Os Karas - Cigarros e Moscow Mule. escrita por Alex


Capítulo 24
4. Uma memória de uma eterna amada.


Notas iniciais do capítulo

Sete ou oito capitulos para o fim dessa fanfic rs.
Esse capitulo foi refeito duas vezes antes da versão final. Queria saber a opinião de quem esta lendo.

É isso, boa leitura.



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O comissário Nelson franziu o cenho e seguiu Nicolas com o olhar quando ele adentrou a sua sala e trancou a porta. Ele se virou meio segundo depois e sorriu.

Nelson era experiente o suficiente para ler os olhos de Nicolas. Sabia bem que ele tinha algo a perguntar. Mesmo trabalhando na maior base de policia instalada em São Paulo, ele acabara se tornando muito intimo de seus colegas polícias nestes anos de profissão.

Durante todos os anos que fora um bom amigo do detetive Andrade, ele viu, com admiração, o amigo detetive navegar seu barco nas piores e mais assustadoras tempestades. Nicolas enfrentava a sua primeira tempestade, mas, o jovem policial se mostrava uma fortaleza que nada seria capaz de abalar… Aparentemente.

—Bom dia, Nicolas.

—Bom dia, Comissário. Vim trocar meia palavrinha com o Senhor. Estou atrapalhando?

Não, nem um pouco. -Ele se levantou e apanhou uma caixa de papelão vazia- Preciso começar a retirar as coisas da minha sala. Estou dois dias atrasado… Mas você, vai fazer valer a pena perder mais alguns minutos.

Ele encara o vazio da caixa por breves momentos.

—Como anda a investigação?

Sinceramente, eu ando pensando demais e agindo menos. Não cheguei a cogitar motivos, formas de envenenamento… só tenho lido e relido o laudo do Andrade. Posso dizer que já o sei inteiro.

—Então, qual é o problema?

—Estou mais interessado no passado do Andrade. Estive pesquisando e lendo os casos antigos dele. Buscando de alguma forma uma resposta, nem que mínima.

—Alguém que teria motivos? -Ele se senta novamente em sua mesa- Por que acredita tanto que a pessoa com motivos estaria nos arquivos?

—Vingança, talvez… Andrade era famoso…

Nelson colocou as duas mãos no ombro do jovem policial.

—Acalme-se. Emoção demais torna seu raciocínio mais lento.

 

Nicolas o observou. Possuía muitas perguntas sobre Andrade, algumas, possivelmente, Nelson sabia responde-las. Acreditava fielmente que encontraria a resposta naquela sala.

—Já tomou café? -Nelson perguntou- Vou buscar algo para nós, é proibido comer dentro da sala, mas, estou prestes a me aposentar… Posso correr o risco.

Nicolas sorriu, pela primeira vez naquela manhã.

 

•|•

 

Chumbinho acordou de repente, sem saber o porquê. Levou alguns minutos para reunir força o bastante para se levantar, e notar que, mesmo intencionalmente, não conseguia dormir até tarde em um dia que escolheu faltar a escola. A casa estava às escuras, apenas iluminada pela manhã nublada de São Paulo.

Levantou-se e foi ao banheiro urinar. Olhou-se no espelho enquanto lavava as mãos e refletiu por um momento. Estava… Triste.

Enfiou uma calça jeans e uma jaqueta de cor vermelha e parou na sala de casa. Olhando ao redor pode ver o conforto e as bênçãos que os pais tanto se esforçaram para dar a ele. Sentiu-se ainda mais triste.

A imagem do pequeno Andrade órfão não saia de sua cabeça. Chumbinho caminhou até o quarto e ao abrir um pequeno cofre onde guardava suas coisas preciosas, ele examinou em mãos um papel. A herança de Andrade.

Suspirou e sem entender o porquê, discou o número de Magrí.

Magrí, É Chumbinho.

Bom dia, Chumbinho. O que foi?

—Quero saber onde você está.

—Estou na casa do Andrade, como de costume. Acabando com esses assuntos.

—Posso passar ai?

