Os Karas - Cigarros e Moscow Mule. escrita por Alex


Capítulo 3
2. Irmãos de batalha.


Notas iniciais do capítulo

Gosto de como as coisas estão andando nessa historia rs.
Enfim, boa leitura! =)



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A culpa é dos fatos, meu amigo. Somos todos prisioneiros dos fatos. Eu nasci, logo existo.

Luigi Pirandello

 

O Professor de Crânio não teve muito o que fazer na posição em que estava. Um de seus melhores alunos que também era o responsável por conduzir um dos mais novos experimentos precisaria se afastar por conta de tragédia familiar. Não havia nenhuma outra forma de lidar com aquilo. Crânio conduzirá toda a pesquisa sem pausa e sem diminuir os esforços por quase um ano inteiro. A sua tese vinha sendo editada e seria lançada como livro no final daquele ano. Ele tinha crédito de sobra.

— Eu entendo, Volte quando estiver melhor. Usaremos suas anotações. Pedirei que María assuma no seu lugar até o seu retorno.

Crânio havia sido um dos primeiro a saber, da morte de Andrade. Provavelmente teria sido a primeira pessoa a que ligaram. Sem sombra de dúvidas, ele era o mais fácil de ser localizado. Durante dois dias o garoto que já fora o gênio dos Karas não esboçou reação. Conversava pouco e não parecia querer estudar. Queria apenas ficar Sozinho com seus pensamentos. Sentia-se culpado por não estar lá. Sentia-se culpado por tanta inutilidade. Seus dias foram silenciosos e parados até o dia de uma ligação por telefone. Mais especificamente, três dias depois de saber da notícia da morte.

Saindo do pequeno mercado perto de sua casa, Crânio era a imagem viva de um ser desanimado. Rodou a chave na fechadura e foi recebido pelo clima fúnebre que seu apartamento havia-se tornado.


O Telefone tocou e Crânio atendeu sem se importar com quem seria a pessoa do outro lado da linha, porém como uma mão que vem no momento certo, antes da pessoa se afogar, a voz do outro lado da linha parecia trazer Crânio de volta. Crânio conhecia muito bem aquele que falava com ele.

— Ei, Crânio? Sou eu, Miguel.

Miguel e Crânio não se viram mais do que duas vezes nos últimos anos. Encontraram-se por acaso uma vez em um restaurante. Crânio com uma nova namorada e Miguel com a família. Miguel entendia bem o que estaria acontecendo então, evitou ir até lá conversar com o amigo. Sabia que Crânio buscava por maneiras de tentar esquecer Magri. Ele também havia feito muito aquilo. Na outra, se viram rapidamente quando Crânio e sua equipe foram conhecer o laboratório da faculdade de Miguel. Não trocaram palavras nesse dia. Apenas um acenou para o outro.

— Hey Kara… — Crânio disse revelando no seu tom aquilo que sentia —

— … Já entendi — Miguel concluiu que Crânio já entendera o motivo da ligação — Há Quanto tempo você já sabe?

— O Bastante para me sentir culpado, mas não o suficiente para ter feito algo. — Crânio se sentou trazendo o telefone para mais perto — Uma mulher me ligou, passou os endereços de onde será a cerimônia…

— Sim, ela me disse isso também. Estou ligando para confirmar a sua presença. Ele iria gostar de nos ver novamente. Todos nós. — 


Miguel parecia estar melhor pelo telefone. Crânio não imaginava o quão aquilo abalará Miguel nos primeiros dias. Mas o amigo de longa data era forte de corpo e espírito

— …Entendo. — Crânio deixou transparecer sua decepção em seu tom de voz — 

— Qual o problema?

 

Crânio olhou ao redor de sua casa solitária. Não havia nada a perder.

