. Mas por algum motivo deram permissão pra ele ir a formatura já que de algum jeito ele conseguiu se formar com notas altas e ia receber um premio de ciências.

E eu, bom… não sou muito fã de festas, não tinha um par, e ninguém esperava mesmo que eu fosse então resolvi cumprir com as expectativas de todos que não sabem quem eu sou e me poupei dessa situação degradante.

Ah! Eu não me apresentei. Meu nome é Bran, e bem… eu sou o Aluno B.
Passei toda minha vida escolar abaixo do radar, não chamava muita atenção, andava sempre com a cabeça baixa, nem os valentões me davam atenção (pelo menos não muito), e também não participava de nenhum time, eu simplesmente existia, como um figurante de uma história qualquer.

As vezes eu nem consigo entender como foi que eu acabei virando amigo desses caras, vamos só dizer que foi algo que acabou acontecendo. Eu conheço o Jeff desde a pré-escola e desde então ele tem sido meu amigo, apesar de sermos tão diferentes, as vezes eu não sei se ele gosta de mim de verdade ou só me atura, mas eu sei que ele é realmente meu amigo já que ele foi meu único amigo por vários anos.

O Robb, bem… ele é maluco, e por algum motivo ele decidiu virar meu amigo, a gente se conheceu na aula de química no primeiro ano, o professor fez a gente fazer um trabalho em duplas e ele acabou decidindo que ia me ajudar, é claro que ele me atrapalha mais que ajuda querendo “me tirar da zona de conforto” ou algo assim, mas por quê alguém ia querer sair da zona de conforto? Se ela se chama zona de conforto é por um bom motivo, mas enfim.

Continuando… A festa ia rolar na casa do Jeff, mas como vimos que ninguém ia aparecer decidimos só ficar jogando video-games e comendo besteira, passamos algumas horas assim até que o Robb se cansou e começou a pirar de vez (depois de perder a quinta partida consecutiva de street fighter pra mim).

“A gente vai realmente passar a noite inteira assim?” disse Robb enquanto se levantava e jogava o controle no sofá, “é sério que vocês vão querer ficar aqui a noite toda?”

“Só por quê você perdeu de novo?”, eu acabei deixando escapar, as vezes eu tento ser engraçado.

“Cala a boca Bran!”

“E pra onde a gente iria gênio?” disse Jeff que continuava sentado mexendo no celular.

“Concordo com o Jeff. Quem a gente conhece está no baile e a gente não tem lá muitas opções…”, eu disse isso pro Robb mas eu tinha certeza que ele já tinha alguma ideia maluca se formando na mente dele.

“Eu tive uma ideia” disse Robb, “Jeff, o teu pai deixou as chaves do carro aqui?”

“Cara, a gente não vai sair com o carro do meu pai, tá bom que ele viajou mas se ele souber ele me mata…”

“Relaxa, ele não vai saber”

“Tá bom Ferrys Buller, e pra onde a gente vai?”

“Vocês vão ver”

“Tá me parecendo uma roubada”, Jeff se levantou e pegou as chaves, “Vamos…”

Fomos para a garagem.

O pai do Jeff gostava muito de restaurar carros antigos, e sendo filho dele, Jeff também era fanático por motores. O carro do pai dele era um Shelby Mustang GT500 1967 (se não sabe joga no google), mas o que você realmente precisa saber é que era um carro muito valioso, que deu muito trabalho para restaurar e que levou os pais do Jeff ao divorcio, O Jeff não fala muito sobre isso, e nem ele nem o pai dele parecem ligar muito, ao que parece a madrasta dele é mais legal.

Nós três ficamos parados olhando o carro…

“Eu dirijo.” disse o Robb

“Nem pensar” disse Jeff, “Meu pai ama esse carro mais que eu, e se alguém vai dirigir ele sou eu.”

“Cara você pode roubar o carro do seu pai quando você quiser depois disso, me dá logo as chaves.” e então Robb tentou tirar as chaves do Jeff, até pareciam estar se divertindo.

“Pe… Pessoal”

“O que foi Bran?” disse Robb “A gente está meio ocupado no momento”

“Eu não acho que isso seja uma boa ideia. Não é melhor a gente ficar aqui? A gente pode acabar se metendo em alguma roubada, ou sei lá…”

“Droga Bran, não seja estraga prazeres, tudo vai ficar numa boa…”

“Não cara, é sério, eu não sou de fazer essas coisas, não é melhor a gente ficar aqui?”

“Olha Bran… Você não está cansado disso? Cansado de não fazer nada? De não ter iniciativa? De ser só um figurante, como você diz?”

“Sim, mas…”

“É sério que você quer continuar sendo um ‘fracassado’?”

“Não, é que…”

“Então como seu melhor amigo…”

“Na verdade o Jeff é…”

“Eu sugiro que você tome as rédeas da sua vida” falou Robb antes de jogar as chaves do Mustang pra mim, “ou melhor a direção”

“Mas eu não sei dirigir…”

“Tá na hora de aprender então.” disse Jeff sorrindo “E então? A gente vai pra onde?”

“Vocês vão ver…” disse Robb.