—... Claro.Magrí detectou algo na voz de Chumbinho inédito até então-

Foram alguns minutos de bicicleta até estacionar, mais uma vez em frente à casa de Andrade. Magrí recebeu Chumbinho com chocolate com leite e torradas com geleia, mas o rapaz exibiu um semblante depressivo. Magrí se preocupou logo de cara.

—Magrí… Eu gostaria de te pedir um favor.

—Chumbinho, o que foi? Você não é assim.

—Eu… não sei, de repente estou me sentindo tão… Para baixo.

—... —Magrí sentou-se-

—Desde ontem… Quando eu vi a imagem do Andrade menino… Eu.. Refleti sobre muitas coisas.

—Entendo.

—Eu… Gostaria de quebrar a regra do testamento. - Chumbinho disse - Não quero utilizar a herança do Andrade para os meus estudos. Eu quero fazer algo que ele teria sentido orgulho…

Chumbinho levantou os olhos e encontrou Magrí se aproximando dele. Ela, o envolveu em um abraço tão reconfortante, que parecia um brilho de luz em uma caverna escura e sem vida.

—Chumbinho, querido… —Magrí sorria- Andrade iria se orgulhar muito do caráter que você tem hoje…

 

Magrí acompanhou Chumbinho até o correio mais próximo. Mostraram suas carteiras de identidade -A recepcionista ficou encantada com a presença de Magrí no local e lamentou não ter trazido uma câmera- e seguiram para o que vieram fazer.

Magrí se orgulhou do ato do pequeno e poucos minutos depois, após uma breve conversa se separaram. Ela, perguntou se Chumbinho não gostaria de uma carona, porém o mesmo disse não ser necessário. Magrí se sentiu melhor ao ver que depois do ato, o sorriso voltou ao rosto do mais jovem dos Karas. Combinaram que se viriam mais tarde.

Chumbinho escolherá, mesmo sem entender o motivo da escolha, fazer uma doação anônima na conta de uma ONG que cuidava de órfãos.

|•

Crânio acordou às oito. Tomou banho, ligou a cafeteira e em seguida, se instalou diante de suas anotações e pesquisas. Estava diante de um puzzle. Uma charada. Decifrar as palavras que estavam escritas atrás do rosto destruído pelo tempo. A foto original estava em posse de Nicolas. O que quer fosse descoberto ali, seria alvo apenas de especulação.

Subitamente, lembrou-se de matemática. (X + Y = Z).

Levantou-se e foi atrás do seu objeto predileto. Sua gaita.  Colocou-a perto da bochecha com o único braço que podia mover. Em um silêncio absoluto de fazer inveja a um monge, o gênio dos Karas pensava.

 

•|•

 

Nicolas e Nelson tomaram o café e conversaram sobre os mais variados assuntos. Todos, voltados para o mundo policial. Nicolas admitiu mentalmente que sentiria falta daquele bom comissário. Por fim, ele se preparou para lançar suas perguntas. Ele não havia se esquecido dos motivos dele estar ali.

—Tenho uma pergunta e espero, mesmo, que o senhor possa me dar uma resposta. - Disse Nicolas

—Sou todo ouvido.

—Na realidade, preciso dos seus olhos. —Nicolas estende a foto- Você sabe de alguma coisa?

 

Nelson observou a foto com demasiada curiosidade. Nicolas tinha experiência. Não era necessária uma única palavra, ele encolheu os ombros decepcionado.

—Eu não conheço, desculpe. -Nicolas escutou as palavras de Nelson-Onde encontrou essa foto?

—Se importa se não relevar a minha fonte, até o fim desse caso, Comissário?

 

Nelson suspirou.

Andrade o ensinou muito bem, não? Eu lamento. Andrade e eu fomos bons amigos, mas ele, pelo visto, ele nunca se sentiu à vontade o suficiente para me dizer algumas coisas sobre o seu passado…

Nicolas saiu da delegacia depois disso.

 

•|•

 

Calú ostentava um fedora negro sobre os cabelos e óculos escuros quando caminhou até o cemitério. Trazia um buquê de tulipas. Não entendia nada sobre flores. Comprou por comodismo. Todo cemitério tem um florista ao lado. Assim como todo escritório de advocacia fica próximo ao bar. As pessoas são cruéis.