— Se fosse há quatro anos, você estaria me ligando para marcarmos uma reunião de emergência Máxima… — Crânio disse de uma vez — Eu já estava me recuperando e pensava em começar sozinho, mas a sua ligação me fez pensar que…

— ...Que eu iríamos investigar a morte do Andrade? — Miguel cortou Crânio — Ele morreu no dever, Crânio… Não tem o que ser investigado.

— Tem alguma confirmação disso?

— Só pode ser isso. — Não, ele não tinha. Crânio enxergava. —

— Depois de tudo o que passamos, e de tudo o que o Andrade já fez, Não pode ter sido apenas algo assim.

— Crânio…

— Escuta, eu vou investigar um pouco por conta própria. Vou te deixar por dentro do que estiver descobrindo, caso queira me ajudar.

— ... — Miguel suspirou do outro lado da linha — Não me faça te lembrar de o que aconteceu da ultima vez que você resolveu investigar algo sozinho.

 

— E Não me faça te lembrar de que estava certo, mais uma vez. — Crânio sorriu, enfim —.

A Risada de Miguel pode ser escutada baixinha do outro lado da linha. Crânio pode sorrir depois de quatro dias sem esboçar um único sorriso.

—Certo. Quinta-Feira à tarde. Cerimônia a portas fechadas. Preciso ir, agora tem o meu número. Mantenha contato.

— Vai para onde? — Crânio perguntou como quando eram mais jovens —

— Vou conversar com o Chumbinho pessoalmente no Elite. — Miguel respondeu — Até quinta-feira.

— Até.

Crânio desligou o telefone e foi em direção à sala. No caminho, olhando seu reflexo pode notar que chorava. Não havia chorado nem um dia se quer desde o dia que descobrira a morte de Andrade. Agora, as lágrimas rolavam como quando criança.

Finalmente Crânio aceitou. A Ficha de que o amigo de longa data partira o faria rever novamente tantos amigos e principalmente a dona de seu coração. A Garota que mesmo anos depois, Crânio ainda era apaixonado e sonhava que um dia estariam juntos enfim.

Mas junto dessa sensação confortante vinha uma outra sensação. De inutilidade e fraqueza que vinha de seu âmago. Sentia-se tão inútil por não ter feito nada por Andrade.

 

Crânio aos poucos passava a duvidar do que Miguel disse. “Morrer no dever” para um homem como Andrade, uma lenda da polícia que -junto dos Karas- desvendou crimes hediondos. Crânio não conseguia evitar pensar que poderia ter algo por de trás dessa história.

Ligou a TV para se distrair. Assistiu a um videoclipe de uma banda de rock.

A Banda era “Dire Straits” com a música “Brothers In Arm”.

“Those mist covered mountains, are a home now for me. But my home is the lowlands and always will be”.

Estas montanhas cobertas de névoa são um lar para mim agora. Mas meu lar são as planícies
E lá sempre serão”.

Crânio de repente lembrou-se de algo que ele há tempos não via. Foi até o quarto e procurou por aquela velha companheira.

“Someday you'll return to your valleys and your farms. And you'll no longer burn to be brothers in arms”.

Algum dia vocês voltarão para seus vales e suas fazendas. E não mais irá arder o desejo de ser um companheiro de batalha”.

Crânio deixou novamente que a melodia silenciosa de sua antiga gaita acompanha-se a música e deixou  as lágrimas caíssem como se estivesse por fim lavando seu espírito.

“Through these fields of destruction baptism of fire. I've witnessed your suffering as the battles raged higher. And though they did hurt me so bad in the fear and alarm.
You did not desert me, my brothers in arms”.

"Por estes campos de destruição, Batismos de fogo, Assisti a todo o seu sofrimento enquanto a batalha se acirrava.
E apesar de terem me ferido gravemente em meio ao medo e ao pânico, Vocês não me desertaram, Meus companheiros de batalha”.

A TV foi desligada e a melodia silenciosa da gaita tomou conta de todo o local.


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Notas finais do capítulo

Próximo capitulo: Chumbinho, o Valente.
Obrigado por ler até aqui.



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