Você está sentado confortavelmente no sofá da sua casa, depois de um longo dia de trabalho. Você certamente merece um descanso, certo? Suportar o seu chefe irritante e as piadinhas bobas dos seus colegas já é o suficiente para um aumento generoso no seu raso salário!

Você preparou, antes, uma bacia de pipoca de tamanho gigante – pipoca de micro-ondas é prática, mas nada supera a boa e velha pipoca feita na panela, não é mesmo? – e está zapeando pelos canais de filmes da sua TV por assinatura, já que esqueceu de pagar a Netflix daquele mês. Quando você finalmente acha um filme minimamente interessante e começa a comer a pipoca, a programação é subitamente cortada pelo plantão de jornalismo local.

Você espera, impacientemente, a repórter parar de falar. Ela diz: “Um assassino em série está à solta na região. Por favor, tranquem suas portas e janelas esta noite. Em caso de problemas ou qualquer informação sobre o caso, disque o número de emergência.”.

Você checou as portas e janelas anteriormente, seu celular está no seu bolso, carregado, e os telefones da casa estão todos funcionando perfeitamente. Sem maiores preocupações, você põe sua fé na polícia local para a captura do assassino e volta a ver o filme.

Subitamente, uma chuva torrencial cai lá fora, e o sinal da TV a cabo começa a sofrer interferência. Só faltava essa!, você pensa, com irritação. É pedir demais uma simples noite de descanso? Depois de aguardar por alguns minutos pela volta do sinal, você perde as esperanças e se amaldiçoa por ter esquecido de pagar a Netflix. Você começa a repassar todos os sites seguros que se lembrava para assistir filmes online – afinal, a conexão de internet deveria estar em perfeito estado.

Você levanta para pegar o notebook no seu quarto. Um relâmpago ilumina a noite lá fora, e o trovão lhe dá um susto, fazendo você saltar. Pela janela coberta pelos pingos da chuva, você pode ver o quintal da sua casa – e um vulto parado no limite do terreno, próximo à cerca.

Seu coração dispara, e você anda até a janela, observando o breu lá fora. Deve ter sido a sua imaginação lhe pregando peças. Você ficou impressionada demais com a notícia do assassino, isso é tudo.

Mas quando você está prestes a virar e continuar o que estava fazendo, mais um relâmpago transforma noite em dia e você vê um sujeito com uma máscara te encarando pela janela, bem mais próximo.

Você grita e recua. Com o coração saindo pela boca, você pega o celular do bolso e disca o número de emergência, mas acaba derrubando o aparelho por conta dos seus dedos trêmulos. Xingando, você se abaixa para apanhá-lo.

Quando levanta, você encontra o sujeito mascarado olhando para você pelo vidro. Você não tinha reparado antes, mas ele leva uma machadinha de cortar lenha nas mãos, e a máscara branca é repleta de respingos vermelhos.

Espere. Como você consegue vê-lo mesmo estando escuro lá fora?

Ao som de mais um trovão, você deixa cair o celular, cuja tela quebra com o impacto, ao perceber que a imagem que via no vidro não era de fora.

Era um reflexo.