Os senhores que cuidavam do cemitério não o reconheceram o que o fez se sentir subitamente mais aliviado. Caminhou por algumas fileiras de lápides e se pôs parado em frente a uma delas.

Já havia tido tempo para crescer plantas ao redor. O tempo é algo sádico. Calú removeu uma planta que cobria o nome da lápide.

Solomon Friedman”.

Fazia quatro anos que Calú não visitava o túmulo de seu velho e amado professor. Além do pai, existiram dois homens que Calú admirou em vida. Um, ele estava visitando agora, depois de quatro anos… O outro, não saia de sua cabeça a dias.

Colocou as tulipas sobre o túmulo dele e orou. Assim que concluiu, ele repetiu o ato que fazia quando garoto, e conversou com o professor.

—”Agora eu sou um ator de cinema, velho Sol…” Calú disse com um sorriso sincero. Ele gostaria de ouvir uma resposta, mas nada ocorreu - “Eles criticam até os pontos invisíveis a olho nu, mas eu me sinto bem…”.

 

Calú suspirou fundo.

—Me desculpe não ter vindo te visitar. Eu… Calú suspirou e em seguida levantou-se.

...Eu tenho renegado o amor de todos.

 

Caminhando tranquilamente, Calú refletia sobre algumas coisas. Estava nervoso, por razões que ele não sabia ao certo. Sabia que constantemente estava irritado…

Ligou a moto e pilotou sem rumo, divagando entre pensamentos. Sem perceber, cruzara com um carro familiar em um farol vermelho. Acenou. O carro o seguiu e encostou-se à calçada próxima. Nicolas saiu do carro e colocou uma moeda no parquímetro.

Acaso feliz. -Nicolas disse, olhando rapidamente para seu relógio de pulso-

—Ah é? Calú se aproximou -

—Sim, não tive sorte na delegacia. Chegarei por último novamente na reunião na casa do Andrade. Pode ficar com essa foto até de noite?

 

Calú observou com ceticismo e pegou a fotografia em mãos.

—Nada?

—Nada. Talvez até de noite, você consiga pensar em algo. Vejo-te mais tarde?

Calú meneou a cabeça ainda com a mente pensativa. As palavras atrás da fotografia… O que significavam elas?

De súbito, o ator dos Karas se viu cheio de coragem. Subiu novamente na moto e partiu rumo à casa dos pais.

Os pais mantinham o quarto de Calú intacto. Olhar para ele era voltar no tempo. Coisa de no mínimo quatro anos. Calú passou duas horas se maquiando. Criou um novo rosto. Este, ele sorriu feliz, era sua obra prima. Estava irreconhecível.

Ligou o fusquinha de Andrade. Ele tinha que forçar a marcha uma vez ou outra, mas o veículo se provava competente.

|•

Miguel chegara à casa de Andrade depois do meio dia. Magrí o recebeu com um sorriso e um beijo no rosto.

Finalmente, a caixa de cartões postais iria embora. Miguel observou Magrí. Ele, por meio segundo, apreciou a ideia de ter aquela linda mulher abrindo a porta para ele todos os dias...

Ajoelhou-se no chão e observou os cartões postais.

Vai deixar eles onde?

—Na casa dos meus pais. Minha Mãe disse não se importar. É uma caixa só. Eles não pretendem se mudar mais. Querem envelhecer naquela casa.

 

Observou uma imagem das ruas de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Andrade visitará o sul do Brasil.

Observou o cartão postal. Passou para o próximo. Era velho. Observou a placa do local da imagem.

“Malpraga, bebidas”. -Traduziu na mente - “Cidade do México”.

Lembrou-se só então, que Nicolas dissera que Andrade viajará ao México antes de morrer.

Olhou na parte de trás e notou uma coisa. Um mínimo detalhe. De repente, Seu sangue ferveu como se acabasse de ver a invocação do diabo em sua frente.

Contemplou em silêncio. Mas tremia um pouco, perante a sua descoberta.

—Miguel?- O telefone de Magrí tocou a fazendo atender, ainda mantendo os olhos sobre Miguel. -Alô?

—Magrí. Eu acho que descobri. - A voz de Crânio soou clara do outro lado da linha.

—Descobriu? —A frase de Magrí despertou Miguel de uma espécie de transe.

Ele se levanta com pressa e pede o telefone para Magrí.

—Crânio… Miguel quer falar com você.

Ela entrega o telefone para Miguel.

—Kara.

—Miguel, eu descobri. A sentença provavelmente diz:

“Uma lembrança de uma eterna amada”.

Miguel abriu a boca. Por meio segundo perdeu o foco. Seus olhos estavam quase arregalados.

—Crânio, eu descobri algo também. Por favor, venha hoje a reunião. Contarei a todos o que descobri.

O telefone foi posto no gancho. Magrí observou Miguel em dúvidas.

—O que descobriu?

—Andrade visitou o México, se lembra?

—Sim, ele visitou o país antes de morrer.

—Exato. Não é a primeira vez que ele visitou o México. Ele foi quando adolescente! — Miguel revirava a caixa dos cartões postais -

Onde está querendo chegar?

 

Miguel estende o cartão postal para Magrí, enquanto procura outra coisa na caixa de cartões postais.

—A foto da mulher não estava fora do álbum. Ela foi arrancada do cartão postal, pois estava colada a ele.

 

Na parte de trás do Cartão Postal, as marcas da fotografia arrancada a força.

Magrí assimilou rapidamente a informação dada por Miguel e o observou.

—Tem certeza?

Miguel estende um segundo cartão postal.

—Agora eu tenho.

O cartão postal mais novo na caixa datava-se de três meses atrás. Era o mesmo local da foto do cartão antiga.

—Isso quer dizer…

—Que seja lá quem for àquela mulher, ela esta na Cidade do México.

—”Uma lembrança de uma eterna amada…” Miguel repetiu - Qual seria o nome dela?

Calú estava cansado. O trajeto de um ponto de São Paulo  era sempre demorado e desgastante. Sentiu-se agraciado por não ter mais de usar transportes públicos.

Sem pensar, adentrou a periferia a passos rápidos.

—Morais, Morais… —Ele pensava- Hoje nós vamos ter uma séria conversa.

 

•|•

 

Morais largou os talheres e coçou a cabeça pensando em quem batia em sua porta. Ele dispunha de um dia livre. Escolheu não abrir a banca de jornal hoje.

Tivera algumas náuseas na noite anterior. Desligou-se do mundo depois de ouvir uma vez mais o nome “Andrade” na televisão.

Resolveu por fim, sanar a repentina curiosidade que sentia. Caminhou e abriu a porta. Lançou um olhar para o rapaz desconhecido na sua porta. De repente, seus olhos se tornaram mais frios.

—O que você quer aqui, garoto dos disfarces? - Ele lançou um olhar de reprovação -

Calú observou a figura daquele velho senhor. Tão odioso em alguns momentos.

—Como descobriu que era eu?

Sua decepção era visível até mesmo para o mais cego dos homens.

—Eu que fiz essa marca mal maquiada na sua testa. - Ele apontou -

Calú o observou com raiva.

—Preciso falar com você.

—Não me interessa o que você tem a dizer. Sai daqui. Está perdendo o seu tempo.

—Não me importo, você vai me ouvir. Calú foi áspero-

—Quem vai me obrigar você?

Calú sorriu ironicamente.

—Se esqueceu do soco que você já levou, velho? — Calú disse - Se quiser pode chamar a polícia, um radical aposentado que nem você…

Morais pegou Calú pelo colarinho.

—Entra logo e cala a sua boca. - Disse Morais o soltando -

Calú caminhou para dentro da casa dele. Ele se limpava.

—Não encosta-se a mim, fracassado.

Morais pousou a ponta da caneta  na margem de um papel e escreveu “Filho do Andrade”. Calú estava extremamente irritado e nervoso. Como duas potências prestes a explodirem em guerra, eles começaram.

Morais o fuzilava com os olhos.

—O que você quer?

—Quero respostas— Calú colocou a foto na mesa - Quem é ela?

Morais não olhou para foto. Continuava encarando Calú.

—Você me lembra e muito o Andrade jovem. Se achando o dono do mundo…

—Não me importo com a opinião de um cara que está fazendo hora extra no “meu mundo”.

Morais riu ironicamente, entretanto, logo parou ao direcionar os seus olhos para o rosto na foto. Calú notou a súbita mudança de expressão no rosto daquele homem.

—Quem é ela?

—Onde você conseguiu essa foto?

—Responda a minha pergunta.

Morais ficou em silêncio observando a fotografia. Sentiu nostalgia. Lembrava vividamente de um dia de primavera enquanto ele tomava a estrada em direção ao sul. Podia vislumbrar a beleza daquele local em memórias.

Encarou Calú. Levantou-se e trouxe duas xícaras de café. Calú o observou surpreso. Seus olhos agora estavam mais tristes.

—Posso te fornecer essas tais informações, mas tenho condições. - Disse Morais.

—Estou ouvindo.

—Não quero ser revelado como fonte. Quero ser deixado em paz.

—Certo… — Calú disse cansado -.

O velho se surpreendeu. Calú acabara de aceitar facilmente e sem discutir o ponto para qual ele previu outra troca de farpas. Era o seu único ponto seguro. Saber ver quando o ator dos Karas iria explodir.

—Estou falando sério, rapaz. -Disse Morais, desconfiado- Quero isso por escrito. Preto no branco.

—Posso colocar preto no branco, se você faz tanta questão, mas um documento destes não é nem metade de todas as informações que você tem sobre nós. Eu desconfio de você. Acredito que foi você quem matou o Andrade. Estou facilitando para o senhor, por que, se eu confirmar a minha teoria, quem vai pra cadeia sou eu, quando eu te pegar..Calú disse tudo com um tom muito natural, como quem conta uma notícia de rotina.

O velho refletiu e suspirou, ignorando totalmente a ameaça de Calú.

—Eu também tenho uma condição… Você não vai dizer isso só para mim. Vai dizer para todos os outros que estiveram aqui antes.

Calú estendeu a mão. Morais observou a foto e logo após isso, a mão de Calú. Apertou-a. Acabava de prometer que iria dissimular para alguns jovens que detestava uma informação preciosa.

—Comece aqui. —Calú conduzia - Qual o nome dela?

 

•|•

 

Todos os Karas e Nicolas conversavam euforicamente sobre a descoberta. Calú estava atrasado. Miguel foi obrigado a contar a novidade sem a presença dele. Agora, os Karas se preparavam para debater aquilo.

—”Uma memória de uma eterna amada…” - Nicolas repetia - Crânio, você é incrível.

—Uma amante, então? —Peggy sorriu -

—Nicolas, tem certeza que a foto está com o Calú? —Miguel perguntou -

—Tenho sim. Eu mesmo dei a foto na mão dele.

—Bem, aparentemente, seremos obrigados a esperar… Em nenhum lugar se tem escrito o nome dela…

Calú abriu a porta surpreendendo todos os presentes no local. Morais caminhava receoso atrás dele. Observou com os cantos dos olhos a casa de Andrade enquanto andava. Todos os Karas se levantaram.

—Calú, o que significa isso?—Magrí perguntou -

Calú colocou a foto na mesa e observou a todos brevemente.

—O nome dela é… Sofia Malpraga.—Calú se aproxima de Peggy, beijou amorosamente no rosto da amada e se vira aos amigos, fuzilando com os olhos o rosto de Morais. - Mas esse nome você não encontra em registro algum no Brasil.

Quase em estado de choque, todos observaram Calú, que apontou o indicador para Morais.

—Comece a falar.

Ele suspirou e se sentou no sofá. Seus cabelos grisalhos lhe passava uma imagem de sábio.

—O ano é 1966. A guerra fria ocorria e eu acabava de entrar para a Polícia. O Brasil sempre caminhava na corda bamba. Eu não tinha família e tudo o que tive fora conquistado com o triplo de esforço. Quando mais novo, no orfanato, eu o conheci.

Os Karas meneiam a cabeça para mostrar que estavam acompanhando.

—O orfanato ficava aqui em São Paulo. Era mantido pela igreja. Anos depois eu reneguei esse deus que eles me empurraram goela a baixo. Andrade, aceitou a tudo precocemente. Resumindo: Com cinco anos de idade, Nós fomos colocados no colégio religioso. Lá, notaram a minha inteligência e bem… A indisciplina do Andrade.

—Certo. Um anjinho educado e um rebelde sem causa. — Chumbinho apontou -.

—Em 1962, Andrade e eu fomos forçados a sair do orfanato. Já éramos homens. Eu fui mandado para o interior de São Paulo onde trabalhei nas lavouras. Andrade ficou na capital. Juntávamos dinheiro e nós escrevíamos sempre. Andrade me motivou a querer entrar para a polícia. Em 1966 eu consigo um trabalho na capital, passo no concurso junto com Andrade. Assim, nós dois entramos para a polícia. Ele era um cara revoltado, mas tinha lá suas razões. Pegamos nossas economias de quatro anos inteiros e resolvemos viajar. O único lugar possível com a nossa pouca quantia na época era o…

—México. — Miguel o cortou -.

—Como sabe disso? – O Velho encarou Miguel como se o rapaz tivesse acabado de invadir a sua mente -.

Miguel estende o cartão postal para Morais que fica visivelmente contente de ver a imagem daquele lugar.

Esse bar na cidade do México. Tem o mesmo sobrenome desta moça e ele continua funcionando até os dias de hoje.

Ele encara Miguel.

—Sofia Malpraga deve ter hoje os seus cinquenta anos e deve ser aposentada. Ela e Andrade tiveram um breve caso na nossa viagem para o México. Eu achava que conhecia o Andrade até aquele dia…

—”Uma memória de uma eterna amada”...

O silêncio se instalou. Morais observou aquilo tudo e se sentiu pessoalmente acuado.

—Se já me estiverem satisfeitos, eu vou embora daqui...

Levantou-se e começava a se dirigir para a saída quando Miguel o parou.

—Senhor Morais, obrigado pelo seu tempo.

Ele não respondeu. Apenas se foi. Magrí exibia um semblante abatido. Parecia ter sido abalada um pouco pela melancolia de Morais. Os Karas se entreolharam. Chumbinho foi quem quebrou o silêncio.

—Certo, quando fazemos as malas?

—O que quer dizer? — Magrí o observava - Não está pensando em irmos ao México, está?

—Estou. —Chumbinho era radiante -.

—Eu topo.Crânio disse. Chumbinho sorriu. -.

—Nunca visitei o México, mesmo sendo tão perto dos Estados Unidos. —Peggy disse – Eu topo.

—Bem, se as respostas estão lá, vamos até lá, não é? Magrí disse -

Calú e Miguel se olharam e concordaram. Se fosse preciso ir para o país descobrir a verdade, era esse o momento.

—Nicolas, vai vir com a gente? 

—Bem que eu gostaria, mas tenho uma investigação a fazer. Espero que voltem com respostas.

Miguel suspirou fundo. A rota havia enfim sido traçada.

Semana que vem. Viajaremos a noite. Chumbinho, se você precisar convencer os seus pais, eu posso telefonar…

—Relaxe, Kara. Eu me viro.

—Sofia Malpraga… — Crânio observava a fotografia - Uma memória de uma eterna amada.

—A mulher pela qual Andrade foi apaixonado. - Magrí disse -

 

•|•

 

Naquela noite, o velho Morais demorou a fechar os olhos. Memórias que haviam sido congeladas dentro de seu peito foram revividas com calor. Malditos filhos de Andrade.

De repente, sentiu-se melancólico. Se viesse a morrer, não teria quem chorasse no seu túmulo enquanto Andrade teve ao seu redor o afeto que os dois nunca tiveram quando jovens.

Não era justo. Andrade sempre mereceu muito menos do que teve. Como podia ser tudo tão injusto assim?


Dormiu sem perceber.


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Notas finais do capítulo

Reta final se aproximando. Vejo vocês depois da quarta-feira de cinzas. (Obs. Detesto carnaval, por isso, vou viajar para Curitiba. Onde não tem carnaval. Kkk Bom divertimento para todos).

Até a proxima e obrigado por ler.



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